sábado, 30 de janeiro de 2010

it was always you



wendy estava no outro extremo do balcão, olhava-a com rancor controlado. terry galhofava com os amigos, no meio do pub, já tinha reparado quando um deles lhe disse que martine se aproximava da mulher, brincou com o comentário mas estava tenso.

as duas mulheres falaram pouco tempo. martine foi directa, pediu desculpa pelo sucedido e contou que tinha pedido a terry para ir com ela, contou que ele recusara. wendy não falou e martine, desculpando-se de novo, dirigiu-se para a porta.

no percurso estava terry. martine parou junto dele, muito junto. disse-lhe "it was always you", beijou-lhe o rosto, junto aos lábios e acariciando-lhe o pescoço, e saiu. terry foi ter com a mulher. wendy estava tranquila, agora, sorriu pouco depois de ele a abraçar.

é uma arte saber sair. não sei se é a mesma que saber ficar.

p. s.- o vídeo não faz parte da história, complementa-a na (p)arte de saber ficar.

linguagem desportiva



pre scriptum - ciclo novo, dedicado a linguagens (porque eu adoro línguas).

"futebolês" é uma expressão que está relacionada com termos específicos do meio futebolístico português, para uns significando conhecimentos elevados (em profundidade) e significado para outros manancial de motivos de risada. para ilustrar, uma das expressões mais utilizadas, por estes dias, é "...e quando assim é....", que significa, ".....e quando é assim....". pérolas destas abundam, por isso não me alongo......

há uma outra linguagem associada a determinado desporto, basketball, nba, que sigo quase compulsivamente, e que utiliza algumas expressões de que gosto basto, porque valorizam o desporto de que falam, o esforço dos atletas e o mérito de quem o tem.

parênteses (vou passar a sopa num instante e volto já (....) de volta, com a sopa pronta. adoro o cheiro a sopa acabada de fazer, yhami).

retomando:
uma das expressões é "you have to put credit were credit is due", que significa realçar o mérito de quem o tem (expressão que não tem tradução no futebolês, por inaplicabilidade), outra é ".... and we'll take it from there", quando se quer dizer que se vai resolver determinado assunto e depois, em cima da resolução, se vai construir algo.

pos scriptum - acerca deste ciclo, uma das coisas que me agrada no tema das linguagens é a predisposição que cada uma delas tem para valorizar determinados aspectos do que permite dizer. nos exemplos em cima, de duas linguagens desportivas, o futebolês realça a erudicidade (não sei se existe, de erudito) dos comentadores (atletas incluídos) e a da nba realça a valorização do jogo (enquanto negócio é muito lucrativo, não é preciso ser um génio para atingir).

outras linguagens estão mais associadas a determinadas utilizações: é impossível não acatar uma ordem dada em alemão (mesmo que não se fale a língua faz-se tudo para obedecer) ou a um pedido de amor feito em italiano (este percebe-se sempre, mesmo que não se fale a língua). capice?

borboletas



madame butterfly, de puccini (de que já aqui deixei um vídeo animado, penso) é a história de uma gueixa enganada por amor, por um oficial inglês.

madama butterfly, de cronenberg, é um filme sobre um diplomata ocidental que se perde por uma cantora chinesa, na realidade um homem, que o usa para obter segredos diplomáticos.

borboletas são símbolo de fragilidade exposta, beleza inocente e vida a prazo. como opção de vida, é adorável e admirável. eu prefiro um mundo onde as pessoas, expondo-se, não se dão a matar. mas cada qual é como é, e quem tiver de arder, arda.

é-me fácil respeitar isso, se quem arde arder por dentro, e não para fora.

o baloiço parado



havia luzes, nos candeeiros das ruas, nalgumas poucas janelas. por vezes, passavam carros que traziam luzes pequenas, passavam depressa e levavam as luzes para longe. a luz maior era culpa da lua, gorda, lá em cima, curiosa do mundo das pessoas. a lua sabia que era um mundo atarefado, de correrias, mas só sabia quando vinha espreita-lo durante o dia, porque de noite era um mundo sereno.

havia vento, frio mas não gelado, vento que seria suave se fosse mais quente. assim era incómodo, mas pouco. passou um cachorro, sozinho, cheirava os cheiros que o vento trazia de longe até ao focinho dele. o cachorro seguiu, foi com o vento. não foi com o vento, devem ter divergido, algures, fora de vista.

havia silêncio, por toda a parte silêncio. no silêncio ouvia-se quase tudo, os carros, o vento, as árvores, docemente, mas o cachorro não. no silêncio, ouvia-se o balançar do baloiço da mulher sozinha na noite de lua cheia. se se estivesse perto, seria possível ouvir-lhe as lágrimas, porque a mulher estava triste, daquelas tristezas audíveis e palpáveis.

havia humidade, via-se a escorrer no metal do baloiço e sentia-se na pele. a mulher agarrava a humidade ao segurar-se nos aros de metal, sentia-a quando permitia às mãos escorregar. ela escorregava por dentro, escorregava na tristeza como as mãos na humidade. podia segurar-se, impedir-se de escorregar, em ambas, mas em ambas escorregava, e mais na tristeza.

cheirava a nada, a nada importante. cheirava a vazio, como se a ausência de pessoas tornasse o mundo inodoro. outro carro passou, este devagar, mas não trazia cheiro, só luzes, primeiro brancas e depois encarnadas. o cachorro voltou, cheirava o chão, as árvores, a humidade do ar, cheirava o vazio e parecia desgostar da ausência de pessoas, porque veio até à mulher no baloiço, que já não baloiçava.

ela chorava, sem o ver ali sentado em frente do baloiço que já não baloiçava. ele olhava para as lágrimas e não percebia porque ela chorava. deu mais uns passos e deitou o focinho nas coxas ainda quentes, que cheiravam a sexo. não se incomodou com o cheiro, cheirou duas vezes e não voltou a cheirar. ficaram assim muito tempo, os dois, no baloiço parado.

