sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

magoo, you done it again



o meu filho adora o mr magoo.

para pessoal menos vivido, é um personagem animado, velhote cheio de genica, que tem como principal característica ser vesgo a 99%, e "ver" tudo diferente. ou seja, ele vê coisas diferentes das reais. por exemplo, está a falar para uma cobra no jardim zoológico e a "ver" nela uma antiga colega de escola, com quem conversa. é engraçado, mas nada de profundo, apenas piadas simples. o gustavo adora, diz que ele é um tolo (confesso um gosto pessoal por o ouvir rir das personagens de que ri, em puto).

aproveito o mr magoo para escrever acerca de pessoas que criam para si realidades paralelas.

toda a gente tem direito a ter a sua própria perspectiva de vida. direito e responsabilidade. logo, se é a perspectiva e vida de cada um, quem está fora não tem nada a dizer. mas isto é meu, escrevo o que quero. e hoje escrevo generalidades, provocações ligeiras.

ora quando alguém recria uma realidade, normalmente fá-lo para evitar existir na realidade real (generalidades, ainda, não faço nenhum juízo, nem digo que haja apenas uma realidade real). acontece que há pessoas tão desfasadas de coisas tão evidentes (para as outras), que parecem viver num mundo à parte.

porque me apetece, e sem critério (tenho critério, mas não o tenho de explicar), dou dois exemplos:

um (pensavam que ia escrever o primeiro, aposto), o de uma pessoa frágil e insegura, incapaz de se aceitar, que tem de negar-se a evidência da sua fraqueza, e inventa-se como pessoa poderosa, desejada e invejada (dizem que uma mentira repetida mil vezes se torna verdade, com muita gente produz efeito);

o segundo (agora estavam à espera de o outro, enganei-vos outra vez), o de uma pessoa que se recusa a acreditar no mundo como ele é, mesquinho, merdoso, e o recria, na convicção inabalável que há seres que são mesmo humanos (chamam-nos loucos, doidos, por vezes acrescentam varridos).

a realidade é que quem tem perspectivas à magoo não tem necessariamente de as ter piores que as "reais". mas como os extremos se tocam (oh, se tocam, como se tocam, os extremos), muitas das realidades "magooianas" são absolutamente insuportáveis entre elas.

não era para fazer lógica, mas para quem fez, sabe do que estou a falar.

mudanças



já não faço há algum tempo, mas é coisa de que gosto basto. aquela cena de macho, pegar nas coisas pesadas, organizar, arrumar, disso não gosto nada. do que gosto é de ser eu a desenrascar sempre a carrinha para as coisas grandes (e de a conduzir...), e do prazer que costuma provocar a minha disponibilidade. mas desta vez não é preciso carrinha...

as últimas que fiz, foi para um terceiro andar, sem elevador. na altura o sário ajudou (foi a modos que iniciação ao estágio... um abraço, rapaz). na véspera das mudanças, fui busca-lo ao aeroporto (não sejam maldosos, já lhe tinha dito ao que vinha), e fomos comer uma francesinha a gaia. ele dizia que tinha comido uma e não gostou muito, mas aquela, jasus! tava de lamber o prato, ficou fetiche gastronómico. depois fomos ao cais, esvaziar uns copos (eu prefiro o lado do porto, mas a menina não quis), para ganhar ânimo. e no dia seguinte, trabalho de escravo...

mas vale sempre a pena. de cada vez que alguém se muda, ganha sonhos novos, deixa coisas para trás (boas e más), mas leva para o local novo só as coisas boas (se for esperto(a)).

um arquitecto, que não valorizo muito, dizia (e escrevia, acho), com pipas de razão, que as pessoas deviam ir mudando de casa, várias vezes. concordo.

porque isso lhes permite conhecer várias formas de viver, e para se fazer escolhas há que ter conhecimentos, para fundamentar as escolhas. suponho que a partir de certa altura, tendo essa informação, não é muito prático continuar a mudar muitas vezes, porque as pessoas são recolectoras, e vão acumulando tralha (tralha está aqui no sentido vasto da expressão), o que torna as mudanças mais demoradas (e sobretudo mais pesadas).

de certa forma, essas experiências habitacionais podem extrapolar-se para as relações pessoais. nada contra amores imberbes (mesmo nada, nadinha), até se pode acertar à primeira (há gajos com sorte, e aqui é mesmo sorte, se depois ficarem com a pessoa já é mérito). eu sou adepto de experimentar, conhecer, entender. e dar-me a isso, também, porque se na casa é uma experiência com um sentido, numa relação pessoal tem os dois.

tal como há uma altura em que escolhemos a casa e modo de vida (não tem de ser definitivo, escolher sem prazo, sem pensar que estamos de passagem, ali), também quando estou com alguém, e alguém comigo (não tem de ser para sempre, mas estamos para construir) sabemos que estamos por opção, porque queremos mesmo o
(a) outro(a), e não porque é o que há disponível, e logo se vê, e tal.

como cantava a dietrich... ah, a
dietrich... que bem se devia morar na dietrich... http://www.youtube.com/watch?v=FVlOBmipVvs

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

chez moi



um amigo comentou aqui que isto é a minha casa. é exactamente isso que é. e a vantagem é que nesta podem entrar elefantes e tudo. aliás, diz ali em cima que estão as portas abertas, é mesmo para entrar. e pode-se sair quando se quiser.

não sei se cheguei a escrever porque posto aqui quase todos os dias: é porque isto é um veículo de expressão tremendo, e porque gosto de ter os amigos próximo. daqui chego a várias pessoas, e elas vem até perto de mim.

hoje estava a falar com uma amiga, dizia ela que, devido a questões "logísticas", se ia receber menos bem em casa dela(es). mas não é assim, ela(es) recebe(m) sempre muito bem, porque recebe(m) com gosto, de maneira generosa. não é importante se damos muito ou pouco, o que importa é se damos o que temos, e se o damos com prazer.

já me aconteceu ter pouco (umas poucas vezes...), e da-lo. essa minha característica faz espécie a pessoas que são diferentes, mais sensíveis a confortos materiais, a estabilidades. mas a questão é que se damos quando temos muito, mesmo que demos muito, vale pouco. já se dermos quando temos pouco, claro que damos pouco, mas vale muito. e sabe muito melhor.

aqui, só há um requisito para entrar: que entrem livremente (de vontade e de espírito). não há mais porque, penso que já escrevi, tenho necessidade de acreditar nas pessoas, que elas podem vir por bem (parênteses: sei que me lixo pipas, mas tem de ser, não acredito em mais nada). vai daí, portas abertas. e as portas, como a casa, estão em sentido lato, abrange a alma.

mas há alguns para ficar, ou voltar. convém que venham por bem, que queiram fazer parte da mobília, que se dêem também, na sua medida e a seu modo, e que não venham para mudar ou moralizar, on est ce qu'on est. e por fim, last but never least, delicadeza é condição preferencial...

p.s.- não sei se repararam, mas moi acertou o relógio cá de casa. sozinho!


estou sem sono



porra de noite.

o sporting levou 5 (vou deixar de falar de futebol), os knicks ficaram curtos outra vez (chega a ser desesperante, dão avanço todos os jogos, hoje ficaram quase, quase, quase), fui entregar um trabalho a um cliente e receber euros, zip, vi que tenho um aviso de corte da edp (que devia estar a ser paga pela porra do banco, mas parece que não), vou ter de acordar de madrugada para ir à loja do cidadão pagar, antes de ir para tábua, convencer um cliente que tudo que ele quer fazer é estúpido (e é mesmo, raios parta!).

estou sem sono e não me apetece ler. é uma altura daquelas em que sexo calhava mesmo bem. ou então ficar a ver alguém dormir, serena. serena-me, ver alguém dormir, serena. com o gustavo também resulta, até melhor. adoro vê-lo dormir, fico com a certeza que está tudo bem. mas hoje não está ninguém.

só preocupações, e o carro do lixo, que passa a esta hora. há alturas em que fico invejoso por não ter um trabalho simples, sem responsabilidades. podia ser almeida (é o que chamamos em lisboa aos "homens do lixo"), ou porteiro, em qualquer lado (menos bares e discotecas, um sítio sossegado, só tinha de abrir a porta e ser simpático). é o meu yin preguiçoso a falar: "deixa lá essa merda toda de seres teimoso, pára de lhe chamares convicto, e encosta-te a qualquer coisa tranquila". mas o yang grita sempre mais alto; "foda-se, eu era lá feliz encostado! venha o que vier, resolvo, e sigo". o meu yang grita sempre mais alto, tenho yin fraquito.

quase nunca tenho insónias, consequência de consciência tranquila, digo eu. as poucas vezes que isto me dá é quando acumula muitas coisas, para resolver ao mesmo tempo. acho que o cérebro se recusa a parar, preferia começar já, recuperar horas. por falar em horas, são quatro. em minha casa ouço os sinos de s. josé. quase nunca dou por eles, força de os ouvir, mas nestas alturas, quando se houve o carro do lixo, também se ouvem os sinos de s. josé.

