segunda-feira, 29 de março de 2010

o porco espinho madrugador



há quem gabe as manhãs, eu ando a namora-las e reconheço que têm atracções que desconhecia. a de hoje teve a da fotografia, coisa de sair cedo e, na volta, quase dar de pés com um ouriço cacheiro, vulgo porco espinho. pode argumentar-se que o bicho talvez ainda lá esteja de tarde ou que, tendo eu passado ainda mais cedo, não o veria. mas vi, e foi de manhã. estava paradito, só o percebi pelo nariz, estaria a fazer o que porcos espinhos fazem, normalmente, ou estaria numa manhã de extravagâncias (eu vou por esta, sem motivo algum para além de vontade minha).

fiquei a imaginar como seria a pele dele, por baixo dos espinhos. sim, porque eu sou convicto que, por baixo de todos os espinhos do mundo, há peles que cheiram a rosas e/ou são macias como caramelo. e caramelo é bom.

a garrafa de dão da biblioteca de viipuri de alvar aalto



alvar aalto foi um arquitecto finlandês do século passado, cujo trabalho admiro por mérito de coerência, criatividade e capacidade de perceber e intervir poderosa e suavemente no mundo.

penso que em 98 (eu para datas....) houve uma exposição na casa da cerca, em almada, retrospectiva de obra em ocasião de centenário. dessa exposição, para além de optimismo, trouxe uma garrafa de dão, cujo custo de aquisição seria utilizado para recuperar uma obra do arquitecto, a biblioteca de viipuri.

e a história da exposição passou a ter prolongamento na história da garrafa, que tem viajado comigo de casa para casa (felizmente, com excepção de uma, onde teria ignobilmente ficado). e a história da garrafa de dão da biblioteca de viipuri foi-se prolongando, porque eu decidi, numa qualquer altura, que seria aberta numa qualquer ocasião cuja particularidade se assemelhasse ou suplantasse a do dão dentro da caixa de madeira marcada a ferro.

ontem, o vinho respirou, estava intragável para mais de dois goles. mas a garrafa de dão da biblioteca de viipuri de alvar aalto fez jus ao arquitecto finlandês, people were happy.

sexta-feira, 26 de março de 2010

4enta



eu já fiz 40, há uns meses. muitas das pessoas que me são próximas, ou já os fizeram há pouco tempo ou vão fazer daqui a pouco tempo. parece haver um entendimento abrangente de que os 40 é o início da terceira idade, também conhecida pela da experiência, pela velhice ou outra expressão qualquer.

não importa muito se é aos 40, aos 37 ou aos 45, mas as pessoas sentem que atravessam um limite. qual? depende de cada um, mas eu arriscaria que este limite, em especial, é o do final do crescimento e o início do declínio, porque as pessoas sentem que aquilo que continuam a ganhar e em que continuam a melhorar é, a partir desta idade (ou de outra nas vizinhanças), inferior ao que estão a perder de capacidades, uma espécie de balança pessoal negativa.

tudo isto é genérico, porque há pessoas que toda a vida adulta estão em prejuízo e outras que, vivam 80, 90 ou 100 anos, sempre estarão em lucro.

tendo isto em conta, a relatividade da idade em que o sentimento ocorre em cada um, vamos ao que interessa. e por motivos pessoais, vou focar no envelhecimento feminino, sendo que o masculino, tendo parâmetros completamente diferentes, é completamente análogo. adiante, então, para as mulheres maduras....

eu conheço uma pessoa, homem da minha idade, que se recusa a interessar por mulheres abaixo dos 30, causa de más experiências passadas nessa faixa etária. na realidade, o fulano, rapaz de humor, gosta naturalmente dos atributos físicos de mulheres jovens (com excepções, por excesso de volume dos atributos), gosta da jovialidade e da permissividade (nestes dois casos, em ambos os sexos) a provocações pessoais. o problema manifesta-se a jusante, na relação, quando é suposto construir, compreender. e a causa do problema está a montante, questão de experiência de vida, que meninas abaixo dos 30, por mais bela pele tenham, não têm (a experiência....).