de manhã, quando o sol tomou conta do mundo outra vez, já lá não estava nenhum dos dois, nem a mulher triste nem o cachorro que cheirava o mundo.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

miss alison



o post anterior começou numa fotografia de um powerpoint, este começa num comentário de facebook (onde vou muitas vezes, actualmente, veiculozito cheio de potencialidade).

o escrito comentário valorizava as capacidades vocais de determinada intérprete (alison, que realmente as tem), em comparação com o pacote geral de determinado grupo musical (goldfrapp, para ser exacto, aqui no registo que lhes prefiro). antes de entrar no assunto disto, gosto realmente deles, são bons. só não são lhasa bons, billie holiday bons, manu chao bons, sérgio godinho bons ou charles mingus bons, se me faço entender.

miss alison está aqui para ilustrar um aspecto particular (como poderia estar lisa ekdahl ou sara tavares ou nat king cole (com quem estou a ser injusto, reconheço, mas é opinião minha)): a beleza da voz sobrepor-se à qualidade da música.

olhando (ouvindo, aliás) isto como princípio, a beleza vocal é algo semelhante à beleza física: gosta-se, aprecia-se, devora-se com o olhar (aliás, o ouvido), permitimos que nos afecte os sentidos e divertimo-nos com isso, mas.....

não atinge (de per si) fundo na alma, e por isso é secundária.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

riscas e quadrados



coisa incomum, um post começar pela fotografia que o ilustra, mas é o caso deste. normalmente, a fotografia vem depois de acabado, e pode demorar uns segundos a encontrar ou mais tempo que a escrever o texto. neste caso, vi a fotografia num powerpoint, fui procurar, et voilá.

é uma daquelas imagens que vale por mil blá, blá, blá e tal, tão evidente que quando a vi quis escrever isto (que vamos deixar em abstracto, porque também vale em abstracto e não vale a pena concretizar):

cientificamente, uma criança é uma mistura dos códigos genéticos dos pais. na génese real, uma criança é a mistura dos sonhos dos pais (se ambos forem honestos, a criança tem a felicidade de saber que nasceu porque os pais se amavam, o que devia ser um dos direitos das crianças, no qual não me alongo porque ia desaguar no aborto). culturalmente, uma criança (enquanto criança, e num processo de crescimento por libertação e por auto-determinação) é o que os educadores (com os pais em destaque) lhe proporcionam (depois, algures entre a adolescência e a idade adulta, já é principalmente responsabilidade sua, qualquer tenha sido a sua educação).

a fotografia ilustra isso, de modo simples: é um novo ser (nunca o prolongamento dos pais), enriquecido por soma. retirar-lhe qualquer uma destas duas condições (de novo ser e de ser enriquecido), é estúpido, menor e infeliz.

perder a vergonha



hoje fui passar uma vergonha que andava a adiar. o mal destas vergonhas adiáveis é que quanto mais se adiam, maiores ficam, depois adiamos mais e por aí fora. foi o caso da minha.

a história é simples, tinha cá em casa um livro da bilioteca municipal há meses, sendo que o problema eram os meses de atraso na devolução à dita bilioteca. já tinha recebido carta oficial a reclamar e ontem ligaram-me, a perguntar pelo livrito......

hoje, ao contar a vergonha a uma amiga, ela prontificou-se a devolve-lo por mim, para contornar a delicadeza da coisa.

recusei: homem que é homem (não no sentido género masculino, mas membro da espécie humana) não vira o cu ao que fez, dá a cara (o contrário seria ......., preencham a gosto), e lá fomos os dois resolver a minha falta (os dois, porque amiga que é amiga acompanha o amigo envergonhado, devia ser dizer popular).

nada como dar a cara (bem, depende do que preencheram em cima.....), a coisa resolveu-se alegre, rigolei da inspecção militar, devolvi o livro (não tive cu de trazer outro, já hoje, depois dos meses de atraso, sou mais tímido do que me pintam) e paguei a anuidade.

mas a parte boa é que deixei lá a vergonha e é bom porque a fui lá deixar, moi même.

dia bom



alguns dias são tão bons que até correm bem, antes dos motivos que os fazem realmente bons.

hoje passei o tempo todo com uma sensação de bem estar física e emocional. eu sei que tem parte a ver com ser noite de gustavo chez nous, mas foi mais abrangente, coisa de sentir que não existem problemas, que o corpo está são, que a mente continua sã, que a estrutura está estruturada.

de há uns bons tempos a esta parte, consigo apreciar estes parâmetros, quando os tenho. pode ser coisa de velhice, mas se é, não é nada como a pintam (à velhice).

depois, a coisa encarrilou e foi sempre a melhorar: estive a ensinar italiano ao gustavo (foi uma risota), ele foi à natação (nada sem bóia, mas com muita palhaçada, é como na patinagem), estivemos nos vizinhos, estivemos a fazer planos, jantar de pizza e fruta (ele não sabia como se diz pizza em italiano, agora já sabe....) e tivemos bónus no adormecer: na janela por cima da cama estava a lua, luminosa, quase cheia, a espreitar o sono do meu pequenito.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

fama e motivo



semana passada atiraram-me uma pergunta daquelas sacadas de cartola: se tinha sido fiel (na perspectiva sexual) a determinada pessoa.

a menina que mo perguntou (está visto que é pergunta de menina) tem uma perspectiva das minhas atracções emocionais muito desvalorizada: ela pensa que escolho mal.

na realidade, tem alguma razão para pensar assim, porque, coincidências, as pessoas que conhece não são as mais estruturadas e porque a perspectiva dela valoriza a serenidade. basicamente, acha que eu tenho tendência para pessoas, escrevamos, complexas, a roçar o pouco sãs (também aqui tem os seus motivos para o achar, mas nisto não elaboro).

onde ela não tem razão, nem outras pessoas que julgam pela fama, é no que motiva os meus encantos, e no número e frequência deles. e o que me aborrece nisto é que até me conhece bem fundo e pensa assim apesar de eu a corrigir e lhe explicar. aliás, não é a única pessoa que me conhece fundo e pensa semelhante: eu explico o que quero do mundo, porque me permito encantar como permito, e não me crêem, sorriem condescendentes e recordam de me ter visto com alguém que não ficou, sem perceber a minha fatitude à la monsieur rick.....

por contraste, no fim de semana (e desde há bastante tempo), meu filhote continuou a dizer-me que devo namorar com esta e aquela, desde as meninas da patinagem artística às funcionárias da pizzaria.

