sexta-feira, 2 de outubro de 2009

elogio da esgrima



quando era garoto, pratiquei esgrima.

comecei bem, mas não evolui, acabei por deixar (na verdade, essa desistência está associada a uma situação pouco edificante para mim, enquanto desportista, e que, mais tarde acabei por interpretar como a primeira e mais evidente revelação da minha pouca apetência para praticar desporto, sendo as poucas excepções ver na televisão e damas).

acerca da esgrima, calhou eu estudar num colégio gerido por um coronel (penso que do exército), que para além de matemática (pasme-se) ensinava esgrima, extra-curricular. havia bons atiradores, lá (penso que um chegou a fazer alguma carreira em torneios internacionais), e alguns miúdos a iniciar-se, chegamos a ir a torneios, vários escalões etários.

como escrevi, eu era mui fraco, mas apreciava ter uma arma na mão (florete, arma de iniciação), e ganhei gosto pela modalidade, ainda hoje fico a ver, por momentos, quando passa na televisão, apesar de reconhecer a menor atractividade gráfica inicial da esgrima (demora algum tempo a entranhar-se).

algumas curiosidades: a esgrima favorece o ataque, pelo que, em caso de ponto simultâneo (ambos os atiradores tocarem ao mesmo tempo), a vantagem é de quem inicia o ataque; existem três armas, florete, o mais puro, serve para iniciação, espada, o mais espectacular, e sabre, onde se vêm movimentos de arma em "espadeirada"; apesar da preferência pelo ataque, a acção mais reveladora da habilidade do(a) atirador(a) é a parada (há oito tipos delas, no florete), defesa que desvia o ataque e permite o contra-ataque; os assaltos (combates) iniciam-se e terminam com o cumprimento dos atiradores (pode parecer pouco relevante, mas vale muito).

outra coisa que me agrada, é a relação do desporto com a realidade, ainda que passada. agrada-me o conceito de resolver desavenças com uma arma na mão, como cavalheiros (vale o mesmo para o tiro com pistola, mas já não se pratica contra outro atirador, agora dispara-se a alvos imóveis). também tenho carinho pelo conceito da bengalada (que os escritores românticos romantizaram), que não se aplica entre cavalheiros, o que lhe retira a aura eloquente.

a esgrima nasceu para resolver diferenças entre almas dispostas a morrer por valores que lhes eram caros. para mim, serve.

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