escrevamos então que eu sou uma mulher, e faço hoje 40 anos. parabéns a mim, e blá, blá, blá, e eu, numa qualquer altura do dia de hoje, tenha sido depois da meia noite de ontem, antes de adormecer e depois de sexo, ao acordar de manhã, quando os filhos me vêm dar um beijo de felicidades e quando o marido me diz que eu estou cada vez mais bela (porque é bom o marido dizer isto), quando algum infeliz incauto se lembra de comentar que os "entas" são o início do declínio ou noutra qualquer altura do dia, me confronto com os bem ou malditos 40.

que vejo eu, sem me olhar ao espelho, por não precisar disso para me ver? posso ver as rugas, o pneu a mais, as cãs, que estão realmente lá. mas também posso ver o sorriso de quem tem conseguido realizar sonhos e ainda tem mais para isso, a elegância de quem não se importa assim tanto com ela (elegância) e por isso é, a capacidade crescente de construir coisas e usufruir delas, com os seus.

todos os dias, todos ganhamos e todos perdemos. no dia em que se faz 40 também se ganha e também se perde. não se pode evitar as perdas, mas podem-se conter. já os ganhos, bem, os ganhos são por conta pessoal, para uns são trocos, para outros são tudo.

por isso, se alguém faz 40 hoje, here's looking at you, kid.

quinta-feira, 25 de março de 2010

submundos individuais



terá havido um período prolongado de séculos em que havia acessíveis a uma pessoa talvez uma meia dúzia de modos de vida, ou seja, a sociedade estava de tal modo estratizada que não haveria muita margem para viver diferente e facilmente se identificava a pessoa com o seu modo de vida.

tempos modernos, de aldeia global, televisão por cabo, internet, facilidade de viajar e comunicar, e o mundo está cheio de submundos, subculturas, submodos. hoje já não se pode ver a pessoa pelo que ela parece sem meter pé (elegante ou inchado) em argola (doce ou azeda).

certamente por isto, há uma maior necessidade do indivíduo se encaixar nos subgrupos: por medo de estar sozinho (o mundo animal está cheio de exemplos destes, ver cardumes, rebanhos, manadas, alcateias);
para reconhecimento próprio, por necessidade de pertencer a algo para se ser algo (ideia idiota de que ser indivíduo é pouco); motivado por ambições e sonhos (muitas delas sugestionadas pelo subgrupo onde o fulano quer encaixar); por questões de facilidade ou obrigação, casos de grupos profissionais com interesses comuns (e necessários ao seu desenvolvimento, mesmo como indivíduos).

consequência disto é que navegamos todos em mil mundos diferentes, constantemente e, tantas vezes, simultaneamente.

se antigamente era preciso ir a um mercado ou feira medieval para apreciar diversidade, hoje basta levar o filho à piscina. e temos de um lado uma caterva de mães inchadas (duplamente, de orgulho e volume corporal), com carrinhos de bebés, enquanto vêm os seus mais velhos nadar e discutem entre si os assuntos das gravidezes que virão ou estão em curso, a passear pela plataforma estão avós activos (nalguns casos, mais que demais), mais discretos estão pais divorciados e sozinhos (que aproveitam para espreitar as meninas no ginásio ou trabalhar um pouco numa das mesas), casais jovens e aparentemente felizes (como se ainda não tivessem perdido nada importante na vida, e houvesse felicidade sem entender isso), toda esta gente a degustar o facto de proporcionar aos filhos momentos de satisfação e prazer, dos quais partilham à sua maneira.

