segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

natureza moderna



acerca do conceito de arte e dos seus objectivos, do conceito de natureza natural e natureza subjugada.

durante muito tempo, e ainda hoje, ainda que não abrangentemente, o conceito de belo esteve relacionado próximo com a natureza. a natureza era entendida como fonte de belo e puro, e como tal de inspiração para as obras humanas, artísticas e/ou úteis. a natureza era a manifestação da criação divina (em quase todas as religiões) e como tal digna de cópia, ampliação, representação, almejo.

entretanto, bem ou mal, o mundo mudou. darwin proclamou uma teoria mais credível (e menos erótica) que a de adão e eva, e, em evolução em paralelo, a arte foi tendo mais que representar que apenas a beleza da natureza.

assim, continuando-se a pintar naturezas mortas, a fotografar campos de flores belos, a filmar gotas de chuva e a admirar a gravação do som das baleias, porque a arte é evolução, muitos criadores utilizam elementos naturais no que criam: estudam a evolução de uma teia de aranha e a sua resistência; reutilizam a estrutura das conchas ou carapaças de insectos na edificação; estudam e maximizam o efeito de ventos e outros impactos naturais na concepção de automóveis ou outros móveis; reintroduzem o som das baleias em músicas de discoteca ou de protesto.

um destes recriadores, theo jansen, tem um projecto que descobri por acaso, numa pesquisa por outra coisa, e me fascinou.

o homem antigo seguia um movimento global, um estilo. o homem actual produz em muitas direcções, foca em muitos problemas, de muitas perspectivas. e se muito do que o homem produz é anti-natura, o resto do que o homem faz é um regresso ao útero natural. é-me razoável que se construa (não só edifícios, mas tudo que se faz) de uma forma humana, que deixe marcas humanas, aqui entendidas como não naturais (porque o homem já não é muito natural, pois não? chega a ser uma aberração da natureza em certos casos, em certos espécimes ou em certas circunstâncias). mas é adorável que haja homens (e mulheres) naturais, que tentem perceber a natureza, adapta-la, e deixar marcas humanamente naturais.

são pessoas que naturalmente passam por idiotas (e o são) e pensadores inúteis (que não são), gente alucinada que tem uma visão de mundo (também muito representada na animação) onde gestos simples são sublimes. mesmo que seja necessário e excitante evoluir de uma forma anti-natura (porque também o é), tal movimento seria catastrófico se não houvesse idiotas como theo.

life's sweet



já não escrevo há uns tempos e hoje deu-me ganas, por causa do domingos névoa, que voltou a safar-se de uma de corrupção, desta vez em coimbra, por motivo de prescrição.

mas já aqui, em frente ao monitor, dei por mim: "mas tu és parvo ou quê? escrever desse quando o sol está frio e luminoso, lá fora, quando há trabalho para fazer, quando estás bem alimentado, e vem aí o natal, quando os knicks ganham 13 em 14 e amar'e is a beast, e até vais estar uma semana com o teu puto (ando optimista)?".

acontece por vezes darmos coisas importantes por adquiridas e reagirmos a coisas mui menos valiosas, apenas por novidade ou excentricidade. e acontece, a alguns, nem chegar lá sozinhos.

bueno, me voy a la cafetería, sigan degustando-la.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

a pázadas



dia de independência em época de dependências: já não mandam cá os castelhanos, manda quem paga.

vou escrever de (in)dependências, não da de 1640, nem da entrada do fmi, nem da importância de dinheiro na independência das pessoas.

ser independente significa valorizar a capacidade que se tem de decidir por si o que se quer. consequência, implica também valorizar nos outros a capacidade que têm de decidir por si o que querem. impingir aos outros decisões que queremos eles tenham é vestir armaduras castelhanas, colocar-se no papel de invasores, e acabar corrido a pázadas.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

a greve



cá está a greve, nalgumas notas soltas:

havia ajuntamento em frente ao edifício da pt, algumas miúdas giras e bandeiras encarnadas, mas nada de jornalistas, estava tudo na palheta, calmamente;

escola brotero fechada, shopping cheio de catraiada. ainda me recordo de quando um prof faltava, ficava toda a gente contente. agora um dia inteiro, c'um camandro! estavam espalhados pelo shopping todo, alegres, uns sentados no chão a comer coisas do supermercado, parecia um acampamento;

não sei se a produtividade foi afectada pela greve, mas o sector do comércio deve pedir uma todas as semanas, até ao natal (deveria, porque já há os feriados);

também no shopping estava um maduro que "trabalha" na câmara de coimbra. escrevo trabalha entre aspas porque a parte de trabalho que ele faz bem e a horas é receber o ordenado mensalmente, e tudo o resto faz atrasado (excepto, ainda, analisar os projectos que foram feitos pelo gabinete onde ele tem sociedade). eu nem lhe falo e ele é delicado o suficiente para evitar olhar-me. o fulano tem com ele um projecto meu, desde dia 26 de outubro, para medir (medir áreas, de terreno, de construção, de implantação, coisas assim, o que pode parecer muito trabalhoso, mas com o autocad demora 15 minutos, incluindo beber café (e fazer o café e lavar a chávena e o pires)), e esta greve só vem agravar a demora, mais um dia sem aquilo medido.....;

parece que o trânsito esteve melhor, em lisboa. para além dos comerciantes, também os condutores das metrópoles apreciam greves gerais;

eu, por causa da greve, evitei ir a famalicão, o que parece bom, porque aquilo não é particularmente bonito nem ia lá fazer algo apetitoso (testemunha em tribunal), mas foi pena, porque perdi companhia da boa. fica para uma próxima (nem me atrevo a escrever para breve, tribunal), nã se perde;

a conservatória de velas de s. jorge não fez greve, mas quem lá quisesse ir por avião, não podia aproveitar, porque não houve voos, como se pode confirmar pela imagem em cima;

diz esta notícia que na gare fluvial de cais do sodré só estão funcionários de segurança e senhoras a limpar o chão. os seguranças admito seja por motivo de abusivos serviços mínimos, mas, a ser verdade, as senhoras que limpam o chão furaram a greve, ostensivamente

terça-feira, 23 de novembro de 2010

não à greve, de ideias



e como o governo é uma merda, faz-se greve. ao trabalho.

numa coisa já produz efeito (lá está a produtividade a funcionar), o governo vai finalmente dar atenção ao povo e ouvir-lhe os gritos de protesto. mas o governo, sendo desonesto e biltre, não é estúpido, vai afirmar que quem greva, tendo todo o direito (lá estão os direitos) a grevar, não está a ajudar o país, que está tão mal de finanças e mais os encargos de um dia sem produtividade e mais a intranquilidade e mais o resto que é mau, bem, as pessoas deviam ir trabalhar, o seu trabalho normal.

eu não sou contra greves (sou contra governos, em geral), nem escrevo do direito a grevar, é um direito adquirido, mas não me parece que produza efeitos, esta greve (não levem a peito o cartaz da cgtp, foi o que encontrei, mas o que escrevo vai geral, não só para os sindicatos ou esta central em particular).

