quinta-feira, 28 de abril de 2011

ai weiwei



existe um dizer (dito por agostinho da silva, julgo) que é algo parecido com isto: "de barriga vazia não se consegue pensar bem", relacionado com o facto de quem tem fome e preocupação de alimentar os filhos não ter disponibilidade para a cultura (o que é verdade e simultaneamente erro, por motivo dos extremos se sobreporem).

o maior problema do mundo é a desumanização do homem pelo capital. um caminho de salvação/regeneração é a solidariedade. outro, complementar, é a manifestação artística.

escrito isto, ai weiwei é um artista chinês.

é um gajo teso, que alcançou uma posição (meritoriamente) reconhecida, de onde pode dizer o que pensa e produzir impactos. o que é mui digno da condição humana e da condição de artista (porque a arte é manifestação do humanismo, humanidade, ou o inverso, por motivos de sobreposição de.....).

é também chinês, o que não tem nada de mau, mas agrega o facto de viver na china, o que tem algumas coisas de mau, principalmente se um gajo diz o que pensa, pensando diferente do pensamento predominante (não é só na china, qualquer limitação ao pensamento e sua expressão livre é uma aberração, o regime chinês calha ser um exemplo fácil (a história de se porem a jeito)).

ai weiwei está desaparecido em parte incerta, após denuncia de corrupção estatal, e a avaaz (organização nada governamental, que visa influenciar governos e outras instituições instituídas, através de petições online de divulgação mundial. aconselho uma vista de olhos) tem a circular uma petição que sugere a artistas de todo o mundo um boicote artístico à china (recusando participar em feiras e eventos culturais, recusando vender arte) o que afectaria uma classe abastada chinesa, interessada em potenciar-se através da propriedade artística.

e se resultasse? e se um boicote cultural fizesse o que o baixar de calças capitalista nem tenta? vou jantar, que estou de barriga vazia.....

quarta-feira, 27 de abril de 2011

quim, joa quim



resultado de instinto animal (felino), temos outro mamífero (este voador) cá em casa. quim, joa quim, um morcego que o puskas trouxe do telhado, para companheiro de brincadeiras. o infeliz não se desenrascou a sair durante a noite e acho que acaba por passar o dia inteiro a dormir na casa de máquinas, entre pincéis e lixas.

já escrevi de instintos animais felinos, num dos primeiros post's do blogue, idos de dezembro de 2008, acerca dos limites humanos que tem a nossa parte animal. não podemos ralhar com o gato por ser gato, só podemos evitar que fique a caçar interminavelmente o quim, porque o morcego fica banana e desorienta-se de radar.

nós vivemos no centro de coimbra (num dos, aliás, no melhor), zona urbana, e somos algo privilegiados por acordar com passaritos a cantarolar o amanhecer (também já escrevi aqui disto, mas não encontro o post). hoje também estavam a cantar, os passaritos, coisa já normal, mas quando entrei na cozinha vi o squik squik a voar em círculos na sala (se o adoptássemos seria engraçado leva-lo à rua de trela (aqui imaginar e reproduzir gesto de dono com trela e morcego atrelado a voar em círculos)).

acho que o quim está de hóspede, deve sair esta noite, voltar aos manos que vivem num recanto do telhado. talvez volte cá, se não conseguir evitar o gato.....

terça-feira, 26 de abril de 2011

adiós? noo, nunca se dice adiós, se dice te amo



nem fmi's, nem títulos de tesouro, nem défices. nem amêndoas, nem ovos de chocolate (folar há, a meio, mas não é para aqui escrever). isto é acerca de viver.

chavela fez 90 anos e tem na página do facebook este texto acerca da sua "ressurreição" pessoal, não menos fascinante que a do cristo.

diz ela: "yo he ganado dinero para comprarme un mundo más bonito que este, pero todo lo aviento porque quiero morirme como muere mi pueblo", e: " yo no sé por qué a alguna gente le duele tanto la muerte, porque qué duele más, una muerte o perder un amor?"

viver deve ser comunhão com os nossos (e podemos escolher os seus), amar desavergonhadamente e desgraçar-se por esse(s) amor(es), cometer e repetir erros por teimosia de convicção, sentir as dores (boas e más) todas que nos doerem, cometer excessos e ser salvos por mérito e não por caridade.

ou então é outra coisa qualquer, que eu já não percebo muito bem.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

adel goes to dubai



so, when i got in, adel was happy, teaching guys how to work the computers and the printers. he come to me, and got happier, cause i was going to print autocad drawings, so he could teach them that, to.

on a break, i asked him when he was leaving, and he told me "sunday".

me, "this sunday?"

adel, "yeah, going to dubai, for good", big smile.