mais, as pessoas existem para além dos grupos em que se inserem, por mais que tentem inserir-se. recuperando o exemplo das mamãs grávidas a ver os filhos nadar, de certeza algumas estão verdadeiramente felizes (tanto quanto há felicidade verdadeira para cada alma), outras estão invejosas e desdendosas (com desdém) da barrigona alheia e outras ainda envergonhadas ou desditosas (da desdita) da barrigona (e coxas, e rabo) que ainda não passou e ameaça nunca mais passar. já no caso dos avós, uns há que são muito adultos e sofridos da vida, enquanto outros rejuvenesceram miraculosamente, como se os bebés fossem o verdadeiro elixir. and so on, and so on.

isto tudo, que vai longo, porque cada pessoa está hoje mais isolada que em qualquer época da história (com excepção dos dias no paraíso de adão e da sua costeleta).

para mim, a solução não é gerir subculturas, é olhar para os indivíduos. não é pertencer aquelas, é relacionar-se francamente com estes.

terça-feira, 23 de março de 2010

color purple



uma amiga acha piada a uma característica que tenho: eu vejo cores em certas letras e números, por isso, calha ela perguntar-me as cores de determinado nome, coisas assim. parece que há quem faça estudos acerca disto, eu nunca me debrucei.

para além das letras, as cores têm relações com determinados sentimentos. por exemplo, púrpura é cor de encantos e luxúria, de morte, desgosto e pecado. e também de redenção.

eu gosto de púrpura, e de quem usa. não gosto de quem usou e deixou de usar. dêem-me uma pecadora todas as noites....

pennies from heaven



aconteceu-me uma coisa única: saí de casa pouco antes das 9 (não é isto, apesar de não costumar acontecer muitas vezes a esta hora) e pelas 9 e meia tinha já encontrado 2 cêntimos. bem, também não é isto, já encontrei mais de 2 cêntimos antes, e em menos tempo, o divertido da coisa é que encontrei mesmo 2 cêntimos. quero escrever, duas moedas de cêntimo....

dinheiro não trás toda a felicidade, mas há alturas em que bastam duas moeditas anãs para deixar um fulano a sorrir. ou disso ou de outra coisa qualquer. só não sei onde os gastar, mas como o dia ainda vai jovem, podem vir reforços que cheguem para um caramelo.......

segunda-feira, 22 de março de 2010

o sonho do caracol



encontrei isto.

uma parte boa do meu modo de vida é disponibilidade, e o que posso fazer com ela. qualidade de vida é determinada pelo que se faz com a disponibilidade que se tem e com a que nos oferecem.

sem dentes



há alturas em que ando na rua e estou ansioso por chegar aqui para escrever uma ideia ou duas. neste período, é o contrário, tenho estado dias sem uma linha e chega a haver alguns que escrevo uma parágrafo ou dois e apago, sem publicar.

não é bloqueio de escritor, porque não sou, nem me aborrece a situação, porque ando a gastar-me noutros lados, a verdade é que escrevo menos e estranho não ter vontade.

back to basics: gustavo, ontem, depois de a ouvir, veio contar-me a anedota do menino que andava de bicicleta e dizia à mãe, a cada passagem; sem mãos, sem pés e depois, sem dentes. get it, "sem dentes"? e repetiu, de sorriso aberto, "sem dentes, pai", e ria.

bem, é o que me sai, por estes dias. pode ser da primavera ou do pólen ou do sol. ou de outra coisa qualquer.

sábado, 20 de março de 2010

cócórócóró



por causa dos horóscopos chineses e do que quem é, lá. eu sou galo, e por o ser, rimo-nos desta preciosidade, eu e o meu pintito.

terça-feira, 16 de março de 2010

the piano's been dinking, not me



eu gostava de ter um piano em casa, um que fosse tocado.

talvez o gustavo aprenda, talvez eu tenha mais filhos. cá em casa há muito movimento, talvez outra pessoa qualquer que entre saiba tocar. por estes dias toca-se cá guitarra (ou viola....), não é o mesmo, mas é melhor que nada, excepto quando faz falta silêncio, e é pior que quase tudo.

gosto do objecto pelas proporções, acho, pelas formas, também.

