quinta-feira, 12 de agosto de 2010

lonely fool



há um fulano com quem me tenho cruzado amiúde, fulano muito estranho.

a primeira vez que reparei nele, foi no "outro" café, de que escrevi no post em baixo: um domingo pelo meio dia, estava o "outro" café cheio de pessoas estranhas e ele era a mais estranha delas: homem alto, magro, mecânico, aluado, solitário, pouco amado (aposto), estava sentado numa mesa ao canto, na cadeira ao canto, bebeu o café e depois de o acabar, acabou-o a dedo. particularizando, enfiou o dedo indicador na chávena e lambeu-o, o que repetiu três ou quatro vezes.

numa outra vez, numa outra esplanada, vi-o demorar que tempos a escolher entre três mesas diferentes, chávena de café na mão, como se estivesse a decidir algo que lhe influenciasse a vida.

não sei porque é assim, se isso o incomoda ou lhe desagrada (ele não aparenta felicidade, mas há quem a aparente e a sinta menos do que ele), mas imagino que não tenha sido sempre assim, que ele seja consequência de solidão, de não ter gente a franzir o sobrolho quando o dedo lhe escorre pela parede interior da chávena. talvez a solidão seja auto infligida, talvez ele se tenha desencantado mais profundamente do que eu, que me levanto sempre, com a espécie humana. talvez a espécie humana se tenha fartado de o aturar, com motivo válido ou provavelmente sem.

eu não gosto de o ver, não que me incomode, que me dê pena ou raiva, apenas me desagrada por falta de gentileza, é seco, sem ternura. para mim, é louco, só um louco lambe o interior das chávenas de café a dedo. ainda para mim, é um louco solitário, e acho que não é feliz nisso.

ser louco sozinho é teso. por isso, mutual insanity é, para uns, uma sorte, e para outros, a merecida recompensa pela natural insanidade.

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