sábado, 31 de janeiro de 2009

elogio do rugby



os elogios vão fazer desporto (já que eu não faço). bem, desta maneira, sou eu que faço (desporto, risos). que fique claro, não vou elogiar a prática de desporto em geral, nem dos desportos que elogio em particular. elogio o desporto em si, as suas características mais importantes (para mim), e o impacto que causa, em geral.

começo pelo rugby, desporto colectivo, praticado por equipas de 15 jogadores cada, existindo uma variante de 7, mais recente e mais dinâmica, denominada rugby sevens.

há várias histórias relacionadas com o nascimento do rugby, algumas remontam ao império romano, e até antes, à grécia clássica. outras, mais "mainstream", referem que o jogo terá oficialmente começado com uma jogada em falta durante um jogo de futebol (década de 20 do século XIX), por um certo william webb ellis, que pegou na bola à mão, e correu com ela até à linha de fundo adversária.

numa perspectiva mais filosófica, o jogo materializa uma batalha, onde a táctica é muito importante, podendo os jogadores ser vistos como soldados (que procuram invadir o terreno adversário), os pontapés como disparos de canhão para abrir linhas inimigas (quando efectuados para ganhar terreno) ou danificar torreões (quando realizados aos postes), e o ensaio (toque de bola pela equipa que ataca, efectuado atrás da linha de postes da que defende) como o hastear da bandeira no "castelo" do adversário.

na perspectiva do fair play (expressão inglesa para jogo limpo, muito mencionada mas pouco praticada em muitos outros desportos), o rugby é um exemplo de excelente relacionamento entre praticantes (claro que há excepções). é prática comum a equipa derrotada fazer um corredor, no final do jogo, que os vencedores atravessam, sob o aplauso dos adversários (há casos em que são os vencedores que premeiam o esforço dos vencidos fazendo eles o corredor). também é muito comum que ambas as equipas se encontrem após o jogo, para conviver, deixando claro que o desporto é uma prática social. quem seguiu a participação portuguesa no último mundial (sim, estivemos lá!), onde uma equipa amadora fez frente aos maiores do mundo (e marcamos um ensaio a cada um dos adversários), de certeza se recorda dos relatos desta reunião pós-jogo com a nova zelândia, e os nossos "lobos" a sair pelo corredor formado pelos "all blacks", debaixo de palmas (levamos 108-13, e fizemos um ensaio memorável).

no que diz respeito ao impacto da modalidade, basta dizer que uma das mais antigas e tradicionais competições que se disputam é o torneio das 6 nações (porque a itália se juntou ao das 5...), sendo o mundial de rugby, disputado de 4 em 4 anos, a terceira manifestação desportiva mais seguida pelo público, logo atrás dos jogos olímpicos e do mundial de futebol.

cá, os nossos "lobos" são motivo de orgulho crescente em ambas as variantes
(ainda maior na de sevens). treinadas por um homem empenhado e meticuloso (tomás aires), o rugby nacional tem ganho projecção e admiração internacional, sendo no entanto pouco apoiado dentro de fronteiras. fiquem com a imagem mais forte que deixamos no mundial do ano passado...

http://www.youtube.com/watch?v=RxxKqLx7e6c

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

mo' better



é uma expressão que junta duas palavras, more (mais) e better (melhor).

também é o título de um filme "40 acres and a mule", de jazz, música de terence blanchard com o quarteto de branford marsalis ("tain" watts à frente da câmara...). produção, direcção e argumento de spike lee (que também faz o papel do amigo, leal e viciado no jogo). denzel e wesley (músicos) antes de serem (muito) famosos e a voz de cynda williams (só por ela já vale o filme).

o filme fala de paixão pela música, do valor da amizade quando misturada com negócios (fantástico a maneira como acabavam as discussões entre os músicos, sempre na galhofa), de relações que, sendo importantes
(mo'better), não chegam a ser de amor, e que, no final, salvam o personagem do denzel:

"bleek: i wanna be with you.
...
indigo: i know what you want, you want me to save your life.
bleek: yes, i want you to save my life."

como disse (tocou) john coltrane, "a love supreme"

http://www.youtube.com/watch?v=DjkjF9H-l8I


quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

elogio do sexo anal



garanto que não volto a elogiar sexo nenhum (a menos que mude de ideias), mas este tinha de ser. a pedido de várias leitoras, com prazer, aqui vai:

em primeiro lugar tenho de confessar a minha parcial ignorância do tema. sinto-me algo desconfortável por isso, mas agora que desabafei (nada como a verdadita, nestas coisas e noutras), posso escorregar no que sei à vontade, que ninguém me salta em cima (bem, também aqui pode ser que mude de ideias).

pois eu, pecador, me confesso, ignorante no que à posição passiva diz respeito. apenas posso escrever acerca dela por observação (próxima e profunda), mas sem conhecimento in corpore. perdoem-me o facto (ou não, problema vosso) e vamos passar à acção, que neste caso é manual (escrita).

quem nunca viu um videozito de pornografia anal (ou passou umas horas divertidas a vê-los)? quem nunca viu um daqueles programas que ensinam como deve ser a penetração (em que os homens são sempre descritos como parvos lambuzados)? pois bem, estão as duas situações erradas (se bem que a primeira, estando errada, é pelo menos divertida, e a segunda, errada também, acontece com frequência, pelo que ouço).

mas não é assim que se faz. agora vou escrever sério.

é mais erótico, fantasioso, pecaminoso (cidade houve com o seu nome, e caiu de cu), satisfatório (quem discorda, vá experimentar), memorável (virgem santíssima!) e com menos algumas consequências: não se perde virgindade pelo rabito (recordo a menina d"os capitães da areia", derrubada nas dunas, tendo de se deixar penetrar, pedia ao menino para ser anal, porque ainda era e queria ser donzela), nem se engravida por lá.

claro que não há bela sem senão, dst adoram anal, e há a questãozita da higiene. e convém avisar que cria dependência... quanto a quem diz que dói, afirmo eu aqui, estava tensa(o) demais ou em má companhia.

mas o melhor no sexo anal é o grau de intimidade que proporciona. a confiança que tem de existir. a proximidade que cria (bendito pecado). os preliminares que exige (os beijos, a língua, os dedos, o óleo a escorrer). o prazer que faz revirar os olhos (da cara).

p.s.- não sei se têm a mesma experiência, mas fazê-lo no duche...

p.p.s.- esqueci-me de falar de óleos (não esqueci, deixei o melhor para o fim, mas não quis confessar). pois é preciso recorrer a eles, com a delícia de os haver perfumados, saborosos, em embalagens sugestivas. eu, que não gosto de coisas muito rebuscadas e sou meio conservador, prefiro jonhson's, para bebés.

http://www.youtube.com/watch?v=KsqhfplqwuI&feature=related

"... e aqueles, que por obras valorosas / se vão da morte libertando..."



uma coisa segura é que todos morremos.

deve ser difícil sentirmos chegar essa altura. deve ser brutal provoca-la, pelos motivos que for. é brutal, para os que ficam, aceitar que morreu alguém que amam. e o que venho escrever hoje é acerca disto.

porque se todos morrem, nem todos vivem, no sentido rico da expressão. muita gente sobrevive, a vida toda. ou vai andando. estão mais ou menos. uns, mais optimistas, estão menos mal. são pessoas que, quando morrerem, deixam vazios pequenos.

mas há quem viva, realmente. quem tenha amigos, no sentido rico da expressão. quem se relacione com pessoas, se dê e as aceite. quem ponha acima de questões materiais, questões pessoais. quem ame sem medo. que sinta dor e alegria de frente, sem as desvalorizar ou sobrevalorizar. há quem construa coisas e relacionamentos. quem cresça com outros, e faça parte do crescimento deles.

todos morremos, esta é uma opção que não é nossa. há quem escolha a maneira e o momento (pelo menos isso pudemos escolher). e de certeza que podemos escolher o modo como vivemos, até lá.