porque o mundo mudou, e se os inimigos são os mesmos (são quem tem abusivamente), os modos de agressão são muito diversos. e parece-me ridículo que venham sindicatos reclamar aumentos salariais quando nem emprego há. e parece-me ridículo que venham pessoas bem intencionadas propor e participar numa greve que não tem a mínima possibilidade de resultar em nada, porque o orçamento não tem margem para isso e o fmi está aí. ah, é claro que o governo, que quando podia gastar, gastou com os seus, agora que nem para os seus tem, vai dar a todos.... ser ingénuo é aceitável, isto não é.

se não grevar, que fazer, então?

ficar de braços cruzados a falar não resulta nada, sabemos de experiência deles cruzados
há anos (talvez seja a novidade de uma greve geral que a torne atraente), porque somos povo de costumes brandos.

pilhagens e agressões não soam bem, porque este não deverá ser caso de "se não podes vence-los, junta-te a eles", e de agressões já temos calos que cheguem.

esgotadas as soluções de cartilha (si, de cartilha), vamos analisar outras ideias, de outras perspectivas. aliás, vamos analisar o problema apenas de uma perspectiva, mas diferente, vamos colocar as perguntas: "qual o problema, quem o provoca, que afecta as entidades que provocam o problema, de modo a deixarem de o provocar?".

o problema é o facto de o governo não governar para o povo, antes para os lobbies dos poderes económicos (banqueiros, especuladores, traficantes), que o elegem.

quem provoca o problema são os beneficiados pelos governos (nacionais e centrais), as entidades que lucram com a governação praticada (sem plural, é só uma).

como afectar essas entidades, de modo a que seja um mal menor para elas o facto de o governo governar também para o povo? um conceito que me parece promissor é: criar prejuízo a essas entidades, que almejam o lucro, relacionando ostensivamente esse prejuízo deles com o nosso.

nesta altura, é fácil pensar: "pois, nós, infelizes, sozinhos, como nos vamos opor a bancos, e pactos atlânticos, e empresas de ratings, balanças comerciais com países poderosos, multinacionais com produtos apetitosos, e a "quem paga, manda?". do mesmo modo que se faz uma greve: em geral, juntos, todos (pelo menos muitos).

um aspecto que salta à vista, é que as entidades que realmente governam são multi qualquer coisa, ou seja, tem milhares ou até milhões de clientes (ou utilizadores, ou utentes). nós. todos juntos.

uau, eles precisam de nós, se não de todos, pelo menos de muitos. vendo bem, até podemos ter impacto. do mesmo modo que os lobbies elegem governos (através do voto do povo) e, por força deste poder, se servem deles, nós podemos ter impacto, por força do facto de sermos a massa enorme que torna a actividade mesquinha brutalmente lucrativa (por massiva). se a massa utente for menor, o lucro massivo deixa de ser massivo.

por absurdo, pode deixar até de ser rentável ! que conceito do caneco, a exploração do povo deixar de ser rentável ! isso levaria a que o povo não fosse explorado. ah, doce utopia de um povo livre *suspiro profundo*.....

bem, isto já vai longo, e ainda não deixei ideia nenhuma: eric cantona foi jogador de futebol, doido varrido, e aparece num vídeo com uma ideia deliciosa; outra ideia que já li em variantes várias, seria atacar objectivos precisos (não comprar gasolina em determinada gasolineira, abandonar telemóveis (ou outras telecomunicações) de determinado operador, por exemplo) (solução já aplicada aquando dos produtos indonésios, por causa de timor, com resultados animadores, promissores se aplicados a escala mais abrangente) (aqui coloca-se a questão de quais as entidades a ser atacadas, questão relevante); haver uma votação em que nenhum voto fosse válido (nenhum, desde brancos, a nulos, a abstémios, nenhum), de preferência a nível europeu; entupir determinado site de empresa lucrativa com reclamações, abusar de uma qualquer das poucas clausulas contratuais em contratos com essas empresas (são poucas mas existem, porque as empresas contam que não sejam exploradas massivamente, apesar de nos explorarem massivamente); atacar sites, baralhar informação, eliminar contactos de email para publicidade massiva ou desviar-lhes fundos e distribuir por entidades não governamentais, limpas; estão a ver as ideias?

basicamente, a minha proposta é: vamos fazer algo que seja eficaz, que produza efeitos, que deixe marcas duráveis, que demonstre o poder que temos, enquanto povo inteligente, criativo, indomável *suspiro ainda mais profundo*, em lugar de fazermos o mesmo de sempre, com mais ou menos barulho e propaganda ou festa. vamos fazer algo produtivo em vez de pararmos a produtividade (é que não sei se se sente assim tanto, porque não produzimos muito).

terça-feira, 16 de novembro de 2010

bd no facebook



o facebook é os nossos mundos todos juntos, e ainda universo de jogos, perdidos e reencontrados, grupos de apoio e pressão, ideias idiotas e imbecis misturadas, diário de bordo e portal de imagens, modas e manias.

a mania de hoje é cada utilizador mudar a sua imagem de apresentação no site, para uma personagem de bd, de preferência herói de infância. é uma ideia entre o imbecil e o idiota, que tem de inteligente aproveitar a relação confusa dos utilizadores com o seu imaginário (de quando isso era algo de bom, porque infantilmente genuíno), e o resultado final de se ver o site cheio de imagens de bd e personagens fantásticos, alguns esquecidos.

mais profundo (porque o imaginário de cada um revela mais do um do que a imagem que passam), é perceber porque cada pessoa escolheu a imagem que escolheu, o que isso diz de si (de ontem e de hoje), e o que houve de genuíno nessa escolha (para quem conhece o outro alguém mesmo bem).

moi, devia ter colocado o surfista, mas ando em fase gaston.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

do what the dozzers do



alguns nunca viram, outros nem se lembram(avam), fraggle rock foi uma série que passou na televisão, depois dos marretas (the muppet show), ainda no tempo dos dois canais públicos e mais nada.

no resumo, o criador (jim henson, o mesmo dos marretas) fala dos fraggles e dos doozers, os primeiros viviam para cantar e os segundos eram trabalhadores afincos, e construíam estruturas que os fraggles.... bem, comiam. (henson não menciona aqui os gorgs, uns gigantes que viviam num quintal e que perseguiam os fraggles quando estes os visitavam, excepto um, tolinho, que gostava deles)).

simplismificando, os doozers trabalham e os fraggles usufruem do trabalho deles, ring any bell? (vou deixar os gorgs fora: poderia relaciona-los com as grandes multinacionais, mas era falso e forçado, porque estas dominam e os gigantes só se atrapalhavam e nunca tinham o que queriam).

mais recentemente que a emissão dos fraggles, há coisa de um ano atrás, o país ainda concordava por maioria absoluta que o maior problema nacional era a produtividade. hoje não há consenso acerca disto, porque se começou a particularizar, apontando dedos a sectores (do estado) pouco produtivos, a falar em reduzir direitos, remunerações e complementos, em avaliações, em, pasme-se, não dar por garantido progressão na carreira só porque se lá está há "x" ou "y" anos.

alvo fácil, por estes dias, é a justiça e o sindicato dos magistrados (porque se põem a jeito). seria fácil reconhecer-lhes a razão nas reclamações se a justiça fosse justa; seria fácil reconhecer que as propostas do orçamento para o sector revelam perseguição política se houvesse realmente políticos condenados por corrupção (há o isaltino, de excepção, e adianta muito); seria fácil aceitar que tivessem privilégios (eu aceitaria facilmente) se eles resultassem em celeridade e eficácia (características que se aplicam mais aos avançados do sporting que aos tribunais). não havendo nada disto
(há excepções, e são bem boas, mas a regra, mademoiselle, a regra....), é difícil.