se houvesse um cá em casa, gostava de o ouvir ser tocado como toca laginha ou tocavam harpo e chico. também não me importava se fosse como tocou scatcat, ou acompanhando uma voz franca. seria obsceno pedir monk, mas que se lixe, monk soa bem na acústica cá de casa, e seria sublime.

antigamente, quando o prédio foi construído, ainda se faziam soirés musicais (não cá, seguro). e agora ando com ideia de, se algum dia tiver em casa um piano que seja tocado, fazer uma soiré dessas. faço umas tartes, bebe-se limonada ou porto, vodka ou ginger ale, gente espalhada pelo chão, nas almofadas, nos sofás, nas redes, encostada a ombreiras envernizadas ou a um encanto recente e confortável, vão estar velas acesas e luar cheio.

raios, apetece-me mesmo....

segunda-feira, 15 de março de 2010

urticárias



tenho um projecto em mãos há meses, em mãos porque não tenho pensado nele. na realidade, a vontade de o fazer era quase nenhuma, porque é uma daquelas estopadas que nos aparecem vindas de alguém que respeitamos e não queremos recusar. na altura, fiz uma proposta de honorários alta e tive azar, porque o cliente aceitou.

lá está, azar, porque foi bem jogado.

aceite o trabalho, aquilo tinha uma solução de cartola (à la coelho), que usava uma cajadada para resolver duas burocracias (coelhos), não vale a pena elaborar. seja como for, o cidadão resolveu a burocracia com a minha cartola e passámos à fase de fazer o projecto. glup.

problemita é que, mais que o projecto ser chato (remodelação e ampliação de uma casa feia, mais um anexo industrial, coisa de cebola (fazer chorar), o próprio cidadão me desagrada. é das coisas piores, provavelmente a pior, que pode acontecer, eu não encaixar com o cliente (e há cada encaixe mais impossível, jasussanhor).

resumo, ando a adiar pegar nisto há semanas, mas hoje teve de ser, porque quando um fulano se compromete, é bom que cumpra, e com qualidade.

deve ser fase, minha ou da lua (o sol não as tem), mas peguei naquilo com o asco esperado, e depois de umas horas e rascunhos, estou feliz: dá-se o caso de aquilo ser um mono, mas agora ter pés para andar. acho que nunca vou gostar do fulano, mas já gosto de como vai (poderá vir a) ser a casa dele. not bad, for a day's work.

azar mágico



há quem tenha azar ao amor, há quem tenha ao jogo, há quem tenha nos negócios, e há quem tenha em coisas pequenas, como azar a conduzir (.....), azar a cozinhar (.......), azar nos filmes que vai ver e por diante.

eu já tive a automóveis (não a conduzir, a mecânica de automóveis), mas livrei-me dele, sei lá bem como. agora só tenho azar a varinhas mágicas. já é mais que azar, estou a temer um mau olhado a elas, porque é abuso: é a segunda que encomendo ao criador (à fábrica), due to malfunction, em pouco tempo.

podia ter a rolos da massa ou tabuleiros, a panelas ou tachos, a bicos de fogão ou picadores de gelo, a aspiradores, lixadoras, martelos.... mas a varinhas mágicas, aborrece-me.

a pessoa só lhes dá valor, como aos telemóveis, depois de as usar. agora ando meio perdido, como passar a sopa? como fazer um batido?

e já agora, off topic, que diacho fariam as meninas do allô allô com a batedeira, para os alemães ficarem tão entusismados? se eu soubesse, aposto que já não me chateava com as varinhas mágicas. calhando, elas nunca mais se me avariavam.....

quinta-feira, 11 de março de 2010

tempo de qualidade



o gustavo foi nadar, hoje. é engraçado, porque ele já nada bem, mas faz montes de palhaçada.

