segunda-feira, 30 de agosto de 2010

sem fronteiras



ao ler um blogue que favoreço basto (posting and toasting, cujo nome utiliza um modo de falar ri(t)mado de clyde frazier (a quem favoreço basto), antigo jogador dos knicks e actual comentador de televisão), dei de olhos, na secção de comentários, com a seguinte afirmação, de hakeem olajuwon (um antigo jogador que calha ser responsável maior pela última derrota dos meus numa final da nba, ainda na década de 1990): "all these boundaries - africa, asia, malaysia, america - are set by men. but you don't have to look at boundaries when you are looking at a man, at the character of a man. the question is: what do you stand for? are you a follower, or are you a leader?".

sem entrar no aspecto de uma alma seguir ou liderar, na diferença entre ovelhas, pastores, cachorros e lobos, o assunto hoje são os limites impostos pelo homem, as fronteiras, geográficas ou outras, e as consequências delas.

eu aproximo isto na perspectiva: um muro mais que impedir alguém de entrar, dificulta a alguém sair.

úteis que sejam, necessárias mesmo, as fronteiras são limitações auto-impostas que nos indiciam a tomar decisões em cima delas (ou melhor, do lado de dentro delas). porque hei-de eu, português de nacionalidade, preferir produtos portugueses (para além de uma questão de economia local, que me afecta directamente), se as uvas do chile dão tanto ou mais trabalho e são tanto ou mais saborosas que as de cá? porque hei-de favorecer os produtores portugueses, se podem muito bem ser uns safados de primeira, sendo que se calhar os chilenos não o são menos? porque há-de ser um parâmetro de escolha o "made in ...." (num sentido de escolha ou rejeição (sendo que houve já campanhas de rejeição de produtos de determinada nacionalidade, a que aderi, com propósitos políticos, mas a política remete de volta às fronteiras, porque há-de determinada gente ser gerida por determinada ideologia de momento, quando a do outro lado da linha é gerida por outro?)), mais relevante que a qualidade do produto?

certo que nacionalidade (e por vezes mais ainda, naturalidade e/ou local de crescimento, bairro), por questões culturais e de hábitos sociais, e filiação (e ambiente familiar) não se escolhem e são de profunda relevância no ser humano que seremos ao crescer, mas para além disso, é castrador limitarmo-nos e aos outros a questões de geografia política ou histórica (sem menosprezar a relevância das fronteiras no curso da história e na sua compreensão).

no mundo actual joga-se (e criam-se outras relações) online com pessoas que estão fisicamente nos antípodas (mais ou menos, pode calhar na água, se interpretado literalmente, consoante cada um me lê), mais facilmente conhecemos alguém que tem um interesse semelhante a um dos nossos, vivendo em shangai, do que conhecemos o vizinho da porta do lado (quem tem vizinho na porta ao lado).

porque hei-de estar pelo benfica quando joga na taça uefa (que agora se chama liga europa, e o benfica está na champions, eu sei, mas não há meio de me habituar), eu que não gosto do benfica, se jogar com o totenham, equipa que não me diz nada e contra a qual nada tenho (nem a favor)?

e porque há-de ser impedido de entrar no país (atravessar a fronteira, com documentos legais) uma alma que pode ser uma jóia de alma, só porque vem para "trabalho de emigrante"? claro que não se pode fazer triagem nos aeroportos pela qualidade da alma do passageiro, mas devia-se tentar investir nisso, mais do que analisar certidões e datas.

como disse olajuwon, um homem não tem de ser do país onde nasceu, como definição humana. e se o for, é um homem pequeno, maior que seja esse país.

escrevi em cima que as fronteiras podem ser necessárias (geográficas e outras), julgo que o são apenas numa fase precoce de desenvolvimento da(s) pessoa(s) que as criam, até que esse desenvolvimento se eleve a patamares de vento, que, como canta manu chao: ..... vienne, el viento se va, por la frontera.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

anedotas de putos



quando era puto, num teste de inglês era pedido para contarmos uma anedota, em inglês. a minha foi something like this: two tomatoes crossing the street, one gets behind and the other goes: "comm'on, tomato", then a car passes by and the some tomato goes: "eih, ketchup, catch up".... eu era bom em inglês (ainda, também noutras línguas), e tive de ler aquilo na aula, de boa que estava. foi meio embaraçoso, porque era muito tímido (era).