seria também fácil de aceitar os seus argumentos se algum (já me basta um) mandasse o estado à fava, mais as suas regalias reduzidas, e viesse para o sector privado. mas curiosamente, o fluxo é inverso, e quanto mais se ouvem queixas das condições públicas, mas profissionais ambicionam essas condições. é o direito ao contraditório, suponho.

claro que os juristas privados (leiam advogados) não estarão melhor vistos, existem mesmo mais anedotas deles que de alentejanos e quase tantas como de loiras, mas não só há também excepções (a minha advogada é uma boa, e ainda em cima, o raio da cachopa é uma tara), como nunca se ouviu nenhum reclamar de má remuneração: pudera, cada um ganha conforme o trabalho que, realmente, produz (ou convence o cliente que produziu, o que é outro assunto).

isto aplica-se a todos os outros sectores, mas encontrei este vídeo, e como já ando com ganas de escrever do sindicato dos magistrados há um tempo, saiu-me.

doozers têm gosto no trabalho que fazem, são felizes por o fazerem e não se incomodam que os fraggles lho comam. seria diferente se os fraggles comessem a ritmo vertiginosamente acelerado o que os doozers constroem....

let's do what doozers do, singing with a smile.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

mais encantos em coimbra, na despedida



é verdade que a vida pode ser linear, serenamente ritmada, com altos e baixos pouco acentuados. para algumas pessoas é quase sempre assim, para outras é assim em certos períodos, intervalos de tempo.

para esses outros, a vida atravessa, frequentemente, grandes flutuações, períodos em que se passa muito rápido de quase tudo para quase nada, and back. nessas circunstâncias, ajuda ser capaz de entender as flutuações como tal, não ficar inebriado com a escassez de ar dos picos altos nem deixar que os sonhos se atolem nas profundidades das profundezas.

é minha experiência de vida vivida que, em fases de quase derrota, surge uma (normalmente apenas uma) oportunidade de re-elevação, na mais variada forma (adequada à forma da derrota iminente). o que se faz com essa oportunidade baliza o que se denomina comummente "felicidade".

isto aplica-se a muitos aspectos e serve de introdução ao assunto de hoje, cultura em crescendo, em coimbra:

é nas alturas em que vamos abandonar algo que mais facilmente lhe denotamos as delícias (bem, nem sempre, mas no caso é). quando escolhi vir para coimbra, tive em conta a vida cultural que imaginei haver cá (e havia). hoje ela é diferente, utilizada por pessoas e perspectivas diferentes, menos genuína (acho), menos generosa e menos frequentada.

acontece nos últimos dias terem sido publicadas, nos jornais locais, reportagens da (re)abertura de espaços com funções culturais, e num virote, a minha perspectiva cultural de coimbra animou-se: vai reabrir o cinema avenida, como theatrix; depois de remodelado, o edifício original da bissaya barreto, na sá da bandeira,
vai ser utilizado como casa das artes sede, para três associações culturais; e finalmente, após muita dedicação e paleio, foi iniciada a obra de reconversão da igreja do convento de são francisco em centro de artes e convenções.

se a isto somarmos a reabertura, ainda recente, do mosteiro de santa clara-a-velha, (e a outras novas actividades, menos aguardadas e de menos (que não menor importância) impacto), coimbra vai ter muitos mais encantos, independente de ser ou não hora de virar costas.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

pequeno vício



acho que já escrevi disto, mas encontrei o vídeo e resolvi aprofundar.

suponho que temos de aceitar que somos seres viciosos, e o nosso civismo está, em parte, no controlo que mantemos sobre os vícios que temos.

eu tenho um, recente de meses, que me preocupa um pedacito, porque gosto mesmo daquilo. é coisa inocente, nada de grave, mais ou menos como um puto quando descobre os caramelos: desde que não abuse muito e lave os dentes, a coisa é inócua.

o que me preocupa no meu é que, sendo muito inofensivo, imagino posso desvalorizar o controlo que tenho de ter nele. isso anexado ao facto de qualquer vício só ser saboroso quando exercido sem controlo (durante, o controlo vem logo após), faz com que me preocupe um pedacito demais do que devia, e não usufruir decentemente do vício que tenho.

isto faria mais lógica se explicitasse o vício, mas não quero. o que quero escrever é que vícios podem ser muito bons, desde que usados, e não abusados.

bem, também é aceitável a perspectiva de que é o abuso de algo que o torna vício.

sendo que a medida que leva algo de uso a abuso também não é facilmente mensurável.

calhando, o meu vício nem é vício, e resume-se a actividade privada.....

vou beber um café.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

bd na amadora



"eu sou o dragão, e o vosso futuro será a morte!", disse o gustavo a acertar no futuro. mas este post não é acerca do jogo de ontem, antes é da manhã de sábado, no festival de bd.

já não é o mesmo ambiente dos festivais na fábrica da cultura, mas não deixe de valer a pena, principalmente levando miúdos. eles andam pelos cenários meio fascinados, vão ver detalhes, riem, e agora têm ateliers, workshops, aprendem como se faz animação, como se faz sonorização de animação, fazem pintura facial...

tenha a sensação que desfasamento temporal é o que inviabiliza a perfeição, quando levo pessoas que amo a sítios ou situações que amei. na realidade (animada), que se lixe a perfeição mais que perfeita, perfect is were you're happy.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

auto-censura



hoje ia escrever de um assunto, tinha o que ia escrever na ideia, e depois desisti, auto-censura. desisti porque recordei que uma pessoa que ia mencionar poderia ficar sentida pelo que ia mencionar dela (apesar de ir dizer que é uma das minhas colegas favoritas, apesar de ter um defeito (pré-conceito meu) que ela tem).

e nisto fiquei sem assunto para escrever hoje, até cariño me dizer para escrever do assunto de ter ficado sem assunto.

auto-censura é saudável, tanto como qualquer opção consciente na vida. demonstra controlo sobre o que fazemos, sentimentos que sentimos, pré-conceitos que temos.

escrito isto, qualquer censura, mesmo auto, é insana. demonstra controlo pelo que fazemos, repressão de sentimentos que sentimos e pré-conceitos que nos travam.

mesmo assim, censura auto é menos má que censura externa. e cada alma tens as limitações que se impõe, é melhor viver com elas.

e pelo menos assim sei que não vou deixar sentida uma amiga. só não sei se ficaria se tivesse escrito o que ia escrever e ela tivesse lido.......