daqui a pouco, cantam os passaritos. pousam nos beirados, acordam sempre bem dispostos. já aconteceu, no verão, entrarem em casa, voarem por aí. são meus vizinhos. houve um período que eram os meus únicos vizinhos, o sonho do prédio esvaziou-se, só fiquei eu. mas agora está mais gente, tenho gente no andar de baixo. os putos perguntam pelo gustavo, vem cá brincar com ele, e ele vai para lá. e quando estão todos na escola, em dias de janelas abertas, por vezes a d. luísa canta fado, parece que vivo na mouraria. nem sei se ela canta bem, mas que sabe bem, sabe.

um dia, breve, o prédio vai estar cheio, outra vez, portas abertas dos apartamentos todos, outra vez. vamos ter de procurar os miúdos pelas casas dos vizinhos, tomar refeições juntos, beber umas cervejas à noite, a falar de nada mais coisa nenhuma, a ouvir lhasa ou carlos santana. já houve gente que esteve e saiu. há gente que saiu e vai voltar. há, algures, alguém que ainda não esteve, mas vem. e vai querer ficar.

daqui, porque gosto de vós, velo o vosso sono. gostava que todos estivessem a sonhar um sonho tão doce como o meu.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

almas gémeas



se almas gémeas fizerem amor, é incesto?

lembrei-me disto a beber café com uma amiga, amiga no sentido rico da expressão. estava ela a explicar-me a teoria das almas gémeas, yin e yang, pessoas que se completam, peças que encaixam, reencarnação e o diabo a sete (se calhar é deslocado falar do diabo e do sete neste contexto, não relevem).

ora eu tenho muitos defeitos (venha o diabo e escolha...), mas fatalista não sou. não me entra que, algures pelo planeta (esqueci-me de perguntar se a alma pode reencarnar noutra galáxia, ou se apenas nesta, mas noutro planeta), haja uma fulana
que me complete (espera lá, pode ser um fulano. ou um babuíno! se for um elefante, estou fudido...).

nem quero imaginar o paquiderme a chinelar cá em casa (e no andar de baixo, e no outro ainda, até ao rés-do-chão. a minha casa tem estrutura de madeira, não dimensionada para elefantes ou baleias). é por isso que não namoro batoques (não é só por isso, está bem, mas por isso primeiro que tudo, este chão deu muito trabalho a pôr bonito). e depois, elefantes de sandálias de tiras? turn off...

e mesmo que fosse uma rapariga toda empinada, a dar gosto, com a sorte que tenho, ainda errava na década: saia-me uma moçoila de 70 anos ou uma de 7 (venha o diabo outra vez).

para cúmulo do azar, porque me acontece acertar nele muitas vezes (no cúmulo, para quem não percebeu à primeira), a minha alma gémea seria uma fada morena de 32 anos, gestos do diabo em corpo de anjo, mas... lésbica!

e ainda por cima, parece que a história da alma gémea não prevê trigémeas (ou mais)...

nã, eu prefiro tentar agarrar a vida com as mãos (e os olhos e o nariz e a boca, quando as mãos não podem), e escolher quem me atrair. reconheço que escolho pela alma (mesmo que comece por a agarrar com as mãos), mas não procuro gémeas.

mas se encontrar, e estiverem as duas de sandálias, acho que fico com todas. as gémeas e as sandálias...

p.s.- não tem nada a ver, mas não percebia porque saiam os post's com uma hora de publicação manhosa, pensei que o portátil fosse tão caprichoso como eu. afinal, é só acertar o relógio disto... mas o meu técnico informático anda meio atrapalhado (pensa nos bónus), por enquanto fica assim.

cartas de amor



por estar a olhar para uma pilha de cartas com contas, em cima do estirador, lembrei-me que já quase não se escrevem cartas de amor. eu escrevi "quase" não se escrevem... alguns gauleses resistem, ainda e sempre... ui, não é isso, algumas pessoas resistem, ainda e sempre (quem dera), ao monopólio de sms's e email's.

eu confesso que a electrónica tem muitas vantagens: chega-se mais depressa, podemos juntar umas imagens (fotografias ou outras), fica mais barato, é mais producente. mas tem os seus riscos.

há coisa de um mês atrás, fiquei com um projecto por causa de uma sms quente. não fui eu que a enviei, sou um fulano discretíssimo (aliás, a fama que tenho não tem proveito, o que eu aproveito não me fica de fama). foi um colega (mais ou menos), à futura ex-mulher do cliente (mulher linda, reconheço), e embaralhou-se tudo. razão tenho eu em não querer misturar negócios e prazer. bem não é todo o prazer, apenas prazer carnal. bem, não é todo prazer carnal: bifes, javali, costeletas, essas carnes podem e devem misturar-se com trabalho. resulta o que se chama juntar o útil ao agradável.

voltando às cartas de amor. eu tive poucas, e escrevi ainda menos (pecado grave, tenho de me penitenciar: a próxima vez que me encantar, escrevo-o). assim de repente, recordo três: uma, falsa como serpente; outra, perfumada de morte (há quem saiba fazer as coisas, caramba); outra ainda, de entrega apaixonada. vieram por correio, foram entregues em mão ou simplesmente deixadas para ser encontradas.

as que escrevi, era catraio (mais ou menos), eram tolas e falavam de construir. escrevia acerca de duendes, magia, espaços enfeitiçados. engraçado ver que tantos anos depois ainda sonho o mesmo. pode-se ver isso como falta de evolução, de imaginação, ou como um entender precoce dos parâmetros que me trazem felicidade. voto no segundo (e a menos que os comentários me contradigam, o que é difícil porque os posso recusar, ganho por maioria e aclamação (nada me impede de aclamar)).

já agora, também poucas vezes flores adornaram encantos meus. assim de repente, recordo um ramo que tive de pedir para entregar (porque estava distante, só isso). é nessas alturas que sabemos quem são os amigos em quem podemos confiar, digo-vos eu.

e só uma vez me florearam a mim, um ramo de rosas lindo, de um encanto platónico. muita gente ri quando digo que fui um trengo, mas tive aquela mulher nos braços e nem um beijo lhe beijei. adiante...

deixo vídeos, perspectivas diferentes. take your peek. take all, hoje estou generoso.

http://www.youtube.com/watch?v=L4aTLurY3gw

http://www.youtube.com/watch?v=Syxwkc36jas

http://www.youtube.com/watch?v=6KZqfN9eh8w

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

amor homossexual



esta é o post 69. descansem os que reclamam que só falo de sexo, não é essa abordagem que vou fazer hoje. o assunto deste 69 é amor. neste caso, e por escolha minha, amor homossexual.

é verdade que não há amor homo ou hetero, há apenas amor e mais nada.

mas como não está assim definido pela lei nacional (quer dizer, está, na constituição, mas quem legisla evita ler essa parte), o assunto, mais do que amor, é liberdade de opção, de deveres e de direitos.

eu tenho o nosso primeiro em fraca conta. acho que o maduro devia ter feito muito mais, porque tinha todas as condições para isso. está errado quem pensa que em tempos de dificuldade há que sobreviver, é nestas alturas que se pode apelar ao melhor de cada um, porque as pessoas estão mais disponíveis quando tem menos a perder. e eu acho que ele apela pouco, apenas o essencial e mais meia dúzia de questões. ora temo que ter introduzido a questão do casamento homossexual no programa de governo seja uma dessas questões da meia dúzia, mas...

o facto é que introduziu, e pode com isso eliminar mais uma incongruência da legislação portuguesa. precisamente a questão da constituição, que já ouvi ridicularizada por gente muito patriota. aquilo não é um livro de conselhos, porra, é a lei hierarquicamente superior de portugal. ou bem que se cumpre, ou se muda, mas sejamos congruentes.

agora o aspecto mais relevante da questão (as leis são muito bonitas, mas a alma é que conta): porque raio não hão-de duas pessoas puder estar juntas, ter família, confiar-se, admirar-se, respeitar-se mutuamente? porque não hão-de contituir a sua família apoiada no casamento civil (com a igreja não me meto, sou agnóstico praticante)? eu não sou adepto do casamento, nunca fui, casei e correu mal (há uns post's disse, em piada, que a culpa tinha sido dela, mas a verdade é que foi principalmente minha). mas se algum casal sente essa necessidade ou desejo, tem o direito de materializar o seu amor no casamento. aliás, o único requisito para duas pessoas se casarem, devia ser o de se amarem e sonharem juntas (vá lá, não riam).

se duas pessoas podem casar por interesse, e divorciar-se por questões fiscais, como há descaramento de impedir que os que se amam se casem, só porque vão à mesma casa de banho no shopping?