algumas pessoas, quando morrem, deixam um buraco grande. mas também deixam, aos que amam, muito com que o preencher.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

elogio da arquitectura



vou falar do assunto de duas perspectivas: começo por escrever acerca da profissão, e depois evoluo para arquitectura como forma de arte, de vida, de expressão.

para cada profissão, é preciso que o profissional tenha determinadas características.

por exemplo: para varredor, tem de ser asseado e apreciar ar livre; para político, mentiroso e descarado; para cozinheiro, guloso q.b.; para jornalista, exagerado e dramático; para puta, um cu bom ou um filho político; para futebolista, ter-se formado na academia sporting (que agora se chama puma) e usar gel no cabelo.

para se ser arquitecto
(escrevo do exercício da arquitectura na sua forma de base, como criador, pensador, provocador), temos de ser observadores, sonhadores, conhecedores e ter um sentido de humor apurado. e também ser bons relações públicas, pacientes (haja pachorra para técnicos municipais, muitas vezes eles próprios arquitectos, agarrados às regalias do cargo e com complexo do "se fosse eu..."), e ser capazes de conciliar múltiplos interesses e os tornar claros a todos os interessados (por estranho que vos pareça, é mais fácil explicar algo a um pedreiro ou carpinteiro, que a um promotor). por fim, há a parte sempre animada dos honorários.

já agora, ao contrário do que consta, trabalhar com engenheiros é uma delícia (mesmo sem pensar em algumas engenheiras que conheço), porque são normalmente pessoas que tem atitudes construtivas e estruturantes, de crescimento (fica prometido elogio da estrutura).

ser arquitecto
(a) é, acima de tudo, pensar na maneira como as pessoas vivem, e como ele(a) pensa que poderiam viver melhor. trata-se de correr riscos por convicções próprias. trata-se de dar sonhos aos outros, que acreditamos eles venham a gostar de concretizar. trata-se de tornar o espaço melhor (o mais possível) do que era antes de o termos recriado.

e para que seja arquitectura completa, também tem de ser funcional, viável economicamente, honesta e digna.

é um acto cultural, livre e generoso. extremamente compensador.

chuva



chove que deus a dá. há quem diga que a chuva são os anjos que a choram. algo bem triste deve ter acontecido lá em cima, há uns dias atrás...

por falar em anjos, eles tem sexo? iap, sempre que podem. se calhar deus impôs celibato, e nós passamos os dias de galochas. por isso não acredito nele, se fosse assim tão omnisciente, distribuía preservativos.

será que anjo(a)s engravidam? ou tem dst's? no lo creo, mas constipações apanham, seguro.

um dos motivos porque gosto de voar, é porque acontece sempre ver algum anjo a espreitar, escondido nas nuvens. deve ser divertido morar numa nuvem perto de uma rota comercial, calhando ainda apanham boleia para a aterragem, evitam desgaste nas asitas. de certeza que foi um deles que apanhou boleia em new york, umas semanas atrás, e que ajudou o piloto a amarar (diz-se amarar se foi no rio? arriar soa mal).

deixamos os anjos na sua paz (deles, anjos), porque o assunto é chuva. e como hoje estou largado, vou confidenciar uma coisa, mas não contem a mais ninguém, ok? é meio pessoal.

pois acontece que todos temos cliques, em várias questões, de várias proveniências. o meu melhor clique acontece quando começa a época de chuvas, quando ainda faz calor e as meninas ainda saem de sandálias, pés nus. nessas alturas sou gota de água, em espírito e em sonho, a escorrer pernas abaixo, entre dedos.

adiante, a ver se ainda escrevo algo decente, neste post.

é que eu queria escrever acerca de dias de chuva, passados à lareira (quando calha termos uma, e lenha também), a vê-la escorrer pelos vidros e a ouvi-la cair nas caleiras (que bem se ouve nas de minha casa), exponência a companhia, seja companhia de brincar, de conversar ou de amar. e se a companhia vier da chuva, cabelos molhados, pés também...

mais logo sou capaz de aqui voltar e escrever algo sério.

http://www.youtube.com/watch?v=3mpkAKute-E&feature=related

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

rewind gestos


hoje vou inaugurar uma nova rubrica, a preencher com acasos, pontas soltas, reparos e memórias, relacionadas com post's anteriormente postados, que teriam ficado melhor com o que se acrescenta.

há uns post's atrás (gestos), escrevi da sensualidade que existe num homem a tocar contrabaixo, podem confirmar.

http://www.youtube.com/watch?v=f3vHN1Aadck&feature=related

feijão e broa



hoje não escrevo de comida, apesar da vossa apreciação precipitada do título do post. "beans and cornbread" é o nome de uma música, escrita por jordan louis.

"beans and cornbread had a fight..." tudo começa com uma disputa destes dois amigos, e a broa diz "...now that's alright, meet me on the corner tomorrow night...", luta marcada.

"...been in this pot since half past tow / swelling and puffing and almost due...", aquecimento feito, e lá vão eles "...beans grabbed cornbread by the toe / beans said cornbread let me go...", até que "...beans hit cornbread on the head, cornbread said i'm almost dead...".

mas nesta altura, contra as previsões mais belicistas, "...beans told cornbread now get up man, you know that we go hand in hand..."!

e dá exemplos:
"...hang out together like sister and brothers... / ...like shrawberries and shortcakes... / ...like liver and onions... / ...like bread and butter..."

nada como uns abanões (não necessariamente físicos) para as pessoas notarem a sua (evidente) compatibilidade, "...that's what beans said to cornbread".

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

sorriso mortal



são cinco e meia da manhã e a rtp acabou de emitir a "morte em veneza" do visconti. está visto que serviço público começa às três da madrugada...

é um filme excelente, a qualquer hora. poucos diálogos, excesso em cenários e adereços (fantásticos). muita expressividade gestual, olhares que tanto são obscenos como invejáveis. é a história de um homem de meia idade que se perde de paixão pela beleza do jovem tadzio, rapaz polaco, numa veneza invadida pela peste (cuja presença quase cheiramos). como todos os pecadores, morre, mas porque há misericórdia no mundo, morre a olhar para tadzio, a entrar na imensidão do mar.

por mais excelente que esteja o filme, e está, é-o menos que o livro do thomas mann. comprei o livro por acaso, numa feira manhosa, em sintra. nunca tinha ouvido falar dele.

mann não tem as imagens do visconti, mas consegue pela escrita expressar muito mais profundamente toda a torrente de descontrolo do artísta (no livro, aschenbach é escritor, no filme músico). e onde as imagens são confrangedoras e até algo ridículas, a escrita preserva a genuinidade da paixão.

é uma paixão homossexual, pedófila. isso nunca é disfarçado (aliás, se o filme está preso à história do livro, o livro escolhe a homossexualidade e a pedofilia como pano de fundo), mas não é relevante na história que se conta. é uma história de paixão pela beleza (o rapaz que faz de tadzio, belo como um raio de sol, é tal como eu o tinha imaginado, ao ler o livro), e de como alguém se perde por ela, mantendo, todavia, controlo comportamental, por mais que a alma esteja em ebulição.

há apenas uma ocasião em que tal não acontece, quando o rapaz lhe sorri, e ele tem de se escapar para um banco de jardim escondido; "não deves sorrir assim, ouviste? não deves sorrir assim a ninguém!" (cito de memória, tenho o livro emprestadado, mais uma vez).

para mim, a história ilustra muitas coisas, a mais importante delas é que se deve amar (neste caso trata-se de paixão) sem pré-conceitos, usufruindo, tanto quanto formos capazes, da intensidade emocional que nos for proporcionada. porque todos morremos, algum dia, mas nem todos chegamos a viver.

domingo, 25 de janeiro de 2009

elogio do comboio



há uma coisa engraçada acerca de andar de comboio: nunca sai da linha (deus vosso senhor nos livre e guarde), mas cada viagem é uma caixita de surpresas. gosto desta incerteza do que vai acontecer, em paralelo com a certeza do percurso, que nos fica tão disponível para apreciar.