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

puta de mar



pre scriptum- os espanhóis usam uma expressão que é "puta madre", que é uma exclamação, algo como tremendo, excelente, algo intenso. os açoreanos deviam utilizar uma que é "puta de mar", relacionado com certas viagens entre ilhas. o que se segue aconteceu hoje de manhã:

local: algures no triângulo dos açores; hora: hoje de manhã, dez e picos; viagem patrocinada pela sata, pela transmaçores; estado do mar: puta de mar.

experiência de vida, atravessar o canal com mar assim. os regulares gozam, dizem que está lisinho (mar calmo, vulgo "azeite") e passam a viagem a beber minis no bar (o meu lado macho ficou impressionado), mas os passageiros ocasionais passam as passas do triângulo e nunca mais esquecem.

o mar estava a modos de quase ficarmos de pés no ar, tal o afundar do barco, e quando estendíamos a mão para agarrar uma barra de ferro, acontecia ela se afastar com a ondulação.
uma passageira, bem gira, foi balançando até ao bar, pedir um café, e eu fui balançando atrás (pelo café). estávamos no café, e a menina atrás do balcão fez piada profissional "pode ser já mexido"? a menina bonita desistiu, depois de passar de pele clara a azul e depois a roxo, suponho que desistiu antes de chegar a verde. eu achei que o mínimo que podia fazer era acabar o café, enquanto os fulanos enfiavam minis e se riam, o que, conseguindo, me deixou orgulhoso.

o pior foi a volta, já sabendo o que me esperava e vendo o catamarã amarrado no cais e mesmo assim balançar mais que capulana de angolana.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

traços humanos 8



(na minha rua, onde há uma associação de cegos)

carro de gama, estacionado em cima do passeio estreito,
dois fulanos nos bancos da frente, à lord.

a descer a rua desce uma senhora cega (invisual para quem preferir), bengala a conhecer o lancil do passeio, bem conhecido de tanto lhe tocar os limites. chega ao carro dos lord's, que não costuma estar ali quando ela passa, e bate-lhe com o bastão.

irritada por ter de abandonar o passeio (que o carro tomou ao estacionar), contorna o carro sempre a bater-lhe, literalmente, enquanto insulta o condutor, sem saber se ele lá está (está, e acompanhado, mas faz de ausente).

a cega bate no carro com fúria de desrespeitada,
talvez mais de dez bastonadas valentes, plenas de honra, todo o percurso que tem de o contornar, pelo alcatrão, e bate-lhe com desejo de atingir o condutor que não sabe estar lá dentro e não saiu, nem ele nem o colega.

(parênteses: li um comentário a um livro de miguel rocha, em que um agente da pide era vilipendiado no final, comentário que afirmava algo como "sentimo-nos vingados (pelo final em que o pide é penalizado)". acho que todos na rua nos sentimos de certo modo vingados dos abusos de quem estaciona no nosso caminho, só porque acha que pode, sem ter coragem de responder quando chamado).

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

aquela altura do mês



p(re) s(criptum) - eu estava indeciso entre escrever da reacção do partido comunista ao nobel da paz deste ano ou da história fabulosa dos mineiros chilenos (que ficam para depois), mas calhou ir ao hiper, de manhã, e isto bate tudo.

fascinado, absolutamente fascinado, diante do expositor de maravilhas. mais que os meandros da política, mais que as discussões desportivas, tanto como os sonhos eróticos e quase tanto como o imaginário infantil, o expositor de produtos de higiene feminina é um mundo.

pode-se passar e olhar, pode-se ajudar a comprar, até com algum interesse, pode-se reparar nas meninas a escolher entre caixas e embalagens pequenas ou pequeníssimas, mas quem nunca experimentou ir comprar, sozinho, com instruções pelo telefone, ter de escolher..... meus amigos homens, nunca penetrou no verdadeiro mundo feminino.

há pensos diários, de grande fluxo, médio fluxo, pequeno fluxo, há slims (os meus favoritos), há para tanga, cueca regular e cueca de avó, e há uns que se adaptam a todas as cuecas (promessas), há com abas e sem abas, perfumados ou não (porque há mulheres que não gostam de odores estranhos, ali), há embalagens que trazem de bónus objectos estranhíssimos, uns à vista outros também embalados, que só podemos imaginar, tudo isto em embalagens e pacotitos de chorar de lindos.

e depois, ah, depois, meus caros, há os tampões! nem vos escrevo dos tampões... nã, escrevo: com canudo para colocar ou de colocação manual, a dedo, minis, médios ou maxis (e nalgumas marcas, super maxis!), com estrias ou sem, todos silk, cada caixa mais mignon que dá vontade de sermos nós a abrir.....

para escolher a fruta não precisei de instruções. ah, manhã mais saborosa.....

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

traços humanos 7



tinham passado toda a visita a olhar-se, comunicavam-se com o olhar, riam e sonhavam com ele. tocavam-se muitas vezes, apontavam ainda com os olhos, sorriam neles e na boca.

a senhora da imobiliária, a baixinha (menos expansiva que a alta, de cabelos de caracóis fartos, que não tinha vindo) estivera calada, e era o dono da casa que tinha mostrado e falado de todos os espaços, feitos de ideias idiotas, sonhos fantásticos, cores vibrantes, sensações sensoriais.

a match made in heaven (sinly heaven), o casal e a casa que outro tinha feito para outro casal, e que agora esperava uma opinião, comentários falados.

e eles finalmente falaram, do que se imaginavam a fazer naquela casa nova, e falaram de jantares com amigos, de sessões de fotografias, de sexo barulhento em recantos luminosos da lua, de cheiros que lá iam instalar, dos objectos que iam trazer e onde os iam colocar e como iam ficar bem lá, e o que algumas pessoas iriam adorar.

e o senhor da casa também ficou feliz, não por a vender, mas por a quem a vendia, porque sabe bem deixar sonhos para trás, na busca de sonhos novos, mas sabe ainda melhor se atrás vier quem sonhe os nossos, à maneira deles. como uma dádiva, mas neste caso, bem paga.

p. s.- tudo isto é irreal, não existe o casal que descrevi nem a cena, nestes moldes. mas imaginei um casal homossexual, quando escrevi. gostava de passar isto a quem amasse de um modo (que outros achem) bizarro, como eu.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

o "chnês"



há meses atrás, estava a falar com um cliente acerca da proliferação (e sucesso) de lojas de chineses, e enquanto ele afirmava que eles trabalham muito e dedicadamente, a mim ocorreu acrescentar que eles não têm vícios.

hoje, tenho um cliente chinês, empresário de sucesso, jovem, casado, mulher dedicada a ele e ao trabalho. é maltratado pelo estado, na pele da burocracia do município, por alguns a quem paga para lhe acautelar os interesses (legítimos, todos os temos. e como ele perde algo da língua portuguesa, é fácil perder algum controlo....), por alguns clientes, que lá vão religiosamente, desprezando-o pela religiosidade com que lá vão.

a verdade é que ele trabalha, investe, paga os créditos (e tem mais créditos, penso que no banco é até muito bem tratado, porque o dinheiro vê a cor da nota que circula e não da mão que a move), devia andar de cabeça levantada, mas apesar de jovem, empresário bem sucedido, bem casado (parece, dêem o desconto que acharem justo), ele tem a espinha ligeiramente dobrada, no andar.

na cultura ocidental, o operário tem é direitos. adquiridos, logo irrevogáveis, sob pena de carmo e trindade, fascismo e exploração capitalista. o chinês (e outros povos explorados (sim, explorados)) tem cultura de responsabilidades, a quase escravidão (em parâmetros ocidentais, os meus) para merecer uma taça de arroz, uma esteira onde deitar o esqueleto estafado por 4 ou 5 horas, antes de recomeçar.