a história da família tradicional não cola: quantos casais estão divorciados, quantas crianças tem meios(as) irmãos(ãs), quantas mães solteiras há, quantas adopções e fertilizações químicas? o mundo mudou. as pessoas divorciam-se, se estão mal casadas. as pessoas juntam-se, se se amam e não querem casar. as pessoas deviam poder casar-se, se amarem alguém do mesmo sexo. não tenho nada contra a tradição desde que não atrapalhe o crescimento da humanidade (vide escravaturas, sexismos, fundamentalismos religiosos e outros).

a questão, caros leitores (incrível como nunca me lembrei de escrever isto! ok, eu sei que é foleirito, não repito), é pré-conceito. é acharem, os que são diferentes, que não pode haver algo certo se não for como o que fazem. eu acho que cada um manda na sua casa (e manda de forma partilhada, se estiver num casal), e tem de respeitar a casa dos outros, para que respeitem a sua.

se duas pessoas, conscientemente, se amam, deviam puder casar-se.

p.s.- admito opiniões diferentes, e que as expressem, aqui. também admito opiniões semelhantes, e que as expressem, aqui. mas, se as querem publicadas, tem de as expressar com respeito pelas diferenças (de opinião e de opção).

veículos automóveis



costumo gabar-me de me conhecer bem, o que também implica conhecer as insuficiências (e as deficiências). uma delas (insuficiência ou deficiência, como quiserem), é que não percebo um boi de carros.

não é assunto de que goste. até acho piada ao design, mas não ligo assim tanto que os (re)conheça.

e de mecânica, o que sei aprendi com um fiat uno que tive, em tempos, e com um suzuki samurai, azul, coisa mais linda. pois eu, durante vários anos, tive mil acontecimentos com estes carros (não simultaneamente, claro): fiquei debaixo de água, o motor ardeu e apaguei-o a sopro, fugas de óleo e fumo por todos os lados, carros que paravam sem motivo, rodas que bloqueavam ao ser empurrados e se soltavam com um encosto, correias a partir (de distribuição e de radiador, sim, há duas correias), caixa de velocidades a colar e bloquear as rodas, "capot" a abrir em andamento e a tapar o vidro, furos e pneus rebentados, água que entrava no jipe (parecia uma piscina), gasolina que acabou... eu fiz curso de mecânica prático e intenso, se estão a ver...

o carro que gostava de ter era uma relíquia, daqueles que despertam sorrisos a quase toda a gente, e custa uma pipa de massa para ter no activo (sem mencionar a gasolina...). também gosto de carros actuais, mas tem electrónica de mais, e tenho fobia que aquilo me vai engatar sério. não gosto deles muito vistosos, porches e afins, odeio ostentações. carros grandes também não me servem, prefiro coisas mais maleáveis, e banheiras só gosto em casa. carrinhas e mini-van's também o mesmo, jipes modernos igual.

ainda compro um camião. pelo menos a parte da frente, a cabine, porque não tenho dinheiro para o atrelado. nem nada para pôr lá dentro. a menos que venda o apartamento, e me mude para o atrelado. bem, se o estacionasse perto de um relvado, podia ter um cão, e um estendal de roupa ao ar livre! não é ideia para desprezar à partida. será que gastam muito gasóleo?

leveza pesada



recupero o post de há duas noites, acerca das voltas que a vida nos dá. a minha tem girado um pedaço, nos últimos dias, última semana, talvez. não deve ser acaso ela girar mais quando o meu pequenito não está, mas isso é outro assunto.

de repente, várias coisas se aligeiraram: a casa, o encanto, preocupações familiares. o trabalho aumentou, mas isso vai encher a conta e aligeirar questões "eurónicas" (não confundir com neurónicas, nisso ando sempre ligeiro. bem, nas "eurónicas" também não me carrego muito...).

ando com uma sensação de leveza pesada.

quase como a minha equipa da nba, que despachou jogadores para criar cap space (o que quer dizer, libertar jogadores e respectivos salários, para criar capacidade de investimento noutros melhores, no futuro), e ficou mais fraca, no presente.

pois eu ando assim (quer dizer, não despachei ninguém, foi a vida que girou, acho), investidor.

tem muitas coisas boas, estar assim. portas para abrir, pessoas para conhecer, espaços com novas características. escolhas novas, basicamente.

mas também tem coisas más. acho que nunca consigo estar inteiramente feliz (sim, é possível. pá, vocês é que não devem saber como. se calham andam a tentar no sítio e com as pessoas erradas... esqueçam lá a parte do "para sempre" e vão ver que tudo tem outra perspectiva) se não acordar a meio da noite (também funciona quando me for deitar) e vir lá a dormir a pessoa que quero.

eu sei que acontece poucas vezes. mas pelo menos, preciso de um nome, um corpo, uma alma, para desejar que lá estivesse. pelo menos sonhar com isso, com dias felizes. não ter esse sonho activo, pesa-me.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

sporting 3 - 2 benfica




fui ao futebol. jogo bom, estádio cheio, e de bónus, ganhamos. com mérito.

gosto muito de futebol, mas vou muito poucas vezes (quando era puto, era sócio, ia a quase todos os jogos). e aborrece-me ir, se o jogo for monótono, ou se jogarmos mal. o último que me recordo de ir lá ver, ganhamos 3-1, e foi uma seca, pareciam solteiros e casados.

é diferente ver na televisão (vídeo killed the radio strars, tv's killing football), no estádio há a envolvente toda, fica tudo exponenciado, muito mais intenso. desde o percurso até entrar, comer uma bifana (acho que ainda há couratos...), beber uma cerveja, partilhar as espectativas, "era fix se...", gozar com os adversários (e com os nossos, também). as filas, os cartões magnéticos (antigamente eram bilhetes de papel, a que se rasgava a ponta), as revistas. depois, os golos, gritos e abraços. os erros, "vai-te fuder, cabrón". e a saída, no meio de mil pessoas, todos a sentir mais ou menos o mesmo. futebol é comunhão. comunidade.

eu não gosto do treinas que lá temos, fica muitas vezes curto. e o presidente trata o clube como uma empresa, acho que não percebe bem os conceitos de adepto, sócio. o estádio é feio de morrer, mas tem uma acústica fantástica. e temos jogadores apaixonantes (liedson, carriço, polga, vuk, izma, pereirinha). no entanto, o que mais aprecio,no meu clube, é a academia, o facto de ser um clube de formação. acabamos por gostar de muitos dos jogadores porque os conhecemos desde miúdos, os vimos crescer. dá gosto ter uma equipa feita 60 ou 70 por cento de jogadores da formação a dar luta às melhores do mundo. por vezes...

o meu filho é do porto, eu sou do sporting. está visto que ele não percebe nada de futebol, passa a vida a perguntar qual é qual, só se lembra das cores. fazemos assim: quando o porto ganha, dou-lhe os parabéns, quando ganha o spoting, ele dá-mos a mim. desta maneira, aproveito para lhe ensinar fair play.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

as voltas que o mundo nos dá



conheço um fulano que tem a teoria que, com o passar do tempo, o envelhecer, as pessoas não melhoram nem pioram, apenas intensificam, entranham mais, as características que tem. é uma teoria fatalista, onde não fica espaço para crescimento, no me gusta.

segundo ele, a menos que houvesse uma qualquer espécie de visão sublime, alguém que fosse manhoso, seria manhoso toda a vida. do mesmo modo, a menos que alguma tremenda desilusão ou desgraça acontecesse a uma pessoa boa, ela nunca deixaria de ser boa, e seria cada vez melhor.

ora isto é uma parvoíce pegada. não só porque generaliza, como porque está errado. cada pessoa pode aprender, melhorar, crescer, mingar, desgraçar-se.

o único aspecto da teoria dele com que concordo, é que acontecimentos que nos atinjam fundo, provocam (podem provocar) alterações igualmente profundas na perspectiva que temos da vida. quer isto dizer que, mesmo quando tomamos o nosso destino nas nossas mãos, conscientemente, há factores que não controlamos, e que nos afectam. tem a ver com a questão do fluxo, de que escrevi acerca alguns post's atrás: por melhor que saibamos nadar, há correntes que não conseguimos inverter (quem já correu risco de se afogar sabe do que falo).

tudo isto porque ontem me deparei com algo do meu passado. ontem vi como está actualmente um icon da minha adolescência.

era uma moça linda, seguro que preencheu muitas fantasias de muitos adolescentes meus contemporâneos, ginasta famosa, moça de futuro invejado. mas ontem vi-a triste, da ginasta cuja graça me encantava, nada. do sorriso, nada. apenas uma pessoa afogada num trabalho, olhar sem chama, atitude conformada. o que me incomodou (sim, incomodou é a expressão exacta) nem foi estar um batoque, sem amplitude gestual, foi não a ver sorrir. uma amiga, que a conhece razoavelmente, garantiu-me que foi do dia, que costuma ser uma pessoa muito alegre, a mais bem disposta do local. isso acalmou-me, mas o que guardo é uma mulher triste, que perdeu.

tenho de voltar lá, para a ver sorrir, questão de paz de espírito. e também porque não se come nada mal...