à parte a perspectiva de termos pizzas de borla (que nem condeno, de saborosa que é), ele percebe-me. pergunto-me onde isso me deixa, o facto de os putos me perceberem melhor que os adultos, e gosto da resposta.

colegas e amigos



há vários anos atrás, estava eu recém chegado da capital (bem, não era bem recém chegado, estava cá há coisa de ano ou dois), e tive uma discussão (mais um debate) com um amigo (no sentido menos rico da expressão) acerca da vantagem de contratar amigos.

defendia ele que é complicado, susceptível de criar atritos e estragar a amizade, o que ele ilustrava com "e se ele for uma merda, profissionalmente, como o vais despedir?".

moi, utópico por feitio, que "se não tenho capacidade para ser franco com um amigo, com quem vou ter?".

muitos anos depois, a verdade é que eu tinha a minha razão (ser juiz em causa própria é fácil), mas há uma coisa desagradável, consequência da razão que esse amigo que debateu comigo tinha: custa mais dizer a um amigo que tem de ir, ou que vai ser difícil voltarmos a trabalhar juntos, do que a um "estranho".

claro que a pouca razão dele se dilui no facto de, na maioria dos casos, relações de trabalho gerarem relações de amizade. o meu problema é que a razão minha me custa mais que a dele, porque tenho uns amigos porreiraços.....

cálculos errados



no mundo, muitos gestos são calculados. não escrevo quase todos, porque os das crianças não são. já quase todos os gestos adultos são muito calculados.

fruto de convenções sociais, inseguranças, conveniências, obrigações, a verdade é que os gestos não são genuínos. essa é uma das vantagens de estar com catraios, é que estamos à vontade para o ser também. uma das desvantagens é ficarmos com vontade de o ser sempre. por exemplo:

gritar (para ele ouvir, porque está embalado) na cara de um cliente que é burrice o que ele quer fazer e perder dinheiro com isso; escrever a uma moça que ela é especial, só porque ela o é, sem esperar que venha salvar-nos por isso; olhar nos olhos um amigo e não abdicar de realçar que é injusto o que ele está a declarar (na esperança da nossa aprovação, quando já a teve de outros presentes, igualmente injusta), sendo nós injustiçados por isso.

apeteceu-me escrever isto.

domingo, 24 de janeiro de 2010

você, morena, (aqui para nós), é um bocado boa



dia bom, hoje, a acabar com cereja: antes de deitar, estive a ver com o meu filhote excertos do pátio das cantigas.

é engraçado ver o gustavo, atento, sorrir de coisas que me fizeram rir há décadas. é imperdível ver-lhe a expressão no rosto, ao perceber a seu modo a história e as personagens, as coisas que preocupam o mundo dele.

nesta cena em particular, ele viu o que lhe tinha contado acerca de um fulano (o narcíso fino), que tinha desgraçado a vida por amores à dona rosa (mulher adorável que se riu quando rir era a única coisa que não podia ter. há mulheres com esse poder); viu que o dito narcíso, pelos amores que se tinha perdido, se salvava, a pontos de beber no momento da salvação um quarto de água das pedras, se preciso fosse; viu que, antigamente, iam os pais (aqui os filhos) pedir as mãos das meninas (aqui, a da mãe), formalmente; viu que, quando menos se espera, alguém tem uma leitaria para nos dar e, pasmo! alguém troca uma vida de folia por manteiga com e sem sal (mais a variedade de bolachas, claro).

a vida é simples como gotas de água (neste pátio, de palheto).........

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

átila



o céu dos cães deve ser feito de nuvens de ossos.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

a norte nada de novo



nada como o norte!

come-se bem, conversa-se bem (excepto de futebol), mulheres poderosas, a neblina.

eu gosto muito do norte, mesmo muito do que conheço de trás-os-montes, gosto do minho (o sotaque de famalicon) e acho que ainda vai acontecer viver na invicta (é heresia de alfacinha preferir o porto, mas um fulano é como é). mais acima, continuo a gostar para lá da fronteira, galegos são muito boa gente e a coruña é fenomenal (bem bom um beijo no topo da torre de hércules, depois de subir os trezentos e tal degrauzitos).

mas a verdade toda seja escrita: não há gente aldrabona para negócios como o pessoal do norte. lá, quase tudo se faz com cunha, conhecimento, encostos, envelopes com 250 €, que sim mas depois é não, um fartar vilanagem.

e o eléctrico, mademoiselle, o eléctrico.....


segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

martin luther king day



há alturas em que sei que é feriado nos estados unidos, porque há jogos da nba durante a tarde (os knicks estão a ganhar a detroit, no madison square garden, depois de terem perdido no palace de detroit há duas noites atrás).

hoje é mlk day, dia de celebrar martin luther king, o homem que tinha um sonho de as pessoas não serem julgadas pela cor da pele, e sim pelo conteúdo do seu carácter.

tenho para mim que uma das melhores definições de estar vivo é sonhar. tenho também para mim que, por mais ridículo digam o nosso sonho é, se for justo e nunca deixarmos de o sonhar, ele vai realizar-se. let freddom reign.

p.s.- já uma boa definição de liberdade é fazer tudo que achamos certo, ficando com todas as responsabilidades. todas.

domingo, 17 de janeiro de 2010

can no eurosport



foi fds de fazer nada, apanhei alguns jogos do can, no eurosport. já gabei aqui o torneio, pelo tipo de futebol e pela dedicação dos adeptos, falta gabar outra das coisas que me agradam, lá: os comentadores do eurosport.

muita gente, siga futebol muito ou pouco, sabe das piadas que se fazem acerca dos comentadores da bola. chega a pontos de valer a pena retirar o som à televisão (sendo jogos portugueses, é o ideal, porque já não têm som ambiente), de insuportáveis que são.