num filme de spike lee, "do the right thing", acho, um grupo de afro-americanos (alguns reconhecendo o laxismo dos seus) queixava-se de ver o seu bairro invadido por negócios de coreanos (os chineses deles), e o sentimento (aliado ao calor) degenerava violência. cá é só desdém, por agora, mas como vai reagir a classe dos direitos quando estes forem desadquiridos, por meio de lei fascista ou falência de fundos, quando os chineses forem seus patrões?

olhando o meu chinês, se for como a maioria dos chineses que cá estão, não tem vícios. eu, ser vicioso, me questiono se ele é feliz sem eles, sem pelo menos alguns deles (é também discutível se ser tão organizado e focado não será um vício, que o é, mas deixemos este de fora, aqui).

será que quando ele for patrão (que já é, mas patrão desafogado) vai ganhar vícios? claro que sim, i just really wonder which. e também me questiono se será mais feliz, então. e questiono-me ainda se serão os ocidentais, abraçando a responsabilidade por necessidade, mais felizes então, por mais produtivos.

burguesia de merda, que compra férias a crédito, veste e guia o que é do banco para parecer o que não é, exige do estado o que nunca deu nem pensa devolver, faz piscinas biológicas em frente ao mar (esse ao menos reconhece, e produz) e olha de cima para quem trabalha: a redenção aguarda a falência do estado social.

não perguntes, se não queres que te minta



por estes dias li um livro em que um casal utilizava o lema do título, ambas as partes do casal.

é ficção, mas o assunto é apresentado como sendo necessário e suficiente que exista verdade de sentimento, não sendo necessário verdade de conhecimento factual. isto foca na valorização do conhecimento emocional do outro e na desvalorização do passado, história, traumas ou percurso.

mesmo imaginando que mais tarde venha a ser necessário atender à parte prática do conhecimento (nome, história, percurso), até que ponto pode ser viável a relação (d)escrita no livro? é mais "pura", certamente. será até mais profunda. não descarto o conceito, porque não há real mentira, há um desvalorizar de certas verdades, e um realçar de outras.

há exemplos bastos (filmes, textos, lendas, músicas) de relações assim, assentes num sentimento e mais nada, sem qualquer apoio ou zona de conforto em questões factuais ou afinidades de conhecimento ou práticas.

há anos atrás defendi, numa divergência com um amigo, admirador de biografias, que se conhece melhor um autor pelo que escreve, filma ou musica de ficção, porque a verdade de uma alma não é factual, mas melhor definida por sonhos, medos, desejos, ideias.

é fácil escolher em que perspectiva custa menos ser mentido: custa menos que nos mintam no que fazem do que no que sentem (não?). mas será suficiente que nos sejam sinceros (e versa) nas emoções e desejos?

eu inclino-me que sim, e o blogue é meu.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

traços humanos 6



lunch time rush hour, centro comercial à pinha, gente de tabuleiros na mão à procura de mesa onde os assentar, muitas mesas vazias rodeadas cada uma de uma cadeira ocupada, a "guardar" a mesa vazia. três amigos brincalhões, tabuleiros na mão, sentam-se numa mesa limpa e guardada por senhora zelosa.

a senhora abriu muito os olhos, e logo de imediato os braços, e reclamou que a mesa estava ocupada. os rapazes riram e disseram que sim, que estava, que tinham acabado de sentar-se, mas que a senhora não os incomodava, podia ficar, e um ofereceu uma batata frita do macdonald, porque a senhora parecia "fraca de fome".

adicionando indignação ao zelo, a senhora recusou, e manteve-se sentada, impotente, enquanto os rapazes comiam e riam de mil coisas, situação incluída. a certa altura, a senhora avançou que as amigas iam ficar aborrecidas, por não terem onde se sentar, e os rapazes aconselharam-na a procurar uma mesa vaga, porque aquela, como a senhora tinha dito, estava totalmente ocupada. "e a batatita, não vai?".

as amigas da senhora não ficaram aborrecidas, porque quando chegaram, estavam os rapazes a levantar-se, satisfeitos e brincalhões. ao deixar os tabuleiros nos carrinhos de limpeza, sentiram as orelhas quentes, e repararam que a guardiã da mesa gesticulava dramaticamente, rodeada da concordante indignação geral das amigas.

p. s.- um outro texto acerca do mesmo assunto, aqui

traços humanos 5



avião pequenito, tempo bom para voar.

sentada no banco ao lado dele viajava uma senhora, cinquentenária de aparência, muito nervosa, terço na mão. conhecida da tripulação, já lhe tinham vindo contar umas anedotas, dizer umas tolices, para lhe moldar o ânimo, disso mui necessitado. ele, bem disposto, pôs a boa disposição em generosidade, e meteu conversa: quem era; onde vivia; ah, então conhece fulano; e beltrano, também não?; e que é feito do ti jaquim, ainda vai pescar?

a vizinha de voo gostou muito da companhia, mas de cada vez que o avião se perturbava, ela benzia e dizia uma pequena oração silenciosa, antecedida de um "ai, meu deus" muito baixo, mas perfeitamente audível.

traços humanos 4



a olhar para a janela. ao longo do dia, umas horas a olhar para a janela.

cresceu no campo, horizontes distantes, mundo sem limites físicos visíveis, com a vida pela frente. agora, não vê para além do prédio do outro lado da rua, e isto só quando o camião de mudanças não lhe estaciona na vista.

que pensa uma velha que olha para o mundo que passa sem lhe ligar? deve ser bom poder pensar que se orgulha do percurso que andou, pensar nas pessoas que amou e a amaram, nos gestos que teve e lhe tiveram, nos filhos e netos que embalou e (ou)viu rir, no que construiu, ou cozinhou, ou pintou, ou escreveu, ou comeu, ou viu.

deve ser brutal se apenas vir o
prédio do outro lado da rua, e isto só quando o camião de mudanças não lhe estaciona na vista.

undo



eu trabalho muito com um programa de desenho, autocad, sendo cad as iniciais de computer aided design, ou algo semelhante.

um comando muito confortável que o programa tem é o "undo", que, descrito sucintamente, desfaz o que foi feito imediatamente antes. o word também tem o comando, tal como outros programas, mas no autocad é mesmo muito confortável, porque na fase de projecto desenhamos a mesma coisa várias vezes, até chegarmos a uma solução satisfatória, daí o valor de desfazer as que não nos satisfazem.

e desta última frase vem o motivo do post de hoje: seria excelente se pudéssemos ter tal comando na vida real.

deixamos cair algo,
"undo"; enganamos-nos na saída da autoestrada, "undo"; escolhemos mal no menu da cantina, "undo"; levamos uma bofetada depois de beijarmos uma miúda apetecível, "undo"; dizemos algo de que nos arrependemos enquanto ainda estamos a falar, "undo".

o comando seria utilizável apenas para eliminar o último acto praticado, não para arrependimentos antigos (usar mas não abusar). um fulano tem de aturar as asneiras antigas decentemente, não se foge dos erros passados, resolvem-se.

mas seria justo um comando
"undo", e muitas vezes me lembro disso, quando faço uma burrada

domingo, 26 de setembro de 2010

sorry, stupidity is overrated



acho que já escrevi desta pessoa aqui, é um cliente meu cujo trabalho me foi penoso de fazer, por motivos de estupidez dele: estúpido ter-se colocado na posição que colocou, uma dificuldade tremenda em perceber que se colocou nela e em perceber a solução que eu propus (solução que, para além de ser a única eficaz, tem aroma de genialidade (má), por ver o problema fora das fronteiras do problema).

