quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

des-escrição do maximbombo











não é uma pessoa, mas tem carácter pessoal.

uma coisa que acabo por fazer muito, são mudanças, para mim, amigos, família, quem precisar. quem vai invariavelmente comigo (além do meu irmão, que acho esteve em todas), é o maximbombo, velho de 20 anos mas sempre pronto a servir com dedicação (excepto quando está de baixa, o que vai acontecendo cada vez mais).

no fim de semana lá fomos outra vez, noitadas para e de lisboa, rabo sentado nos bancos cheios de pó, 80 a 90 km/hora, truque nas luzes de máximos, carroçaria a roçar o chão de carregado, o velhote não falhou. a certa altura, com um salto maior, a chave caiu da ignição, mas nem assim falhou.

há pessoas que sabemos contamos com elas, e o maximbombo é dessas. só não é pessoa, em certa perspectiva.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

des-escrição do sr pinguim












do lado sul do apartamento há uns cafés muito antigos: o ld (de "lancha de desembarque", porque o sr ribeiro se bateu nas áfricas), o abadia (onde nem sei o nome do fulano, antipático que é) e o pinguim, bodega portuguesa, explorada pelo sr manuel e a sua senhora.

o pinguim é minúsculo, duas mesas lá dentro encavalitadas no balcão e duas cá fora, a ocupar meia largura de passeio. a clientela é de duas vertentes: as senhoras educadas (alguns senhores, também, mas poucos), que entram para um café rápido, ao balcão; e uma xusma de bebedolas, que começa o dia com taças e jeropiga e vai alimentando a álcool o entusiasmo da jornada, com (re)visitas regulares.

o sr manuel (a joana gosta de lhe chamar sr pinguim, e à mulher sra pinguim, mas parece que ele não gosta e ela ainda menos, ela a sra pinguim, de quem não sei o nome) é polícia reformado, ainda mantém contactos, e é a pessoa certa para desenrascar uns conhecimentos em alturas de necessidade. ser reformado da polícia, mais os conhecimentos que isso acarreta, permite-lhe gerir muito bem a clientela da bebida e do barulho, equilibrando-se muito bem com o trato gentil às senhoras (e a mim, sr arquitecto), porque o homem é gentil por natureza, e ele não se desperdiçou na força.

certo é que o pinguim tem mais clientela que ambos ld e abadia, que lhe são, juntos, maiores de dez vezes.

também certo é que a sra do sr manuel faz um rolo de carne (que não é rolo, mas é cilíndrico e feito de carne, recheado com sei lá que lambarice e coberto de um molho a pedir que o lambam) que faz sucesso entre os clientes a precisar de uma sandes para o almoço (um dia, para me convencer, disse-me que a minha senhora gostava muito, e é verdade), e nós vamos sentir falta daquela bodega.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

des-escrição do meu engenheiro







de introdução: já escrevi aqui que a má relação entre arquitectos e engenheiros é exagerada e que me dou muito melhor com engenheiros do que me dou com colegas, quase sempre. a acabar a introdução, o meu engenheiro não é propriamente o meu engenheiro, é um dos meus, e nem é só meu, é de outros. mas é meu há mais e melhor tempo.

o meu engenheiro deve ser a única pessoa a quem eu reconheço como mais e melhor idiota do que eu (em ambas, quantidade e qualidade). é um unha de vaca quase sem limites, de arrancar os cabelos ao ver, mas quando chega aos limites, é de uma generosidade deliciosa, como se lhe rebentasse o dique da avareza. é teimoso como uma mula e enerva-se descontrolado, mas ai de quem falar mal da mulher, dos filhos ou dos amigos. abusa no ferro do betão, mas vai à obra, e suja-se com o pessoal, e fala de igual para eles.

mas a característica dele que eu prefiro é indignar-se genuinamente com mesquindades alheias. e não se indigna de "filho da puta!", indigna-se de "está mal, não está?", sentido.

so, here's looking at you, my friend, long due.

sábado, 29 de outubro de 2011

a ferros










há coisas que não sei fazer (ou não sei fazer de determinada maneira) e nunca vou saber, seja por incapacidade ou opção.

um burro não voa (dizem) e pássaros não carregam albardas; há quem voe, há quem nade, há quem ande, quem gatinhe, quem corra, quem rasteje, quem salte e pule, e há quem fique imóvel; há quem escreva, quem dance, quem filme, quem cante, quem fotografe, quem grafite, quem pose, quem gestualize, quem mimetize, e há quem silencie de todos os modos imaginários.

não importa o que se é, desde que se seja o que se é. importar, importa, mas só depois, em segunda análise.

a mim mói histórias de gente que tenta forçar outros a serem-lhes iguais, de irmãos que não se entendem (mói porque estou bem habituado), de rejeições de pessoas fascinantes.

dói-me que essas pessoas fascinantes sejam incompreendidas por tais motivos (porque lhes dói), mas não me fazem pena. pena tenho dos imbecis que, colocando-as de parte, ficam sem usufruir do fascínio que elas emanam.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

damn, fool, it is simple










why does kadafi needs to die, why couldn't he share? and eduardo dos santos, and all the other abusers everywhere (political or hidden)?

i'm a little drunk, and i need to write this.

what if the world was turning right? what if every sun of a bitch gots to die with a round of bullets? what if solidarity rules everywhere and beyond?

i lunch at a place were everybody seats at the some table (we, in portugal, have a delightful costume of putting a table one inch aside, so that people feel privacy, it uses to amaze me, now i just adore it), people from factories, eating with hungry generated from physical labor, people that don't care about millions and is fooled everyday by those who have them, people that fells solidarity.

damn, the world is wrong, we don not care about our equals (or differents), but i (maybe want to) start to believe we're starting to. it's when one have nothing that one have nothing to lose, so that one are ready to take it all.

my brother posted this photo with some kids playing in an improvised merry go round. we were all like that, we were born free, and beautiful, and caring, we didn't need fancy things to be happy, we made everything happy, my kid does it, with a card box, if need be. in a lot of places in the world, people gets just happy so that they can eat and feed their kids, sleep and kiss their kids to dream, talk and listen to their kids laugh.

what else is there that is so important, fools?

