sexta-feira, 26 de março de 2010

4enta



eu já fiz 40, há uns meses. muitas das pessoas que me são próximas, ou já os fizeram há pouco tempo ou vão fazer daqui a pouco tempo. parece haver um entendimento abrangente de que os 40 é o início da terceira idade, também conhecida pela da experiência, pela velhice ou outra expressão qualquer.

não importa muito se é aos 40, aos 37 ou aos 45, mas as pessoas sentem que atravessam um limite. qual? depende de cada um, mas eu arriscaria que este limite, em especial, é o do final do crescimento e o início do declínio, porque as pessoas sentem que aquilo que continuam a ganhar e em que continuam a melhorar é, a partir desta idade (ou de outra nas vizinhanças), inferior ao que estão a perder de capacidades, uma espécie de balança pessoal negativa.

tudo isto é genérico, porque há pessoas que toda a vida adulta estão em prejuízo e outras que, vivam 80, 90 ou 100 anos, sempre estarão em lucro.

tendo isto em conta, a relatividade da idade em que o sentimento ocorre em cada um, vamos ao que interessa. e por motivos pessoais, vou focar no envelhecimento feminino, sendo que o masculino, tendo parâmetros completamente diferentes, é completamente análogo. adiante, então, para as mulheres maduras....

eu conheço uma pessoa, homem da minha idade, que se recusa a interessar por mulheres abaixo dos 30, causa de más experiências passadas nessa faixa etária. na realidade, o fulano, rapaz de humor, gosta naturalmente dos atributos físicos de mulheres jovens (com excepções, por excesso de volume dos atributos), gosta da jovialidade e da permissividade (nestes dois casos, em ambos os sexos) a provocações pessoais. o problema manifesta-se a jusante, na relação, quando é suposto construir, compreender. e a causa do problema está a montante, questão de experiência de vida, que meninas abaixo dos 30, por mais bela pele tenham, não têm (a experiência....).

escrevamos então que eu sou uma mulher, e faço hoje 40 anos. parabéns a mim, e blá, blá, blá, e eu, numa qualquer altura do dia de hoje, tenha sido depois da meia noite de ontem, antes de adormecer e depois de sexo, ao acordar de manhã, quando os filhos me vêm dar um beijo de felicidades e quando o marido me diz que eu estou cada vez mais bela (porque é bom o marido dizer isto), quando algum infeliz incauto se lembra de comentar que os "entas" são o início do declínio ou noutra qualquer altura do dia, me confronto com os bem ou malditos 40.

que vejo eu, sem me olhar ao espelho, por não precisar disso para me ver? posso ver as rugas, o pneu a mais, as cãs, que estão realmente lá. mas também posso ver o sorriso de quem tem conseguido realizar sonhos e ainda tem mais para isso, a elegância de quem não se importa assim tanto com ela (elegância) e por isso é, a capacidade crescente de construir coisas e usufruir delas, com os seus.

todos os dias, todos ganhamos e todos perdemos. no dia em que se faz 40 também se ganha e também se perde. não se pode evitar as perdas, mas podem-se conter. já os ganhos, bem, os ganhos são por conta pessoal, para uns são trocos, para outros são tudo.

por isso, se alguém faz 40 hoje, here's looking at you, kid.

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