o problema, acho, tem a ver com um defeito de micro-cultura profissional (profissão: comentador da bola), onde parece que cada um tenta ser mais erudito que o outro, como se ganhassem ao número de palavras caras e/ou expressões técnicas. depois, por estas estarem esgotadas e pela necessidade de inovação, inventam outras, que têm de ser ditas com ainda maior boca cheia.

resultado é um anedotário e um equiparar do nível de comentário nacional ao nível futebolístico português: rasteiro e ridículo.

quem segue jogos no eurosport habituou-se a ouvir um par de comentadores que comentam com evidente prazer e conhecimento, de suas graças nuno santos e olivier bonamici (também comentam outros desportos, com idêntico (des)empenho mas hoje só escrevo dos comentários ao futebol).

ouvindo-os, parece que estamos a ver futebol num bar, onde temos a sorte de, na mesa ao lado, estarem dois adeptos, sem preferências clubistas mas amantes do desporto, a falar do jogo. o conhecimento que transmitem não é exacerbado por palavreado, é apenas dito, em conversa, com o colega.

como bónus (não que fosse preciso, mas parece que as coisas realmente excepcionais o são em toda a amplitude), o sotaque de olivier, o meu preferido: é um adepto do mónaco que tem sempre coisas engraçadas para dizer, com a vantagem, mesmo quando a graça é pouca, do sotaque a complementar. um luxo.

p. s.- no canal memória apanha-se, muitas vezes em que transmitem jogos, comentários de um senhor de nome rui tovar. a técnica dele é diferente: low profile, vai falando o necessário para quem vê estar informado, e chega.

p. p. s.- já nos streams da internet se apanham jogos com comentários internacionais (os russos e os turcos têm um piadão), dos quais valorizo os britânicos em geral, principalmente os escoceses. já os espanhóis parece que estão a falar para retardados.....

jazz, estátuas, rinocerontes e vudu



o modo como chegamos às pessoas é duplamente particular, cada qual tem o seu e tem de o conjugar com o modo de se deixar tocar da pessoa a quem chega. quando acontece, é supremo.

por vezes resulta, outras de maneira nenhuma. há quem tente muito e há quem nem precise tentar. há quem se deixe e há quem não consiga deixar-se. há quem tente perceber e há quem apenas estenda a mão adiante (ou....) sem perceber para onde.

a questão é esta: somos indivíduos, e sempre o seremos, por mais que tenhamos filhos, amores, família, amigos, trabalho, colegas, inimigos, nunca deixamos de o ser. acontece é, ao tocarmos ou sermos tocados, nos acrescentarmos (ou, com sinal negativo, diminuirmos), quer enquanto indivíduos, quer porque participamos (fazemos parte) de uma qualquer nova entidade (família, grupo, casal, empresa, conceito, ideal, etc).

acontece, por vezes, não resultar, questão de incompatibilidades, arestas, desfasamento temporal ou outra. nesses casos, sem estragar, sai-se e vai-se tocar para outro lado.

p. s.- eu escrevo isto a beber chá de frutos vermelhos, toque que me chegou por correio e me sabe bem bem, nestes dias frios.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

abusar



"usar" é uma acto com conotação positiva, pressupõe um uso legítimo, o que costuma ser bom. já "abusar" é um acto com conotações negativas.

valorizar demais conotações costuma dar mau resultado, este é só mais um caso. passo a elaborar:

abusar significa fazer um uso excessivo de, passar de limites convencionais(ados) ao uso. se o limite estiver errado (e há sempre perspectivas em que está), passar do limite está certo, sendo que excesso é igualmente uma convenção de limite, logo (de)pendente de perspectiva.

por vezes, abusar significa, por ultrapassagem, perder os benefícios inerentes ao uso. outras, apenas significa chegar mais longe, mais depressa e de modo mais franco. não pode ser mau, pois não?

p. s.- esta foi a pensar em ti, sim.

hamlet



há uma semelhança entre textos clássicos e dizeres populares: ambos ilustram verdades, sendo que existe o seu oposto para ilustrar a verdade oposta. depois, há diferenças, a maior é a amplitude do conteúdo.

hamlet é um dos mais representados textos de shakspeare e fala de algo podre no reino da dinamarca. o mau cheiro, na dinamarca, vinha da usurpação do lugar do rei escandinavo pela rainha adúltera e por um homem que devia ter sido fraternal e foi corrupto.

ao príncipe hamlet cheirou mesmo muito mal, e não descansou até conhecer a verdade (coisa de putos, teimar em não ser enganados....) e ela veio da boca do rei, seu pai, que lhe apareceu como fantasma, consciência, etéreo mas sempre pai. o príncipe passa então por uma fase de abismo, pela monstruosidade do crime, e afoga-se em sangue com todos os outros,
na vingança que exerce.

há séculos, william já sabia que retirar um pai a um filho acaba muito mal. há séculos, shakspeare escreveu da possibilidade de inocentes se perderem entre culpados. esta sempre foi a parte que mais me incomodou na história da podridão dinamarquesa.

pessoas transparentes



há alguns anos andei encantado com uma engenheira da câmara municipal. moça simples, de uma beleza simples que mesmo assim tinha de se descobrir, mãos sempre geladas, tal como o sorriso, sempre franco.

reparando no meu encanto (nada sério, daquelas dores que doem pouco), um cliente meu "aconselhou-ma". dizia ele que era boa moça e nem se maquilhava. turns out, ela não gosta lá muito de teatro e o assunto ficou por isso mesmo.

aqui, já gabei pessoas genuínas (as outras pouco me interessam, confesso). o que me trás ao que considero genuíno: nada tem a ver com o facto de a pessoa se apresentar sem adereços e tudo a ver com o se apresentar como realmente é, mesmo que para isso precise dos adereços mais bizarros (confesso em encanto por esta moça, doloroso).

