quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

fraternidade



há uns dias falei da revolução do rousseau: liberdade, igualdade e fraternidade.

krzystof kieslowski fez uma trilogia fantástica, na altura a juliette binoche era a mulher mais desejável que havia, envolta no azul da liberdade (história de perdas, a liberdade pela ausência de desejos, que só recentemente compreendi a fundo)...

na igualdade do branco, comédia negra numa paisagem de neve, era um homem, que parecia tolo e fraco, que salvava uma mulher (para todos há esperança)...

o vermelho é acerca de uma rapariga que sente as dores dos outros, e de um velho juiz desiludido e amargo...

ora bem, para mim, fraternidade é isso, estarmos com os outros, sentir-lhes as dores e as alegrias, como nossas.

não entendo irmãos que se roubam, que se caluniam, que se invejam, que se martirizam. se o vir entre crianças, não me contenho, corrijo logo.

eu tenho um irmão, no sentido rico da expressão. quando olho para o futuro, vejo-o sempre lá.

suponho que para querermos muito a alguém, temos de sentir uma conjugação de sentimentos, mútuos, como admiração, confiança e compreensão.

o meu irmão adora fotografia. o link abaixo é uma prenda nossa, para todos vós.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

morrer por amor



hoje acho que tenho alma mexicana, intensa e apaixonada, como speedy gonzales, luis barragan, angelles mastretta, diego rivera, lhasa (cidadã do mundo) ou chavela vargas (natural da costa rica).

também já me "vi" africano, em comunhão com a natureza, via tradições e crenças, na roça com os tachos, como malangatana, pepetela, mandela ou mia couto.

durante um longo período, "fui" definitivamente russo, galante e dramático, como os cossacos, como kandinsky, dostoievski, gogol, tantas personagens dos livros (ah, a karenina e o vronsky) e, acima de todos, como aleksander pushkin.

homem fascinante, admirado e invejado por todos (incluindo o czar), era de tal modo apreciado que se dava ao luxo de ser livre (sim, aqueles que se transcendem nas suas capacidades humanas tornam-se mais livres).

morreu num duelo de espadas em defesa da honra da mulher que amava, natalia goncharova, mãe dos seus quatro filhos, mulher extremamente desejável e abrangentemente desejada (inclusive pelo czar), às mãos de um homem loiro (como lhe tinham previsto), georges d'anthès.

o objectivo do post não é fazer um relato histórico, apenas reparar que um ser fascinante morreu com 37 anos, por questões de amor.

sem levar em consideração a validade da honra de natalia, porque irrelevante para a questão em questão, terá sido a morte do poeta um desperdício?

janis joplin cantou "(...) all you ever got to do, is be a good man, one time, for one woman (...)"

ainda não sei bem onde a minha alma se sente em casa, mas no meu mundo, é assim

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

sexo animal



à laia de introdução, deixo a minha definição de sexo: forma de contacto sensorial privilegiada entre dois, ou mais, seres.

hoje venho relatar uma história que presenciei, e que aconteceu há alguns anos atrás, em sintra.

local fascinante, em frente à adega de colares, ao lado dos carris do eléctrico, à sombra dos plátanos (quem conhece o local corrija, se não forem plátanos...), dois gatos, sexo felino.

(1º parêntesis, digo dois gatos, mas, para precisar, seria um gato e uma gata, há regras na língua portuguesa que são machistas...)

não abro parêntesis para explicar o sexo felino, já se percebeu.

pois estavam eles encantados, e apareço eu, que fiquei a olhar (verdade, tenho uma costela de voyeur... nada de grave, não me descontrolo).

durante algum tempo, nenhum dos dois se pareceu importar.

(2º parêntesis, tenho agora a firme convicção que a gata nem teve direito a importar-se, parece que o papel dela naquilo é comer e ronronar. os animais também são machistas.)

mas a partir de certa altura, terá o bichano achado que eu estava a abusar, eu que fosse era ver as meninas ao cantinho da várzea, e...

agarra a gata pelo pescoço!!!! e, sem nunca interromper a função!!!! leva-a dali para fora!

isto é verídico, aqueles de vocês que nunca assistiram a tal demonstração, aconselho vivamente...