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

des-escrição da(s) mulher(es) que pede diariamente à porta do pingoce com uma criança














odeio o raio da mulher, todas as manhãs sentada na rampa de acesso ao pingoce, com uma criança de colo ou a brincar ali ao lado. ela lamuria pedidos de ajuda, porque, diz, a criança tem fome.

acho que a criança não é sempre a mesma, e já me ocorreu possível que a mulher também não seja, que se revese com outra(s). (por vezes há também uma velhota, mas sozinha, sem criança, e ela parece não ter alternativas). já a(s) mulher(es).......

eu admito que qualquer pessoa precise de ajuda, ocasionalmente. admito que qualquer pessoa tenha direito de escolher mendigar e viver bem ou mal disso (não respeito, mas não impinjo o meu modo de vida a ninguém, nem espero que mo respeitem, que se lixem).

o que me rói  é a criança ali fechada, na rua, à entrada do supermercado, todas as manhãs.

eu acredito que se ensinarmos uma criança a voar, ela pode ser pássaro; se a ensinarmos a andar, ela será vertical; se a ensinarmos a conviver com respeito, ela será sociável; se a ensinarmos a ver sem limites, ela vai sonhar.

mas se ensinarmos uma criança a rastejar, ela vai ser cobra, e a culpa é da *+&%!# daquela mãe, que lhe limita o mundo na mesquinhez. eu sei que a criança tem fome, mas nem sabe do quê.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

des-escrição do casal de cegos da paragem do smtuc














em coimbra, vivo perto da acapo, associação de cegos e amblíopes. calha, por isso, frequentemente, cruzar-me com cegos, na rua.

um casal cativou a minha atenção há bastante tempo. ambos cegos, têm uma menina que não é. é engraçado quando os encontro aos três na paragem do autocarro, porque quando vem um (autocarro), a menina dizia aos pais qual o número, e agora, mais crescida, já diz se é o que vão apanhar ou têm de continuar à espera.

eles faziam compras no pingoce daqui, principalmente a senhora, por vezes com ele, também. já os conheciam, lá, e havia sempre uma funcionária que os acompanhava, levava o cesto das compras, escolhia-lhes a fruta, serviço completo com simpatia e carinho.

há já algum tempo, a senhora começou a trabalhar lá, no pingoce. serviço de repositora, provavelmente auxiliar, sempre a necessitar ela de auxílio, e sempre auxílio a haver. a menina não vejo há meses, mas hoje cruzei-me com os pais, iam à cafetaria do supermercado, guiados pela funcionária mais bonita (por causa do sorriso), e estavam bem dispostos, sorriam também, a evitar os obstáculos.

nunca os vi com má cara ou com más palavras. poderia pensar-se que são cegos, que não vêm os males do mundo, mas seria errado: sendo cegos, vêm bem. eu inclino-me mais para o motivo dos sorrisos deles ser precisamente esse, o de quem sabe ver a parte boa da vida.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

des-escrição de virgílio, táxista na terceira














(tenho escrito tão pouco que já nem sei onde é o botão de nova mensagem)

hoje vou iniciar uma série dedicada a pessoas com quem me cruzo, ocasionalmente, ciclicamente ou constantemente. o motivo pelo qual as escolho para as des-escrever terá a ver com alguma particularidade que os des-escritos tenham e que eu ache des-escritível.

e para começar poderoso, ladys and gentleman, without further ado, i present, virgílio, táxista na ilha terceira.

virgílio tem 67 anos e trabalha no táxi há coisa de 40 e tal, desde que deixou o serviço militar ("força aérea", diz de orgulho). tem 4 filhos (dois casais), todos orientados, menos a mais nova, que está a caminho de se orientar com um rapaz do continente, que vive e come lá na casa do virgílio, a quem ele quer deixar a carteira profissional (quando se reformar, mais dois anos, para se dedicar à pesca), mas a quem falta acabar o 9º ano (ao futuro genro).

o meu táxista tem 7 ou 8 anéis de ouro nos dedos das mãos e anda com a carteira cheia (no sentido absoluto, exagerado) de notas de 10 € e 20 €, coisa que reparei e comentei, "...se não seria perigoso?". virgílio riu bem, mostrou o ouro nas mãos e no peito (outro tanto) e disse que sempre era assim e nunca tinha sido assaltado, por fazer o horário diurno. eu inclino-me mais para o look de guerreiro cigano e desenvoltura no trato, mas o motivo é irrelevante.

gostei do homem ainda antes de ele me cobrar menos euro e meio que a tabela, e fiquei-lhe com um cartão. agora, virgílio, mais que táxista, passou a meu motorista particular (muito ocasional, mas ainda assim, particular).

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

i'm high










subtitled: thoughts during a planeflight

.....

i made the scanner beep, at terceira airport, and no one come to search me, the official just looked at my large pants pockets and smiled me forward, and i missed the days i flew from s. miguel and was, inevitably, hand searched by the some bald guy, always pleasantly smiling, a candid smile i come to like, and now, it seems, miss.

.....

(because of a 9/11 report on the tv, in the waiting roam), life should not be about wishing pain to your fellow human, although i understand someone's cruel moves when said someone have nothing important to loose (because it was stolen), and i even admit i wished for something worst to another human beeing (human, here, in a very foggy sense).

life should be about eating spicy food at lunch and fresh salads at dinner; making illegal (in some countries) sex to your boy/girl friend(s); listening to (how much as you like) loud music; do your job (should have one, obvious) as if it wasn't paid; dream crazy mad dreams and thank the lord, daily, for madness; appreciate your kids growing before your eyes, by themselves, free style; hug and be hugged by friends and familiars every day, several times a day; fight your battles proudly, win or loose, land vertical, ass or horizontal, but always stand up proudly, alone or with a little help.

.....  

and now i board.