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

leiam só se não tiverem mais nada que fazer



hoje não tenho assunto. acho que foi a primeira vez que olhei para o monitor, e zero. já aconteceu montes de vezes olhar sem saber ainda o que vou escrever, mas aparecem logo três ou quatro assuntos. deve ser por estar estafado.

...

ok, já chegou veia, a minha musa hoje quis brincar comigo. como dizia uma paixão antiga, olhos azuis mentirosos, mas umas mamas lindas: "tu rigole, toi". foi um caso raro de não compensar o mal que fazia (que não foi muito...) com o bem que sabia (porque nem sabia assim tão bem...).

está visto que hoje não meto uma.

voltando à veia (de escritor). conheci várias pessoas hoje: fiquei a saber que a câmara de tábua tem administrativas (e engenheiras) tão atraentes como as da câmara de coimbra, mas muito mais eficazes; confirmei que tenho propensão para doutoras (aquelas fulanas que se arranjam muito, cheiram muito bem e parece que tratam de burocracia ao telefone); e conheci um casal que trabalha junto.

por método de eliminação, falo do casal.

gostei dos dois, acabamos a almoçar todos (iap, mais a doutora, quem me dera lembrar-me do nome dela), almoço de refeitório, uma maravilha, carapaus fritos (em lisboa chamamos petinga) e feijão frade (eles pensavam que eu não ia gostar...). acho que é a minha parte preferida, no modo como exerço a minha profissão, esta coisa de, mais cedo ou mais tarde, entrar na vida das pessoas, e pela boca.

bem, deixemos a doutora e a petinga, qu'isto não leva a lado nenhum (quer dizer, leva, mas não é no texto).

agora é que é: casal que quer durar, não pode trabalhar junto! esta é uma regra de ouro, eu até costumo cumprir (estive quase a cair por duas vezes, mas aguentei-me, king of the castle).

voltando ao assunto, eles estão mesmo a precisar de férias. ela quer ir com ele, ele não deixa o trabalho, e acho que nem se importava se ela fosse sozinha. foram bocas cruzadas o almoço todo, a doutora (se me lembrasse do nome dela... só recordo uma pestana rebelde, no nariz, estive quase para lha tirar e dizer-lhe para pedir um desejo, mas sou tímido e estava mais gente...) meio à nora, sem saber a quem dar razão, uma no cravo e outra na ferradura (são os dois patrões dela), mas a pender para a senhora (solidariedade feminina).

eu nestas coisas também sou sempre solidário com as mulheres (a menos que haja motivo evidente para o contrário). acabei por dizer que elas tem de nos dar desconto, porque só somos (nós, homens) capazes de fazer apenas uma coisa de cada vez. a doutora ficou toda contente por eu reconhecer, disse que eu era o primeiro (iap, tá-se a ver) mas eu aproveitei logo para informar que reconheço, mas como desculpa para não trabalhar muito (eu vejo muito à frente). depois disse que a culpa nos problemas entre casais era sempre dos dois, excepto num caso, o meu, em que a culpa tinha sido toda dela (disse a brincar, ok?). aqui a doutora mijou-se (de certeza) e a mesa desatou a rir. foi coisa de dois minutos, depois eles pegaram-se outra vez...

acho que ainda não escrevi nada de jeito, e já não vou ser capaz. volto lá para a semana, ver se chego em cima da hora de almoço. desculpem se leram em vão, hoje.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

nuvens passageiras



é engraçado como certas coisas nos deixam mais alegres, até felizes.

a mim aconteceram várias coisas destas, nas últimas horas: dia de sol, frio; falei com um amigo, por telefone, de que tinha saudades, e a quem queria deixar um abraço ao tempo; falei com outro, via msn, ainda sou capaz de anunciar uma contratação tardia no mercado de inverno...;os knicks ganharam, numa jogatana (e o stream não falhou); vi um filme que nem sabia existir, "onegin" (gostei mais pela surpresa, o filme não é grande espingarda), a partir do livro de pushkin; acabei um trabalho (bem, era só um desenho, pediram-me que identificasse quais as espécies arbóreas a implantar no jardim de um edifício, ora eu de verdes, só o sporting, pedi ajuda a uma criatura algo intrigante, pena ser tão nova...); surgiu um trabalho novo, daqueles que dão gosto fazer (é só uma hipótese, diria alguém que não me entusiasmasse, mas entusiasmo sempre); vai ser dia de receber euros (mais provável amanhã...); fiz planos gostosos para o fim-de-semana, vou estar com amigos e família; e hoje, daqui a pedaço, gustavo's in the house.

têm sido dias difíceis, perdi coisas importantes, temi perder outras muito importantes.

todos os dias o sol nasce, todas as noites há lua, mesmo quando as nuvens não deixam ver.

esta noite tirei um filme, "drifting clouds", do kaurismaki, que vi há muitos anos. fala de uma mulher que não perde a esperança, quando tudo corre mal. é essa teimosia que vai permitir sobreviver até as nuvens passarem, e elas passam sempre, para gente teimosa.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

máscaras



não escrevi de natal nem de ano novo, na época deles. é mais fácil escrever de frutas, na época delas. mas hoje vou debruçar-me sobre máscaras, e claro que está relacionado com carnaval.

não sou grande admirador da época, não acho piada às meninas nuas, em cima de carros decorados, debaixo de chuva e frio. soa-me aqueles bares de strip, onde fazem lap dances, mas não se pode tocar nas moças (pá, confesso que nunca fui a nenhum, mas já vi na tv, coisa mais parva). é como ouvi dizer a uma adolescente: "elas põem no forno a aquecer, para outras comerem".

no brasil faz mais lógica, está calor, e quem aquece é quem come
. toda a gente come, parece (também nunca fui, mas mais depressa me apanham lá que num strip bar).

há em portugal algumas tradições engraçadas e fundamentadas (algumas), a dança dos cus (cabanas de viriato) ou os caretos (podence, trás-os-montes e lazarim, beira interior). deve haver mais, mas desconheço.

e o carnaval dos miúdos, genuino. eles estão sempre a fazer de conta, mas nesta altura podem fazê-lo com máscaras e tudo.

depois há o carnaval de veneza! isso sim, é festa. há mistério e sedução. e história: consta que no tempo dos doges já era possível andar mascarado, e dizer o que se queria a coberto da máscara. mais verdades diziam as bocas das máscaras que as das pessoas. e é aqui que quero chegar.

o que me revolta nas máscaras é que impedem as pessoas de o ser (pessoas). torna-as imagens, aparências, enganos, distantes. e dependem da máscara para ser isso, que já é menor do que seriam sem ela.

não me incomodo com alguém que trate da sua aparência, nem que use máscaras. muitas vezes, torna tudo mais apetecível e excitante. mas não pode deixar de ser quem é, de "se" ser (e qualquer decoração, por mais importante que seja, é secundária). se a máscara anula a pessoa, está errada.

o carnaval dos putos é genuíno porque não deixam de ser quem são, com as máscaras. já repararam no prazer que eles tem em retirar a máscara e responder "sou eu, pai, enganei-te", quando perguntamos quem é aquele palhaço, cãozito, whatever...

se a máscara acrescenta à pessoa, certo. se a reduz a uma aparência, errado. o julgamento é meu.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

do i know you?



p.s. (pre...)- removi um post, o último. acontece que sou um fulano emotivo, ajo e reajo por impulsos, e escrevi-o por mau motivo, bad blod. acontece também que sou racional, e depois de sentir gosto de entender o que senti, tento perceber porquê. é a minha forma de me conhecer, resulta. e como percebi que o tinha escrito com raiva, retirei. desculpa.


serve o caso para elaborar nisto de nos conhecermos. e de conhecermos os outros, também. agora escrevo sem raiva.

deparo-me com muitas pessoas que dizem não saber o que querem, nem quem querem ser. também me cruzo com muitas outras, mais ainda, que nem querem saber do assunto, raladas com jantes de liga leve e/ou marcas de roupa.

vou-me debruçar sobre aquelas, porque quem acaba por ficar mais perto de mim (acho que é mais vice-versa), são os que se procuram (porque quem se procura, não se procura nos outros, mas procura os outros). quer estejam à toa nessa procura ou tenham uma noção muito concreta de quem são. ou em qualquer fase intermédia do percurso (nem tudo é preto e branco...).

numa fase inicial de auto-conhecimento, temos, por motivos educacionais, parâmetros que consideramos correctos. ora está bom de ver que não encaixamos neles todos, é impossível. em sequência disto, temos defeitos (porque não encaixamos no correcto, na virtude).

sempre que nos deparamos com algum defeito (há também quem o faça com as virtudes), podemos tentar corrigi-lo. se não gostamos de algo acerca de nós, mudamos, crescemos, evoluímos. isto é mais fácil em fases precoces, quando temos muito para crescer, e podemos escolher por onde, quando ainda não fizemos opções, boas ou más (para nós) que nos tenham eliminado percursos. depois é ser objectivo no que queremos ser, e casmurros no caminho (há métodos mais suaves, mas menos eficazes).

o assunto disto, no entanto, é qual o motivo que nos leva a querer mudar, ou a provocar outros no sentido de eles mudarem?

tem esse motivo a ver com a educação que tivemos (paternal, escolar, social, artística, religiosa, etc), são os nossos defeitos ditados pelo que nos ensinaram ser defeituoso? se são, está tudo fudido, porque vamos estar a moldar-nos em algo que não somos, ou a moldar o mundo em algo que não é.

esta é a definição de contra-natura, fazer algo que não é natural, que não vem de dentro, mas antes que foi aconselhado ou imposto (muitas vezes auto-infligido) do exterior. ser diverso da nossa natureza não tem nada a ver com homossexualidade ou outras opções minoritárias (calhando nem é minoritária, sei lá), contra-natura é negarmos a nossa natureza.

se eu for um viciado em doces (eu, nã, é de exemplo), tenho na minha natureza come-los sofregamente. se não o fizer, vou contra-natura.