eu já tinha mudado a opinião acerca dele, e quando fui esta semana entregar-lhe o trabalho, rendi-me de vez.

como me apontaram, o fulano confiou em mim desde o início (mesmo sem perceber a minha razão), deu todos os passos que lhe indiquei (e ficaram-lhe caros), aturou o meu mau humor repetidas vezes e, no final, depois de pagar a horas (coisa mui rara), pediu desculpa (pelo incómodo, por ser chato).

ele passou uma fase má, divórcio, fala demais, não se cala com detalhes básicos, repetidos, inócuos. mas é um homem bom, bom fundo e boa superfície, decente, sincero, franco no modo como se me entregou. e sinto-me culpado, agora, por não ter gostado dele.

uma amiga minha tem na estupidez o pior defeito que pode encontrar em alguém, o menos desculpável, o mais aborrecido. sorry, my friend, stupidity is overrated.

p. s.- outro aspecto que me incomoda no percurso de não ter gostado dele até hoje, em que gosto, é não ter sido eu capaz de fazer esse percurso solo, necessitei de ajuda, de quem me dissesse, como eu disse tantas vezes a tantas pessoas, acerca de tantas pessoas, que ele é um homem decente, e que eu não o estava a ser com ele.

traços humanos 3 (e 3a)



"mais que obscenos, são estúpidos...", continuava o rapaz, no cume da indignação, "... se pensam que os porches e os ferraris e os maserattis lhes conferem estatuto, são completamente idiotas".

a rapariga ouvia enternecida, rendida, apaixonada, e ele continuava, "a única coisa que confere elevação humana são aspectos morais, intelectuais, valores que não se compram, imateriais, intangíveis."

a conversa prosseguiu nestes moldes minutos mais, até o rapaz serenar. de cansaço, talvez. para saborear o efeito das palavras, mais provável.

então, ela, profundamente enternecida, candidamente perguntou, em jeito de recompensa pela elevação dele: "que achas do meu piercing novo?", e mostrou o umbigo.

a resposta desiludiu profundamente o senhor da mesa ao lado, que ouvia a conversa quase tão enternecido pelo verbo dele como a menina do umbigo perfurado: "gosto, dá-te personalidade".

......................

p. s.- se a história anterior é baseada num facto verídico, ocorrido há anos, a que se segue (supostamente "traços humanos 3a") é a inventada continuação da conversa de esplanada (e é inventada porque o senhor desiludido na mesa do lado não acompanhou o jovem casal até casa dela, antes dos pais chegarem).....

deitados, ele observava e acariciava o piercing novo dela, no umbigo transpirado. ela observava-lhe o gesto terno e acariciava-lhe o cabelo. excepto pelas respirações ainda aceleradas, silêncio.

sexo poderoso, dramático, ele tinha gritado dois orgasmos e estava orgulhoso. ela, não tendo tido nenhum, tinha tido três.

estavam ambos muito felizes e satisfeitos, até ouvirem a chave entrar na fechadura.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

traços humanos 1



pré scriptum- ciclo novo, acerca de pequenas arestas humanas, de nenhum ninguém em particular. take it away....

à noite: "amanhã vai chover". manhã seguinte, sol.

noite seguinte: "amanhã vai chover". manhã seguinte, novamente sol.

ainda outra noite: "amanhã vai chover". manhã seguinte, outra vez radiosa.

cada nova noite, a velha previsão: "amanhã vai chover". eventualmente, chove de manhã: "eu não disse? eu nunca falho".

traços humanos 2



"porra", e levanta-se da cama, aborrecida, "estou atrasada".

o banho leva quase o tempo do costume, enquanto ele arranja o pequeno almoço, ralado com o atraso dela.

minutos depois, jeans vestidos, a rapariga olha estática para o armário repleto de roupa. o rapaz, deitado inocente na cama, enquanto lhe admira as costas nuas, admirado com a imobilidade, "não estás atrasada?".

"estou completamente bloqueada", e continua a olhar longamente a roupa pendurada, de costas nuas.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

momentos de sorte



andei a juntar pensamentos acerca do assunto sorte:

por causa do trabalho que dá: dá muito, disse um dia o professor moniz pereira.

por causa das correntes em emails: imagine-se o absurdo de uma em que fosse necessário reenviar o email da sorte a uma data de gente, para ganhar o totoloto ou euromilhões. se funcasse, naquela semana haveria tantos vencedores que o 1º prémio seria algo a rondar os 13 euros e 7 cêntimos.

por causa dos jogos de azar: como esperar ter sorte?

por causa das marés de sorte: que raio de lua as influencia?

por causa de primazia de escolha: imagine-se uma pessoa que tem a sorte de poder fazer uma primeira escolha, e escolhe mal. foi má sorte, ou apenas má escolha?

por causa de encontrar dinheiro na rua, uma nota gorda: que falta faz a quem a perdeu?

por causa do dizer "sorte ao jogo, azar ao amor": strip poker?

por cauda da sorte de uma pessoa azarada: "se não tivesse má sorte, não tinha sorte nenhuma".

domingo, 12 de setembro de 2010

esparrela



"para mim, o dinheiro não conta, para mim, o mundo fica-me apertado", esparrela stilton.

personagem fabuloso do mundo do famoso rato gerónimo stilton, de quem é primo irreverente, esparrela é o protótipo do free living, rato que não dura nos trabalhos (chegou a abandonar um de provador de queijos, por se ter aborrecido, e um de fazer pizzas, por ser um trabalho chato (perceberam? pizzas, chato, eheheheh)) e implica com o primo gerónimo por este se dedicar demais à gestão do "diário dos roedores", publicação líder em circulação em ratázia, a partir de uma sala que o esparrela acha bolorenta.

parênteses (eu não sei de vós, mas eu tinha durado no emprego de provador......).

dinheiro é importante (quando não há, importância overrated, quando há), e o personagem chama-se esparrela por motivos evidentes, mas é gostoso ler que os putos continuam a ter convívio com personagens assim (como a nossa cigarra cantora, que cantava enquanto a formiga (ráisaspartamatodas) trabalhava), que arriscam um modo de vida sonhador, porque isso nos permite discutir com eles (filhotes) opções de vida e ir além da omnipotente "competitividade".

p. s.- existe uma versão alternativa da história da cigarra e da formiga, em que esta, depois de passar o verão a armazenar e a ouvir a cigarra cantar, vê aproximar-se a cigarra e pensa: "lá vem ela cravar comida, preguiçosa, é sempre o mesmo". a cigarra vem animada, desta vez, conta que vai para paris, dar espectáculos no maxime, contracto fabuloso, montes de luxos e regalias, e pergunta à amiga se quer algo da cidade das luzes. a formiga, danada, pede-lhe um recado para o la fontaine: "que se vá $%#/*+.....".

