quinta-feira, 1 de outubro de 2009

formação académica



na sequência do post anterior (em baixo), agora escrevo acerca da mais valia académica na vertente técnica e teórica.

é suposto que quem a termina tenha capacidades técnicas e teóricas superiores, que esteja mais habilitado para executar funções que requeiram liderança (não é linear, mas concedo), que o facto de ter cumprido um objectivo intelectual e de volume de trabalho (risos) seja demonstrativo de capacidades "superiores".

convêm afirmar que, apenas pelo facto de não ter um curso superior, uma alma não está desprovida dessas qualidades, apenas não as terá comprovado nesse modo. convêm afirmar igualmente que ter terminado um curso superior, mesmo com classificação elevada, não é garante da posse (ou capacidade de utilização) dessas qualidades.

parênteses (conto uma história de quando acabei o meu primeiro ano na faculdade. ainda estava em aulas, comecei a trabalhar num gabinete de arquitectura, gerido por dois arquitectos. comigo, em simultâneo, começou também um colega, finalista, igualmente chamado joão. de mim, esperavam capacidade de desenho (eu era bom, traço bonito, mas excessivamente lento); dele, esperavam capacidade para resolver problemas concretos. deram-lhe, como primeiro trabalho, o desenho de uma "casa de guarda", programa simples, que ele complicou sobremaneira, de tal modo que se viu grego e troiano para lhe arranjar cobertura, tais os recortes da implantação que tinha criado. dois ou três dias de lutas e experiências depois, ele lembrou-se que podia ter apenas uma água (pendente de telhado), também ela recortada ao infinito. saiu antes de mim, ele por incompetência (nunca mais soube nada do rapaz), eu porque quis ir para sítio melhor, e aproveitei para, de caminho, fazer justiça a um rapazito que lá trabalhava, também ele chamado.... joão).

reconheço o conceito de capacidade técnica elevada associado a formação académica superior (e cristo sabe que, na minha área, bem temos penado pelo contrário se aplicar por demais), mas gosto de excepções, e acho que deveria haver uma forma de isso não ser estanque. por exemplo, de todos os artistas desencartados que cá temos, não conheço nenhum com a capacidade de tadao ando, um colega japonês, autodidacta, que fez uma formação pessoal, não académica e que apresenta uma qualidade de trabalho mui superior a muitos colegas mui bem encartados (sem retirar uma grama ao valor de muitos colegas, porque se há área em que não somos inferiores comparados aos estrangeiros, é na arquitectura de topo).

moral do post: estudar e aprender é fundamental, valorizar cursos académicos acima disso, é asneira.

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