.....

i got a window seat, cause i use to arrive early to check-in, in a 3 seats row. on the other two there is a couple and, as i was seating, the guy asks for my ticket (by the window) and say mine is the corridor seat. i pretend to believe, even apologize, and "give" his gal the window, and everybody gets happy.

.....

damn (i'm taking off as this happens), across the corridor, in the opposite window, there is a fair maid, stressed, chest pumping disorderly, and i want to jump 3 seats  to old her breath. well, not her breath, exactly, but all it's contents.

..... 

i'm a mp3 neofite, just loving it. there is something to write about listening to imelda may when nobody else does. there, i wrote about it.

.....

now, the neighbor couple starts making out (maybe an over statement, but not by far) and i so want to jump the fair maid, now sleeping, head to the window, dreaming....

.....

the mp3 shout "let me out, let me out, let me out", but i have no shoot.

..... 

the plane might be the other one listening to my mp3, cause it's rocking. the pilot says something about turbulence, so, he is, definitely not, listening to "johny got a boom boom", like we do.

.....

and now plays wagner's walkure! how perfect can the world be, my friends?

.....

"senhores passageiros, sejam bem vindos a lisboa", says the captain of the ship, ah, plane.

i'm broke'n rich, landed and still high. will be with mines, today, with my gal tomorrow or the next, and my kid soon (although never soon enough). i wouldn't want it any other way (and even if i wanted, didn't know how).

so, i'll get my lugage, find a wireless spot, edit and post this.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

s simão



vacaciones em cima do joelho, dias sacados dos de trabalho, conjugados com as disponibilidades necessárias, quilómetros de estrada (por duas vezes) até encontrar a fraga de s. simão, para uns mergulhos no fresco.

sometimes, all you have is part, and part is enough, until you have it all (because that's a very tasty part).

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

i need a mobile (like, really bad)



houve uma altura em que se faziam muitos filmes e livros utilizando o medo que as pessoas tinham de as máquinas dominarem o mundo, adquirirem vida autónoma, revoltarem-se e abusarem a raça humana.

como quase todos os medos imbecis, esse também se dissolveu. no entanto, sem que as máquinas utilizem inteligência autónoma (que quase a têm), estamos mais dependentes delas do que seria temível, antigamente.

um fulano sem telemóvel, hoje, é pior que o arnold sem roupa, diabos.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

os fidalgos e os muitos outros



a pior coisa que se pode fazer a um ser humano é priva-lo de um filho.

.........
há algum tempo atrás desapareceu a filha de um casal inglês, gente "importante", e o país andou numa fona, toda a gente especulava acerca do paradeiro da menina, de quem seria o culpado pela monstruosidade, depois porque se intrometeriam autoridades inglesas na investigação portuguesa e por diante.

anos depois, ainda nada se sabe da criança, mas toda a gente se lembra ainda do caso. e escreveram-se livros (bem sucedidos comercialmente, porque as pessoas gostam de estar bem informadas acerca das perspectivas nestes casos importantes), agentes foram dispensados (ou algo parecido, não segui muito ao detalhe), muito dinheiro e meios investidos na investigação, há imagens que mostram como a menina será(ia) hoje, e por diante.

mas crianças desaparecem ainda e sempre, cá e pelo mundo fora. e fico fudido porque para a esmagadora maioria não há sequer dez segundos nos noticiários, uma pequena caixa nos jornais, umas frases nas rádios. isso não é notícia, notícia é se for um fidalgo, filho de algo, de alguém importante.

na síria (só de exemplo), desaparecem crianças aos magotes, de forma coordenada, impunemente. não vai aparecer em nenhum noticiário, televisivo ou radiofónico. talvez um artigo num jornal de pouca tiragem (porque jornalismo, hoje por hoje, tem pouca saída) e nada mais.

é bárbaro atingir crianças. é reles o tratamento sensacionalista dos factos. é vergonhoso o impacto diferente que têm factos iguais, consoante a "importância" da criança, porque não há crianças mais importantes do que outras.

não há.

a menos que sejamos pais, e aí o nosso filho é, absolutamente, a criança mais importante no mundo. mas só para nós, não para o mundo.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

as minhocas desabrigadas



pessoas vivem em casas (quando as têm), lobos em matilha, nas serranias (com bela vista para o luar), baleias no mar (haja espaço), cegonhas em cima de postes de tensão alta (nunca falta a luz), caracóis em caravanas que portam, e minhocas.....

bem, minhocas podem escolher: maçãs maduritas, as que não têm vertigens, e aproveitam para fazer da despensa, casa; ou na terra, onde há menos variações de temperatura e a vida é mais tranquila, no pasa nada. será?

vamos imaginar uma destas minhocas da terra, acabadinha de limpar o pó à casa, a preparar-se para ir ter com as amigas e dar um passeio ao húmus superior, quando, de repente, zing boom, mas no mau sentido!

hoje foi dia de escavação, máquinas em manobras, abrir vala de fundação. e no meio da quantidade absurda de lixo que se consegue descobrir enterrada em terrenos virgens (provado, virgens já não há como antigamente), eu ia jurar que vi mobília de minhoca a céu aberto, e ia jurar que ouvi, em mui baixos decibéis mas elevado rancor, uma mão cheia de vozes de minhocas a reclamar, em maus modos, do despejo forçado.

e claro que um fulano tem de simpatizar com as minhocas, o mundo é dos poderosos......

domingo, 24 de julho de 2011

amy



there is no wrong or right way to do it. sometimes living is just to heavy. sometimes just to stupid.

sometimes, dieing is relieve, sometimes is final freedom, sometimes it's a waste.

some people are missed, when gone. those are the ones that lived, those are the ones that actually died, and because of that, they never do. for those, i feel no sorrow, i just miss them.

domingo, 17 de julho de 2011

o motorista do 37



ando em maré de sorte, por estes dias, e calhou-nos uma coisa doce, depois do almoço. íamos à procura de uma coisa e tivemos de apanhar autocarro dos smtuc (transportes urbanos de coimbra), no caso, o 37.

o doce do título foi o motorista: fulano de 50 anos, regular no horário, conhecia os passageiros quase todos (quase todos idosos, muito), até os que estavam nas paragens e não entravam. falava com eles, perguntava como estavam, brincava, o diabo a sete.