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

uma manhã no tribunal



















pre- (ando há algum tempo com ideias de fazer uns post´s com estrutura diferente. acho que tem a ver com o facto de estar numa fase de arestas boleadas, menos "sharp" (suponho que quando a vida nos trata bem, corremos o risco de a apreciar comodamente, nos acomodarmos, o que leva a que sejam as adversidades que nos induzem o génio), e o que tenho escrito leio-o pouco profundo, algo redundante).

na quinta passei a manhã no tribunal, fui afiançar que determinada pessoa decente é realmente decente. acontece-me estar em determinado local ou situação e sentir necessidade de sair, fazer algo externo ou estranho ao local ou situação. vai daí, nas horas de espera fiz algumas fotografias no átrio do palácio de justiça.....

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

sem fronteiras



ao ler um blogue que favoreço basto (posting and toasting, cujo nome utiliza um modo de falar ri(t)mado de clyde frazier (a quem favoreço basto), antigo jogador dos knicks e actual comentador de televisão), dei de olhos, na secção de comentários, com a seguinte afirmação, de hakeem olajuwon (um antigo jogador que calha ser responsável maior pela última derrota dos meus numa final da nba, ainda na década de 1990): "all these boundaries - africa, asia, malaysia, america - are set by men. but you don't have to look at boundaries when you are looking at a man, at the character of a man. the question is: what do you stand for? are you a follower, or are you a leader?".

sem entrar no aspecto de uma alma seguir ou liderar, na diferença entre ovelhas, pastores, cachorros e lobos, o assunto hoje são os limites impostos pelo homem, as fronteiras, geográficas ou outras, e as consequências delas.

eu aproximo isto na perspectiva: um muro mais que impedir alguém de entrar, dificulta a alguém sair.

úteis que sejam, necessárias mesmo, as fronteiras são limitações auto-impostas que nos indiciam a tomar decisões em cima delas (ou melhor, do lado de dentro delas). porque hei-de eu, português de nacionalidade, preferir produtos portugueses (para além de uma questão de economia local, que me afecta directamente), se as uvas do chile dão tanto ou mais trabalho e são tanto ou mais saborosas que as de cá? porque hei-de favorecer os produtores portugueses, se podem muito bem ser uns safados de primeira, sendo que se calhar os chilenos não o são menos? porque há-de ser um parâmetro de escolha o "made in ...." (num sentido de escolha ou rejeição (sendo que houve já campanhas de rejeição de produtos de determinada nacionalidade, a que aderi, com propósitos políticos, mas a política remete de volta às fronteiras, porque há-de determinada gente ser gerida por determinada ideologia de momento, quando a do outro lado da linha é gerida por outro?)), mais relevante que a qualidade do produto?

certo que nacionalidade (e por vezes mais ainda, naturalidade e/ou local de crescimento, bairro), por questões culturais e de hábitos sociais, e filiação (e ambiente familiar) não se escolhem e são de profunda relevância no ser humano que seremos ao crescer, mas para além disso, é castrador limitarmo-nos e aos outros a questões de geografia política ou histórica (sem menosprezar a relevância das fronteiras no curso da história e na sua compreensão).

no mundo actual joga-se (e criam-se outras relações) online com pessoas que estão fisicamente nos antípodas (mais ou menos, pode calhar na água, se interpretado literalmente, consoante cada um me lê), mais facilmente conhecemos alguém que tem um interesse semelhante a um dos nossos, vivendo em shangai, do que conhecemos o vizinho da porta do lado (quem tem vizinho na porta ao lado).

porque hei-de estar pelo benfica quando joga na taça uefa (que agora se chama liga europa, e o benfica está na champions, eu sei, mas não há meio de me habituar), eu que não gosto do benfica, se jogar com o totenham, equipa que não me diz nada e contra a qual nada tenho (nem a favor)?

e porque há-de ser impedido de entrar no país (atravessar a fronteira, com documentos legais) uma alma que pode ser uma jóia de alma, só porque vem para "trabalho de emigrante"? claro que não se pode fazer triagem nos aeroportos pela qualidade da alma do passageiro, mas devia-se tentar investir nisso, mais do que analisar certidões e datas.

como disse olajuwon, um homem não tem de ser do país onde nasceu, como definição humana. e se o for, é um homem pequeno, maior que seja esse país.

escrevi em cima que as fronteiras podem ser necessárias (geográficas e outras), julgo que o são apenas numa fase precoce de desenvolvimento da(s) pessoa(s) que as criam, até que esse desenvolvimento se eleve a patamares de vento, que, como canta manu chao: ..... vienne, el viento se va, por la frontera.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

anedotas de putos



quando era puto, num teste de inglês era pedido para contarmos uma anedota, em inglês. a minha foi something like this: two tomatoes crossing the street, one gets behind and the other goes: "comm'on, tomato", then a car passes by and the some tomato goes: "eih, ketchup, catch up".... eu era bom em inglês (ainda, também noutras línguas), e tive de ler aquilo na aula, de boa que estava. foi meio embaraçoso, porque era muito tímido (era).

outro dia, numa esplanada, contei uma anedota ao meu filhote: passa um carro numa estrada alentejana, condutor perdido, decide perguntar a um alentejano, que descansa sob um chaparro: "bom dia, amigo, para onde vai esta estrada?". o fulano, depois de remoer o calor, o sono e a pergunta: "nã vai pa lad nenhum, que faz aqui muta falta".

terça-feira, 17 de agosto de 2010

a day at the zoo



hoje foi dia de jardim zoológico, com o gustavo, quase final de vacaciones (amanhã ainda temos praia...).

quem foi ao zoo em julho ou agosto percebe o que vou escrever: o espectáculo de golfinhos que lá fazem é emocionante (a mim emociona brutalmente, não há vez que não me venha água aos olhos, e farto-me de ver aquilo em repetido). quando calha estar anfiteatro cheio de gente, cachopada envolvida, é exponencialmente mais intenso. estou capaz de jurar que os golfinhos sorriram, pipas de vezes, animais mais apaixonantes.

um facto é que todas as actividades que os tratadores fazem para o público são educativas, mais do que lúdicas: eles explicam hábitos alimentares e sociais, explicam evolução de espécies, explicam os perigos de extinção, tudo de modo a atingir os miúdos (que são veículo privilegiado para que nos atinjam a nós, "adultos"). são extremamente eficazes nisso, e associando isso ao facto de ser informação "pura" e "limpa", tudo parece estar bem.

observando com maior distanciamento, trata-se de manipulação despudorada de massas: o delfinário é patrocinado pelos gelados olá, and so on, and so on.

sem dúvida que as condições dos animais, hoje, são excelentes (tirando o detalhe de estarem presos, mas há que se escreva acerca dele), que se não fosse uma apropriação do problema geral do zoológico numa perspectiva de mercado, o jardim teria perecido, com tudo que isso implica a nível de educação infantil, contacto com animais, e estudos zoológicos (que são realmente feitos, e produzem realmente efeitos).

mas não deixa de me doer que seja o "mal do mundo" a ter salvo o jardim zoológico (depois de o fragilizar, retirando-lhe clientes com a concorrência de outros produtos de entretenimento). não deixo de reconhecer que funcionou e produziu efeitos que valorizo, mas o percurso incomoda-me, e para além do desfecho, há o percurso.

p. s.- acerca da liberdade dos animais: muitos nascem em cativeiro, muitos não teriam nascido se não houvesse cativeiro, espécies estariam perdidas. é um mal menor? custa engolir, quando se trata de cativeiro. é algo contra-natura explicar às crianças o respeito pelos animais quando utilizamos exemplos deles presos,
o gustavo estranhou hoje que os papagaios, voando livres, não se fossem embora, procurar amigos noutros lugares.....