entre ver uma coisa e apreciar a outra, a mente viaja por coisas, factos e ideias (sempre são 45 minutos livres para isso). hoje, lembrei-me de uma história que contei ao gustavo há meses, de uma baleia e um peixito que se apaixonavam. lembrei também uma cena do obélix a saltar para dentro de uma piscina numas termas e a água a saltar fora (não lembro do nome da história, é aquela em que o chefe abraracourcix (agora com outro nome) tem de fazer dieta e vai a termas), piscina vazia e obélix de rabo no fundo dela. lembrei ainda o banho de leite da cleópatra, versão animada e versão monica bellucci. para finalizar, um banho cá em casa, há meses longos, porque a minha banheira se presta a eles.

depois acordei, ajudei o pequenito a vestir-se (quis secar-se sozinho) e viemos para casa, "fiz" jantar para 5. não percebo as pessoas que se queixam de não ter tempo para os filhos.

terça-feira, 9 de março de 2010

pme's



à escala de pormenor:

tenho uns clientes que, há anos, tiveram uma decisão grande em mãos: tinham de decidir se avançavam para uma obra importante (moradia grande em zona rica, com execução de estrada e outras infra-estruturas), à escala deles, com o que isso implicava de investimento, ou aguardavam por circunstâncias mais favoráveis (que passavam por adiar a obra e "obrigar" um loteamento confinante a, por necessidade, lhes fazer a estrada a custo zero, o que lhes pouparia entre 85 e 100 mil euros).

a escolha parece simples, mas havia um grão de areia: juros
associados ao negócio (pela aquisição do terreno).

juros são, a par de despesas com o estado (impostos e segurança social), a maior dor de cabeça (e de tesouraria) das pme's. ora, havendo juros, o verbo "esperar" adquire outros contornos, e, contra a minha opinião, decidiram avançar para a obra com o argumento de "não ser possível suportar estes juros dois anos".

resultado, três anos mais tarde, por burocracias e erros próprios, a casa continua por vender, a estrada quase feita mas por acabar, e o crédito sobre o qual vencem os juros aumentou em cerca de 250 mil euros (valor investido na execução das obras). resumo, se suportam os 250 mil euros extra por 3 anos e pagar a estrada, é evidente que suportariam pagar os juros associados à aquisição da parcela por 2 anos (e que ainda lhes limparia a despesa das infra-estruturas).

isto para escrever que ser arrojado perante dificuldades pode compensar, se associado a perspectiva e análise.

........

à escala de país:

há ainda mais anos atrás, o país teve um primeiro ministro que se elegeu elevado num conceito de choque fiscal (perspectiva arrojada, apoiada em análise coerente). eleito, afirmou que o país estava de tanga e não havia choque que o salvasse, pelo que se seguiu uma directriz "tradicional".

muitos anos (e algumas legislaturas) depois, o país está pior, desemprego a crescer, empresas a falir, despesas do estado com compensações sociais a aumentar, gente a falar de bancarrota. a solução é um pec, que, basicamente, tenta reduzir as despesas de compensação social e aumentar as entradas na tesouraria pública.

eu sou meio leigo em economia (até na minha), mas parece-me que se se tem feito o tal choque fiscal (que não seria suportável, sendo que se comprova que uma situação ainda pior o é), haveria menos empresas a falir, menos desemprego e, consequência evidente e previsível, menos despesas do estado em subsídios sociais.

na realidade, olhando a balança, tínhamos num prato empresas que pagavam (muito) menos ao estado e contribuintes que pagavam (muito) menos ao estado, com uma produtividade normal (eventualmente até acrescida em função de algum desafogo financeiro), e no outro prato da balança empresas que faliram e não pagam nada, mais cidadãos que, não só não pagam, como ainda recebem do desemprego, tudo isto com produtividade zero.

isto para escrever que ser arrojado perante dificuldades pode compensar, se associado a perspectiva e análise.

temporada doce



dia de sol, já fazia falta. não é que a chuva seja má de todo, por esta altura. mas sol é sol, promessa de gente quente e sorrisos abertos, azedumes no frasco.

o assunto hoje é coerência. outra vez.