a uma senhora apanhou para andar menos de uma paragem (ela entrou a perguntar se a levava até ao fundo da rua, e o motorista: "até onde a senhora quiser ir", o que parece é ilegal fazer, mas muito gentil). outra, sentada na paragem quando ele lá parou, ia apanhar outro autocarro, mas entrou na mesma, para lhe dar um beijo. a um velhote, numa ainda outra paragem, ficou alguns segundos a falar da reforma, em tom de galhofa. a nós, explicou onde saíamos, por onde íamos depois de sair, uma simpatia tal que me decidi a voltar atrás e fotografar o cú do 37, para ilustrar o post, e a escrever aos smtuc, a gabar o motorista.

numa altura em que toda a gente se queixa, arranja quezílias gratuitas, mete intrigas reles, põe má cara como se a culpa dos seus males fosse alheia, o motorista do 37 faz ao contrário: ri, sorri e gargalha. e eu, agora que escrevo, fico convicto que algumas das pessoas nas paragens, que lhe falaram sem entrar no carro, talvez não fossem para um destino diferente: foram só até à paragem, meter uma cavaca com o motorista do 37.

bem haja.

sábado, 16 de julho de 2011

os gestos do amílcar



uma coisita que andava para fazer ao tempo calhou de se proporcionar, numa daquelas conjugações de factores que nos levam a quase acreditar no destino. quase. uma amiga de um grande amigo veio ter comigo para resolver um problema burocrático, numa loja que a mãe arrendou; a loja é utilizada como centro de aprendizagem de língua gestual; tive de lá ir rectificar um levantamento e o gustavo enamorou-se da ideia de experimentarmos.

e marcámos e fomos.

e digo-vos, caríssimos, é uma experiência digna. comunicar, associado a eliminar fronteiras (suponho que isto é uma redundância), já é nota digna suficiente. mas língua gestual é uma forma diferente de falar o mundo, de uma plasticidade realmente infinita, com regras simples e abertas a representação pessoal, capaz de unir pessoas como nenhuma outra, porque toda a gente gestualiza, e é disso que se trata.

a escrita é rica, e permite uma certa musicalidade; a música e o desenho ainda mais; a palavra falada tende a ser monótona, até se entrar na entoação, nos sotaques. mas a palavra gestualizada, ainda mais quando pelo amílcar (que comunicabilidade! que amplitude! que sorriso!), repito-vos, chega a ser sublime e saímos sublimados.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

in this house.....



we do this, and we're god damn happy, thank u very much.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

o anti-desporto



na grécia antiga, primórdios do olimpismo, as guerras paravam para os jogos decorrerem. mais longe, mais forte, mais rápido, homens (na altura não participavam mulheres) excediam-se, alcançavam e ultrapassavam limites por glórias pessoais e de estados nação.

certamente já havia batotas, interesses, rivalidades, mas os jogos ficaram até hoje (prolongando-se nos de hoje) como símbolo do que há puro no desporto (apesar de boicotes políticos, "transferências" de nacionalidade interessadas (não sou muito a favor de fronteiras nacionalistas, mas não gosto de chico-espertices), batotas químicas e da vertente económica).

sim, o desporto hoje já não é assim tão belo.

......

o tour de france vai começar no fim de semana, sem que nenhum adepto razoável tenha a ilusão que a corrida está limpa de doping.

afinal, o campeão, alberto contador, que se apresenta a defender a vitória do ano passado, foi controlado positivo, e pode correr, porque apresentou como explicação ter comido carne contaminada (e jura que não voltou a comer carne desde então, nem voltará enquanto competir), explicação aceite (aguarda decisão final, o que não o impede de correr). na apresentação da corrida deste ano, foi assobiado pelo público, mas corre na mesma, porque a vergonha não lhe pesa ao trepar montanhas (deve pesar, mas o doping alivia).

o maior adversário é um rapaz suíço, andy schleck, nunca apanhado em controlo, cuja equipa é treinada por bjarne riis, antigo ciclista dinamarquês que ganhou a prova em 1996, sem controlos positivos. já retirado e a treinar, admitiu recentemente ter-se dopado, inclusive na corrida de 1996, mas continua a treinar a equipa (provavelmente porque a experiência, nestas coisas, vale a amarela).

floyd landis ganhou em 2006, foi testado positivo e perdeu os louros. reclamou, andou anos nos tribunais a descredibilizar os laboratórios que analisaram a análise e, finalmente, sem mais recursos possíveis, admitiu o doping e acusou outros, nomeadamente,

lance armstrong, 7 vezes vencedor, sem qualquer controlo positivo. acusado por vários colegas de se ter dopado, nega ainda e sempre. não é fácil acreditar, no entanto, que um fulano, num pelotão de dopados, tenha ganho 7 vezes limpo.

a lista de ciclistas dopados é extensa, sendo o tour de france palco excelente. a corrida deste ano começa sábado, para utópicos.

.......

a nba entra hoje em lockout.

eu adoro aquilo quase tudo, excepto a vertente mercantil.

lá, trocam-se contratos de jogadores por interesses de clubes (franchise), sendo estes (e famílias) obrigados a mudar de vida de um momento para outro, sem direito a palavra. basicamente, são mercadorias, bens (assets) principescamente pagos.

curiosamente, não é esse o motivo para o lockout (que se traduz num parar de tudo, suspensão do campeonato e tudo que tem associado). o problema é que os donos dos clubes acham que estão a pagar demais aos jogadores e querem regras novas, que lhes garantam lucros. os jogadores, curiosamente, também não reclamam deixar de ser tratados como mercadoria, querem apenas garantir os valores dos salários actuais.

tudo parado por tempo indeterminado, até milionários chegarem a acordo como dividir bilhões.

........

já as paixões que o desporto provoca são conhecidas, principalmente no futebol.

se são belas quando se ganha (o atlético subiu!), podem ser vergonhosas quando se perde. exemplo mais recente é o do river plate, clube que desceu de divisão pela primeira vez na sua história de 110 anos, com os hinchas a expressarem a desilusão violentamente.