é seguramente o meio de transporte mais romântico (excepto a cena da emanuelle no avião e umas quantas viagens rodoviárias na a1, mas confirmam a regra). quem nunca gozou uma sedução num comboio (e então quando havia os saudosos inter-regionais de antigamente, com os compartimentos!)? quem nunca deu um orgasmo a uma companhia feminina, num comboio da linha de sintra, em hora de ponta?

e se viajarmos com filhos, que delícia vir o caminho todo nas mesas do bar dos inter-cidades, a ver filmes no portátil, a jogar ou na conversa. há sempre alguém que se senta connosco, nunca se sabe quem. e quantas vezes temos diversões gratuitas...

e vir à larga, confortáveis, a ler um livro. ou ao lado de uma rapariga gira a ler um livro que já lemos, e queremos debater. caramba, mesmo que
a rapariga seja feia. ou que seja um fulano gordo que devia pagar parte do nosso bilhete, porque tem parte do rabo no nosso lugar, mas empresta o jornal e tem sentido de humor.

ou vir a dormir a viagem toda (despertador do telemóvel ligado, claro). já experimentaram dormir num expresso da rodoviária? óh martírio, óh impossibilidade, "rais parta" a ideia de vir nisto! num avião também se dorme bem, é verdade, e pela proximidade, é mais fácil sonhar com anjos (ainda faço um elogio da sata, se voar com uma emanuelle nalguma viagem...).

e há ainda os comboios de brincar, os mais antigos com carris e carruagens realistas (uma fortuna), mas também uns mais recentes, módulos de madeira, muito infantis e coloridos. já coloquei uma fotografia deles, num post antigo, é dos meus brinquedos favoritos, e o gustavo também gosta.

quando lhe digo que vamos viajar de comboio, fica mais contente do que eu. gosta de se meter com as pessoas, não sei a quem sairá. o pior é quando passa boa parte da viagem a dizer com qual das outras passageiras eu devia namorar. em voz alta...

a bôla de carne da minha avó



sou um bom garfo. também sou um bom copo. ainda por cima, sou guloso. não me vou alongar nisto, ainda me desgraço mais.

hoje vim só para falar do meu prato favorito, a bôla de carne da minha avó. não é que não haja mais uma dúzia de outros que não lhe ficam a dever em paladar, mas acontece que a minha avó usa um ingrediente imbatível: um carinho tremendo.

quem já provou, sabe do que falo, quem a conhece, também.

sábado, 24 de janeiro de 2009

prendas




uma coisa que gosto, é de dar prendas. não gosto de as dar nas datas festivas, aniversários ou (principalmente) natal, é mais saboroso quando têem factor surpresa.

a parte melhor disso é a escolha delas, das prendas a dar. imaginar ao que aquela pessoa mais genuinamente reagiria, e em que sentido. se ficaria alegre, contente, se iria sorrir, rir ou gargalhar, se se sentiria confiante e compelido a fazer algo, ou qualquer outra reacção.

é um acto de manifestar conhecimento e proximidade. há uns meses atrás, uma pessoa que adoro partiu-me o coração, "não sei que te hei-de dar nos anos". aquilo deu debate comprido, amuei (oui, je boude, et alors?), mas a rapariga saiu-se bem, e cresceu em cima disso, e ainda a adoro.

pois eu hoje escolhi uma prenda excelente para o meu filhote. não foi por ser cara, nem por ele a ter pedido alguma vez. mas eu sabia como ele ia reagir, que ia perceber para que era, que ia ajudar a resolver uma das pequenas questões que ele vai tendo para resolver, day to day. sabia porque lhe estou próximo.

também dei uma ao meu mano, que fez anos. pudemos estar todos juntos, mas mesmo todos. he wouldn't want anything else (já tem o resto).

à noite, calhou falar com um amigo, "tl", que ligou ao meu irmão a dar os parabéns, e recordei uma história de há bastos anos atrás, que guardei:

numa daquelas reuniões de amigos para trocas de prendas de natal, aconteceu que um deles, teso (hang on, my friend), tinha comprado prenda apenas para, penso, duas pessoas, explicou-se por isso, e deu uma delas a alguém, que não recordo. a outra deu-a ao "tl", que é, das pessoas que conheci até hoje (sorry, anjo, por mais que goste do que desenhas), aquela cujos desenhos mais me entram, mas um preguiçoso de primeira, muito mais do que eu. a prenda era uma caixa de lápis, algo do género. custou-lhe dinheiro, e ele tinha pouco. ao dar os lápis, disse só "desenha, #+»!%&<".

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

atracção pelo abismo




num post antigo, penso que acerca de pré-conceitos, falei em mulher ideal, algo do género. devo ter dito que era uma questão cultural, essa criação que cada um faz.

suponho que a mulher ideal de cada um toma contornos mais adultos, menos maternais, à medida que avançamos na puberdade.

não tive a sorte de avançar na minha na época da sophia loren, da brigitte bardot ou da cardinale. por outro lado, já estava bastante avançado no tempo da juliette binoche (somos contemporâneos, o ideal controi-se com mulheres mais velhas).

na minha puberdade, mesmo sendo injusto para várias outras (a começar pela valérie kaprinski), tenho de reconhecer que o meu imaginário girava à volta da nastassia kinski. "paris, texas" marcou-me (aquela camisola sobre a pele), mas tudo começou com um filme francês de que ainda guardo imagens fortíssimas, "a lua na valeta" (
onde também entrava a victoria abril).

foi neste, na intensidade da personagem da nastassia e da relação dela com o depardieu (que invejei de morte, porra, acho que ainda invejo), que me desgracei para a vida.

a verdade é que necessito (de há uns anos a esta parte, conscientemente) de relações e ligações com semelhante grau de intensidade. mas não se culpe apenas a nastassia, ela só iniciou o problema, que eu depois alimentei em tantos outros filmes, livros, quadros, esculturas, músicas. e em tantos locais, cheiros, sabores, conversas, ideias, mulheres.

uma amiga, que me conhece muito, diz que tenho atracção pelo abismo. uma espécie de capitão ahab, com fétiche por sandálias, em vez de baleias.

relações abstractas



wassily kandinsky foi um pintor russo, final do século XIX.

foi a primeira alma a teorizar o abstraccionismo, compreendendo e expondo (extremo prazer de entender e dar aos outros esse conhecimento) as potencialidades das formas e cores na representação gráfica. escreveu livros teorizando-o, que ainda hoje fascinam estudantes (pelo menos no tempo em que eu ia à faculdade) e nos ajudam a encontrar a nossa própria forma de representação.

mais, não se limitou a adquirir e transmitir conhecimento, aplicou-o. nas suas obras, se nos abstrairmos (risos), podemos perceber as relações entre os vários elementos representados, e o que cada um contribui para o conjunto no geral.

porque arte é uma representação da realidade, mesmo abstracta, que mostra como essa realidade pode ser melhor. o objectivo maior da arte é tornar o mundo melhor, na perspectiva do autor, bien entendu.

a mim fascinam-me as relações entre as pessoas, o modo como cada um pode influenciar e interferir no ser relativo (e já não absoluto, isolado) que é o outro, tal como ao velho wassily fascinavam
as relações entre as formas e as cores.

por isso as provoco (às pessoas). vejo se encaixam, qual criança a ver se
a pirâmide cabe no buraco do cubo. claro que não cabe, quase nunca cabe. mas, algumas vezes, na tentativa de encaixe, cria-se uma relação mais forte e saborosa que o mero encaixe. porque se encaixar é crescer, descobrir é crescer mais, e crescer mais forte.

gosto de fazer parte do crescimento dos outros (mesmo cometendo excessos), adoro ficar a saber que fiz parte de algo que conseguiram. por isso, ser pai é a coisa que faço com mais prazer (e também melhor).