pegando na história do dia da mulher, ontem. se, em vez de dia, olharmos para as mulheres como seres desejáveis e as desejarmos, como pessoas e as acariciarmos, como iguais e as respeitarmos, todos santos (e pecadores) dias, não faz muita lógica haver um dia dedicado a isso, certo?

do mesmo modo, não faz lógica um cidadão se danar quando isto corre mal e aquilo ainda pior, porque depois vem aqueloutro que sai bem e outro ainda melhor. ganha-se e perde-se, é preciso saber os dois. you ride when you win, you hang when you lose. é sempre a mesma pessoa, esteja a ganhar ou a perder, mas a pessoa é sempre a mesma.

não adianta estar a chorar o que foi, se nos fez sorrir antes de ir. não adianta estar a empecilhar quem não está, quando alguém que está merece atenção. não adianta estragar, só porque é de outro, adianta mais construir bom, porque o que construímos é nosso e de quem constrói connosco.

por aqui, é assim: portas abertas para entrar e sair, quem vem para o bem e de cara limpa. quem não vem por isso, porque raio perde tempo a vir? de certeza há sítios mais agradáveis, onde sejam apreciados. certo?

moi, vou continuar a lambuzar-me e a lambuzar quem estiver just two lips away.

segunda-feira, 8 de março de 2010

as mulheres



porque não gosto de dias temáticos, porque soam a que nos outros dias do ano o tema não vale, porque há mulheres que num dia já estão um dia a mais enquanto noutras bebemos a vida inteira e ainda as ansiamos nas encarnações seguintes.....

si yo fuera maradona



mais uma volta, mais uma viagem.

semana de burocracia, talvez com bónus a meio. talvez, porque nunca se sabe, 'til de fat lady sings. de qualquer modo, desejos de boa semana para quem vem aqui desarmado(a).

para quem tem de se mascarar para espreitar à porta, maradona disse-o mais espontâneo que ninguém. e por escrever dele:

mais melhor que maradona, cantou manu chao, de um menino que cresceu sem perceber muito bem o mundo, porque o raio do mundo é difícil de perceber para quem não engole qualquer coisa só porque lha espetam à frente.

erros e mais erros, génio mau e bom, menino em corpo desgastado por vícios de adulto. branco ou preto. cinzento nunca.

domingo, 7 de março de 2010

intrigas



agora há pouco fartei-me de rir por causa de uma ideia tola. eu demorei a chegar lá, porque desço devagar, mas quando cheguei, fartei-me de rir.

elaborando, imagine-se alguém que se dedica a enfiar veneno entre 3 pessoas. para isso, passa informação de uma parte para outra, sem a passar pela do meio (o que já teve piada na altura). agora imagine-se que as 3 pessoas estão juntas: que fazer? onde ir envenenar? em que moldes? oh dúvida, oh martírio de incerteza.

thanks for the laugh.

up hill



definições de amizade conheço várias, hoje escrevo esta: amiga é quem, estando destroçada, no meio das dores suas, se alegra com a alegria do amigo.

gente feliz com risos, chez moi, por estes dias. contagia-se....

quinta-feira, 4 de março de 2010

heranças



estava a ver uns vídeos no facebook, acerca de intensidade de vida, de desejo, e fiquei feliz. mais um dia triste, mas fiquei feliz por ver uma coisa boa e pensar: tenho isto.

para quem está atolado em pensamentos tristes, o que há a fazer é olhar para a parte de vida que nunca acaba, de quem a viveu intensa e limpa, e seguir vivendo igual, a modo nosso.

já escrevi aqui que tive sorte com os pais que me calharam (é mesmo sorte, não temos escolha nem intervenção). não sou o único. e mesmo quem não teve tal fortuna (porque os pais foram dolorosamente humanos), tem de dever deixa-la aos filhos. porque não escolhendo os pais que temos, escolhemos os pais que somos.

terça-feira, 2 de março de 2010

he's looking at you kid



..... de certeza, onde quer que esteja.

hoje foi um dia triste, notícia má, daquelas que revelam tantas queixas dramatizadas serem realmente imbecis.