......

nada como o beach volley, digo eu. ou cheese rolling. ou strip poker. (o quê? não é desporto?)

dreaming reality



i was in a bar, with milady.

also there, was a guy that looks just like a character in a television series ("pillars of the earth", the big bad guy, there), using a lap top (not the big sword, from the show). we wanted to use ours, to, and i went looking for the pretty waitress (whose face i knew, but couldn't remember were from), to ask for the wireless password.

so, i into myself in the large kitchen (i do that, really), and found the owner, lived lady, dressed just like carmen miranda, without the bananas. she was holding a jar of fruit juice (i bet pineapple), and come towards me, lovely smile on her face, questioning what i need.

there was a bird singing, out of sight, and i inquire about were....

rriiiinng.

then my phone rings and i wake up. fast call from a client. time to rise butt, unfortunately, leave dreams behind.

yet, the some bird was still singing, outside my window, and i was now awake. there was reality in my dream, witch is a nice balance, 'cause i abuse dreaming in my reality.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

a querida júlia e o shocolari



tenho ido almoçar a casa de um cliente (com evidente prejuízo para a linha) quase todos os dias, esta semana. lá, calha ligar-se a televisão para ver o noticiário da uma, e ontem calhou ser na sic.

antes das notícias, estava a dar o "querida júlia". para quem não segue televisão a esta hora, é um programa apresentado pela querida júlia pinheiro (que eu tenho ideia de em tempos muito remotos ter tido pretensão de ser jornalista, mas pode ser a minha memória fraca a trair-me outra vez). hoje, a júlia apresenta programas (no plural, porque também apresenta um acerca de pessoas gordas que tentam perder peso, numa competição que passa na tv (sim, porque cada um faz o que quer com a respectiva gordura excessiva), espectáculo muito dramático).

no "querida júlia" só apanhei o final (não sei se o programa é todo assim ou foi sorte), ela fala de assaltos, acidentes e outras desgraças, mas com classe, nada como o albarran "o horror, a tragédia....". com um toque de moral, ela faz uma cara de quem não acredita no mal que as pessoas se fazem, no mal que o mundo está, e suponho que transmita a quem vê, esperança....

não, não é esperanças que ela transmite, é o mesmo horror e a mesma tragédia, noutro tom. suponho mesmo que ela pense que as pessoas são estúpidas de ver aquilo. não, também não pensa, ela deve saber, mais a produção e os analistas de audiências.

o shocolari dizia, "e o burro sou eu?". ele sabia quem era(m), e a querida júlia sabe quem são.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

sorri



é só porque foi dia de betonagem (vídeo no facebook), e tinha falado das centerfolds (fotografia no facebook) das janelas das cabines.

e também porque na janela da camionete grua estava esta frase, e porque as pessoas andam tristes, e sorriem pouco, e é capaz de ter tudo a ver.

nós, por cá, andamos a ver o spartacus.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

as eleições



como tenho andado preguiçoso nisto, hoje, que tenho a casa vazia, vou ser generoso e fazer dois post's. ou mais, se me apetecer, mas não sei se apetecerá.

não vou escrever das legislativas, nem da sucessão no ps, nem se o portas se vai governar, nem se o cavaco está a cumprir a constituição (tão mal tratadita anda, e há tanto tempo), nem da porcaria de emails que estou farto de receber acerca do fulano do mep (calhei numa maillist daquilo, e agora é spam todos os dias, das mais variadas fontes, como se eu fosse militante. é o que dá um gajo ser educado e não endereçar ninguém a outra parte, acho), nem do garcia pereira continuar fora do parlamento (certamente grouxo diria que não queria pertencer a um parlamento que deixasse de fora garcia).

vou escrever da associação académica de coimbra/ organismo autónomo para o futebol, que teve eleições ontem.

eu não sou da aac/oaf desde pequenino, mas já fui sócio e sou simpatizante desde que vim para coimbra, quando eles andavam pela segunda (que na altura não tinha a honra que tem hoje, era zona centro e chegava). simpatizo(ava) com o clube por questões de empatia de proximidade, mas principalmente porque era dos poucos (com o belém, até ao mateus do gil) que se orgulhava de realmente ter uma auréola de honestidade (e pobreza, esta sem orgulho mas também sem vergonha).

agora, e de há dois mandatos para atrás e pelo menos mais um para a frente, porque o simões reganhou, o clube abandalhou, envolvido na ligação bígama do presidente com funções de director de urbanismo na câmara municipal, culminadas, há pouco, em sentença condenatória a prisão efectiva (recurso pendente, o que deve querer dizer muito).

naturalmente, o engº simões acha que ter sido condenado (pendente recurso) não é impeditivo de se recandidatar e 57% das(os) sócias(os) concorda com ele.

muitas felicidades. ou profundos sentimentos.

betonando



uma das minhas actividades favoritas, profissionalmente, é assistir a betonagens.

gosto porque nessa altura o meu trabalho está feito, a ser executado e começa a ser visível, e pela logística e dinâmica do processo. gosto ainda mais porque já quase responsabilidade nenhuma tenho, o que me deixa numa situação de tranquilidade a observar o frenetismo (nem sei se a palavra existe) alheio.

pois na 2ª de manhã foi dia de betonagem (data da fotografia), e amanhã de tarde volta a ser (a parte final do muro, coisa delicada de marcar, principalmente sem topógrafo. quem não tem cão caça com gato, e o gato naquele muro sou eu).

hoje já lá fui, de manhã, marcar o outro muro ("que não mete medo a ninguém"), que tem um troço curvo, que marquei a spay no chão. e amanhã volta o camião do betão, com as centerfolds nas janelas laterais da cabine....

ah, as betonagens..... life's got it's days, in the building business.

domingo, 5 de junho de 2011

o jorge e a rita casaram



pre(s)- kinda drunk, hard long party.
wish gustavo were there, he would've ruled it. by the way, if you wanna have a real interesting weding, wed in the beach, all the girls take their sandals of....