olhos de desver



este post é acerca de imbecilidades cometidas por quem olha para o mundo não para o perceber mas para justificar aquilo que quer ele seja, e escrevo por causa disto:

existe um projecto de um promotor privado para transformar um edifício devoluto, em new york, numa mesquita. sendo um país multi-cultural e defensor das liberdades, os eeuuaa, isto soa a desinteressante e não-história. mas acontece a mesquita estar projectada para a baixa de manhattan, a dois quarteirões do "ground zero", local sensível em demasia desde 9 de setembro de 2001.

consequência, reacções pouco civilizadas de pessoas individuais e colectivas, gente que por ter sido dorida directa ou indirectamente, acha ter o direito de espalhar dores em quem encontra relação com quem lhe infligiu as suas. obama e o mayor bloomberg lá defenderam a liberdade de culto e a promoção privada, mas analistas julgam ser uma má posição política......

noutro(s) exemplo(s) de igual imbecilidade, já ouvi pessoas atacarem ferozmente fidel e descobrirem todo um chorrilho de atenuantes para a barbárie de pinochet (e vice versa, quem perceba o defensor da liberdade que fidel é e veja facilmente o nazi em pinochet). muitos, damn, são pessoas particularmente inteligentes e empenhadas. damn again.

noutro ainda, pessoas que defendem a liberdade de expressão e igualdade de direitos que o 25 de abril nos "trouxe", mas cuspa xenofobia e racismo sem pudor, ético ou intelectual.

iap, há coisas que doem, e doem por muito tempo. há coisas que metem medo vidas inteiras (e talvez em reencarnações, o que poderia explicar certas imbecilidades sem fundamento). há coisas (ideias, pessoas, sentimentos) que só se percebem se nos aproximarmos, se lhes tocarmos e nos deixarmos tocar por elas.

erros de análise são comuns, ainda para mais se provocados por sentimentos sinceros, o que até os torna desculpáveis, acho. ficar fechados dentro de erros desses (e de quaisquer outros) impede crescimento pessoal, e por somatório (neste caso subtracção), social.

há alturas que me aborrece profundamente ver pessoas que absorvem o mundo do modo que querem para se justificar do que são, ou do que não são capazes de ser.

p. s.- isto pode soar inacreditável, mas é verdade: a minha resposta à pergunta "onde estavas a 11 de setembro de 2001?" é: estava em casa de um advogado, visita para almoçar, quando começaram a passar na televisão as imagens da primeira torre a arder. vimos o avião que embateu na segunda, entrava informação a jorros, abria-se um mundo diferente naqueles momentos. pouco depois, o fulano adormeceu: a determinada altura eu falei algo, ele não respondeu, eu olhei e ele estava a dormir.

p. p. s.- já agora, acerca dos actos de 11 de setembro de 2001, e dos actos do presidente do irão, e dos actos de atentados de iras irlandeses e etas bascos: não se aceita que inocentes paguem por um ideal que talvez nem defendam. mas não somos todos responsáveis, em democracia e sociedade? não entendemos todos o conceito de baixas de guerra, quando em cenário de guerra? e quem raio determina se estamos em guerra e quais os cenários apropriados? importamo-nos quando vemos e sabemos que há injustiças? se deixarmos que façam mal a quem não se pode defender, temos direito de julgar quando se vingam, ainda que barbaramente? que faria cada um, se os que amamos sofressem injustamente?

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

lonely fool



há um fulano com quem me tenho cruzado amiúde, fulano muito estranho.

a primeira vez que reparei nele, foi no "outro" café, de que escrevi no post em baixo: um domingo pelo meio dia, estava o "outro" café cheio de pessoas estranhas e ele era a mais estranha delas: homem alto, magro, mecânico, aluado, solitário, pouco amado (aposto), estava sentado numa mesa ao canto, na cadeira ao canto, bebeu o café e depois de o acabar, acabou-o a dedo. particularizando, enfiou o dedo indicador na chávena e lambeu-o, o que repetiu três ou quatro vezes.

numa outra vez, numa outra esplanada, vi-o demorar que tempos a escolher entre três mesas diferentes, chávena de café na mão, como se estivesse a decidir algo que lhe influenciasse a vida.

não sei porque é assim, se isso o incomoda ou lhe desagrada (ele não aparenta felicidade, mas há quem a aparente e a sinta menos do que ele), mas imagino que não tenha sido sempre assim, que ele seja consequência de solidão, de não ter gente a franzir o sobrolho quando o dedo lhe escorre pela parede interior da chávena. talvez a solidão seja auto infligida, talvez ele se tenha desencantado mais profundamente do que eu, que me levanto sempre, com a espécie humana. talvez a espécie humana se tenha fartado de o aturar, com motivo válido ou provavelmente sem.

eu não gosto de o ver, não que me incomode, que me dê pena ou raiva, apenas me desagrada por falta de gentileza, é seco, sem ternura. para mim, é louco, só um louco lambe o interior das chávenas de café a dedo. ainda para mim, é um louco solitário, e acho que não é feliz nisso.

ser louco sozinho é teso. por isso, mutual insanity é, para uns, uma sorte, e para outros, a merecida recompensa pela natural insanidade.

os dois cafés



talvez seja o meu mundo que tem muitas coisas muito estranhas, ou talvez seja eu que tenho apetência e tempo para dar por elas, ou talvez eu seja estranho e ache o mundo estranho quando o olho.

no meu quarteirão há 3 cafés e um restaurante, sendo que um dos cafés se tornou o nosso favorito, por causa do pessoal que lá trabalha (tudo gente simpatiquíssima), dos clientes, novos ou experientes, ao café propriamente escrito, que sabe sempre bem. mais, sugestão ou facto, as pessoas que passam quando estamos na esplanada do café parecem quase todas atraentes, dignas de atenção visual.

50 metros à frente há outro café, onde raramente vamos, porque os donos e funcionários são secos e os clientes estranhos (de um deles pormenorizo(ei) no post acima, quando o escrever(i)). estando o "nosso" fechado para vacaciones, temos de ir ao "outro", e conviver com os clientes do "outro". para se ver a profundidade da diferença entre eles, os clientes do "nosso"
raramente e relutantemente se vêm no "outro", suponho que como nós, apenas aparecem por questão de necessidade.

até aqui, tudo isto é uma história estranha, e mais nada, mas há um facto que a torna digna de descrição: as pessoas que passam pelo meio das esplanadas dos cafés também parecem muito diferentes: pela esplanada do "nosso", quando lá estamos, passam pessoas admiráveis e admiradas; pela esplanada do "outro", raios, só passa gente cinzenta ou snob, indigna de um olhar quanto mais de uma apreciação. isto quando as duas estão no mesmo passeio, sem bifurcações entre elas, e distantes 50 metros, mais metro menos centímetro.

naturalmente isto pode ser explicado por estado de espírito, que influencia a observação. mas mais credível é a ideia de serem mundos diferentes, que acontece existirem em espaços contíguos. pouco ou nada a ver com a atracção de opostos, acho que é uma coincidência infeliz e estranha de localizações próxima entre distantes.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

everybody wants to be a cat



blow some of that sweet stuff my way.

people with fur, furless people, groovin' or sleepin'.