i ask how it is there, living there, and he answers "it's great, you should come, lots of buildings being built, 100 flour, over a mile high, lots of work for architects".

i laugh, ask about the food, the women, the weather (all good, according to adel), before i decline "i can't, my kid's here, that's to far to keep seeing him".

he goes "bring him with you!" and i "wishful thinking, can't, he lives with his mother". for adel it's easy: "bring her along, too.....", and it all went down hill, from there.

not going to dubai, but he's happy about coming home, and i'm happy for his happiness.

terça-feira, 19 de abril de 2011

falar com o passado do futuro



(ou nacionalismo versus multiculturalismo). (com divagações iniciais).

há uma ideia generalizada de que arquitectos e engenheiros, por natureza, se dão dificilmente. comigo não é assim, tenho poucos amigos arquitectos e muitos engenheiros, e costumo retirar mais gosto, mesmo em trabalho, de conversas e discussões com engenheiros do que com arquitectos.

ontem, para cumprir favor profissional, tive de ir jantar com um engenheiro de que não gosto nada, homem negativo, malcriado, pessimista (antigamente é que era), com alardes de superioridade e tiques de solidão. mas tecnicamente, em matéria de drenagens, um bês (mais que um ás). e o balanço final ficou em mais, mercê discussão técnica, sentido de dever cumprido e qualidade do bacalhau afogado em azeite frito com alho, sobre a imbecilidade do fulano e desperdício nele de verba social que mui melhor seria aplicada com muita gente de quem me lembro facilmente.

adiante. a conversa, a certa altura, passou pelo evolução galopante do mundo, e diz o engº: "isto mudou tanto e tão depressa que já não tem mais por onde mudar". e digo eu: "você nem faz ideia do que isto vai mudar ainda.....".

e agora, o post:

a estrutura pessoal de cada um passa pelos parâmetros em que se revêm. por exemplo, peça-se a alguém para se auto-descrever (ou descrever outrem) e percebe-se quais os parâmetros que essa pessoa valoriza (e até em que sentido os valoriza).

há 50 anos atrás, uma das coisas que quase todos os portugueses diriam era: "sou português, etc....". hoje muitos continuam a considerar a nacionalidade relevante na sua definição pessoal, mas são menos, e cada vez menos. hoje continuam a influenciar-se mentes jovens com estruturas antigas (religiões, clubes desportivos, associações várias, por exemplo os escuteiros, ramos militares). mas cada vez mais existem novas estruturas, novas provocações, mais variadas e menos controláveis a influencia-las (às mentes), num nunca acabar de sub-culturas e nichos e originalidades e "aberrações" e bizarrias (as minhas favoritas).

hoje não se estranha (ou estranha-se, mas não deixa de ocorrer) que um puto português tenha tremendas afinidades com um puto chileno, e até se identifique mais com ele do que com outro miúdo português. é frequente que vizinhos (até irmãos) tenham gostos e preferências diferentes e distantes, e encontrem afinidades em alguém distante fisicamente (continent wide) mas semelhante em preferências. e o miúdo pode dizer, correctamente, que é como o chileno e não como o irmão português.

isto acontece fruto da circulação de informação (primeiro via televisão, no que parecia um salto abissal e se revelou um pulito face ao poder da internet) e circulação de pessoas, gerando divulgação e descoberta de interesses, práticas, actividades. e fruto do interesse brutal das crianças em assuntos que os cativem, e que cada vez mais estão disponíveis. aos adultos acontece o mesmo, em menor escala, fruto de defesas e restrições que nos auto-impomos, uns mais do que outros. mas, mesmo em menor escala, acontece também cada vez mais.

a mim parece cada vez mais difícil descrever uma pessoa através de um parâmetro global de definição, porque cada vez há mais parâmetros válidos e cada diferente pessoa se vai definindo através de diferente parâmetro. cada vez menos será possível ou razoável comparar pessoas, porque cada vez mais se estará perante casos de alhos e bugalhos, pessoas que existem num universo já não uni ou bidimensional, mas tridimensional (and counting, i guess).

em contrapartida, cada vez será mais estimulante conhecer pessoas, porque cada vez mais estas serão únicas, ricas, in-copiáveis (mesmo nas cópias que fazem), e o acto de as conhecer, de lhes tocar, é cada vez mais enriquecedor.

suponho que já não somos uma mole de pessoas, todas num percurso unidireccional (eventualmente com dois sentidos) comum (a velocidades várias), comparáveis ao percurso lisboa/porto da antiga nacional 1, que se fazia em 5 ou 6 horas, e somos cada vez mais perceptíveis como uma imagem aérea de acesso a uma grande metrópole, cheia de entradas e saídas, viadutos sobrepostos, e mesmo esta imagem peca por defeito, porque há a acrescentar quem faz o percurso de comboio, ou metro, ou autocarro, felizardos que vivem dentro das cidades, outros em barcos, ecólogos que só andam de bicicleta, outros que não vão para a cidade porque estão desempregados, ou trabalham noutro local, ou em férias......