é um exemplo ligeiro, mas o mesmo se aplica a exemplos pesados: se eu fosse canibal (não inclui miúdas giras, escrevo no sentido alimentar do termo), seria contra-natura negar-me a comer outros seres humanos (não! miúdas giras não são chamadas para aqui). nestes casos bicudos, há que ir contra a lei ou a natureza, fica ao vosso critério (não estou a chamar canibal a ninguém, foi exemplo). o resultado é que temos de nos aceitar, mesmo com os pecados, e agir em conformidade e em responsabilidade.

tudo se resume então, a conhecer-mo-nos. a saber quem e como somos, o que queremos e quanto, qual o nosso percurso. o método que uso para me conhecer, já o descrevi em cima.

o método que uso para conhecer os outros, é provoca-los (já perdi jantares por isso, mas compensa). e quando estamos a provocar os outros, temos de ter o cuidado de não lhes impingir os nossos certos e errados, o objectivo é fazer parte do processo deles de descoberta dos certos e errados deles.

porque tanto no método que usamos para nos conhecer, como no que usamos para conhecer os outros, temos de ser honestos, connosco e com eles. não vale fingir que não importa, nem deixar coisas por dizer.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

papillon



em miúdo, lia muito. tanto que os meus livros acabavam depressa, e eu lia os do meu pai. destes, houve três que me ficaram até hoje, de formas diferentes: o "ivanhoe" (que lia como se escreve, à portuguesa),
de walter scott, de que falei em post recente; "a romana", do moravia, que me iniciou na volúpia (imaginária) dos corpos femininos; e o "papillon", de henri charrière. é acerca deste o post de hoje, porque estava em falta.

li-o há muito, era puto, aos 10 ou 12 anos. nessas idades estamos a começar a escolher caminhos, e eu tive sorte (e mérito, digo) de ter encontrado e absorvido excelentes provocações, em cada fase dessa(s) escolha(s).

o livro é acerca de um marialva, papillon (se não me falha a memória, porque usava um desses acessórios, entretanto em desuso), que foi indevidamente acusado (um testemunho falso) de ter morto alguém, e injustamente condenado a reclusão perpétua. ora ele era francês, e nessa altura eram desterrados para guianas francesas e afins, trabalhos forçados, violências e violações, mortes e abusos.

o livro conta o relato dos muitos anos que esteve preso, das várias fugas que protagonizou, de relações de amizade e ódio com outros presos e carcereiros, de períodos que viveu em liberdade, entre fugas.

parênteses (penso que fizeram um filme, com o dustin hohman, mas posso ter sonhado. por vezes, sonho coisas que me parecem reais, e vem a ver-se, não são).

guardo do livro algumas coisas:

uma personagem, um rapaz, maturette (ou algo semelhante), condenado juntamente com o irmão por assassínio. como nenhum denunciou o outro (fraternidade), foram ambos condenados a perpétua. do irmão não recordo mais nada, mas maturette participou numa fuga com papillon, admiração mútua, e recaptura também mútua. era frágil fisicamente, mas poderoso mentalmente, inquebrável. e homossexual, por natureza. havia muitas relações homossexuais entre detidos (consta que ainda há, razões de necessidade). numa altura, depois de recapturados, um dos presos veio perguntar ao papillon se era amante de maturette, e não o sendo, se se importava que ele o fosse. como se estivesse a pedir a mão do rapaz, ao tutor...;

inesquecível a descrição de um pastor de vacas, recluso, que se satisfazia com uma delas, e durante uma exposição, vacas alinhadas, passa o pastor e a namorada vira-se e oferece-lhe a retaguarda...;

recordo a fuga final, de uma ilha. ele salta de um penhasco, montado sobre um saco cheio de cocos (a fazer de bóia) e tem de saltar sobre a sétima onda, para que o recuo dela, maior, lhe permita sair da corrente;

outra coisa que guardo foi um período em que papillon esteve livre, numa qualquer aldeia indígena, de pescadores, ou mergulhadores. apareceu desfalecido, cuidaram dele, restabeleceram-no e integraram-no. sem perguntas ou reticências, apenas um ser humano que foi recebido por outros, em comunidade. ele acabou por construir família, mulher e filhos, que deixou, por um desejo de vingança que não controlava;

foi essa obstinação com a injustiça que lhe fizeram, que lhe permitiu sobreviver todos os anos e a todas as privações. enquanto odiou, se quis vingar, papillon sobreviveu a tudo, foi um homem completo, o homem que quis ser, nas condições em que estava, respeitado por todos, e por si mesmo antes de todos. mas quando a vida lhe apareceu à porta, não a pôde viver, deixou-a para trás. vários anos de reclusão passaram, até à fuga nos cocos. nessa altura já ele sabia a diferença entre viver e sobreviver, e permitiu-se viver, criar nova família, desprezar quem o tinha injustiçado.

é por ter aprendido isso, com o papillon, que desprezo melhor do que odeio.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

let's do it



é dia de post pedido.é como os discos, mas com post em vez de música. ontem tive outro pedido para assunto de post, mas ficou condicionado a um comentário do pedinte (o pedinte é o maduro que pede...).

o post é acerca de uma música de cole porter, não elaboro muito nela, vocês ouvem e percebem, tem a excelência das coisas simples.

em vez disso, discorro numa exposição de pablo picasso, em cascais, há uns anos atrás. fui com um anjo, uma pessoa doce, de sonhos reservados. acontece que picasso, para além de excelente, também é impudico. as salas estavam cheias com desenhos de corpos, humanos e animais, expostos quase obscenamente, fazendo o que a música aconselha, mas de maneira menos doce, mais franca, desregrada.

recordo o modo como o anjo olhava aquilo, mente aberta, a ouvir-me comentários deliciados acerca da liberdade de expressão que os desenhos possuíam. eu embarquei naquilo tudo, extasiei, senti-me livre naquela liberdade. uma das virtudes da arte é representar muito bem aquilo que queremos dizer, por vezes melhor do que conseguiríamos. adoro chegar aos outros por gestos de terceiros, quando esses gestos são geniais.

pois ela absorveu aquilo, parecia uma criança numa loja de brinquedos, interessada em tudo, mas sem mexer. por vezes é necessário fazer o gesto, tomar posse, mesmo sem autorização.

picasso did it. i do it. let's do it, let's fall in love.

http://www.youtube.com/watch?v=4aaZeihuSys

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

elogio dos fluxos



ontem aflorei os fluxos, são a minha perspectiva do mundo.

tudo flui, percursos que serpenteiam, se cruzam com outros, se misturam, e por vezes, depois, se separam.

por vezes estagnam, e quando estagnam por muito tempo, insectos e podridão. mas se apenas param para recuperar, ganhar alento sem estagnar, então, mesmo parados, também fluem.

e há as pontes, que geram fluxos sólidos, que se cruzam com os líquidos, sem lhes tocar, materialmente. pontes unem margens, e permitem novos fluxos. e novos fluxos é muito bom.

e os lagos e as praças, onde vários percursos se juntam, para conversar. e as barragens e as camas, onde se juntam e se potenciam, energeticamente.

a velocidade do fluxo é importante, e o controlo que temos dentro do fluxo que percorremos também (quem desceu um rio sabe-o). saber se estamos no fluxo certo, ainda mais.

a música e as histórias também fluem.

e também há as lágrimas, fluxos de dores que a alma tenta expulsar, docemente.

relações também são fluxos, com a particularidade de serem fluxos complexos, porque tem mais de um pulsar, mais de um percurso. uma relação existe quando dois ou mais percursos se compartilham. não se fundem, não se anulam, apenas seguem o seu natural percurso a par do(s) outro(s). se se anularem, pesarem, deixa de haver percursos, e estagnam. insectos e podridão, há que sair.