as pessoas queixam-se de males de amor, de incompreensão profissional, de incompetência geral, de falta de tempo e dinheiro para o que querem fazer, do tempo e do espaço. queixam-se de quaisquer coisas que lhes empecilhe a vida, muito ou pouco, sem nunca olharem para o coeficiente de responsabilidade que têm nessas coisas. e quanto menos a coisa empecilhar, mais dramatizada é.

e quando se perde alguém que se ama? e quando alguém que se ama nos falha, vivo? e quando alguém que se ama está longe tempo demais, por mesquindad doutrem?

nessa altura percebe-se que o colega ser imbecil não importa, que o clube não ganhar importa muito pouco, que se chove há duas semanas sem parar importa nada e que não se devia ter dado importância de chorar por algo que se deitou porta fora.

e porque raio parece estas coisas só acontecem a gente boa, e sã, e generosa?

e que podem essas pessoas sãs (e as outras, claro) fazer quando algo assim acontece? deixar de acreditar que o mundo tem lógica? como se explica a um filho que o mundo lhe foi injusto? como adormecemos num mundo que nos foi injusto? como sonhamos nele, e para que ele seja melhor?

confesso que nestas alturas me apazigua a ideia de que fazemos parte de um todo espiritual, que todos estamos ligados e fluímos agregados, que não basta alguém morrer para nos deixar, porque as almas, força de se amarem, não se afastam.

talvez se possa explicar assim a um filho a injustiça que ele sente. talvez se possa assim serenar a que sentimos. talvez não, mas se não assim, não sei mesmo como.

segunda-feira, 1 de março de 2010

a beleza pelo click



uma coisa engraçada acerca de fazer fotografias é que isso denuncia o nosso estado de espírito e/ou relação com o mundo.

acerca das fotografias que deixei hoje no facebook, disseram-me que as acharam deprimentes, porque conheciam os locais e vê-los agora,
assim, dói. eu discordei, porque quando as faço, olho para aspectos positivos no meio do abandono. não é uma perspectiva romântica, é uma visão que procura encontrar motivos para apreciar coisas e locais onde outros deixaram de acreditar.

mais, já me disseram que por eu a ver bela, há quem se sinta bela. beleza existe em quem a vê, então? se sim, onde está a real posse da beleza, no admirado(a) ou no admirador(a)? em ambos(as)? existe posse de beleza? isso é importante?

aprofundando, beleza está nos olhos que a vêm ou na alma por trás deles? porque se for percebida na alma, a beleza não pode ser menosprezada (tenho de dedicar um bom pedaço de tempo a este).

joshua beloniel, que uma amiga me recordou hoje, fazia fotografia de usos, retratava uma realidade de modo franco. não era fotografia romântica nem de mero registo, porque os temas, meramente registados, eram já românticos (pelo menos hoje entendemo-los assim).

se fotografarmos uma pessoa ou um local e percebermos um carácter bom nele (alegria, coerência, dignidade, honra, coragem, franqueza), mesmo que numa forma má (medo, raiva, abandono, degradação, inveja), isso configura arte? porque escolhemos aquele tema, e para revelar o quê?

focando bem, procurar coisas boas onde outros desistiram é uma das minhas perdições.

vista de lente



fim de semana bom, comidita boa, companhia boa, até bricolage (está meio empenado, mas vai ficar fino). e fotografia, fds de fotografia (é espreitar no facebook, quem não está pode pedir amizade......).

existe uma sensação particular em sair de casa de manhã, já com destino em vista, máquina na mão, equipamento na mochila, toda a gente com vontade. chegados, é analisar o potencial do local, saltar muros, passar portões, procurar entradas traseiras. depois, cada um por onde quer, é uma espécie de caça aos ovos de páscoa para crescidos. e cruzamos-nos, seguimos em paralelo para divergir outra vez, paradigma da vida.

tal como na vida, sabe bem quando vamos fotografar com quem gostamos.