é assim que eu cresço.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

as patudas



sempre achei fascinante o trabalho que o bom mordomo real tinha, na história da gata borralheira, de calçar todas as meninas do reino. para mim, era trabalho que eu faria de borla (e se estivesse abonado, ainda pagava), com todo o gosto.

se eu fosse um depravado, até poderia confessar que tive sonhos eróticos com a situação. o caso não é para menos, tanta menina, descalça e submissa, cheia de esperanças, a disponibilizar-me os pézitos...

pois acontece que, ao ler um post alheio, me veio à ideia que o afortunado mordomo pode nem o ter sido assim tanto.

porque eu, na minha devassidão, apenas imaginei pés delicados, sem calosidades (eram meninas...) unhas arranjadas (algumas pintaditas e tudo...), a parte boa da coisa.

mas lá diz na história que pelo menos duas das candidatas (e nada garante que não fossem milhares, excepto a minha capacidade de fantasiar) eram patudas (contava esta história muitas vezes ao gustavo, ele é que dizia a parte em que "elas eram umas patudas!").

fico a pensar se ainda invejo o trabalho do mordomo...

p.s.- ontem estive a ler o bom marquês, dêem desconto. raio do fulano tem uma habilidade medonha de me entrar pela líbido adentro. na vossa também?

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

the road you choose



hoje vou usar música(s) para ilustrar o que quero dizer. adaptando um verso de uma dos r.e.m., "this one goes out to someone i love".

o título do post é também o de uma música que adoro, suponho porque quando a ouvi, percebi que ilustrava amplamente a estrutura de vida que eu já tinha (e mantenho). conheço-a numa gravação de linda hopkins, com um grupo de brandford marsalis, num disco dele (foi o 1º músico de jazz que ouvi ao vivo, no anfiteatro livre da gulbenkian. há amores que nascem em sítios lindos). o seu a seu dono, a letra é de joe louis walker.

a música canta os ensinamentos que um filho (neste caso, filha) recorda dos pais, e o verso seguinte é: "it's up to you", trata-se de uma cultura de liberdade pela responsabilidade. algures, segue "... if you listen to what they say, it's gonna drive you crazy...", portanto "... go on and live your own live...". também canta "... be carefull when you congregate..." e "... and what you get you're gonna pay...". por fim, "... the raison we always, say this things to you, (is that) we don't want you to get older, and be nobodys fool...".

(parênteses, as duas coisas que me parecem mais importantes ensinar aos filhos são a amar e a nunca serem
nobodys fool).

pois serve isto para ilustrar que se deve viver de acordo com as convicções que temos, mesmo quando não parece correr bem, e sentimos que não temos onde apoiar os pés. acontece que quando fazemos as coisas bem, nos damos, há sempre onde apoiar os pés.

outra música que me fascina e quero colocar aqui é "they can't take that away from me" com letra de ella, que também a popularizou. para muitos, é uma música de saudades, de coisas mal resolvidas. para mim, é a forma certa de viver com o passado.

"... we may never never meet again, on that bumpy road to love/ still i'll always, always keep the memory of..." e segue com coisas deliciosas que ficaram para trás.

pois há que guardar com carinho todas essas coisas boas que qualquer amor nos deu. guarda-las num lugar bonito, solarengo, acessível se necessário, mas guardar. o que não se guarda são as mesquindad's, as crueldades, mesmo quando ainda estão muito presentes. e se há filhos, eles riem sempre que nos esquecemos disto, e recordam-nos o que o passado teve de bonito e que o futuro também vai ser.

certo que por vezes temos de nos perder para nos reencontrar. mas não se muda de caminho, se o caminho está certo. e o teu está, miúda.

you'll fly again, cause you got some pretty beautiful wings.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

elogio do desprezo



ontem gabei a minha capacidade de erro, no elogio. por maioria de razões, hoje gabo a minha capacidade para o desprezo. sou olímpico a desprezar!

o desprezo é a reacção mais eficaz, mais cruel e mais marcante que se pode ter a uma acção mesquinha e/ou maldosa.

em face de uma acção dessas, há quem se acanhe. normalmente, é gente boa, muitas vezes incapaz de entender que vantagem tem o outro em ser mesquinho e/ou maldoso. é uma reacção digna, mas dolorosa, deixa mágoas duradouras, e não previne situações futuras.

há quem reaja com igual ou maior mesquindad (uso muito a expressão em espanhol, culpa de uma música de mercedes sosa), mas isso é descer degraus, rebolar na lama (sem a parte divertida).

claro que
também há quem disparate, atire umas galhetas ou uns murros. no fundo, apesar de saber muito bem, também é descer degraus.

mas o desprezo recalca quem quer atenção. torna evidente a menoridade do acto menor. é profilático, porque quem recebe desprezo, sofre diminuição ao tentar aumentar-se, e pensa duas vezes antes de a ele se expor de novo.

claro que para se desprezar convenientemente, tem de se estar em posição para tal. nunca olhar ninguém de cima nem para cima, sempre a direito, de frente. não pudemos desprezar por uma acção que tenhamos também praticado.

cabe aqui explicar que são apenas dignas de desprezo acções (e respectivos praticantes) que ocorram por má fé (ver elogio do erro). em consequência, erros de boa fé, reconhecidos com franqueza, merecem, digo eu, respeito e perdão.

nota: um dos mais fascinantes filmes que vi (e revi) foi "le mépris", do godard. a brigitte mais deliciosa que nunca, rabo ao léu, pés a dançar no ar "tu vois mes pieds, dans la glace?"... (também o livro do moravia é excelente, "il disprezzo"). não resisto a colocar a cena no link de vídeo (apesar da má qualidade da imagem e de o desprezo ainda não existir no início do filme).

http://www.youtube.com/watch?v=XZ_77yVYTfo

domingo, 18 de janeiro de 2009

elogio do erro




há dois tipos de erro: o de boa fé, e o de má fé. acerca deste, nunca os meus dedos premirão tecla alguma para elogiar, nada do que aqui vou escrever se lhe refere. acerca do outro, leiam em baixo.

errar é uma das minhas especialidades. não erro muitas vezes, mas erro muito bem. erro com ingenuidade e charme, sou quase majestoso a reconhecer erros (o quase é a minha réstia de modéstia a escrever).

porque errar permite-nos crescer melhor do que acertar e ganhar. quando se acerta, a alegria esconde o que se pode melhorar, e há menos margem de crescimento (não vale errar de propósito, cai-se na má fé).

também nos permite entender-mo-nos melhor, descobrir limites pessoais. quando se acerta, ainda não chegamos lá, mas o erro indica claramente o limite.

claro que não basta errar. é preciso depois viver e conviver com o erro. entende-lo, aceita-lo, acarinha-lo, pôr-lo a dormir, e construir em cima.

mais do que os animais (que não nos entendem tão bem como se pinta, é afirmação de gente que tem dificuldade em dar-se, e a escolha do vídeo foi infeliz, mas não arranjei melhor) os erros são os nossos melhores amigos.

e há a questão da democracia: como o sol que brilha para todos, também todos somos capazes de errar (ainda que a democracia não se aplique às consequências dos erros, está mal de ver).

aliás, os únicos que não cometem erros são os que nada fazem, nada escolhem, nada tentam, nada aprendem. esses não cometem erros, no plural, cometem erro, singular, mui grave, por omissão de viver.

http://www.youtube.com/watch?v=DDFEDzQCqRE

máquina do tempo



hoje fiz uma máquina do tempo. bem, não fiz. pelo menos, sozinho. o do meio dos meus vizinhos fez comigo. verdade verdadita, eu fiz e ele ajudou. mais ou menos. vai ser o projecto mais giro na escola!

o puto é uma moca, super distraído, divaga mais do que eu, e nem escolhe as alturas para o fazer. o guilherme é o preferido do meu gustavo, tenho pena de ele não estar cá...

bem, não vim falar de miúdos. hoje faço o exercício mental de imaginar que a máquina funca mesmo, e o gui ma emprestava.

que fariam vocês com uma máquina do tempo (se nós a alugássemos, claro)?