deixo exemplo de um fulano que conheço: apresenta-se como se fosse uma pessoa excelente, cheio de confiança e humanismo, preocupada com o mundo, a ponto de lhe sentir as dores. na realidade, como rápido se percebe, é o inverso. há pessoas que são de tal modo falsas que se tornam genuínas, por inversão.....

acho que o limite entre fora e dentro, nisto, tem a ver com a pessoa saber o que é
(mesmo que seja um palhaço) e agir em conformidade tal que se torna transparente. não apensa translúcida. transparente de todo.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

futebol feminino



venho fazer uma adenda ao último post: lá escrevia que o futebol africano é o mais divertido, e pode não ser exactamente verdade (tudo o resto que escrevi, é).

p. s- muito divertido e demorado escolher a fotografia para ilustrar este

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

can



época de can (campeonato africano de nações, futebol, este ano em angola). significa futebol no seu melhor, com o mínimo de negócio e máximo de prazer possíveis no mundo moderno. em nenhum outro local do mundo a vida será tão pura e alegre como em áfrica (pré-conceito meu).

isso acontece porque quem o pratica e quem o usufrui é puro, simples, ligado à terra e aos espíritos da natureza, e futebol realça o que de mais as pessoas têm: lá, a pureza e alegria, cá, a disputa insana. é por as pessoas serem assim que são abusadas, lá, como em nenhuma outra parte do mundo (é afirmação grande, mas julgo que correcta, no geral).

pessoas abusadas é terrível, mas abusadas pelos irmãos, é intolerável. em nenhuma outra parte do mundo há ditadores tão abomináveis como em áfrica, nem na américa do sul. nem será a parte pior (porque é consequência e não causa) mas a ostentação que o abuso gera é estúpida em absoluto: como justificar pessoas que gastam muitos milhares de euros em roupa e adereços quando poucas centenas salvariam irmãos seus? suponho que não conseguem ver fraternalmente, protegidos por vidros à prova de bala de carros de luxo.

voltando ao can, sem deixar os abusos: antes de se iniciar a competição houve um ataque, dos separatistas de cabinda (de alguns, parece que já separados dos separatistas) à comitiva do togo. pessoas morreram, outras profundamente feridas, tal como a prova.

habituados à dor, mesmo nos momentos alegres, as pessoas seguiram. agora seguem os jogos, as suas selecções, os seus sonhos, porque lá, mais do que cá (talvez tanto como em todas as regiões pobres), é necessário aproveitar todos os motivos para sorrir e ser irmão do irmão.

já deixei aqui as afinidades da minha alma com a alma russa e com a sul e centro americana, mas nenhumas dores me doem mais que as de áfrica.

a vitória capitalista do comunismo



o mundo é um processo evolutivo. há décadas atrás, e durante décadas, o processo do mundo equilibrou-se belicamente entre o capitalismo ocidental (maioritariamente americano) e o comunismo soviético. depois, houve mudança, um dos pilares ruiu com um muro e o capitalismo venceu.

recordo que na altura tive dificuldade em readaptar-me, reposicionar-me. a estrutura das pessoas está relacionada com o mundo em que acreditam, e quando ele abala, elas tremem (aconteceu-me várias vezes, ao longo, a mais recente com lhasa).

passado o impacto, o mundo continuou miserável: uma sociedade crente de ser um farol foi iluminando locais pontuais, enquanto todos os outros (e mesmo muitos dos iluminados) degradavam. e eu deixei de vez de acreditar em ideologias e blocos, para ficar encurralado com as pessoas, indivíduos.

mas não deixo de aceitar que a ordem do mundo afecta todos, em escalas e tempos diversos, mas afecta. e a ordem é uma sociedade aprisionada no capitalismo, e não no comunismo. o resultado é que o ideal de liberdade (pensamento, expressão, decisão) teria vencido o ideal socialista (igualdade, fraternidade, comunitarismo).

mas não, porque o processo é evolutivo. de repente (não tanto, porque é um processo, mas quando percebemos, ele já evoluiu basto, e parece-nos de repente por não termos percebido antes), o capitalismo (ocidental, no ocidente todo) faliu: por incrível que pareça, toda a gente está endividada, desde o mais infeliz dos indivíduos, que não consegue pagar a prestação da casa e do flatscreen, até aos bancos e multinacionais de todos os ramos.

e, surpresa, quem aparece com a solução? a china (e a índia, e o brasil, e outras potências económicas emergentes, mas acima de todas, a china). a china, qual banco dos endividados, tem a solução: se não pode pagar, vende, porque nós temos dinheiro para comprar.

não deixa de ter algo de consolador assistir a quem nos faliu falir, mas é inócuo. de que adianta se o mal atinge os outros, em simultâneo connosco?

é uma simplistificação, porque o mundo é evolutivo (china incluída, não só no emergir económico, mas também (muito mais lentamente e pelos errados motivos) nos direitos humanos) e há valores que sobrevivem independente de serem ou não utilizados (sendo que por sobreviver são garante de disponibilidade para ser utilizados no futuro), mas é caricato que seja a china com o seu socialismo capitalista a vencedora final.

bem,
até ao próximo vencedor (há quem aposte em obama, eu inclino-me para que seja uma mulher, e mais que michelle, coloco esperança numa atitude à angela merkel (com todos as suas insuficiências)), bien entendu.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

recordações molhadas



aconteceu há anos: fui de fds ao norte, com o meu irmão, fomos fazer rafting (experiência excelente, como experiência).

guardo várias recordações desse fds, as três mais vincadas são, por ordem crescente:

1ª, depois de terminarmos, numa conversa de despedida com o grupo que organizou aquilo, o "chefe" deles diz: "foi um prazer" e o hugo respondeu algo como "o prazer foi de todos, acredita";

2ª, estarmos a mergulhar no rio, numa paragem da descida, e comentarmos que aquilo era um luxo;

3ª, toda a gente numa tasca daquelas promissoras no norte, uma senhora gorda a descrever a ementa (e mencionar "barrigas") e, quando ela acabou, o meu irmão perguntar se não tinham entremeada, ao que ela respondeu "é barrigas".

guardamos detalhes por um motivo qualquer que não entendemos, muitas vezes nem deve ter a ver com a relevância deles. por exemplo, desse fds recordo claramente estar estafado, remo na mão, mas não associo tão directamente ao tempo e local como as outras recordações que descrevi.

por vezes, fico a tentar perceber a relevância que certas recordações têm para se tornar relevantes e duráveis, e não alcanço. pessoas sei porque o são, disso percebo razoável, mas do cérebro.....