alguns fluxos são cruéis, mesmo que sejam válidos: o percurso de uma flecha, mesmo que justa; auto-flagelação, mesmo que vise salvação futura. noutros, é a velocidade que é cruel: um amor que vai sem o amarmos totalmente; uma viagem de comboio que não dura o suficiente; um amigo que morre novo; um sonho parvo que acaba em divórcio.


lisa ekdahl é uma menina romã, cuja voz flui de maneira única. ladies and gentleman, "cry me a river". i've cried a river over you...

http://www.youtube.com/watch?v=Qls7jLoS4nA&feature=related

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

sem título



todos nós temos os nossos truques.

uma música no cérebro, para sobrepormos a outra coisa parva qualquer que tenhamos de ouvir; uma imagem a que recorrer, para retardar o orgasmo (truque masculino); uma desculpa razoável para não fazer sexo (truque feminino); um tempero especial para pôr na comida, quando saiu uma cagada; uma actividade que nos acalma, quando não arranjamos ninguém para trocar murros (actividade masculina) ou com quem barafustar (feminina).

pois eu, na falta frequente de boxe (que vou elogiar breve. o desporto, não a falta frequente), recorro à mãe áfrica.

o "jaime bunda", do pepetela, ajuda sempre, e mia couto é quase infalível. mas hoje tive direito a bónus: malangatana está em coimbra!

a primeira vez que o vi, estava apaixonado, foi no espaço oikos (nem sei se ainda resiste...). conhecia-lhe o trabalho de livros, mas toda aquela cor ali exposta, franca, gerou paixão eterna (sim, paixão eterna não é um contra-senso, e amor eterno também não). acontece (este não resistiu...) que fds passado, passei na "bilioteca" municipal, e estavam a acabar instalação da exposição.

hoje fui lá salvar-me. o que mais me fascina, junto com a intensidade cromática, é a proximidade física dos seres. como se não fosse possível existirem sem o contacto dos outros, sejam humanos ou bestas, tenham uma atitude pacífica, nostálgica, apaixonada, belicista ou cruel. todos co-existem. todos se sujeitam a todos os outros, como se não houvesse mais espaço no mundo.

que aconteceria se nos enfiassem a todos numa cela pequena, vivêssemos uns encavalitados nos outros? como geraríamos hierarquia, se não havia espaço para noção de cimo ou baixo? como amaríamos? teríamos descaramento de ser mesquinhos, à frente (e em cima, e ao lado) de todos os outros?

parênteses (uma vez vi um filme italiano, cujo nome esqueci. aliás, esqueci tudo deste filme excepto duas cenas: foi a primeira vez que vi sexo oral no cinema (não era um filme pornográfico, simplesmente havia uma actriz que, a certa altura, abria a braguilha do rapaz e o fazia, da maneira mais terna que vi fazer em cinema, até hoje), e porque, durante um julgamento de crimes de máfia (se recordo bem), estavam uma dúzia ou mais de réus, numa audiência em tribunal, fechados numa gaiola(!) e um casal deles fazia sexo. a gaiola e os outros réus acabaram por retardar a intervenção dos carabinieri, que não conseguiram impedir a consumação).

isto hoje fica sem título, como muitas telas do malangatana, porque não sei bem acerca do que escrevo, foi fluindo. gosto de fluxos, eu.

a vida é um fluxo, um rio. há que saber nadar, sermos capazes de controlar o nosso movimento dentro do fluxo, evitarmos estar à mercê de correntes, porque podem não nos levar para onde queremos ir. e é importante irmos para e por onde queremos, depois de sabermos para e por onde vamos, bien sur.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

barbaridades


hoje joga a selecção. quero que eles se fodam, não me identifico com a maneira como fazem as coisas, agora. não sou admirador de brasileiros, tenho pré-conceito que são moldáveis demais, entre outras coisas, mas o chocolari era teso, falava a direito com toda a gente e dava gosto apoiar a nossa selecção, nessa altura.

agora temos um maduro, cheio de méritos, muito bom a programar tudo, muito bem falante e inteligente. diz ele que tem de se cuidar da vaca. como dizem nos açores, "ele que vá pastar". estou farto de gente a fazer de imaculado(a).

estou de mau humor outra vez. nem vou escrever porquê, não vale a pena. pois hoje vou fazer uma maluqueira, invadir um castelo, fazer amor homossexual, assaltar um banco, arranjar uma discussão de murros com um gajo qualquer, pôr as garrafas no contentor do papelão. o que me der na telha. calhando, ainda aspiro a casa e lavo os vidros, sempre rentabilizo a energia.

tenho uma amiga que não suporta gente burra. eu sou benevolente com eles, não gosto, mas tenho pena. explico as coisas de várias perspectivas, até serem inteligíveis. outros (muitos) amigos que tenho não suportam mentiras. eu também não, mas consigo desprezar, de novo tornar as coisas evidentes, porque a história não se muda. lembro-me de outra que não consegue ficar parada. eu, nada mais fácil. várias ainda, que não vivem sem estabilidade. eu sou solto, a minha estabilidade é saber o caminho e saber levantar-me.

o que eu não suporto é mesquindad.
haja pachorra.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

consciência social



iap, falta horrores.

num filme do kurosawa, um samurai inicia em vida a partilha das suas propriedades pelos três filhos. ao fazê-lo, tem o cuidado de fazer uma pequena demonstração: dá uma flecha a cada, e pede-lhes que as partam, à força de braços. fácil, para os três. depois junta um conjunto de flechas, e pede a cada um para o partir, ao conjunto, o que nenhum dos três consegue. ele então explica que se se mantiverem juntos, serão imbatíveis, e isolados, frágeis.

claro que a ganância os vai separar, e a única ajuda ao velho samurai vem do filho que ele primeiro afastou, envenenado pelos outros irmãos. enfim, até os experientes tem coisas a aprender (ou recordar, conforme os casos).

isto vem como exemplo à escala familiar, mas o mesmo se passa à escala local, regional, nacional, mundial (e se calhar ainda precisamos de ajuda alienígena).

toda a gente se queixa da economia.

confesso que sempre desprezei os suplementos de economia do expresso (quando só havia expresso...). está visto, por vezes desprezo demais. mas também sei reconhecer quando estou a perder algo, e recupera-lo.

muhammad yunus foi prémio nobel da economia, em 2006. eu sou muito céptico acerca do nobel, acho que há coisas que os nórdicos fazem melhor de que atribuir prémios (que porra, saramago ganhou aquilo, miguel torga e jorge amado não, só por exemplo). mas este foi fantástico, porque exponenciou o microcrédito à escala mundial.

é o exemplo mais tudo (delicioso, satisfatório, eficaz, abrangente, simples, mesmo tudo, tudo) de como a economia, deixando de olhar para os números antes das pessoas é quase mágica. as pessoas primeiro, os números depois. as pessoas é que são importantes, os números são veículos (desculpa lá, pitágoras, no resto estavas certo).

agora juntamos as pessoas, que são importantes, e fazemos como com as flechas, vamos uni-las! si, pessoas juntas, unificadas por um conceito global, sem perder a sua individualidade nem a submeter a modas de opinion makers, arrendados pelos gananciosos!

se cada um produzir a sua parte (nem tem de se exceder, basta a sua parte), ajudar o vizinho e deixar-se ajudar, sem créditos de favores ou cunhas, sem "encostos", apenas toda a gente, focada no problema geral, a dar o que tem. sem ninguém ser mais que outro alguém, apenas e sempre diferente. a resolver o problema de todos.

em putos sabíamos fazer isso. aos nossos, ensinamos a fazer isso, e eles gostam de o aprender. algures, durante o percurso, perdemo-nos, desprezamos coisas importantes (algo semelhante à ganância dos filhos do samurai). temos de as recuperar.

elogio das tatuagens



faço parênteses (vem isto em sequência de comentário ao post anterior: qualquer gajo que me enfiasse o groucho aqui, já era bem vindo, mesmo que não fosse amigo com outros (idênticos) gostos. se há coisa que me dá gosto é receber os amigos em casa, e isto aplica-se a todos, mesmo aos que não comentam a(s) visita(s)).

este é assunto que me toca (nos dias e noites boas, está bom de ver). organizo-me, escrevo de tatuagens.

tem elas duas tremendas virtudes (se lhe quiserem chamar outra coisa, por mim, força. isto é um blogue livre, tanto quanto possível): a 1ª e a 2ª (tinham adivinhado?).

a 1ª, mais terra a terra, água a água, lençol a lençol, é que são brutalmente excitantes. não vou elaborar muito, ou já não escrevo mais nada. mas baila-me na ideia uma tatuagem, interior de coxa, uma fada numa planta, planta que sobe coxa acima, até onde o mundo nasce. tenho uma alma simples, há coisas que se lhe colam (à alma) e nunca mais consigo descolar, porrinha.