outro dia, numa esplanada, contei uma anedota ao meu filhote: passa um carro numa estrada alentejana, condutor perdido, decide perguntar a um alentejano, que descansa sob um chaparro: "bom dia, amigo, para onde vai esta estrada?". o fulano, depois de remoer o calor, o sono e a pergunta: "nã vai pa lad nenhum, que faz aqui muta falta".

terça-feira, 17 de agosto de 2010

a day at the zoo



hoje foi dia de jardim zoológico, com o gustavo, quase final de vacaciones (amanhã ainda temos praia...).

quem foi ao zoo em julho ou agosto percebe o que vou escrever: o espectáculo de golfinhos que lá fazem é emocionante (a mim emociona brutalmente, não há vez que não me venha água aos olhos, e farto-me de ver aquilo em repetido). quando calha estar anfiteatro cheio de gente, cachopada envolvida, é exponencialmente mais intenso. estou capaz de jurar que os golfinhos sorriram, pipas de vezes, animais mais apaixonantes.

um facto é que todas as actividades que os tratadores fazem para o público são educativas, mais do que lúdicas: eles explicam hábitos alimentares e sociais, explicam evolução de espécies, explicam os perigos de extinção, tudo de modo a atingir os miúdos (que são veículo privilegiado para que nos atinjam a nós, "adultos"). são extremamente eficazes nisso, e associando isso ao facto de ser informação "pura" e "limpa", tudo parece estar bem.

observando com maior distanciamento, trata-se de manipulação despudorada de massas: o delfinário é patrocinado pelos gelados olá, and so on, and so on.

sem dúvida que as condições dos animais, hoje, são excelentes (tirando o detalhe de estarem presos, mas há que se escreva acerca dele), que se não fosse uma apropriação do problema geral do zoológico numa perspectiva de mercado, o jardim teria perecido, com tudo que isso implica a nível de educação infantil, contacto com animais, e estudos zoológicos (que são realmente feitos, e produzem realmente efeitos).

mas não deixa de me doer que seja o "mal do mundo" a ter salvo o jardim zoológico (depois de o fragilizar, retirando-lhe clientes com a concorrência de outros produtos de entretenimento). não deixo de reconhecer que funcionou e produziu efeitos que valorizo, mas o percurso incomoda-me, e para além do desfecho, há o percurso.

p. s.- acerca da liberdade dos animais: muitos nascem em cativeiro, muitos não teriam nascido se não houvesse cativeiro, espécies estariam perdidas. é um mal menor? custa engolir, quando se trata de cativeiro. é algo contra-natura explicar às crianças o respeito pelos animais quando utilizamos exemplos deles presos,
o gustavo estranhou hoje que os papagaios, voando livres, não se fossem embora, procurar amigos noutros lugares.....

olhos de desver



este post é acerca de imbecilidades cometidas por quem olha para o mundo não para o perceber mas para justificar aquilo que quer ele seja, e escrevo por causa disto:

existe um projecto de um promotor privado para transformar um edifício devoluto, em new york, numa mesquita. sendo um país multi-cultural e defensor das liberdades, os eeuuaa, isto soa a desinteressante e não-história. mas acontece a mesquita estar projectada para a baixa de manhattan, a dois quarteirões do "ground zero", local sensível em demasia desde 9 de setembro de 2001.

consequência, reacções pouco civilizadas de pessoas individuais e colectivas, gente que por ter sido dorida directa ou indirectamente, acha ter o direito de espalhar dores em quem encontra relação com quem lhe infligiu as suas. obama e o mayor bloomberg lá defenderam a liberdade de culto e a promoção privada, mas analistas julgam ser uma má posição política......