é a pior faculdade de perder: capacidade de compreender.

primeira(s) vista(s)



as pessoas são engraçadas, no início de materializar um encanto: fazem por mostrar o seu melhor perfil, esconder ou neblinar o pior, puxam da auto-confiança, real ou auto-infligida, falam do que sabem e mostram o que têm, avançam sonhos que não são realmente capazes de sonhar mas acham belos de contar.

o objectivo é atrair e capturar (ups, cativar), semear desejo em quem se deseja já, de modo a colher em breve, criar fundamentos em cima dos quais construir, escadas que se possam subir, quartos com vistas.

e é mútuo, tantas vezes é mútuo, e sabe bem a mutualidade de ver o(a) outro(a) enaltecer-se de volta.

mas também é falso, por vezes fica o azedo de mentira, porque se há quem se enalteça de modo genuíno (sem se alterar, como os pavões, que não deixam de o ser só porque mostram o rabo colorido, mas o são por isso mesmo), há quem o faça por auto-desgosto (criando imagem adúltera).

ora, não existe amor à primeira vista, à primeira vista só existe encanto, atracção, paixão (ui, estas), porque amor implica conhecimento e conhecimento implica olhar e ver, muitas vezes e cada vez mais fundo.

eu acho tão mais saboroso e eficaz sermos nós logo de partida, e percebermos o outro logo de partida. penso que torna mais fácil que o encanto não desencante.

domingo, 10 de janeiro de 2010

relações seguras (cont)



outro dia escrevi de relações seguras, e na estrutura prévia do post tencionava equiparar as relações de que escrevi (pessoais) às profissionais. acabei por não o fazer aí, faço-o aqui por outro motivo, muito pessoal.

muitas pessoas olham para estabilidade profissional (e financeira, o que pode não estar directamente relacionado) como algo bom. tal como nas relações pessoais, há riscos de rotinas, que podem ser más. tal como nas relações pessoais, há alternativas: uma é trabalhar sem estabilidade, logo sem rotinas; outra é gerir as rotinas de modo positivo, produtivo, satisfatório.

acontece algumas dessas rotinas serem (ou se revelarem, ou tornarem-se) insuportáveis. a solução é mudar-se quem está mal, aqui como em relações pessoais: been there, done that, going out.

acontece que, na economia de hoje, alguém deixar um emprego apenas porque não está feliz nele, é demente. os colegas e amigos desaconselham, a insegurança instala-se, normalmente a pessoa recua na ideia e, como dizia um colega meu depois de acabar o curso, durante o seu primeiro contrato (que não renovou) , "lá se vai todos os dias apanhar no cu", utilizando aqui a expressão no mau sentido.

eu aprecio quem associa demência a mérito e tem o que merece. os outros, queixam-se.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

a tristeza da igualdade



foi hoje aprovada no parlamento a lei que permite casamentos homossexuais. é uma lei algo estúpida, porque inviabiliza ainda a adopção por casais homossexuais, mas a questão da adopção é muito mais abrangente que a sua relação com a homossexualidade, pelo que fica para outra altura.

evidentemente, não me parece que pudesse ser diferente por muito mais tempo, já existiam uniões de facto, a constituição "garante" direitos iguais independente de preferências sexuais, era mesmo coisa de tempo até ser assim (tal como a questão da adopção por estes novos casais casados será). era uma aposta tão segura que nem fica espaço para congratulações idiotas.

mas fica espaço para uma tristeza, pessoal, minha: isto sabia tão melhor se tivesse saído de referendo........

tive esta argumentação com um amigo, dias antes do fim de ano, a partilhar uma travessa de polvo à lagareiro. ele empertigou-se com a ideia do referendo à questão, porque seria inviabilizador e era uma vergonha a lei que existia, e eu tive de reconhecer-lhe razão.

é essa a minha tristeza, ele ter razão.

relações seguras



no sentido, prolongadas, "garantidas". escrevo de relações pessoais, de casais.

para muitas pessoas, algo que sabem (estão convictas) irá perdurar é uma mais valia, estará relacionado com estabilidade e ela ser algo bom. por contrapeso, numa análise simplista, há quem se esteja a zero para a durabilidade da relação e apenas a aprecie na intensidade. não estando nenhuma das perspectivas errada, eu incluo-me nesta mas hoje escrevo daquela.

uma relação duradoura é atreita a rotinas (mais que atreita, tende a viver delas e delas funcionarem para ambos ou não), rotinas que têm de absorver as transformações pessoais de cada parte (em comum e em separado), pelo que também as rotinas serão evolutivas, e terão sempre (ou quase) de funcionar para ambos. parece difícil e é, e será essa dificuldade, associada a outras relações importantes extra-casal (pessoais, profissionais, familiares, culturais) que terminam a durabilidade.

