segunda-feira, 29 de abril de 2019

don't be a pussy











(in making art)

é saber comum que se se der um presente a um gato, ele prefere a caixa em que está embrulhado.

mas no que à arte (produção artística) diz respeito, a forma é menos importante que o conteúdo. sempre.

arte é comunicação, expressão. de algo que o autor acha importante (conteúdo) e quer dizer a outros(as), de modo (forma) que permita a sua penetração no(a) outro(a), a expansão em outros(as).

estética não é pecado, mas é secundária. é importante como veículo, como embrulho, e só é prioritário para gatos.

so, don't be a pussy, in making art.

terça-feira, 23 de abril de 2019

amor não pesa


















(e não prende)

hoje é capaz de ser comprido, porque sei do que quero escrever, mas ainda não sei tudo que quero escrever acerca, e sinto que vou patinar um pedacito.

hoje não escrevo de paixões, nem luxúrias, nem desejos, nem necessidades, que sendo sentimentos muito bons, frequentes, moderadamente satisfatórios, não são o assunto disto.

num livro (talvez n"o medo", talvez noutro), al berto descreve um amor e o seu final (tremendo, como todos os amores e finais têm de ser) que teve com um rapaz mais novo e belo. naturalmente, o rapaz acabou por se enamorar por outro amor. al berto ficou destroçado, "para morrer", e em conversa com uma amiga, conhecedora do desamor, esta diz-lhe que não se atreva a matar-se, porque o rapaz, que lhe deu tanto (em qualidade) não merece viver o resto da vida com o peso duma tal morte na alma.

nunca se deixa de amar alguém que se ama, não há fim. ainda amo a primeira mulher que amei, e vou amar até que doença ou morte me aniquilem memória. e as outras três entretanto, até que doença ou morte me eliminem memória, pelo tanto (em qualidade) que me deram e que eu lhes dei, pelo que plantámos e colhemos em corpos e almas que não eram alheias, e nunca poderão ser. e é felicidade (admirável) ver em mim e nas pessoas que amo(ei) frutos dessas sementes que deixei nelas e que deixaram em mim.

e gosto (de certo modo, preciso) de saber que estão felizes, mesmo longe. e quando posso levar um doce, fazer um cariño, provocar una sonrisa, levo e faço e provoco. amar alguém é levar-lhe bem, e deixar que ela nos traga bem, sabendo que, trazendo-me bem, isso a faz feliz, e a alegria é maior duas vezes.

e tenho dever de ficar e estar bem, porque elas não precisam viver a vida com a minha desgraça às costas. e dever de ficar bem é estar limpo, decente, capaz, leve, because tomorrow might be my good news day, e já devo isso à mulher que amar a seguir (para toda a vida).

alturas houve, antes de começar a amar, em que a vida me era pesada. o que acrescentei (e mudei) com esses amores (e não só, sendo franco) é o saber viver leve, e levar leveza a quem amo.

porque amanhã vai ser um dia bom para amores, e posso ver alguém  que me salva a vida. outra vez.

quarta-feira, 3 de abril de 2019

..., nunca mais digo bom dia a ninguém












já contei esta piada noutro lugar, mas vou contar agora aqui, com comentários (explicar piadas é uma coisa reles de fazer, mas tenho andado bem disposto). 

em viagem com amigo meu, em trabalho, a passar a vasco da gama, norte para sul, manhã de sol, vidita boa, a acabar de acordar devagar, conversa tranquila, e ele, na sequência da conversa tranquila, diz: "se acertar no euromilhões, nunca mais digo bom dia a ninguém".

ora, "ele" é o meu amigo rogério, e diz bom dia com vontade a toda a gente, entre outras qualidades ainda mais apreciáveis.

eu achei que ele estava a deslizar, torci o nariz e disse que nem parecia ele.

e ele, a conduzir e a sorrir, acabou a frase: "só digo boa tarde e boa noite".

moral 1: indivíduo que é decente talvez deixe de trabalhar e de acordar cedo, mas não se estraga com dinheiro.

moral 2: aquela conversa de que os amigos são poucos e bons, e que se se tiver alguns é uma sorte? treta. amigo, na forma rica da expressão, é bom por definição. e não há limite de quantidade. e não os temos por sorte. talvez por karma, certamente por mérito.

terça-feira, 2 de abril de 2019

quem és tu?














uma revelação curiosa acerca de cada ser humano é o modo como responde à pergunta: "quem és?".

o primeiro e mais revelante  aspecto da resposta é o modo como a pergunta é compreendida, ao que é que é dada resposta, o que pessoas diferentes acham (ou gostariam) que as definisse.

há quem responda títulos académicos (antigamente nobiliárquicos, mas é já tão raro que agora tem piada), filho/neto de não sei quem (vulgo fidalgo), marido/esposa de fulana(o) tal (mais importante que o(a) próprio(a)), amigo(a) de, ou posições de importância profissional, como director, presidente, CEO, administrador ou, mais para o reles, chefe. este tipo de resposta propõe elevar quem responde acima do humano comum.

um elemento que não aparece nas respostas é o sexo (se estivermos a ver a pessoa ou lermos o nome), mas se a resposta for não presencial, acontece menção de idade, em alguns casos de beleza física (auto-avaliada ou o "dizem que"), altura, obesidade, traços pitorescos.

outro parâmetro frequente é o "sou de....", cidade, país, bairro, porque o sítio de onde vimos e/ou onde residimos nos molda e uniformiza aos vizinhos (pois). este parâmetro é-me importante, perspectiva profissional e linguística (porque gosto de línguas), e não perde validade se houver mudança de residência ("moro em corroios, mas sou da mouraria"). 

ainda outro é o facto de se "pertencer" a um grupo: religião, futebol, classe profissional, estilos de vida (gótico, beto/inho, skin, intelectual (talvez ninguém diga que é intelectual, mas gosta de ser assim visto pelos alheios)), associativismos políticos (com prefixo jota, para imberbes), militares de carreira (com menção de patente).

um campo de respostas que me agrada muito está relacionado com disposições, "sou sempre bem disposto", "sou muito calado", "sou uma pessoa com pouca/muita auto-estima", "sou um doce", "sou um bocado estupor, mas só às vezes".

há uma série interminável de outros elementos de resposta, mais particulares e menos agrupáveis, cuja conjugação fazem com que cada ser humano seja particular e único.

aquilo que se recebe de resposta muito menos vezes do que eu gostaria é "sou um ser humano decente". ou "tento".