..................

há alturas, momentos na vida em que temos certeza de estar certos.

eu tinha (e ainda tenho, inactivo, porque nunca abandonei mas já não uso há muito) um parâmetro de análise que é o seguinte: se olhar, algures durante a noite, para a pessoa a dormir a meu lado e comparando com qualquer outra, conhecida ou desconhecida, real ou imaginária, imaginária ou beyond imaginária, saber que estou com quem quero, nem me passar pela cabeça trocar, isso faz-me saber certo e com a pessoa certa.

estar assim certo aconteceu-me, consistentemente, duas vezes na vida (sem consistência, aconteceu mais duas ou três vezes, pelo menos. casos de má fortuna, erros meus, paixões ardentes. dores curadas).

hoje, a miúda mais gira da festa (depois da minha) meteu conversa comigo. estas são coisas que acontecem quando um gajo está acompanhado, nunca quando está sozinho (é um daqueles mistérios que ainda tenciono aprofundar, e depois partilho). aconteceu eu, dada a minha condição de felicidade, dedicar o mesmo carinho à moça que ao fulano a servir bebidas (que me acha fiel).

melhor ainda foi a moça se dedicar (muito) mais à minha (moça) que a mim, o que já não é para aqui chamado, para o assunto da minha felicidade presente (apesar de ser relevante, a outro nível, ou, não o sendo, ser pelo menos muito agradável).

there's a lot of happyness that spread from happy people
.....

o que quero escrever com isto é: hoje, o avô da joana, que não ouve e por isso tem dificuldade de comunicar, perguntou-me (e a conversa foi basicamente só isto): "estão felizes?", e eu fiquei abismado porque ele, perguntando só isto, perguntou tudo.

a resposta só pode ser: estás feliz; a caminho de ser feliz; ou errado.

sábado, 28 de maio de 2011

kelly's on the train



this girl is kelly, she railed with us this morning, front seat, her back to us. kelly was happy, this morning, talky. so, when we started clowning, she started laughing and interacting, and people around started smiling.

then, her mother, by her side, back to us, started complaining, told her several times to seat straight, stay quiet.

kelly's mother is a fat lady, that kind of fat person who seams to balloon on retaining bitterness (there's also fat people who seams to grow fat by eating and absorbing pleasure, and they are happy and beautiful, wonderful skin, wonderful attitude, wonderful body language). whatever the reason for her unhappiness, she didn't let kelly have a happy rail, and that's got to be bad, cause kids should be allowed to play, to express freely and to spread happiness.

kelly seams to disagree with her, and fool the rest of the way.

we didn't like kelly's mom at all, but the kid is great, and we and some other carriage neighbors owe her a god rail, so, here's looking at you, kid!

(damn, can't take the pic out of the mobile, i'll post it later....)

terça-feira, 17 de maio de 2011

o pingoce vai fechar



o daqui de baixo, para obras, fiquei a saber hoje pelo funcionário da padaria.

eu sou viciado naquele espaço, são menos os dias que não vou lá que aqueles em que vou mais de uma vez. gosto das pessoas, e das clientes, e o ir dá-me para pensar, seja em trabalho seja noutra coisa qualquer.

a joana diz que sou viciado em supermercados, mas acho que é só no pingoce cá de baixo, aos outros vou para variar. sou viciado e agora vou sentir falta, deu-me um vazio na alma quando soube das obras, e agora vou ter de ir ao jumbo e aborrece-me, porque não gosto lá muito das funcionárias do jumbo, nem muito das clientes.

ando com a sensação de quando o general fechou para férias e tivemos de ir à rubyana uma data de dias seguidos, e não parecia certo, e agora vai ser assim estranho outra vez.

porrinha.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

the weight of money



money is not a bad thing, by itself. the need for money usually is, being "need" a personal parameter.

million dollar question (pun intended) is: when each make a decision, what drives him/her? is it more about the financial perspective, or is it the personal one? do one chose the most lucrative option available, the most moral and personal one, or what kind of compromised percentage?

i have a personal thing to sell. i need the money from that sell, but being a personal thing, i'd love for it to be bought by someone i personally appreciate, someone whose use made of my personal thing would be of my liking. but what if it is to be bought by someone i don't like, someone i'm displeased at the idea of using my thing, just because that someone puts more money on the table, more right zeros on a check?

today we meet a couple that might buy it, and we loved them. they got a little girl, still a baby girl, and she loved it to, showing it in a babyly baby way. amazing vibes, good karma. we looked ahead and easily see them three happy using our thing.

now, i'm a believer in deciding for the right reasons. so, i'm not a rich person, never will be (well, haven't check the loto this week....), maybe i'll just bankrupt somewhere along life, but i stubbornly try to keep deciding for no financial reasons.

i just hope that good karma comes with a little money. doesn't have to be much, just enough. no worries, karma's on our side. i mean, it's gotta be, right?

terça-feira, 3 de maio de 2011

fobias minhas



há alguns filmes que não consigo rever, um impedimento visceral.

breaking the waves, de lars von trier, é um deles. adorei o filme, mas a salvação de um pela perda da outra é um conceito fora dos meus limites, fisicamente doloroso de considerar.

leaving las vegas é outro. pessoalmente, apaixonei-me perdidamente pela sera, quis ter (ainda quero) alguém assim quando me perdesse (perder) no final. pessoalmente, temia chegar a um final sem passado, e já não temo. mas arranjo sempre uma desculpa para não rever o filme.

ladri di biciclette é o melhor deles, e o que mais me pesa. é um filme do realismo italiano, de 1948, do vittorio de sica, que conta a história de um homem que não consegue arranjar trabalho. para tal precisa de uma bicicleta, que não tem. tenta roubar uma como solução de vida, é apanhado e desgraçado. e o que me doí é que o filho dele assiste, vê o pai cair e ser desgraçado. e doí-me de morte e não consigo rever aquilo.

um fulano sem filhos não precisa deles para ter moral, basta que o tenha. um fulano perder tudo deve ser tremendo, e não precisa ter filhos para que o seja. um fulano cair e desgraçar-se será o limite do suportável. um fulano cair e desgraçar-se em frente a um filho pequeno é para lá disso.

todos temos pânicos absurdos, fobias. eu tenho esta, e não consigo rever o filme.

domingo, 1 de maio de 2011

dia de ....



dia da mãe.

e dia do trabalhador.