quem tem coisas para mudar no passado? todos. que coisas mudaria cada um?

no meu caso, assim de repente, fazia alguns contractos escritos com alguns clientes (nada de grave). também me lembro de duas relações pessoais que podiam não ter acontecido (mas como foram escolhas que fiz de boa fé, suponho que fazia igual...) e de uma que devia ter. acho que teria dado mais atenção e carinho a alguns familiares (quando vemos o tempo a acabar, acentua-se a ideia de que não demos o suficiente, mas ainda há muito).

de resto, é verdade que confiei em quem não merecia, me dei a quem não foi capaz de aceitar, escolhi o que queria sem ligar ao que outros pensavam, sou como e quem quero ser.

não mudava nada disso, a máquina do tempo não ia gastar muitas pilhas comigo.

sábado, 17 de janeiro de 2009

elogio do sexo oral



não consigo largar isto, porrinha (o blogue...).

bem, este é fácil de elogiar. basta deixar uma piadas mais ou menos boçais, uma foto sugestiva e um vídeo para ouvir com som alto.

nã, seria fácil demais. a ideia é deixar perspectivas pessoais (minhas, é o meu nick ali ao lado...) acerca do tema dos elogios, sendo que convém que as perspectivas sejam realmente elogiosas, está bom de ler.

para introdução, releiam a definição de sexo que deixei no post "sexo animal", s.f.f., trata-se de contactos, pois.

sexo oral é diferente de qualquer outra forma de sexo, por um motivo: é uma manifestação em que o contacto não se manifesta por uma troca ou partilha mútua entre participantes. neste caso, o contacto é uma dádiva. dá-se ou recebe-se, de uma forma demarcada.

há desequilíbrio, e cada desequilíbrio gera movimentos para voltar ao equilíbrio. há um que voa e outro que lhe alimenta o voo. e depois, há a aterragem e o reencontro.

há dois prazeres num gesto só. um, o de se dar a conhecer, confiança e abandono extremos, e outro, o de entender, potenciar e proteger.

acresce que, na posição activa, é possível (e até é aconselhável) manter um muito maior controlo, tornando o gesto muito mais racional e sensorial (nessa posição, na outra era desperdício, depois troca-se), logo, humano.

notas:

havendo dois prazeres, seguro que há quem prefira cada um deles. tem a ver com a natureza de cada um, mais generosa ou mais apreciativa. também aqui há uma manifestação de carácter que o sexo mais "equilibrado" não torna tão evidente;

uma coisa a que acho piada é uma certa inversão de terminologia. o passivo é o que mais se move (risos), e o activo pode nem sair do sítio... (ok, noutros tipos de sexo também);

pode-se argumentar que há outras formas de sexo que também incluem desequilíbrios (fazer massagens, masturbar manualmente o(a) outro(a)). verdade, mas não atinge a mesma intensidade de desequilíbrio;

confesso, é-me fácil imaginar uma noite excelente só de sexo oral, mas fica impossível imagina-la sem ele;

quem quiser comentar, please, sem personalizar. eu dei-me a esse trabalho (oh, tentação);

nada do que foi escrito acima desvaloriza qualquer outra prática sexual, o título não é "elogio do sexo oral como prática sexual única e suficiente".

qualquer dia elogio o desequilíbrio e depois a tentação. que diabo, já tenho uma lista de post's to be, com duas colunas: a regular e a dos elogios...

http://www.youtube.com/watch?v=AZZfnVeAEwU&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=qjOCXwdDUSY

elogio do jornalismo



depois de lerem qual o elogio do post devem estar quase todos a sorrir e a pensar: deves mesmo conseguir elogiar isso, sim senhor...

mas reparem vocês no detalhe, eu não vou elogiar jornalistas ou o jornalismo actual, mas sim o conceito de jornalismo.

tenho de reconhecer que a profissão que mais me desagradaria o meu filhote exercer (força de expressão, ele vai estar
-se nas tintas para isto, risos) era jornalista. antes jogador do benfica (calma, só era melhor porque num instante se transferia, lá ninguém aquece e ninguém é lembrado...).

pois eu acho o jornalismo actual o exemplo mais vibrante do virar costas aos princípios para se ficar de frente e bem alinhadito com dinheiro, carreirismo e aceitação social. jornalistas são a espécie mais prostituida à face da terra. critérios jornalísticos tem a ver com share (não de riqueza ou loucura, o que vimos ser saudável), contractos publicitários, estratégias de mercado, ranking's de canais, rádios e/ou jornais. chega ao ponto de ser notícia quando um ultrapassa outro, mas só é para o que ultrapassa, sendo que, quando o mesmo for ultrapassado, deixa de considerar a notícia noticiável. nem quero falar dos alinhamentos de noticiários e capas de jornais, pudor oblige.

o
exemplo que vou usar é que hoje vemos grandes jornalistas a documentar guerras (mesmo as guerras deixaram de ser grandes, também é verdade, agora são só mesquinhas). gente que escolhe enquadramentos antes de entrar em directos muito emocionados, vozes alteradas e embargadas pela presença do perigo (a 850 metros), gente que ajeita o cabelo e compõe o camuflado (que lhes iguala a imagem à dos soldados, igualmente a 850 metros do prerigo, questão de integração), que fala de vítimas como números e debita cultura bélica acabada de aprender.

agora é que já estão todos a rir, mas quando é que começa o elogio... é já a seguir.

durante o desembarque na normandia, robert capa estava com as tropas que desembarcaram. viajou de barco com elas, atirou-se à água com elas. escondeu-se onde pôde com elas. avançou debaixo de fogo alemão com elas.

fez fotografias, documentou a realidade de um facto claramente noticiável. deu a perspectiva aliada do facto, claro. seres humanos são parciais, muito ou pouco. ironia do destino,
quase todos os rolos se perderam, como os seus companheiros de desembarque. foi o destino a elevar o jornalismo ao patamar dos homens. porque ambos foram grandes, nesse dia.

fogo, tudo que o jornalismo tem de fazer é preservar o seu carácter humano, escolher os factos a noticiar com critérios informativos (apenas, estritamente), e ser verdadeiro. não digo que seja fácil nos dias que correm, mas se algum maduro (ou madura) experimentasse, nem que fosse por falta de concorrência, tinha mercado e fazia carreira!

parece simples e é. mais, é necessário, urgente e, sim, nobre.

http://www.youtube.com/watch?v=SyXjVHAokPo&feature=related

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

elogio da preguiça



p.s. (não julguem apressado, trata-se de um pre-scriptum) - fiquei com vontade de iniciar um ciclo, aqui. não precisa de ocupar o blogue todo, vou-lhe dedicar alguns post's, ocasionais. a ideia é elogiar factos, locais, conceitos, pessoas, ismos e/ou atitudes que sejam muita vezes (algumas fácil e injustamente) criticadas. passando ao conteúdo, começo com um pecado...

muitos de vocês, apesar de nem todos reconhecerem, acham que dificilmente poderia começar com melhor elogio.

as pessoas desancam nos preguiçosos, principalmente o patronato (risos, nunca imaginei contexto onde pudesse encaixar isto), os professores (estes tem alguma razão) e as donas de casa (não consegui evitar), por questões que tem a ver com produtividade.