noutro(s) exemplo(s) de igual imbecilidade, já ouvi pessoas atacarem ferozmente fidel e descobrirem todo um chorrilho de atenuantes para a barbárie de pinochet (e vice versa, quem perceba o defensor da liberdade que fidel é e veja facilmente o nazi em pinochet). muitos, damn, são pessoas particularmente inteligentes e empenhadas. damn again.

noutro ainda, pessoas que defendem a liberdade de expressão e igualdade de direitos que o 25 de abril nos "trouxe", mas cuspa xenofobia e racismo sem pudor, ético ou intelectual.

iap, há coisas que doem, e doem por muito tempo. há coisas que metem medo vidas inteiras (e talvez em reencarnações, o que poderia explicar certas imbecilidades sem fundamento). há coisas (ideias, pessoas, sentimentos) que só se percebem se nos aproximarmos, se lhes tocarmos e nos deixarmos tocar por elas.

erros de análise são comuns, ainda para mais se provocados por sentimentos sinceros, o que até os torna desculpáveis, acho. ficar fechados dentro de erros desses (e de quaisquer outros) impede crescimento pessoal, e por somatório (neste caso subtracção), social.

há alturas que me aborrece profundamente ver pessoas que absorvem o mundo do modo que querem para se justificar do que são, ou do que não são capazes de ser.

p. s.- isto pode soar inacreditável, mas é verdade: a minha resposta à pergunta "onde estavas a 11 de setembro de 2001?" é: estava em casa de um advogado, visita para almoçar, quando começaram a passar na televisão as imagens da primeira torre a arder. vimos o avião que embateu na segunda, entrava informação a jorros, abria-se um mundo diferente naqueles momentos. pouco depois, o fulano adormeceu: a determinada altura eu falei algo, ele não respondeu, eu olhei e ele estava a dormir.

p. p. s.- já agora, acerca dos actos de 11 de setembro de 2001, e dos actos do presidente do irão, e dos actos de atentados de iras irlandeses e etas bascos: não se aceita que inocentes paguem por um ideal que talvez nem defendam. mas não somos todos responsáveis, em democracia e sociedade? não entendemos todos o conceito de baixas de guerra, quando em cenário de guerra? e quem raio determina se estamos em guerra e quais os cenários apropriados? importamo-nos quando vemos e sabemos que há injustiças? se deixarmos que façam mal a quem não se pode defender, temos direito de julgar quando se vingam, ainda que barbaramente? que faria cada um, se os que amamos sofressem injustamente?

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

lonely fool



há um fulano com quem me tenho cruzado amiúde, fulano muito estranho.

a primeira vez que reparei nele, foi no "outro" café, de que escrevi no post em baixo: um domingo pelo meio dia, estava o "outro" café cheio de pessoas estranhas e ele era a mais estranha delas: homem alto, magro, mecânico, aluado, solitário, pouco amado (aposto), estava sentado numa mesa ao canto, na cadeira ao canto, bebeu o café e depois de o acabar, acabou-o a dedo. particularizando, enfiou o dedo indicador na chávena e lambeu-o, o que repetiu três ou quatro vezes.

numa outra vez, numa outra esplanada, vi-o demorar que tempos a escolher entre três mesas diferentes, chávena de café na mão, como se estivesse a decidir algo que lhe influenciasse a vida.

não sei porque é assim, se isso o incomoda ou lhe desagrada (ele não aparenta felicidade, mas há quem a aparente e a sinta menos do que ele), mas imagino que não tenha sido sempre assim, que ele seja consequência de solidão, de não ter gente a franzir o sobrolho quando o dedo lhe escorre pela parede interior da chávena. talvez a solidão seja auto infligida, talvez ele se tenha desencantado mais profundamente do que eu, que me levanto sempre, com a espécie humana. talvez a espécie humana se tenha fartado de o aturar, com motivo válido ou provavelmente sem.

eu não gosto de o ver, não que me incomode, que me dê pena ou raiva, apenas me desagrada por falta de gentileza, é seco, sem ternura. para mim, é louco, só um louco lambe o interior das chávenas de café a dedo. ainda para mim, é um louco solitário, e acho que não é feliz nisso.

ser louco sozinho é teso. por isso, mutual insanity é, para uns, uma sorte, e para outros, a merecida recompensa pela natural insanidade.