o mundo muda, a bola pula e avança. let's have fun.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

ég er íslensk



(eu sou islandês, em islandês) por estes dias e cada vez mais.

para fazer um resumo, os islandeses votaram em referendo a recusa de pagar um prejuízo gerado por investimentos privados num banco islandês, obrigando o governo a não aceitar responsabilidades de indemnização aos governos inglês e holandês, por estes terem indemnizado os seus cidadãos por perdas de investimentos no banco de investimento islandês online icesave.

os argumentos para a recusa de responsabilidade pública são, simplificados, que os islandeses não deverão ser os únicos responsáveis por repor os valores, tendo em vista que o banco por trás dos investimentos (landsbanki) terá interesses e património suficientes para tal, mas tem-nos offshore.

porque raio hão-de os populares ser responsáveis por negócios de empresas particulares (bancos)? não é por reciprocidade, uma vez que não existe dos bancos co-responsabilidade pelos investimentos dos clientes. aliás, não existe dos bancos sequer co-responsabilidade daquilo de que são únicos responsáveis.

há uns meses, eric cantona promoveu uma acção de guerrilha aos bancos, a escala mundial, que sugeria a quem quisesse guerrilhar, a retirada de valores dos bancos, em determinado dia, deixando a claro que a gestão financeira destes é meramente contabilística e não real. foi um fracasso, muito pouca adesão.

julgo que as pessoas ainda julgam que precisam dos bancos, como julgam que precisam do fmi e do banco europeu, como os escravos eram educados a julgar que precisavam dos amos e as mulheres que precisavam dos maridos. tudo falso.

há pessoas que acreditam num deus qualquer, outras num partido ou dirigente político qualquer, outros na segurança do emprego seguro.

eu acredito em nós, pessoas, e numa revolução que não será de cravos, nem provavelmente de praças cheias de manifestantes debaixo de abusos de perenes governantes africanos.

eu acredito que, iniciando num dia determinado, todas as pessoas no mundo irão falhar, propositadamente, 3 prestações seguidas aos bancos e entidades de crédito. acredito que isso tornará claro que o real poder é popular. não populista, apenas popular, do povo. nosso.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

sem luz



o porto é campeão (parabéns filhote e restantes portistas), foi o melhor de todos.

num daqueles acasos do calendário, foi campeão no estádio da luz, onde quem perdeu apagou a dita e ligou o sistema de rega.

é chato perder e é pior perder em casa e deve ser teso ter de ser hospitaleiro com quem nos ganhou. mas é pior passar por imbecil e mal criado. quanto custa deixar ligada a luz mais 15 minutos? e iniciar a importante tarefa de regar a relva depois do campeão fazer a festa? e dar os parabéns a quem foi melhor?

é chato não ter a melhor equipa, mas é pior ter gente mesquinha a dirigir o clube.

atitude que eu admiro (e faço por ter, porque perco basto) é homem (ou mulher) que perde como homem (ou mulher). dão-se os parabéns ou admitem-se responsabilidades, fica-se vertical, recebem-se os impactos e nunca se dobra a espinha ou o olhar. e não se paga a luz, já todos viram.

prazeres matinais



quando era muito miúdo, da idade do meu miúdo, ia muitas vezes enfiar-me na cama da minha avó, de manhã, ao acordar, e ficava a preguiçar. isto era nas férias, ia quando ela já estava levantada há muito e deixava a cama vazia, e guardei até hoje a sensação dos lençóis (naqueles tecidos antigos, sem luxos, tão hospitaleiros) e da almofada (uma trouxa comprida, que eu abraçava).

já graúdo, o meu maior prazer matinal passou ao café. sou péssimo de acordar (não sei se a preguiça nos lençóis da abuelita foi causa ou primeira manifestação), grunho, respondo torto (como se a culpa de acordar seja de quem me interpela), zumbo pela casa e pela rua até à cafeína. (nem sempre acordo assim (sexo matinal atenua isto e ter o gustavo connosco resolve), há manhãs más e há manhãs piores).

agora, pelas últimas semanas, é o sumo de laranja. ainda preciso e aprecio o café, mas a laranja é o que melhor me sabe, pela manhã. gosto de as espremer manualmente, aborrece-me o barulho dos espremedores eléctricos, e gosto de espremer nas mãos o que o espremedor deixou.

just to let you know i'm still here, and i fancy orange juice in the morning.