sábado, 29 de outubro de 2011

a ferros










há coisas que não sei fazer (ou não sei fazer de determinada maneira) e nunca vou saber, seja por incapacidade ou opção.

um burro não voa (dizem) e pássaros não carregam albardas; há quem voe, há quem nade, há quem ande, quem gatinhe, quem corra, quem rasteje, quem salte e pule, e há quem fique imóvel; há quem escreva, quem dance, quem filme, quem cante, quem fotografe, quem grafite, quem pose, quem gestualize, quem mimetize, e há quem silencie de todos os modos imaginários.

não importa o que se é, desde que se seja o que se é. importar, importa, mas só depois, em segunda análise.

a mim mói histórias de gente que tenta forçar outros a serem-lhes iguais, de irmãos que não se entendem (mói porque estou bem habituado), de rejeições de pessoas fascinantes.

dói-me que essas pessoas fascinantes sejam incompreendidas por tais motivos (porque lhes dói), mas não me fazem pena. pena tenho dos imbecis que, colocando-as de parte, ficam sem usufruir do fascínio que elas emanam.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

damn, fool, it is simple










why does kadafi needs to die, why couldn't he share? and eduardo dos santos, and all the other abusers everywhere (political or hidden)?

i'm a little drunk, and i need to write this.

what if the world was turning right? what if every sun of a bitch gots to die with a round of bullets? what if solidarity rules everywhere and beyond?

i lunch at a place were everybody seats at the some table (we, in portugal, have a delightful costume of putting a table one inch aside, so that people feel privacy, it uses to amaze me, now i just adore it), people from factories, eating with hungry generated from physical labor, people that don't care about millions and is fooled everyday by those who have them, people that fells solidarity.

damn, the world is wrong, we don not care about our equals (or differents), but i (maybe want to) start to believe we're starting to. it's when one have nothing that one have nothing to lose, so that one are ready to take it all.

my brother posted this photo with some kids playing in an improvised merry go round. we were all like that, we were born free, and beautiful, and caring, we didn't need fancy things to be happy, we made everything happy, my kid does it, with a card box, if need be. in a lot of places in the world, people gets just happy so that they can eat and feed their kids, sleep and kiss their kids to dream, talk and listen to their kids laugh.

what else is there that is so important, fools?

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

des-escrição da(s) mulher(es) que pede diariamente à porta do pingoce com uma criança














odeio o raio da mulher, todas as manhãs sentada na rampa de acesso ao pingoce, com uma criança de colo ou a brincar ali ao lado. ela lamuria pedidos de ajuda, porque, diz, a criança tem fome.

acho que a criança não é sempre a mesma, e já me ocorreu possível que a mulher também não seja, que se revese com outra(s). (por vezes há também uma velhota, mas sozinha, sem criança, e ela parece não ter alternativas). já a(s) mulher(es).......

eu admito que qualquer pessoa precise de ajuda, ocasionalmente. admito que qualquer pessoa tenha direito de escolher mendigar e viver bem ou mal disso (não respeito, mas não impinjo o meu modo de vida a ninguém, nem espero que mo respeitem, que se lixem).

o que me rói  é a criança ali fechada, na rua, à entrada do supermercado, todas as manhãs.

eu acredito que se ensinarmos uma criança a voar, ela pode ser pássaro; se a ensinarmos a andar, ela será vertical; se a ensinarmos a conviver com respeito, ela será sociável; se a ensinarmos a ver sem limites, ela vai sonhar.

mas se ensinarmos uma criança a rastejar, ela vai ser cobra, e a culpa é da *+&%!# daquela mãe, que lhe limita o mundo na mesquinhez. eu sei que a criança tem fome, mas nem sabe do quê.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

des-escrição do casal de cegos da paragem do smtuc














em coimbra, vivo perto da acapo, associação de cegos e amblíopes. calha, por isso, frequentemente, cruzar-me com cegos, na rua.

um casal cativou a minha atenção há bastante tempo. ambos cegos, têm uma menina que não é. é engraçado quando os encontro aos três na paragem do autocarro, porque quando vem um (autocarro), a menina dizia aos pais qual o número, e agora, mais crescida, já diz se é o que vão apanhar ou têm de continuar à espera.

eles faziam compras no pingoce daqui, principalmente a senhora, por vezes com ele, também. já os conheciam, lá, e havia sempre uma funcionária que os acompanhava, levava o cesto das compras, escolhia-lhes a fruta, serviço completo com simpatia e carinho.

há já algum tempo, a senhora começou a trabalhar lá, no pingoce. serviço de repositora, provavelmente auxiliar, sempre a necessitar ela de auxílio, e sempre auxílio a haver. a menina não vejo há meses, mas hoje cruzei-me com os pais, iam à cafetaria do supermercado, guiados pela funcionária mais bonita (por causa do sorriso), e estavam bem dispostos, sorriam também, a evitar os obstáculos.

nunca os vi com má cara ou com más palavras. poderia pensar-se que são cegos, que não vêm os males do mundo, mas seria errado: sendo cegos, vêm bem. eu inclino-me mais para o motivo dos sorrisos deles ser precisamente esse, o de quem sabe ver a parte boa da vida.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

des-escrição de virgílio, táxista na terceira














(tenho escrito tão pouco que já nem sei onde é o botão de nova mensagem)

hoje vou iniciar uma série dedicada a pessoas com quem me cruzo, ocasionalmente, ciclicamente ou constantemente. o motivo pelo qual as escolho para as des-escrever terá a ver com alguma particularidade que os des-escritos tenham e que eu ache des-escritível.

e para começar poderoso, ladys and gentleman, without further ado, i present, virgílio, táxista na ilha terceira.

virgílio tem 67 anos e trabalha no táxi há coisa de 40 e tal, desde que deixou o serviço militar ("força aérea", diz de orgulho). tem 4 filhos (dois casais), todos orientados, menos a mais nova, que está a caminho de se orientar com um rapaz do continente, que vive e come lá na casa do virgílio, a quem ele quer deixar a carteira profissional (quando se reformar, mais dois anos, para se dedicar à pesca), mas a quem falta acabar o 9º ano (ao futuro genro).

o meu táxista tem 7 ou 8 anéis de ouro nos dedos das mãos e anda com a carteira cheia (no sentido absoluto, exagerado) de notas de 10 € e 20 €, coisa que reparei e comentei, "...se não seria perigoso?". virgílio riu bem, mostrou o ouro nas mãos e no peito (outro tanto) e disse que sempre era assim e nunca tinha sido assaltado, por fazer o horário diurno. eu inclino-me mais para o look de guerreiro cigano e desenvoltura no trato, mas o motivo é irrelevante.

gostei do homem ainda antes de ele me cobrar menos euro e meio que a tabela, e fiquei-lhe com um cartão. agora, virgílio, mais que táxista, passou a meu motorista particular (muito ocasional, mas ainda assim, particular).