os dois cafés



talvez seja o meu mundo que tem muitas coisas muito estranhas, ou talvez seja eu que tenho apetência e tempo para dar por elas, ou talvez eu seja estranho e ache o mundo estranho quando o olho.

no meu quarteirão há 3 cafés e um restaurante, sendo que um dos cafés se tornou o nosso favorito, por causa do pessoal que lá trabalha (tudo gente simpatiquíssima), dos clientes, novos ou experientes, ao café propriamente escrito, que sabe sempre bem. mais, sugestão ou facto, as pessoas que passam quando estamos na esplanada do café parecem quase todas atraentes, dignas de atenção visual.

50 metros à frente há outro café, onde raramente vamos, porque os donos e funcionários são secos e os clientes estranhos (de um deles pormenorizo(ei) no post acima, quando o escrever(i)). estando o "nosso" fechado para vacaciones, temos de ir ao "outro", e conviver com os clientes do "outro". para se ver a profundidade da diferença entre eles, os clientes do "nosso"
raramente e relutantemente se vêm no "outro", suponho que como nós, apenas aparecem por questão de necessidade.

até aqui, tudo isto é uma história estranha, e mais nada, mas há um facto que a torna digna de descrição: as pessoas que passam pelo meio das esplanadas dos cafés também parecem muito diferentes: pela esplanada do "nosso", quando lá estamos, passam pessoas admiráveis e admiradas; pela esplanada do "outro", raios, só passa gente cinzenta ou snob, indigna de um olhar quanto mais de uma apreciação. isto quando as duas estão no mesmo passeio, sem bifurcações entre elas, e distantes 50 metros, mais metro menos centímetro.

naturalmente isto pode ser explicado por estado de espírito, que influencia a observação. mas mais credível é a ideia de serem mundos diferentes, que acontece existirem em espaços contíguos. pouco ou nada a ver com a atracção de opostos, acho que é uma coincidência infeliz e estranha de localizações próxima entre distantes.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

everybody wants to be a cat



blow some of that sweet stuff my way.

people with fur, furless people, groovin' or sleepin'.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

hotel new hampshire



eu tive um encanto adolescente pela nastassja kinski. agora tenho um encanto adulto pela
nastassja kinski, mas não vem ao post.

num dos filmes mais bizarros que vi, ela faz de moça que trabalha num hotel, em vienna, vestida de urso, por dificuldade em relacionar-se com outros seres humanos, sem a máscara. e convencer alguém assim de que é uma pessoa adorável?

fronteiras



por vezes, o telhado parece-me ser a melhor parte da minha casa. porque há-de a casa de uma pessoa ser delimitada por paredes e lajes? a mim parece o telhado ser o logradouro que não tenho nesta casa. verdade que não se lá podem plantar cebolas nem morangos, mas o conceito de exterior da casa ser também casa é promissor.

o meu telhado segue para os telhados dos vizinhos, a nascente e poente, segue sem fronteiras, apenas alguns desníveis que qualquer gato salta fácil. eu próprio, do meu telhado, já passei aos dos vizinhos, já espreitei por janelas alheias. suponho que um homem possa ir até onde a vontade e capacidade lho permitirem, são esses os seus limites, a ultrapassar.

no meu telhado andam agora gatos. um vive connosco, tem privilégio de retornar a casa e à cama depois das aventuras, mas agora há pelo menos mais um. como lá chegou, por onde, ideia nenhuma, apenas certeza de não ser por elevador, por motivo de não existir em nenhum dos prédios.

puskas acha que o telhado é dele, há discuções com frequência, lá por cima. a maioria dos animais tem tendências territoriais, impõem limites aos outros. e defendem-nos, aos limites seus, e atacam os dos outros.

seres humanos são por definição civilizados, escrevem regras que respeitam e impõem penas aos desrespeitos. já me calhou ter de defender o que é meu, cat style, mas poucas vezes. claro que é mau levar o que está bem noutro lugar, mas sair fronteiras é bom, tanto como trazer outros para dentro das nossas, human style.