a 2ª é muito mais importante. uma tatuagem é uma afirmação, pública ou não (conforme localização), mas poderosíssima, porque é eterna (quem faz tatuagens e depois as quer tirar seria(á) assunto para outro post) e porque implica dor, e dor implica vida (
não, masoquismo é outra coisa, aqui trata-se de sentir a vida na sua plena intensidade), no sentido rico da expressão.

quem tatua um amor, leva esse amor para sempre, seja um filho ou um(a) amante. se tiver mais filhos, seguro que também os tatua, mas nem todos o(a)s amantes ficam. a maior parte deles parte, mas é justo que o(a)s que fiquem, o fiquem com dor, e depois orgulho e prazer eterno por o(a)s ter amado. e para quem pensa que trazer o(a)s amantes antigo(a)s estorva o(a)s novo(a)s, aconselho marlene dietrich, "i've been in love before, (haven't you?)".

acerca do impacto social das tatuagens, guardo silêncio, não me pronuncio sobre quem as denigre sem entender, nem sobre quem as entende como decoração (já escrevi antes que sou excelente a desprezar).

p.s.- se a fotografia ainda não estiver colocada,
ainda aguardo autorização da proprietária da omoplata. já o vídeo, recupero os irmãos marx, do comentário que originou este elogio.

http://www.youtube.com/watch?v=n4zRe_wvJw8&feature=related

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

tigres, punhais e dragões



ontem vi um filme excelente, "dragon, tiger, gate", artes marciais chinesas. tenho visto ultimamente vários filmes de origem chinesa, vários géneros e temas.

é para mim o povo mais genuinamente oriental dos orientais (pré-conceito, claro).

gosto das artes marciais, da cena de voarem (no strings attached), de um certo conceito de desvalorização da própria existência pessoal em valorização de algo maior (sociedade, mestres, conceito nacional e/ou imperial), tão oposto ao viver ocidental. onde eles são (sub)servientes e deferentes, nós somos os donos de todos os direitos, os primeiros a comer e a satisfazer (são a mesma coisa, eu sei). onde os orientais se engrandecem por serem parte de algo grande, nós fazemo-lo por sermos maiores e mais visíveis e mais vistoso(a)s que o vizinho(a) (já não tenho pachorra para jeeps e cabelos oxigenados...).

confesso que eu nunca fui admirador da beleza chinesa, com duas excepções: uma colega linda de morrer, que tive na faculdade, e o amante chinês, d' "o amante", versão cinematográfica da história da duras.

mas acontece-me que grandes amores ou paixões só me sejam reveladas (perceptíveis) ao fim de tempo considerável, muitas vezes porque as vejo, finalmente, na perspectiva pela qual me apaixonam (com bilal foi assim, nem lhe ligava, até ver uma exposição de prachas originais d' "a caçada", no festival de bd da amadora).

ultimamente, dou-me conta, converti-me ao imaginário asiático.

acho fantástico a maneira como amam, o desprendimento e entrega com que o fazem. suponho que quem tem pouco a perder pode arriscar mais...

e o modo como se relacionam com o conceito de honra: os que a valorizam, fazem-no acima de tudo; os que a desprezam, apresentados como seres reles, desumanizados.

se ainda for a tempo de corrigir o anúncio de uns post's atrás, quero uma mulher romã chinesa. porque ela de certeza me vem enfeitada com flores de romãzeira no cabelo, e o quimono ligeiramente descaído pelo ombro direito.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

fds mau


hoje estou de muito mau humor.

fico lixado quando vejo menoridade nas pessoas (de que gosto), quando ficam curtas, aquém do seu potencial humano. também fico quando vejo invejas sobrepor-se a valores maiores, como amizade, fraternidade, solidariedade. e quando vejo alguém merecer algo (quantas vezes sou eu) que não pode ter, de momento, por tacanhez alheia. há mais coisas, mas assim de repente não me lembro, devem produzir menos este efeito.

normalmente, o mau humor que me vem destas coisas costuma passar com uma conversa amiga, um livro ou filme que me entre, uns quartos de hora numa esplanada (na época das esplanadas, claro), uma noite de copos ou um filme de acção, van damme ou stallone (a mim alivia mais ver socos que sexo).

mas há uma coisa que me deixa mesmo mal. este era para ser fds bom, mas o gustavo está doente. falei com ele ao telefone, está mortiço, triste.

ia ser fds de circo, capuchito (cor a determinar) e teatro de quarto. os amigos perguntaram por ele, alegres, digo que está doente, não vem.

fico a ler "o jogador", do dostoievski, mas mesmo assim é fds muito mau. para o pequenito e para mim.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

balanço



estive a fazer balanço.

isto está a correr bem, tanto que estou a tentar arranjar patrocinador para o blogue. é que passo aqui tanto tempo, que o trabalho ressente-se (sim, sou preguiçoso, mas trabalho. o menos que posso, mas trabalho).

tive uma proposta engraçada, dos preservativos harmony, mas exigiram que eu fizesse uma nota aos post's de elogios sexuais, a divulgar um produto novo que eles tem, sabor pimenta jamaicana (parece que não tem muita aceitação). a proposta era boa, apesar de ser parcialmente paga em géneros (isso deixou-me renitente, não porque tenha algo contra preservativos, que são bons amigos, ou contra a marca, mas tenho receio de ficar a arder..). o busílis foi quando eles utilizaram a expressão "tens de", ficou sem efeito.

vou tentar a intimissimi e as sapatarias aldo, a seguir. já que é para pedir, apontamos à lua. e se quiserem pagar parcialmente em géneros, melhor... talvez também fale com a almedina, fica mais no ramo.

aproveito para divulgar que qualquer contrato que venha a aceitar nunca será de exclusividade. por isso, quem quiser divulgar os seus produtos aqui, faz favor de contactar. como sugestão de produtos que pondero aceitar, avanço com apresentação de portfólios de fotografias de candidatas a modelo, prestação de serviços na área de satisfação pessoal (não sejam explícitos demais, s'il vous plait) e viagens turísticas aos açores (será que consigo fazer chegar isto à sata? ou ao governo regional, eles são tão generosos...).

p.s.- quando disse que trabalho pouco (é verdade), devia ter logo acrescentado que trabalho muy bien (também é verdade).

p.p.s.- uma palavra acerca dos comentários. aceito todos, com excepção dos que são personalizados (eu falo de muitas coisas, mas não menciono nomes), dos que trazem endereços de contacto e/ou propostas (in)decentes (podem enviar, eu não os publico, mas dou bom uso), ou dos que sejam indelicados (pá, escrevem o que quiserem, mas isto não é para resolver problemas pessoais vossos).

p.p.p.s.- já que acabei a falar de dinheiro e hoje é sexta, deixo a citação da semana, de jack handey "i hope that when i die, people say about me, 'boy, that guy sure owed me a lot of money'". thanks bro.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

norrin radd




assunto sério! este é o post nº 50 (não é que os ande a contar, mas o site numera-os...)!

ora, quero arranjar um assunto especial, mas quero reservar a história das romãs para mais tarde, talvez para o post nº 100. por isso, pus a tocar manu chao, e satisfaço a curiosidade que muita gente me relata (tou no gozo, nem uma alma quis saber. por vezes questiono-me se realmente alguém me lerá...), e explico o "norrin".

começo por dizer que não sou muito dado a heróis (por mais que os impinjam), mas em puto (si, cresci. vá, não se riam...) tinha-os. o primeiro que tive, foi ivanhoe, cavaleiro nobre entre dois amores. acho que ainda não me livrei dele, porrinha (vou derrapar um bom pedaço neste post). depois dele, cresci a admirar heróis nobres, com códigos de honra inquebráveis e amantes da liberdade. outros cavaleiros, corsários (sim, tinham códigos e seguiam-nos), cowboys que entendiam a perspectiva dos índios, o pappilon (deste escrevo breve, comprometo-me).

e desaguei o meu rio de heróis no mar da marvel, que na altura era muito forte. o maior herói deles todos, per me, foi (e é) o surfista prateado (esqueçam o filme com o quarteto fantástico, é uma fantochada, aquela gente profanou um ideal poderoso, deviam ser todos empalados, excepto os que gostassem de o ser...).

norrin radd foi o ser que se transformou no surfista. vivia num planeta distante, chamado zenn-la, hiper evoluído, que se viu atacado pelo galactus, ser cósmico que se alimentava da energia vital de certos planetas (era um pedaço rebuscado, mas estava-se na década de 60/70). norrin meteu-se numa micro nave e foi falar com galactus, tendo-se oferecido para ser seu arauto (idade média de novo), na procura de planetas que o alimentassem, com a condição de zenn-la ser poupado. galactus aceitou, e transformou-o no surfista.

para quem me conhece, herói sem amada não é herói, e vem à baila shalla-bal, uma morena portentosa, uma relação poderosa. pois norrin despediu-se dela, baba e ranho, antes de abandonar o planeta, e foi trabalhar.