é verdade que portugal tem um problema grave de produtividade, concordo. mas é um problema onde a vertente qualidade tem basto mais importância que a da quantidade.

e a qualidade remete-nos para a preguiça!

não estou a gozar. se não se confundir preguiça com imobilismo, é fácil ver que os preguiçosos produzem, apenas em menor quantidade, e levando mais tempo. o que lhes permite preparar melhor a acção antes de a executar. mesmo que essa preparação tenha a forma de uma soneca, umas horas na esplanada a ver as sandálias passear ou umas imperiais (finos, para quem não percebeu) com os amigos, a discutir futebol (ou qualquer outra que a cada um dê prazer).

a questão é mesmo a do prazer. quem faz algo forçado, diz que doi, e sai uma cagada (esta ainda menos pensei conseguir contextualizar). se o fizer com prazer e gosto, fa-lo (risos) durante mais tempo, e bem feito!

noutra perspectiva, toda a gente sabe que a produtividade dos espanhóis é maior e, mais grave, melhor que a nossa, e eles fazem "la siesta". e nós também dizemos, quase sempre com razão, que "depressa e bem não há quem".

outro argumento (igualmente discutível, certo), é de quem exercita muito o corpo, despreza a mente (claro que há excepções), logo, quem preguiça com gosto, liberta a mente, dá espaço aos sonhos (e nem preciso elaborar mais)...

p.s. (si, este é pos-scriptum) - para além da imagem habitual, vou colocar link para vídeo, em cada um dos elogios.

http://www.youtube.com/watch?v=hm-EemHYwZQ

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

s. jorge



para os que não sabem, nos dois anos anteriores passei vários períodos nos açores, principalmente na ilha de s. jorge. razões profissionais, estive a dar formação e algumas coisas mais.

são ilhas fascinantes, belas de morrer, apesar de alguns estragos humanos. mas o verde, e as vacas, e o som dos cagarros...

pois eu, nas ilhas, vivi alguns encantos. uns são pessoais, íntimos, pessoas que adoro. de outros dois posso escrever a seguir.

como escrevi, dei formação. era um sonho por concretizar, dar aulas, ensinar, passar coisas a miúdos, e nunca se tinha proporcionado. mas a vida tem tendência a ser generosa para aqueles que se dão e correm riscos, acho...

alguns dos meus rapazes (não tenho certeza acerca de alguma rapariga, eram menos) vem visitar-me aqui. falo com eles ocasionalmente, por vezes metem conversa por nada, outras para tirar dúvidas técnicas. sim, cresceram (eram muito garotitos, quase todos) e estão a ganhar responsabilidades, e confiam na minha ajuda. tenho orgulho do que conseguiram, no conjunto, e de ter feito parte desse crescimento.

tive pouco tempo para me despedir da ilha.

por uma sequência de circunstâncias, que envolveram noitadas na escola a trabalhar com alunos, só comecei a despedir-me quando uma doce amiga me abraçou, final do último dia na escola, olhos a humedecer, vais e já não voltas. depois jantei com a turma toda (só faltou a sofia, apanhou o barco), fizemos uma borga tamanha, há quem diga que me viu chorar...

mas do que eu mais sinto falta é do mar.

sempre adorei mar, cresci perto dele, praias da aguda, magoito, azenhas do mar, zona de sintra. mais tarde, costa da caparica, praia da adolescência. mais recentemente, apaixonei-me pelo mar da costa vicentina (e pela comida, pela aventura, pela música, e
pelos amores que lá amei).

mas não há mar como o dos açores. as poças, no fim de um dia de trabalho, nadar com amigos, ou com encantos, ir comer um peixito depois, ver o sol deitar-se. as almoçaradas nas fajãs, companhia simples, gente boa (muita da gente não é assim tão boa, mas a vida tem tendência a ser generosa comigo).

não conseguia viver lá, mas aquele mar falta-me profundo.

soluções manhosas



hoje deparei-me com duas circunstâncias que, sendo diferentes, me levaram à mesma análise.

em comum, ambas tem a ver com trabalho e ambas são exemplo de soluções de recurso, perante problemas estruturais.

há uns tempos veio parar-me às mãos um projecto daqueles chatos (mas bem pagos) de fazer. como veio ter comigo por um amigo e estava semi-feito por outro (e é mesmo bem pago), aceitei a burocracia.

mas o problema é que, afinal, o semi-feito está todo mal feito. é uma solução de recurso, em gíria da profissão, um "chanato". com a agravante de nem resolver a situação, necessitando ainda de se achanatar mais, e mesmo assim...

acontece que eu gosto de chinelos (alguns, de salto e tiras, confesso), mas sou alérgico a "chanatos". agora vou ter de falar com todos os amigos (que ficam a arder), e mais o cliente, que não tem culpa nenhuma, e tem de ter a sua solução. é que eu arranjei uma como deve ser, mais barata e mais eficaz.

basta, quando alguma solução nos desagrada, recuar um pouco, ver as coisas em perspectiva ampla e de espírito aberto, para encontrar a correcta. parece e é simples.

longe daqui, numa ilha no meio do oceano, também ocorreu algo que, pouco tendo de semelhante, enferma do mesmo pecado.

pois acontece que, à conta e para servir compadrios, se decidiu abrir uma vaga para um técnico em determinada entidade autárquica. mas como a cadeira já tinha dono destinado (não é preciso elaborar), fizeram o concurso à forma do rabo do dono (para assentar bem na cadeirita).

acontece que o mundo é, muitas vezes, muito divertido. e o dono do rabo quis ir senta-lo noutra cadeira, mais confortável (leia-se melhor paga). suponho que cada um senta o rabo onde quer (desde que o
deixem sentar, bem visto), mas neste caso foi fraco agradecimento, porque a cadeira estava moldada, e não cabia lá mais rabo nenhum. ainda hoje se lá procura rabo...

ora, não o tendo encontrado, estão com vontade de remoldar a cadeira (leia-se o concurso). a solução até parece boa, mas calha que o novo rabo para o qual estão a remoldar a cadeirita (que até o podira ter lá sentado aquando o primeiro concurso), mais o bónus que lhe está associado (e aqui o bónus pesa mais que o rabo, parece-me), tem vergonha na cara (e no rabo, claro).

quem fica de prejuízo, nestes dois casos, a modos de amostra que a vida por vezes
pode ser justa, foi quem devia ter interpretado bem os problemas e, por falta de perspectiva e excesso de chico-espertismo, resolveu ir pelo caminho mais fácil.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

share de madness



hoje tive reclamações, pela demora na colocação de novo post. também tenho pessoas que vem todos os dias, a modos de rotinar. e tenho quem vem amiúde, e vai procurar post's antigos. gente que provoco, e que me provoca, fora daqui.

a verdade é que estou relativamente viciado nisto, e sou anti-vícios, porque cada vício é uma fatia de liberdade que se perde. qualquer dia, só para me sentir livre, fico 4 dias sem escrever nada. bem, pelo menos 3. no mínimo, 2 seguidos! depois vejo isso melhor...

hoje vou escrever acerca do porquê de aqui escrever.

tudo tem uma sequência lógica, isto começou com visitas ao blogue de uma amiga, e interacções subsequentes. de repente, percebi que é um excelente meio de comunicação, de chegar até outras pessoas, e com as minhas regras, à minha maneira (porrinha, isto é meu, lá em cima diz "portas abertas, para entrar e para sair").

pois eu tenho alma de provocador e louco. acho que as pessoas precisam de ser provocadas porque, na minha imodesta opinião, lhes falta de loucura na vida o que lhes sobra de normalidade e carneirada (nada contra o(a)s carneiros, algun(ma)s são delicioso(a)s).

daqui, sei que toco noutras pessoas, sei que me lêem. tenho quase certeza de que usam algum tempo a pensar em algumas coisas que aqui dou. e gosto de pensar que provoco ideias e sorrisos com isto, como também gosto de provocar em pessoa.

numa altura em que a esperança mundial está associada ao lema "share de wealth", suponho que cada um deva partilhar (o que o meu filhote gosta desta expressão, e que bem a usa) o que tem.

afinal, há vícios piores do que este...

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

o louco



hoje trago um texto de khalil gibran, poeta libanês que viveu a transição do século XVII para o século XIX. o texto está inserido numa colectânea de parábolas, de seu nome "o louco".

na introdução ao livro, de ana leal, escreve ela a certo ponto:

"e se a loucura é a roupagem dos genuínos, sejam eles bobos, poetas ou visionários, ela serve também para os proteger das tentativas de normalização que a sociedade continua naturalmente apostada em conseguir".

o livro marcou-me, releio-o muitas vezes. cada um dos pequenos textos é uma porta para mil divagações. o que aqui transcrevo é talvez o que mais guardo.