.......

quinta-feira, 28 de abril de 2011

ai weiwei



existe um dizer (dito por agostinho da silva, julgo) que é algo parecido com isto: "de barriga vazia não se consegue pensar bem", relacionado com o facto de quem tem fome e preocupação de alimentar os filhos não ter disponibilidade para a cultura (o que é verdade e simultaneamente erro, por motivo dos extremos se sobreporem).

o maior problema do mundo é a desumanização do homem pelo capital. um caminho de salvação/regeneração é a solidariedade. outro, complementar, é a manifestação artística.

escrito isto, ai weiwei é um artista chinês.

é um gajo teso, que alcançou uma posição (meritoriamente) reconhecida, de onde pode dizer o que pensa e produzir impactos. o que é mui digno da condição humana e da condição de artista (porque a arte é manifestação do humanismo, humanidade, ou o inverso, por motivos de sobreposição de.....).

é também chinês, o que não tem nada de mau, mas agrega o facto de viver na china, o que tem algumas coisas de mau, principalmente se um gajo diz o que pensa, pensando diferente do pensamento predominante (não é só na china, qualquer limitação ao pensamento e sua expressão livre é uma aberração, o regime chinês calha ser um exemplo fácil (a história de se porem a jeito)).

ai weiwei está desaparecido em parte incerta, após denuncia de corrupção estatal, e a avaaz (organização nada governamental, que visa influenciar governos e outras instituições instituídas, através de petições online de divulgação mundial. aconselho uma vista de olhos) tem a circular uma petição que sugere a artistas de todo o mundo um boicote artístico à china (recusando participar em feiras e eventos culturais, recusando vender arte) o que afectaria uma classe abastada chinesa, interessada em potenciar-se através da propriedade artística.

e se resultasse? e se um boicote cultural fizesse o que o baixar de calças capitalista nem tenta? vou jantar, que estou de barriga vazia.....

quarta-feira, 27 de abril de 2011

quim, joa quim



resultado de instinto animal (felino), temos outro mamífero (este voador) cá em casa. quim, joa quim, um morcego que o puskas trouxe do telhado, para companheiro de brincadeiras. o infeliz não se desenrascou a sair durante a noite e acho que acaba por passar o dia inteiro a dormir na casa de máquinas, entre pincéis e lixas.

já escrevi de instintos animais felinos, num dos primeiros post's do blogue, idos de dezembro de 2008, acerca dos limites humanos que tem a nossa parte animal. não podemos ralhar com o gato por ser gato, só podemos evitar que fique a caçar interminavelmente o quim, porque o morcego fica banana e desorienta-se de radar.

nós vivemos no centro de coimbra (num dos, aliás, no melhor), zona urbana, e somos algo privilegiados por acordar com passaritos a cantarolar o amanhecer (também já escrevi aqui disto, mas não encontro o post). hoje também estavam a cantar, os passaritos, coisa já normal, mas quando entrei na cozinha vi o squik squik a voar em círculos na sala (se o adoptássemos seria engraçado leva-lo à rua de trela (aqui imaginar e reproduzir gesto de dono com trela e morcego atrelado a voar em círculos)).

acho que o quim está de hóspede, deve sair esta noite, voltar aos manos que vivem num recanto do telhado. talvez volte cá, se não conseguir evitar o gato.....

terça-feira, 26 de abril de 2011

adiós? noo, nunca se dice adiós, se dice te amo



nem fmi's, nem títulos de tesouro, nem défices. nem amêndoas, nem ovos de chocolate (folar há, a meio, mas não é para aqui escrever). isto é acerca de viver.

chavela fez 90 anos e tem na página do facebook este texto acerca da sua "ressurreição" pessoal, não menos fascinante que a do cristo.

diz ela: "yo he ganado dinero para comprarme un mundo más bonito que este, pero todo lo aviento porque quiero morirme como muere mi pueblo", e: " yo no sé por qué a alguna gente le duele tanto la muerte, porque qué duele más, una muerte o perder un amor?"

viver deve ser comunhão com os nossos (e podemos escolher os seus), amar desavergonhadamente e desgraçar-se por esse(s) amor(es), cometer e repetir erros por teimosia de convicção, sentir as dores (boas e más) todas que nos doerem, cometer excessos e ser salvos por mérito e não por caridade.

ou então é outra coisa qualquer, que eu já não percebo muito bem.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

adel goes to dubai



so, when i got in, adel was happy, teaching guys how to work the computers and the printers. he come to me, and got happier, cause i was going to print autocad drawings, so he could teach them that, to.

on a break, i asked him when he was leaving, and he told me "sunday".

me, "this sunday?"

adel, "yeah, going to dubai, for good", big smile.

i ask how it is there, living there, and he answers "it's great, you should come, lots of buildings being built, 100 flour, over a mile high, lots of work for architects".

i laugh, ask about the food, the women, the weather (all good, according to adel), before i decline "i can't, my kid's here, that's to far to keep seeing him".

he goes "bring him with you!" and i "wishful thinking, can't, he lives with his mother". for adel it's easy: "bring her along, too.....", and it all went down hill, from there.

not going to dubai, but he's happy about coming home, and i'm happy for his happiness.

terça-feira, 19 de abril de 2011

falar com o passado do futuro



(ou nacionalismo versus multiculturalismo). (com divagações iniciais).

há uma ideia generalizada de que arquitectos e engenheiros, por natureza, se dão dificilmente. comigo não é assim, tenho poucos amigos arquitectos e muitos engenheiros, e costumo retirar mais gosto, mesmo em trabalho, de conversas e discussões com engenheiros do que com arquitectos.

