sábado, 17 de janeiro de 2009

elogio do jornalismo



depois de lerem qual o elogio do post devem estar quase todos a sorrir e a pensar: deves mesmo conseguir elogiar isso, sim senhor...

mas reparem vocês no detalhe, eu não vou elogiar jornalistas ou o jornalismo actual, mas sim o conceito de jornalismo.

tenho de reconhecer que a profissão que mais me desagradaria o meu filhote exercer (força de expressão, ele vai estar
-se nas tintas para isto, risos) era jornalista. antes jogador do benfica (calma, só era melhor porque num instante se transferia, lá ninguém aquece e ninguém é lembrado...).

pois eu acho o jornalismo actual o exemplo mais vibrante do virar costas aos princípios para se ficar de frente e bem alinhadito com dinheiro, carreirismo e aceitação social. jornalistas são a espécie mais prostituida à face da terra. critérios jornalísticos tem a ver com share (não de riqueza ou loucura, o que vimos ser saudável), contractos publicitários, estratégias de mercado, ranking's de canais, rádios e/ou jornais. chega ao ponto de ser notícia quando um ultrapassa outro, mas só é para o que ultrapassa, sendo que, quando o mesmo for ultrapassado, deixa de considerar a notícia noticiável. nem quero falar dos alinhamentos de noticiários e capas de jornais, pudor oblige.

o
exemplo que vou usar é que hoje vemos grandes jornalistas a documentar guerras (mesmo as guerras deixaram de ser grandes, também é verdade, agora são só mesquinhas). gente que escolhe enquadramentos antes de entrar em directos muito emocionados, vozes alteradas e embargadas pela presença do perigo (a 850 metros), gente que ajeita o cabelo e compõe o camuflado (que lhes iguala a imagem à dos soldados, igualmente a 850 metros do prerigo, questão de integração), que fala de vítimas como números e debita cultura bélica acabada de aprender.

agora é que já estão todos a rir, mas quando é que começa o elogio... é já a seguir.

durante o desembarque na normandia, robert capa estava com as tropas que desembarcaram. viajou de barco com elas, atirou-se à água com elas. escondeu-se onde pôde com elas. avançou debaixo de fogo alemão com elas.

fez fotografias, documentou a realidade de um facto claramente noticiável. deu a perspectiva aliada do facto, claro. seres humanos são parciais, muito ou pouco. ironia do destino,
quase todos os rolos se perderam, como os seus companheiros de desembarque. foi o destino a elevar o jornalismo ao patamar dos homens. porque ambos foram grandes, nesse dia.

fogo, tudo que o jornalismo tem de fazer é preservar o seu carácter humano, escolher os factos a noticiar com critérios informativos (apenas, estritamente), e ser verdadeiro. não digo que seja fácil nos dias que correm, mas se algum maduro (ou madura) experimentasse, nem que fosse por falta de concorrência, tinha mercado e fazia carreira!

parece simples e é. mais, é necessário, urgente e, sim, nobre.

http://www.youtube.com/watch?v=SyXjVHAokPo&feature=related

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