"os olhos

certo dia observavam: para além destes vales vejo uma montanha envolta num manto azul de névoa. não é uma maravilha?

os ouvidos escutaram e perguntaram: mas onde está a montanha? não a ouvimos.

falou depois a mão e disse: em vão procuro tocar ou sentir a montanha; não a encontro.

o nariz disse: não há tal montanha; não a cheiro.

os olhos voltaram-se para outro lado; e todos começaram a comentar tão estranha alucinação.

e ouviu-se: alguma coisa corre mal nesses olhos."



segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

sem estilo nenhum



como estou muito bem disposto, fds bom, vou ser extravagante e colocar dois post's, hoje.

para ser mesmo franco, este vem na sequência do anterior (em baixo), mas tem outro tema. podem começar pelo de baixo, ou ler isto ao contrário e começar por aqui
(lembro-me do meu tio, uma vez, dizer que um trabalho bem feito começa pelo fundo da cama...adiante).

para ser ainda mais franco, este post também está relacionado com um post que uma amiga colocou noutro blogue, que não quis comentar lá, por ter muito que escrever acerca.

introduções feitas (esta expressão é fascinante, que diabo se introduz, afinal, e onde?). para os que já estão a ver que vai sair disparate, encostem-se e apreciem...

toda a gente tem uma imagem, até aqui, tudo pacífico. eu, como sou gente, também tenho de ter, não consigo evitar. mas como odeio imagens e estilos, tratei de arranjar uma imagem que me deixe o mais fora de estilo possível (engraçado, agora sai tão naturalmente).

chamar casual à minha imagem, é pecar por defeito. talvez chamar desmazelado seja pecar por excesso, mas menos (e para pecar, mais vale em excesso que em defeito. mas bom, bom, é um defeito em excesso..adiante).

ora posto isto (e como muitos que aqui me visitam me conhecem pessoalmente, não vou adjectivar mais a minha imagem) será que há quem goste de mim? quem me aprecie? que alguém me ame, admire ou respeite, com uma imagem destas?

iap, e naturalmente. suponho que começam por o fazer não pela imagem, mas apesar da imagem, e acabam a faze-lo sem se ralar com ela.

porque a minha imagem é o desprezo pela imagem visual. é mais uma imagem de odores, texturas, sabores e outras sensações, o que exige maior proximidade para a análise. também é uma imagem de desprezo por convenções, é
a de alguém que vive num mundo anti-convencional (bendita liberdade, que permite espaço às minorias), e, por isso, mais livre e alegre.

claro que respeito outras atitudes, e não deixo de lhes reconhecer muitos encantos. como dizia o meu irmão, pena uma moça assim vestida nunca se ter sentado ao meu lado, no autocarro...

mira mamã, una chica sin pelo



quando dei o nome ao blogue, e garanto que um destes post's explico as romãs, foi também no sentido "romãs e outros prazeres".

esclareci isto porque hoje vou falar de um prazer que me é raro. hoje cortei o cabelo! melhor, deixei que mo cortassem (para ser preciso, paguei, é verdade, mas esta perspectiva soa mal com o que vou escrever abaixo, olvidem).

aqui impõe-se dizer que, quando cheguei a coimbra, cortava o cabelo num salão muito pipi, de um fulano muito simpático. ia lá porque amigas minhas iam, e corria bem. algus anos depois, decidi fazer-me "macho" e passei a ir cortar a uma barbearia na baixa da cidade, rua ferreira borges (talvez a única vez em que ser "macho" me correu bem, aquilo era uma delícia, parecia uma viagem no tempo). por incrível que devia ser, fechou, perdeu-se uma pérola para abrir uma joalheria. voltei ao salão pipi, até que decidi masculinizar-me de novo, numa barbearia de um fulano que conheci numa borga valente (ainda dizem que nas borgas não se aprende nada...).

pois lá, quem me corta o cabelo por estes dias, é uma moça russa, que leva horas naquilo (não só a mim, acho que a todos os clientes). há alturas em que penso que ela corta cabelo a cabelo...

mas que me importa isso, se aquilo é outra delícia. já não é uma viagem no tempo, é uma visita ao salão de massagens (ok, confesso, nunca fui, mas imagino muito). é claro que não me ponho a divagar ideias de as mãos da moça começarem a descer por mim abaixo (ok, confesso outra vez, só um pouco). seja como for, e só pode ser das mãos dela, saio sempre de ideias arejadas (já sei que uns chicos espertos vão avançar que é do corte do cabelo, mas é gente invejosa).

para que fique claro, por mais que admire a mulher russa, e admiro (sem desprimor para nenhumas outras, admiro todas, odeio xenofobia), o caso é que a moça é apenas uma simpatia de mãos mágicas.

domingo, 11 de janeiro de 2009

dimensões



parece que o mundo começou com uma partícula, um ponto. um ponto tem zero dimensões, está no limiar da existência.

unindo dois pontos, temos uma linha. se for recta, tem uma dimensão, comprimento.

claro que há outras maneiras de unir dois pontos, sem fazer o caminho mais curto (normalmente dar uma volta costuma valer a pena...). estou a falar, por exemplo, de linhas dançarinas, numa folha de papel, que se cruzam e recruzam, aproximam e afastam, explorando todo o plano da folha. já temos duas dimensões, comprimento e altura.

adicionando mais uma, espessura, temos o mundo tridimensional. formas, volumes, volúptias,

cientificamente reconhecida é ainda a quarta dimensão, o tempo, que permite introduzir factores de transformação e inter-relacionamento.

com as quatro, podemos definir todo o mundo. todo? não, uma parte resiste ainda e sempre à ocupação romana (ups, entusiasmei-me...),

porque essa interacção permite considerar (e há quem considere, entre delírios e razões) outros parâmetros como dimensões,

falo de cheiros ou sons, texturas, sabores ou cores. falo de conhecimento, valor, custo. posso até falar de sentimentos (mesmo sendo um tiro arriscado, é muito válido).

hoje, falo da companhia, de quem está connosco quando estamos em determinado espaço (já sei, os puristas vão argumentar que isto se reduz à dimensão temporal, mas que se lixem, reduzam-se eles mais a pureza toda).

pois eu, por característica profissional, passo a vida a tentar perceber o que caracteriza cada espaço, cada local. mais que a tentar perceber, vejo-me com isso nas mãos, tenho de caracterizar espaços.

para ser franco, muitas vezes, ao desenhar determinado espaço, imagino determinada acção a ocorrer lá. pode ser a posição em que alguém se encosta a uma guarda ou balcão, a perspectiva que outro alguém tem de determinada perspectiva, uma certa iluminação no acordar de uma alma ou a acústica do espaço perante determinada música, muitas vezes é um miúdo a brincar em determinado ambiente ou um qualquer casal a fazer amor (caramba, nunca imaginei um espaço para orgias).

claro que nunca espero que a acção que imagino para o espaço seja a única a lá ocorrer (aliás, as mais das vezes nem ocorre, mesmo sem voltar à orgia...). costuma ser curioso ver coisas "novas" acontecer nos "meus" espaços.

tudo isto para dizer que basta utilizar um espaço com duas pessoas diferentes, para nos apropriarmos dele de modo muito diferente, mesmo para quem se habituou a entender o espaço tecnicamente. mais uma vez, o mundo dos sonhos sobrepõe-se ao da técnica.

sábado, 10 de janeiro de 2009

olarias



outro dia falei de gestos (antes de descarrilar). hoje falo de mãos, e do que são capazes de fazer.