(3º parêntesis, imagino se será semelhante com leões? que poder...)

tudo isto para colocar a questão: o sexo animal é machista? e o humano?

bem, não se pergunta à menina (ou menino) se dá licença, há uma boa parte do prazer (mútuo) que assenta numa atitude bestial de contactos, eu pessoalmente não tenho nada contra ordens, palmadas e mordidelas, e muitas vezes a delicadeza fica no quarto ao lado (ainda que muitas outras fique à nossa volta), mas não é uma atitude machista, porque corre nos dois sentidos.

caramba, até quando somos animais conseguimos ser gentis! (pelo menos alguns de nós...)

domingo, 28 de dezembro de 2008

inconveniências



o que afecta a liberdade das pessoas?

dinheiro? claro, em falta, dificulta a satisfação de desejos. alternativas? ter muito dinheiro (como o banqueiro do pessoa) ou desejos baratos (o truque está aqui, acho). voltaremos a isto mais tarde.

compromissos assumidos? é discutível, porque se fizermos boas opções, assumirmos os compromissos que realmente queremos, são eles que nos satisfazem os desejos (ok, há excepções, mas gosto de as pôr no capítulo das irrelevantes, sou um defensor de compromissos convictos). penso que também aqui voltaremos outra altura.

más opções? claro, e por muito tempo (ver parágrafo acima). a alternativa é escolher bem...

medo, falta de coragem, cobardia vergonhosa, vergonha pura? iap, seguro que sim.

convenções sociais? estas é que me lixaram o dia (e uma cáca na areia também, mas talvez, com o tempo, venha a ter piada).

se repararem bem, estamos a reportar-nos ao parágrafo anterior.
o que leva as pessoas a agir de acordo com uma qualquer convenção (neste caso, familiar, mas também se aplica a outras, profissionais, sexuais, alimentares, desportivas, etc) quando queriam realmente fazer o contrário, é medo, blá, blá, blá, vergonha pura, certo?
porque raio há-de uma alma fazer o que não quer, para ficar bem vista por outros? como raio podem esses outros admira-la e respeita-la se ela não é o que aparenta? eu gosto de máscaras, mas é noutras circunstâncias...
não seria mais fácil ser-se quem é, e quem não gostar come menos, até se habituar?
porque deixa um ser humano de se dar aos outros, só porque acha que alguns deles vão ficar desagradados, furiosos ou "p"da vida?
como seria o mundo sem al berto ou antónio variações? abraham lincoln ou mandela? as sufragistas ou a mini-saia? o liedson ou o lisandro (raios o partam!)? a revolução de rousseau ou a que che queria?

sábado, 27 de dezembro de 2008

estranho caminho



"ó joana, que estranho caminho tive que percorrer para chegar junto de ti"

joão césar monteiro, pela boca do joão de deus

afinal, tudo se resume ao caminho, ao percurso que fazemos até nos salvarmos, e costuma ser uma mulher que lá está (salvaguardando questões de género e/ou preferências sexuais...).

também foi assim com o raskolnikov e a sónia, do dostoievski:

"de súbito, e sem que ele mesmo soubesse como isso aconteceu,uma força invisível lançou o prisioneiro aos pés da rapariga. abraçou-se-lhe aos joelhos, a chorar. no primeiro momento ela ficou assustada, e o rosto fez-se-lhe lívido. levantou-se vivamente e, a tremer, olhou para raskolnikov. mas bastou-lhe esse olhar para compreender tudo. uma felicidade imensa lia-se-lhe nos olhos radiantes: não podia já duvidar de que ele a amava, que a amava com um amor infinito e que, por fim, chegara o momento tão esperado."

ponto comum às duas histórias, duas mulheres desgraçadas (joana, salva de suicídio por deus; sónia, puta, que rodion ajudou), e dois homens presos, a redenção, a libertação da alma, anterior ainda à do corpo.

eu já fui salvo, algumas vezes. ainda percorro o mesmo estranho caminho. agora é um caminho mais divertido, o gustavo passa a vida a rir e a cantar.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

génese



o Norte sente-se, impõe-se, marca-nos. por mais que nos afastemos do seu centro de gravidade, somos inevitavelmente afastados para o seu núcleo por uma corrente invisível que nos atrai, como a terra, as gotas de água; como o íman, a agulha; como o sangue, o sangue; como o desejo, o desejo.

no Norte está a minha origem, escondida no primeiro olhar de amor dos meus avós, no primeiro contacto das suas mãos. o projecto do que eu seria concretizou-se com o nascimento da minha mãe. tive apenas de esperar que o desejo dela se unisse ao do meu pai para ser inevitavelmente atraída para este mundo.

em que momento o poderoso olhar do Norte se uniu ao do mar? porque a outra metade da minha origem provém do mar. da origem da origem. o meu pai nasceu ao pé do mar. aí, diante das ondas verdes, o desejo dos meus avós tornou-se uno para lhe dar entrada neste mundo.

quanto tempo demora o desejo a enviar o sinal correcto e quanto tempo passa antes de chegar a resposta esperada? as variáveis são muitas, o que é inegável é que todo o processo começa com um olhar. ele abre um caminho, uma vereda sugestiva que mais tarde os amantes percorrerão sem parar.

laura esquivel