quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

elogio da arquitectura



vou falar do assunto de duas perspectivas: começo por escrever acerca da profissão, e depois evoluo para arquitectura como forma de arte, de vida, de expressão.

para cada profissão, é preciso que o profissional tenha determinadas características.

por exemplo: para varredor, tem de ser asseado e apreciar ar livre; para político, mentiroso e descarado; para cozinheiro, guloso q.b.; para jornalista, exagerado e dramático; para puta, um cu bom ou um filho político; para futebolista, ter-se formado na academia sporting (que agora se chama puma) e usar gel no cabelo.

para se ser arquitecto
(escrevo do exercício da arquitectura na sua forma de base, como criador, pensador, provocador), temos de ser observadores, sonhadores, conhecedores e ter um sentido de humor apurado. e também ser bons relações públicas, pacientes (haja pachorra para técnicos municipais, muitas vezes eles próprios arquitectos, agarrados às regalias do cargo e com complexo do "se fosse eu..."), e ser capazes de conciliar múltiplos interesses e os tornar claros a todos os interessados (por estranho que vos pareça, é mais fácil explicar algo a um pedreiro ou carpinteiro, que a um promotor). por fim, há a parte sempre animada dos honorários.

já agora, ao contrário do que consta, trabalhar com engenheiros é uma delícia (mesmo sem pensar em algumas engenheiras que conheço), porque são normalmente pessoas que tem atitudes construtivas e estruturantes, de crescimento (fica prometido elogio da estrutura).

ser arquitecto
(a) é, acima de tudo, pensar na maneira como as pessoas vivem, e como ele(a) pensa que poderiam viver melhor. trata-se de correr riscos por convicções próprias. trata-se de dar sonhos aos outros, que acreditamos eles venham a gostar de concretizar. trata-se de tornar o espaço melhor (o mais possível) do que era antes de o termos recriado.

e para que seja arquitectura completa, também tem de ser funcional, viável economicamente, honesta e digna.

é um acto cultural, livre e generoso. extremamente compensador.

2 comentários:

  1. "Querida filha,

    Respondendo ao porquê da minha ausência e da profissão que escolhi:

    A cada traço desenhado, Joana, dou vida ao meu sonho e aos dos outros. Crio com a convicção que é para mim sabendo que quem vai habita-la é alguém de quem eu vesti a pele, o exercício mais difícil, é transformar o meu sonho no sonho dos outros, e de alguma forma, tornar o abstracto das ideias, minhas e deles, em algo real e concreto.

    Tenho de os imaginar lá, naquele espaço criado a pensar em mim/neles. Tenho de usar a imaginação que criei ao longo da vida, enquanto li e viajei para lugares distantes, que te podem até parecer absurdos, mas são esses lugares que me permitem realizar sonhos.

    Sonhos que como tu dizes são materiais, mas pensa assim minha filha, são materiais porque a cabana tem de ser perfeita, para a realização dos outros sonhos, o amor, a beleza, a descendência.

    Mas temos os sonhos que recebem arte sobre a forma de telas, espectáculos ou mesmo de corpos humanos.

    Crio em cima do nada, do meu absurdo e ideal de espaço.

    Quem sonha com uma casa no fundo do mar? já quiseste ser arquitecta para a desenhar, Engenheira de tudo e de nada para resolver problemas técnicos que te coloco, já quiseste ser até inventora para poderes ter guelras artificiais.

    Então adaptaste o teu absurdo e resolveste que a casa teria uma piscina e um dos lados da parede da tua sala seria um vidro gigante, com vista para a dita piscina, num terreno escarpado para ficar melhor, e de preferência com vista para o mar. Adaptaste o teu absurdo a uma realidade mais fácil, apesar de difícil, de concretizar. Aquário gigante e as pessoas passam a ser peixinhos! e a tua cama uma concha, e luzes a imitar o fundo do mar numas paredes feitas de papel de arroz cor do mar. só te pergunto como mantens as algas vivas?

    Espero agora que entendas melhor o teu Pai, eu passo 24 horas a tornar absurdos reais, e amo o que faço e longe ou perto, sabes que és a minha filha e que nesses absurdos penso sempre em ti.

    Trata-te como mereces, sê sempre fiel a ti própria.

    Beijo
    o teu Pai"

    JB

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  2. uma das coisas bonitas de darmos sonhos aos outros, é que nunca morremos, porque vivemos nos sonhos deles

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