é muitas vezes com as mãos que primeiro sentimos fisicamente (excluindo o cheiro, a visão, a audição, como parâmetros físicos) o outro(a). sentimos-lhe o cabelo, acariciamos gentilmente o ombro, brincamos com o nariz, tomamos o pescoço antes dos lábios, ou até, em dias de extravagância, massajamos os pés (semi-) descalços de alguém generoso(a).

mesmo os contactos posteriores, muitos ou poucos, excelentes ou sofríveis, quentes ou frios, doces ou ásperos, necessitam também das mãos para acontecer (não carece de elaboração, seguro).

mãos são ainda um excelente veículo de produção gestual, porque permitem introduzir detalhes na descrição que fazemos.

é esta predisposição das mãos para o detalhe que me encanta, acho. nem preciso dizer que estou a escrever com as mãos... nem que foram elas que montaram a linha de comboios do post anterior (dois pares de mãos, um mais preciso e coordenado, outro mais aventureiro e descuidado).

pois hoje de tarde tive uma divertida e doce desilusão. as mãos aventureiras que mencionei antes não parecem ter qualquer talento para moldar barro (e eu que me já imaginava pai de artífice)... bem, é continuar a deixa-lo crescer livre, ele há-de ter um talento qualquer especial com as mãozitas, saia ao pai ou à mãe...

fds bom

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

gestos



gestos são muito importantes para mim, revelam bastante do carácter e personalidade de cada ser.

uma doce amiga (a quem tenho menosprezado, my bad), tem uma amplitude gestual fascinante, move as mãos e enche a sala, põe cor no mundo.

mas para mim, o gesto mais atraente que uma mulher pode fazer, é andar (nenhuma em particular, género feminino em geral). se for em cima de saltos altos, nem se fala...

suponho que teria dificuldade em amar uma mulher que não fosse estupidamente expressiva a andar (ou que tivesse pés feios, já agora).

amei alguém que andava como uma leoa, autenticamente. bem, ainda hoje anda assim, mas suponho que não era só por isso que a amava...

pois hoje vi andar uma criatura adorável, quase diria irreal, se não lhe tivesse tocado... e tu longe, fora de amplitude do gesto...

já agora, para satisfazer quem tiver curiosidade, o gesto que considero mais atraente num homem, é tocar contrabaixo (penso que tem a ver com um concerto fabuloso de mccoy tyner, em que o baixo era, penso, avery sharpe, e com a música de charles mingus).

claro que a maior parte de nós não toca. suponho que quem aprecia homens lhes aprecie outros gestos mais eficazes para o efeito do que aquele que me encanta a mim (ou só contrabaixistas teriam amantes, risos).

dois parênteses: (violoncelo não funciona, acho que o arco impede a relação directa com o instrumento); (patrick suskind é conhecido pelo "perfume", eu li-lhe "o contrabaixo", monólogo a lembrar "o diário de um louco", do gogol. ainda hoje uso tempo a imaginar se ele gritou... acho que não, mas gosto de imaginar que sim).

isto descarrilou, o título do post devia ser devaneios.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

opostos que se atraem



não gosto quando a ciência explica factores que para mim existem no mundo dos sonhos e das ilusões.

por exemplo, desagrada-me que falem de feromonas para explicar atracções humanas, ou que se explique hetero e homossexualidade com questões genéticas. de certeza que devem ter muita razão no que dizem, mas no meu mundo, não se aplica.

por outro lado, adoro excepções, por isso hoje vou recorrer a um exemplo científico para explicar algumas (só algumas, ok?) atracções humanas.

já perceberam pelo título do post que vamos falar de magnetismos. é conhecimento geral que elementos com cargas magnéticas iguais se repelem, e que sendo as cargas opostas, se atraem.

(não, hoje não é homossexualidade... aqui a ciência não tem aplicabilidade, que eu conheça, é campo exclusivo da liberdade de escolha).

escolhi o exemplo para ilustrar as vantagens de pessoas com personalidades opostas serem casais viáveis, há casos assim.

trata-se de complementaridade, de acrescentar em lugar de repetir, de mútua aprendizagem em vez de básica confirmação.

mas complementaridade implica compatibilidade, utilização das diferenças como factor de encaixe (sim, uma saliência necessita de um buraco para encaixar, em todas as sexualidades), e não como criadoras de distâncias.

muito importante também é não esquecer que quanto mais intensas forem as cargas opostas de cada um, maior será a intensidade da atracção...

p.s. não consigo colar a porra dos vídeos... fica link.

http://www.youtube.com/watch?v=jMMahuhPkZg

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

histórias todas de rir

já aqui uma vez falei do meu filhote.

quem nos conhece juntos, já nos viu rir, chorar, sonhar, fazer planos imbecis. quando está comigo, as pessoas gabam-lhe a alegria, a gentileza, a constante boa disposição, a curiosidade e a imaginação. também dizem que é bonito e incansável, mas a isso não ligo. conversamos muito.

algumas pessoas sabem qual é a
parte mais saborosa da nossa relação... ele pede-me para lhe contar "histórias inventadas", para adormecer, "todas de rir". já aconteceu algumas vezes adormecer a soluçar, de tanto rir. e lembra-se de pormenores de algumas que contei há quase dois anos, que até eu tinha esquecido. já me disseram que devia grava-las...

o meu filho é feliz, porque também tem o amor da mãe, à maneira dela.

eu sou mais feliz quando o gustavo está comigo, nem que seja ao telefone ou em sonho, a dormir ou acordado.

sou bem menos feliz quando não o posso ver. não gosto de estar distante das pessoas que amo, odeio querer dar-lhes um beijo ou um abraço e não puder!

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

pré-conceitos, anjo




durante muito anos tive-me como uma pessoa livre de preconceitos, e gostava disso.

como sou um ser racional (apesar de homem, masculino), e por ser um assunto que sempre me foi importante, acabei por evoluir no meu conceito de preconceito, e na minha atitude perante ele(s).

se analisarmos a palavra, preconceito é um conceito prévio, um pré-conceito. é algo que concebemos antes de saber, em função de experiências vividas e/ou apreendidas. basicamente, é uma demonstração da nossa cultura, uma sua aplicação.

por exemplo, se me falarem de uma mulher atraente, eu imediatamente a imagino atraente para mim (pés bonitos, pescoço descoberto, nariz personalizado, sorriso enigmático, gestualmente expressiva). não a imagino branca, asiática ou negra, alta ou baixa, decotes profundos ou não.

mas se calhar, quem me falou de tal mulher e me disse que era atraente, nunca lhe viu os pés, porque se ficou pelo decote, não lhe apreciou a amplitude do gesto porque estava concentrado no que vestia, etc, etc, etc.

o exemplo, básico, masculino, demonstra a questão de experiências culturais diferentes, na elaboração de um pré-conceito simples.

qual o mal dos preconceitos, então? porque ensinamos os nossos putos a não ser preconceituosos? será que há pré-conceitos bons ou maus, e é dos maus que temos de os acautelar?

claro que há pré-conceitos maus!

mas também aqui se trata de uma questão cultural: em minha casa, não entra racismo, sexismo, homofobias, falta de gentileza, por exemplo. mas anda-se descalço e de boxers, pode-se cantar à mesa, as crianças podem interromper conversas, e outras coisas que outras pessoas, que não são piores que eu (pelo menos por isso), banem de suas casas, aceitando as (ou algumas das) que eu bano da minha.

para mim, o verdadeiro problema com os pré-conceitos é outro, que não o serem bons ou maus.

o mal está em viver com os pré-conceitos, em lugar de os utilizar como o que são, pré.

voltando ao exemplo da mulher atraente, por ser básico, masculino e simples, basta dizer que posso achar (e acho) atraentes muitas mulheres que não correspondem ao meu pré-conceito de beleza feminina (ou seja, o meu pré-conceito não me impede de olhar aquela mulher como ser único).

igualmente, algumas que a ele correspondem não o são de todo (atraentes para mim), por outros motivos (que, culturalmente, irei adicionar ao pré-conceito que tenho).

ou seja, errado é ter os pré-conceitos como regra de vida em lugar de ferramenta inicial de apropriação de outros lugares, pessoas ou conceitos. isto, mais que uma questão cultural, já é uma questão de inteligência, afirmo eu.