domingo, 15 de março de 2009

relações profissionais



há duas situações que adoro quando acontecem profissionalmente. bem, há três, sendo a terceira a altura de receber o cheque, mas é mesmo a terceira, porque as outras duas dão-me mais gosto.

a primeira é quando aquilo que proponho, em fase de projecto, chega ao cliente, ou seja, quando apresento uma proposta, desenhos, explicações, e a(s) pessoa(s) a quem o faço fica(m) encantada(s) com a proposta, a percebe(m), participa(m), se entusiasma(m), diz(em) que está para além do que ela(s) esperava(m). porque o objectivo não pode ser o de dar às pessoas o que querem, nem na minha profissão nem em muitas outras: tem de ser proporcionar-lhes mais do que elas esperavam, ir para além do sonho delas, fazer-las sonhar ainda mais.

isto acontece de uma maneira muito mais bonita com clientes particulares, quem vai construir ou remodelar uma casa, quem vai abrir ou reabrir uma loja sua, quem vai recriar o seu espaço de trabalho. nestes casos, as expectativas das pessoas são mais pessoais, tenho de realmente entrar nelas, entender o que pretendem e o que realmente as faria feliz. tenho clientes que me pedem desculpa do trabalho que estão a dar, gente deliciosa que nem faz ideia do que retiro de trabalhar com ela...

com clientes "promotores", entidades ou pessoas que têm
o lucro como objectivo, a relação é menos próxima (nestas questões, não necessariamente noutras), o trabalho adquire um carácter mais teórico, posso fazer algo meu, desde que garanta e potencie a rentabilidade da intervenção. normalmente, o que me questionam é se cabe tudo lá dentro, quantos fogos se podem construir, áreas e tipologias, parâmetros quantitativos, deixam a parte criativa nas minhas mãos. isto trás-me menos satisfação, apesar de gostar de liberdade criativa, porque não cria uma relação de proximidade tão produtiva.

a outra situação
que adoro e que me ocorre com alguma frequência é quando, depois de algo terminado (ou tão próximo disso que permite perceber o resultado final), o cliente (ou outro interveniente no processo) me diz: "tinha razão nisto ou naquilo", "ficou excelente", "valeu a pena o esforço", "ficou melhor do que esperava", "dou-lhe os parabéns", "está uma obra prima", "você faz milagres" ou algo semelhante (já me disseram estas coisas todas, não inventei).

mais uma vez, isto tem um significado mais intenso quando se trata de uma questão pessoal, de ter satisfeito uma vontade pessoal (mesmo que isso implique um casal, uma família, mas sempre questões de satisfazer sonhos pessoais).

a versão disto num cliente "promotor" é quando ele liga e diz: "arquitecto, está vendido!" ou algo semelhante, o que muitas vezes implica a tal terceira satisfação que tenho, do cheque a mudar de mãos...

escrevi acerca disto porque calhou no sábado ir almoçar a um restaurante que projectei. o trabalho de engenharia foi feito por um amigo meu, engenheiro, e tudo aquilo teve um certo carácter pessoal, porque ambos conhecíamos a família que o quis fazer e que hoje explora o restaurante, é um espaço familiar.

eu ainda não tinha ido lá, abriu há umas duas semanas e faltei à inauguração (parece que mataram um porco preto, burro que fui...) e quando cheguei, o chefe de família estava atrás do balcão, de costas, não me viu entrar. eu perguntei se ele se ajeitava com a máquina do café, algo do género, na brincadeira, ele virou-se e fez a cara mais feliz do mundo, enquanto exclamava alto "jòáo!". é alemão, fala com um sotaque maravilhoso, e fiquei tão feliz com a exclamação dele como ele por me ver lá.

há prazeres na vida que não tem preço...

1 comentário:

  1. Em boa hora decidiste lá ir :-p

    Até eu, que nunca tinha visto o homem, me senti super bem-vindo, só de ver a cara dele, quando viu que eras tu.

    Temos mesmo que lá voltar. Ainda há tanta coisa pra provar :-p

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