ontem, para cumprir favor profissional, tive de ir jantar com um engenheiro de que não gosto nada, homem negativo, malcriado, pessimista (antigamente é que era), com alardes de superioridade e tiques de solidão. mas tecnicamente, em matéria de drenagens, um bês (mais que um ás). e o balanço final ficou em mais, mercê discussão técnica, sentido de dever cumprido e qualidade do bacalhau afogado em azeite frito com alho, sobre a imbecilidade do fulano e desperdício nele de verba social que mui melhor seria aplicada com muita gente de quem me lembro facilmente.

adiante. a conversa, a certa altura, passou pelo evolução galopante do mundo, e diz o engº: "isto mudou tanto e tão depressa que já não tem mais por onde mudar". e digo eu: "você nem faz ideia do que isto vai mudar ainda.....".

e agora, o post:

a estrutura pessoal de cada um passa pelos parâmetros em que se revêm. por exemplo, peça-se a alguém para se auto-descrever (ou descrever outrem) e percebe-se quais os parâmetros que essa pessoa valoriza (e até em que sentido os valoriza).

há 50 anos atrás, uma das coisas que quase todos os portugueses diriam era: "sou português, etc....". hoje muitos continuam a considerar a nacionalidade relevante na sua definição pessoal, mas são menos, e cada vez menos. hoje continuam a influenciar-se mentes jovens com estruturas antigas (religiões, clubes desportivos, associações várias, por exemplo os escuteiros, ramos militares). mas cada vez mais existem novas estruturas, novas provocações, mais variadas e menos controláveis a influencia-las (às mentes), num nunca acabar de sub-culturas e nichos e originalidades e "aberrações" e bizarrias (as minhas favoritas).

hoje não se estranha (ou estranha-se, mas não deixa de ocorrer) que um puto português tenha tremendas afinidades com um puto chileno, e até se identifique mais com ele do que com outro miúdo português. é frequente que vizinhos (até irmãos) tenham gostos e preferências diferentes e distantes, e encontrem afinidades em alguém distante fisicamente (continent wide) mas semelhante em preferências. e o miúdo pode dizer, correctamente, que é como o chileno e não como o irmão português.

isto acontece fruto da circulação de informação (primeiro via televisão, no que parecia um salto abissal e se revelou um pulito face ao poder da internet) e circulação de pessoas, gerando divulgação e descoberta de interesses, práticas, actividades. e fruto do interesse brutal das crianças em assuntos que os cativem, e que cada vez mais estão disponíveis. aos adultos acontece o mesmo, em menor escala, fruto de defesas e restrições que nos auto-impomos, uns mais do que outros. mas, mesmo em menor escala, acontece também cada vez mais.

a mim parece cada vez mais difícil descrever uma pessoa através de um parâmetro global de definição, porque cada vez há mais parâmetros válidos e cada diferente pessoa se vai definindo através de diferente parâmetro. cada vez menos será possível ou razoável comparar pessoas, porque cada vez mais se estará perante casos de alhos e bugalhos, pessoas que existem num universo já não uni ou bidimensional, mas tridimensional (and counting, i guess).

em contrapartida, cada vez será mais estimulante conhecer pessoas, porque cada vez mais estas serão únicas, ricas, in-copiáveis (mesmo nas cópias que fazem), e o acto de as conhecer, de lhes tocar, é cada vez mais enriquecedor.

suponho que já não somos uma mole de pessoas, todas num percurso unidireccional (eventualmente com dois sentidos) comum (a velocidades várias), comparáveis ao percurso lisboa/porto da antiga nacional 1, que se fazia em 5 ou 6 horas, e somos cada vez mais perceptíveis como uma imagem aérea de acesso a uma grande metrópole, cheia de entradas e saídas, viadutos sobrepostos, e mesmo esta imagem peca por defeito, porque há a acrescentar quem faz o percurso de comboio, ou metro, ou autocarro, felizardos que vivem dentro das cidades, outros em barcos, ecólogos que só andam de bicicleta, outros que não vão para a cidade porque estão desempregados, ou trabalham noutro local, ou em férias......

o mundo muda, a bola pula e avança. let's have fun.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

ég er íslensk



(eu sou islandês, em islandês) por estes dias e cada vez mais.

para fazer um resumo, os islandeses votaram em referendo a recusa de pagar um prejuízo gerado por investimentos privados num banco islandês, obrigando o governo a não aceitar responsabilidades de indemnização aos governos inglês e holandês, por estes terem indemnizado os seus cidadãos por perdas de investimentos no banco de investimento islandês online icesave.

os argumentos para a recusa de responsabilidade pública são, simplificados, que os islandeses não deverão ser os únicos responsáveis por repor os valores, tendo em vista que o banco por trás dos investimentos (landsbanki) terá interesses e património suficientes para tal, mas tem-nos offshore.

porque raio hão-de os populares ser responsáveis por negócios de empresas particulares (bancos)? não é por reciprocidade, uma vez que não existe dos bancos co-responsabilidade pelos investimentos dos clientes. aliás, não existe dos bancos sequer co-responsabilidade daquilo de que são únicos responsáveis.

há uns meses, eric cantona promoveu uma acção de guerrilha aos bancos, a escala mundial, que sugeria a quem quisesse guerrilhar, a retirada de valores dos bancos, em determinado dia, deixando a claro que a gestão financeira destes é meramente contabilística e não real. foi um fracasso, muito pouca adesão.

julgo que as pessoas ainda julgam que precisam dos bancos, como julgam que precisam do fmi e do banco europeu, como os escravos eram educados a julgar que precisavam dos amos e as mulheres que precisavam dos maridos. tudo falso.

há pessoas que acreditam num deus qualquer, outras num partido ou dirigente político qualquer, outros na segurança do emprego seguro.

eu acredito em nós, pessoas, e numa revolução que não será de cravos, nem provavelmente de praças cheias de manifestantes debaixo de abusos de perenes governantes africanos.

eu acredito que, iniciando num dia determinado, todas as pessoas no mundo irão falhar, propositadamente, 3 prestações seguidas aos bancos e entidades de crédito. acredito que isso tornará claro que o real poder é popular. não populista, apenas popular, do povo. nosso.