segunda-feira, 12 de outubro de 2009

os independentes



eleições encerradas, vou escrever acerca de algo que aflorei no post de matosinhos, por causa da candidatura independente do narcíso. hoje, um comentador de que gosto, o antónio vitorino, comentou algo subsequente ao que escrevi: que a ideia das candidaturas independentes era a de abrir a política (local) à participação dos cidadãos, e que se esperava que tivessem um desenvolvimento quase exponencial, quando na verdade são apenas aproveitadas por renegados partidários para continuar a sua incessante necessidade de (se) servir (d)os cidadãos.

não escrevo acerca da vergonha que é votar em certa gente, porque cada um traça o limite onde quer, e cada vez traça mais cedo (a abstenção vem daí e de mais lado nenhum, as pessoas não votam porque não acreditam que isso tenha impacto real, nada a ver se está sol e vamos para a praia apreciar bikinis ou falta deles). sem que isso retire direito a reclamar (nada tira, nem mesmo a falta de razão), hoje bateu-me que o verdadeiro direito/dever cívico não é o de votar, é o de se candidatar.

votar é sancionar. votar em branco é um protesto inócuo, a modos de brisa para derrubar parede de betão. abster-se causa mais efeito, porque vai desgastando a estrutura, por falta de apoio (se ninguém votar, não há dinheiro para os partidos, se ninguém os ouvir, não têm razão de existir para além de sustentarem os acólitos).

candidatar-se é criar uma nova frente de batalha, a única que pode criar resultados. e aqui começa o busílis: candidatar com quem, haverá discussão social que suporte associação de pessoas com ideias comuns (compatíveis, que se potenciem)? menos importante é se depois somos votados ou não, apesar da relevância de o sermos criar necessidade nas listas de partidos de mudar de atitude (e a ideia é essa).

um acontecimento que me fascinou foram os protestos contra a retaliação indonésia no cemitério de santa cruz. eu tinha conhecidos timorenses, que estudavam cá, mas a maior parte das pessoas que aparecia com velas não conhecia nenhum, foi uma coisa espontânea, as pessoas sentiram que estava certo e agiram, envolveram-se (algo semelhante, com motivos mais relevantes, ao que escrevi acerca da selecção do chocolari).

esse tipo de empenho numa causa que sentíamos comum (nem era directamente nossa, coisa mais linda, nós é que a adoptamos) não existe. com quem quer que se fale, sai sempre uma perspectiva pessoal, individual, mesmo com adolescentes, que deviam ser combativos (não falta com quê, tá o mundo todo trocado e eles ralados com os exames que são difíceis e um abuso). está visto que se é para concorrer numa candidatura com fins individualistas, é encostar-se a um partido.

hoje, à falta de melhor, vou sonhar com uma eleição de uma lista independente, sem nenhuma ligação a partido nenhum, onde o discurso da vitória é feito sem a corja de seguidores que se colocam a enquadrar o candidato em frente às câmaras de televisão. essa lista vai governar (o que quer que tenha sido eleita a governar) em democracia, vai ouvir todos os eleitos e melhorar (ou substituir) as suas soluções com as ideias de outros, opositores ou neutros. os membros da lista não vão mandar bocas nem ser malcriados com os que se lhes oponham, vai ouvi-los e discutir com eles, construtivamente. se acaso perder a eleição, vai respeitar o resultado sem desculpas, disponibilizar-se para colaborar construtivamente, sem nunca mandar bocas ou usar de má educação. ganhe ou perca, no final do mandato e em altura de ponderar nova candidatura, fa-lo-á apenas com critério de essa (re)candidatura ser ou não útil no seu projecto, que irá ou não dispor a sufrágio.

é com isto que vou sonhar, amanhã acordo bem disposto.

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