(esta dificuldade não se coloca em quem vive isto pela intensidade, porque quando ela não existe (mais, ou se percebe nunca foi honesta), been there, done that, gone out. e vamos amar (para) outra alma).

acontece que a durabilidade dura muito (daí ser durável), atravessa muitas fases de cada um dos componentes do casal (com novidades que podem ser custosas de engolir), e, muitas vezes mais duro, implica convivência permanente com aquelas características "quase" insuportáveis dele(a). seguro que se criam e gerem espaços non penetrare, mas mesmo assim é difícil, porque sempre é sempre, e nunca é demais. é teso.

o outro lado da moeda é a segurança e a estabilidade, a vantagem de não ausência de um nome por quem chamar ou em quem confiar compreensão. não sendo uma mais valia de per si, a estabilidade é uma qualidade valiosa em muitas circunstâncias. o facto de não ter de (re)descobrir o outro (ou ter de o ir fazendo de bases de conhecimento já abrangentes) permite direccionar atenção para outros aspectos, estejam eles relacionados com o casal ou com cada um dos componentes.

ando a derrapar no que escrevo, o que quero escrever é: quem quer pêssegos sobe ao pessegueiro, sabe onde apoiar os pés, fincar os dedos, de que lado eles são mais saborosos. vai apanha-los fácil, porque conhece a árvore, mas não vai comer senão pêssegos, aqueles pêssegos, daquele pessegueiro.

nada contra apenas comer pêssegos (e isto tem ramificações), tomara eu ter pessegueiro que me saciasse, inteiro (excepto ramificações) mas facto é que deve ser (é) possível que a durabilidade esteja na intensidade e não na estabilidade.

que, sempre que se olha para o lado, à noite, na cama, para o rosto a descansar na almofada vizinha, se veja sempre uma pessoa que queremos e sem a qual não conseguimos viver. se for sempre a mesma pessoa, melhor, não temos de aprender a viver sem aquela sem a qual não conseguiríamos viver.

um colete da zara



isto é um bocado fora, mas vai na mesma: fui às compras com uma amiga, ao shopping (coisa que faço com garbo e prazer), aproveitar os saldos, escolher e provar roupa, daquelas actividades que um homem seguro do seu tempo sabe apreciar e valorizar, valorizando-se. andávamos a escolher uns vestiditos, rodeados de outras meninas a escolher os delas (com iguais garbo e prazer), e zing boom: caiu-me o olhar numa peça soberba: um colete. mas não um colete qualquer, um colete de sonhos, daqueles que não se despem (nem desapertam), nos sonhos bons.

a vantagem de não ter ninguém é que posso imagina-lo em vários corpos; a desvantagem (maior), é não o vestir a nenhum.

p. s.- não posto fotografia porque o site da zara é uma mer#$!"%&da e para não me denunciarem como site pornográfico.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

gauss gun



é uma arma que utiliza magnetismo para acelerar um projéctil. pode ser simples (com um elemento magnético) ou com uma sequência deles, o que deve gerar uma aceleração exponencial (imagino eu, porque é matemática avançada demais para mim).

como isto não é um blogue de curiosidades nem de ciências (sendo que estas duas coisas costumam andar a par), porque hei-de eu ter abordado o assunto? não tenho ninguém a quem matar (e duvido conseguisse fazer uma gauss que funcasse), tenho coisas melhores acerca das quais me posso gabar de saber (querendo) e, garanto, não é por falta de assunto melhor.

é porque atracção é tema frequente aqui, e o que um magneto faz é atrair/repelir. serve, pois, o post para, numa nova perspectiva, comprovar que a atracção pode ser perigosa, poderosa, dolorosa e/ou mortal.

mas para quem pensa que é difícil de controlar, fica a versão de que, sendo bem canalizada......

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

amor à consignação



hoje fui apresentado a esta nova definição de um conceito antigo.

veio da pessoa menos provável de o fazer (é mais dada a outros conceitos), e eu achei uma pipa de piada, porque tenho atracção por perspectivas diversas, desalinhadas da linha corrente (e de correntes lineares, mas nestas com excepções). adiante.....

depois de achar piada, logo depois, percebe-se que a piada é de forma, e não de conteúdo (não deixa de ter piada, mas passa de pipa a barrilito), porque, raios, não é essa a modalidade corrente (das lineares que não aprecio)?

lhasa tem uma música qualquer (que não me apetece procurar) em que canta acerca de hoje os amores se iniciarem com "tomamos un café...."., e, mais adiante, que já não se diz "no aguento vivir sin ti". porra, devia dizer-se, devíamos ter perto pessoas sem as quais não vivemos.

tou um bom pedaço farto de consignações, não é pela fama que colam (que colam, eu já "dormi" com metade de coimbra (suspeito que seja a metade feminina, sem menosprezo pela outra)), é por serem forma, sem substância. eu quero substância, se vier com forma melhor, mas a sede é de substância.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

tornozelos e bofetadas



cena de um filme mexicano, década de 40:

em cholula, pueblo invadido por revolucionários, o jovem general está na rua, cinturões traçados ao peito, indiferente dos demais. passa a menina e, para subir um degrau alto, levanta ligeira a saia e mostra o tornozelo, ao subir.

latino, diz o general, que lho viu: "para ver de novo esse tornozelo (chamorro) era capaz de apanhar uma cacetada".

a menina pára, tranças descobertas, vira-se, mira-o feroz e volta atrás, em cima do degrau. levanta a saia e mostra os pés, perante o olhar admirado do general e compañeros.

depois, desce, fica de frente a ele e atira uma tremenda bofetada no revolucionário. " e se és homem aguenta outra
, porque me viste os dois tornozelos", e atira uma ainda mais feroz, que o deita por cima dos colegas.

satisfeita, afasta-se por onde ia, e o general, falando consigo e depois de calar o riso dos
compañeros, "vou casar com esta mulher"....

......

não foi destino, foi ele que lhe elogiou os tornozelos, foi ele quem decidiu, foi ela que quis voltar atrás e, na rua
mexicana cheia de gente, foi nele que plantou as bofetadas.

rotinas tontas



tem sido ano animado, viagem matinal com o pequenito, dia 1, viagem ao norte, dia 2, noites de knicks (a ganhar, este ano estão imbatíveis, 2-0). noite de domingo não cheguei a dormir, ontem comecei dia com notícia triste, de fim de música, e passei-o a atender clientes a reclamar de trabalho em falta e a ouvir amigas com histórias insanas (até para os meus parâmetros).

e ao quinto dia, o ano normalizou.

manhã gelada de sol, acordei antes do despertador (é raro aproveitar as manhãs, sem estar estafado de noite em branco) com sensação de estar tudo normalizado, festas passadas, café com a companhia de antigamente, trabalho em dia, cliente a pedir recibo para pagar (esta parte não é normal, mas sabe bem. talvez seja como os knicks, a ganhar, e este ano seja realmente diferente).

a vida são rotinas, e viver bem é dançar com elas, de modo a ficarem tontas. claro que ajuda se já tivermos rotinas tontas, evitamos a parte de dançar com elas. mas se forem rotinas giras, altamente calçadas, pode ser que dancem para nós, e nos deixem tontos. 2010 normalizado.....