making a long story short, o surfista acabou por se rebelar contra galactus para salvar a terra, que salvou, por entender que a raça humana tinha qualidades humanas (já estão a ver de onde me vem a empatia), ao percebe-las em alícia, namorada cega (reparem, percebeu-as em alguém que não via os outros!) do coisa. derrotado, o galactus criou em redor do nosso planeta uma barreira invisível e intransponível para o surfista, aprisionando-o, castigo mais doloroso para um ser que amava a liberdade (a empatia...) do que o empalamento de que falei acima...

falta só referir uma última característica do surfista: uma alma livre. mefisto (iap, o diabo, versão marvel comics),
cruzou-se com ele por um acaso, e sentiu essa característica. decidido a tudo para se apropriar da sua alma (é o diabo), tudo fez para a perverter e subjugar (representava a vitória final, sobre a mais pura das almas), inclusive trazer shalla bal à terra, tendo-lhes permitido tocar-se, por um momento, para lha roubar de novo. azar, a chantagem não resulta com pessoas de convicções fortes.

e ficou ele aprisionado na terra, sem amor, incapaz de entender porque não valorizam os seres humanos todas as coisas boas que estão ao seu alcance, antes se desperdiçando em guerrilhas e mesquindads.

nem derrapei muito. por la carretera...

trabalhos de casa



ontem esqueci-me de acrescentar uma coisa ao meu anúncio: faço trabalhos domésticos. hoje foi dia de aspiração geral (gosto, é melhor que ir ao ginásio, quando tenho uma miúda tão transpirada como eu a ajudar) e lavagem de fogão (pincelada, mas...).

por outro lado, adoro lavar a loiça. adoro mesmo, tirar aquela gordura toda dos pratos e talheres. gosto de haver
sempre espuma em excesso ao lavar os copos. e as panelas? ui, com as panelas é quase um fétiche, porque elas dão luta, sou eu e o metal, qual combate de boxe. tupperwares já não gosto, são viscosos, mais parece wrestling, iargh. o gaspar, gato que viveu comigo, ficava a olhar-me, uma ou duas da manhã, ele sentado em cima da máquina de lavar roupa, e eu de mãos na espuma, a derrotar loiça acumulada.

é que hoje em dia, maduro que não faça lida da casa ou menina que não saiba pregar pregos, estão lixaditos. com os tempos modernos, em que cada pessoa dificilmente passa a vida de adulto inteira com a mesma companhia (e muitos preferem nem as ter, às companhias), toda a gente passa pelo menos grandes intervalos de tempo solito(a), e tem de se desenrascar.

uma coisa puxa outra, e vou confessar-me outra vez. tenho fobia por ter gente a mexer nas minhas coisas pessoais. não é que tenha grandes segredos, ou guarde pilhas de revistas pornográficas, ou durma de ursito ou xupeta, ou leia livros de auto-ajuda. mas acho que nunca vou ter uma empregada doméstica.

por isso, se algum dia chegarem à minha porta, e ela se abrir nas mãos de uma menina em uniforme de french maid, bem, estão a interromper algo, voltem mais tarde. muito mais tarde, talvez outro dia. há mais coisas que demoro a fazer, para além de lavar a loiça...

p.s.- elaborando no que disse acerca de ir ao ginásio, eu raramente vou. só para ir buscar alguma amiga transpirada, e tenho vergonha de ir muitas vezes, acho que dou nas vistas (à laia de puto em loja de brinquedos). prefiro fazer natação (elaborando nisto, faço umas piscinas com intervalos largos entre elas, para respirar), porque como não nado de óculos, vejo tudo desfocado, e não vidro numa nadadora ou instrutora gira que lá haja.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

anúncios



a propósito de nada mais coisa nenhuma, lembrei de estar a brincar com uma amiga, há tempos atrás. dizia ela que só lhe calhavam duques (a expressão dela foi "cinzentos"), e eu, na minha de a provocar, disse que devia procurar noutro lado (, eu estou fora...) e aquilo acabou comigo a ditar um anúncio que lhe proporcionasse um homem como ela queria (quereria).

como costume, acertei no anúncio (tenho jeito para estas coisas, que querem, é um dom, não o pedi, caiu-me de algures, só o utilizo para bem da humanidade. bem, não de toda, só dos que conheço).

pois agora dou comigo a pensar no que incluía no tal anúncio, se o fizesse para mim:

"deseja-se mulher romã (, ainda não é desta que elaboro nisto), com pés atraentes (um colega usa uma expressão deliciosa, "descontracção e elegância no pisar", ainda que noutro contexto) e amplitude gestual. necessário espírito livre, ligado à terra. e conhecimentos avançados de línguas (iap, é isso mesmo, cada um pede o que quer). dá-se, em abundância, sentido de humor, beijos e massagens, vida agitada. resposta a este blogue, ou para o telemóvel blá, blá, blá". não, não pedia fotografia.

o verdadeiro tema deste post não é o meu anúncio, no entanto.

que incluiria cada um
(a) no tal anúncio, se o fosse fazer? e principalmente, no caso do(a)s que estão acompanhado(a)s, coincide a descrição do anúncio com a descrição da companhia?

já escrevi antes (post de pré-conceitos, julgo) que o
(a) companheiro(a) ideal é uma questão cultural, tem a ver com pessoas que conhecemos para trás, que amámos, que desejámos. quanto(a)s, acompanhado(a)s, alteraram o respectivo anúncio em função da companhia actual? e em que sentido (acrescentando ou removendo do anúncio coisas que a companhia tem)?

e porra, o(a)s que não estão bem, porque não saem? e estou à vontade para falar, mesmo não tendo companhia. quando tive, fiz assim. se não serve (sirvo), oportunidade a outra.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

elogio do roxo



eu gosto de roxo. é uma das minhas cores favoritas. escrevo isto num escritório roxo, de que
(quase) mais ninguém gosta. é uma cor desvalorizada.

gosta-se do vermelho (sangue, paixão, aahh, paixão), do verde (esperança, relva, aahh, relva), do azul (céu, mar), do amarelo (calor, sol).

depois há uns góticos que gostam de preto (também gosto, mas aquela história do "nunca me comprometo..." lixa-me. porque diabo não me hei-de comprometer, porrinha?). uns santinhos que gostam de branco, gente imaculada
(por fora...). e uns desafirmados, que gostam de cinzentos e castanhos (eu ando (quase) sempre de cinzento, desafirmo a minha presença física, cromaticamente).

para além das variações
(aahh, variações) às cores puras (aahh, pureza), falta escrever do laranja (laranjas, aahh, laranjas) e do rosa (pois, as rosas, que mais? apesar de só algumas serem cor do nome, e as melhores cor de sangue).

fica o roxo.

é cor de amores perfeitos (são todos perfeitos, enquanto são amores) e de bruxas, de mistério, de paixão celestial (roxo é quando o vermelho e o azul fazem amor). sendo relativamente discreta, à primeira vista, é poderosíssima, dominadora, sufocante. é cor de lingerie irresistível e verniz de unhas magnético. a próxima vez que fizer amor, vai ser nuns lençóis roxos, que o pai natal me trouxe. está decidido (bem, logo se vê).

http://www.youtube.com/watch?v=UNjkuHQGa2w


erros mortais


erramos. todos erramos, milhões de vezes.

mas alguns deles são tremendos de deixar atrás. mesmo quando fazemos tudo possível para o reparar.

estive a ver um filme, em que um fulano cometeu um erro tremendo, atropelou um pai e as duas filhas, e fugiu.

no momento, foi mais do que ele podia suportar, e fugiu. passado o momento, o fulano não fugiu mais, foi à polícia, entregou-se, foi preso, cumpriu pena. ao voltar para casa, tinha o abraço dos seus filhos. ao fazer amor com a mulher, recordou a face de uma das meninas que atropelara. e mais tarde, os filhos perguntaram se era verdade o que diziam na escola, que ele tinha morto aquelas pessoas. mais uma vez, não fugiu. não se mente a ninguém, mas às crianças é mortal. quando dormiam, voltou a ser insuportável, e fugiu de novo, para longe.

era um filme, o fulano acabou por conhecer a mãe das crianças que atropelara. entregou-se-lhe, para que o matasse. que se foda a bíblia, por vezes um olho vale um olho. por ser um filme, ela não o fez, acabou por liberta-lo, diluir-lhe a culpa. era um filme, e ela estava grávida. nenhum filho substitui outro, mas deve ser impossível odiar quando um bebé vai nascer.

quando voltou para casa
de vez, a mulher estava no sofá, as duas crianças a dormir-lhe no colo. nunca fica tudo bem, quando alguém morre. mas se olharmos de frente os erros que cometemos, também podemos olhar os outros de frente, principalmente os nossos filhos.

porque eles sabem, se lhes mentir-mos. é um erro mortal.

p.s.- dêem desconto, hoje estou meio largado.