quarta-feira, 13 de outubro de 2010

traços humanos 7



tinham passado toda a visita a olhar-se, comunicavam-se com o olhar, riam e sonhavam com ele. tocavam-se muitas vezes, apontavam ainda com os olhos, sorriam neles e na boca.

a senhora da imobiliária, a baixinha (menos expansiva que a alta, de cabelos de caracóis fartos, que não tinha vindo) estivera calada, e era o dono da casa que tinha mostrado e falado de todos os espaços, feitos de ideias idiotas, sonhos fantásticos, cores vibrantes, sensações sensoriais.

a match made in heaven (sinly heaven), o casal e a casa que outro tinha feito para outro casal, e que agora esperava uma opinião, comentários falados.

e eles finalmente falaram, do que se imaginavam a fazer naquela casa nova, e falaram de jantares com amigos, de sessões de fotografias, de sexo barulhento em recantos luminosos da lua, de cheiros que lá iam instalar, dos objectos que iam trazer e onde os iam colocar e como iam ficar bem lá, e o que algumas pessoas iriam adorar.

e o senhor da casa também ficou feliz, não por a vender, mas por a quem a vendia, porque sabe bem deixar sonhos para trás, na busca de sonhos novos, mas sabe ainda melhor se atrás vier quem sonhe os nossos, à maneira deles. como uma dádiva, mas neste caso, bem paga.

p. s.- tudo isto é irreal, não existe o casal que descrevi nem a cena, nestes moldes. mas imaginei um casal homossexual, quando escrevi. gostava de passar isto a quem amasse de um modo (que outros achem) bizarro, como eu.

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