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

lhasa, 1972-2010



este era suposto ser um ano bom, começa mal. este é o post 400, e deve ser o mais triste que escrevi. este é o vídeo que mais deixei aqui, acho que é a 4ª vez, esta pela mais dura razão.

um mundo deixou de crescer de dentro. é um mundo fantástico, vivo, de portas abertas. agora só vai viver por fora, pelas pessoas que ouvem a música dela, e sempre que a ouvirem.

te quedas con nosotros, cariño, a siempre.

pequenas responsabilidades



tenho um peixe, em casa, de água fria. tenho-o pelo gustavo (ele escolheu), para ter alguma responsabilidade ("tens de limpar a água, pai"). já tive de água quente antes de ele nascer, devaneio inútil.

tive um gato, o gaspar, vivemos juntos alguns anos, fiquei com histórias para contar, dele. acabou a viver com o meu irmão, quando a minha casa estava em obras e o gato sufocava com o pó ambiente. morreu lá, velhito, e choramos por ele, eu e o meu irmão.

também tenho tido em casa animais de pessoas que viveram comigo (connosco), gatos (a linda, que caçava pombos no telhado e os trazia para dentro de casa, e o puscas, que se deitava no sofá, à espera de ter a cama serena para dormir) e uma cadela, a baunilha, bicho carinhoso como todos os deserdados da sorte que são salvos disso (nos animais o destino é imutável, acho, eles são como são e recebem o que lhes derem).

de plantas tenho vergonha de escrever, porque sou impotente com elas.

quando comprei a casa, uma amiga deu-me um cacto, que morreu de sede. as plantas que têm sobrevivido são trazidas (e mantidas) por quem está cá. excepção foram uns amores perfeitos que ressuscitavam todos os anos, roxos, bem bonitos, eu nem os regava e ressuscitavam na mesma.

agora tenho nenhuma, gostava de ter uma bonsai, não por a ter, mas por ser capaz de a manter viva. por não o ser, não tenho.

um dia, vamos ter uma casa com jardim, para termos um cachorro. com vizinhos, para quando formos para fora ele não ficar sozinho. imagino que vamos busca-lo ao canil, um tão feioso como carinhoso, nem muito grande nem muito pequeno, que goste de ser agarrado.

nesse dia, nesse jardim, vamos ter uma horta, com tomates, cebolas e morangos. e uma romãzeira. e flores, alguém há-de cuidar de termos flores, falar com elas e alimentar-lhes a sede, para que possamos olhar para elas e sentir que estamos bem.

p. s.- espero que o cachorro não estrague as flores..... nem coma os morangos.....

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

teologicamente escrevendo



uma vez, um padre (que aprecio, são muito poucos, porque conheço poucos e a maioria não aprecio) disse-me que a melhor proposta de mundo é(era) a da fé católica (a expressão não foi exacta, mas o sentido foi este). a conversa acabou ali, porque eu estava para tratar de outro assunto, mas hoje, ao ler umas coisas no facebook, lembrei-me do padre joão.

eu tive uma religião católica, fui à catequese (umas poucas de aulas, só recordo que a água é muito importante ao mundo e é deus que no-la dá), mas tudo aquilo me soava desajustado, cada vez mais, com a maior capacidade de percepção que vem com o crescimento. nunca tendo sido crente católico, ficaram-me princípios e a sensação de que aquilo a que o padre joão se referiria, muitos anos mais tarde, é apenas um tremendo desperdício.

em seguida, adolescente, houve alturas em que me considerei comunista, pelo conceito, mas a prática é insuportável (não se pode ignorar as consequências práticas dos conceitos, mesmo que mal aplicados, escrevo eu). outro desperdício, pelos mesmos motivos.

julgo que em consequência, dei por mim humanista (apesar das consequências, mais suportáveis) e descrevo a minha fé (simplisticamente) como agnóstica.

o problema do humanismo é o desperdício de a maior parte dos seres (humanos) não o praticarem. tal gera uma necessidade de complementar humanismo com "algo", não que se lhe sobreponha, mas que se lhe associe, como um porto sereno em tempos (frequentes) de tempestade.

ora, existem crenças cuja estrutura e objectivos e fundamentos (pelo pouco e ligeiro que lhes conheço) me são atraentes, que seria possível utilizar com "algo" de complemento, mas receio que uma aproximação por alguma ideologia teológica me diminua o humanismo. porque, sejamos francos, é difícil compatibilizar fé em deus e no homem (ainda para mais se houver também uma mulher, uma cobra, uma maçã, uma tarte de pêra e/ou umas sandálias, oh paraíso)

felizmente, e por mérito meu, tenho encontrado "algos" desses, em seres humanos particulares, para os quais olho não como parte da humanidade em geral, mas como representantes da humanidade no seu expoente (uma perspectiva elitista, envergonho-me, mas sou eu).

isto tudo para escrever que me considero teologicamente fora.

verdade verdadinha, suponho que escrevi isto tudo para escrever algo, por não escrever há uns dias, coisa de vício. felizmente, e por mérito meu, tenho estado envolto em seres humanos especiais.

2010



ano novo, só pode ser melhor que o anterior, que para mim foi teso.

há quem diga que aquilo que se faz no primeiro dia do ano vai fazer-se o ano inteiro, de um qualquer misterioso modo. eu comecei o ano a rir com amigos, a bater testos de panelas com a catraiada a olhar para fogo de artifício e a acender uma fogueira, sob um céu aberto de nuvens, com a lua a encher a serra como se fosse tempo de maravilhas.

agora vou procurar um café aberto (o que deve ser mais fácil de conseguir durante o resto do ano). a todos, um ano o mais feliz que conseguirem, porque muito do que conseguimos, bem, somos nós a conseguir.

p. s.- fotografia do pequenito