domingo, 8 de novembro de 2009

coisas que definem povos



no zapping, calhou ouvir um pedaço das escolhas do marcelo. é raro apanha-lo, porque vejo mui pouca televisão. apesar de preferir o vitorino (tenho um certo fascínio pelo homem, que não entendo bem, nunca me debrucei nisso), gosto do processo lógico dele, apesar de comprometido.

o que apanhei hoje foi um comentário acerca do referendo dos casamentos homossexuais, que passo a comentar de seguida:

ele defende a legitimidade do voto parlamentar para decidir esta questão, porque durante a campanha eleitoral foi assunto debatido. eu discordo, porque assuntos houve vários e muitos outros deviam ter sido debatidos, mas parece-me redutor achar que os votos (e as abstenções) foram motivados pelas opções de cada partido acerca deste assunto (em verdade, teria sido um upgrade da escolha por carreirismo partidário).

na realidade, esta classe de decisões é definidora dos povos que as decidem, e os parlamentos têm funções algo diferentes (infelizmente), mais práticas e menos morais. é uma opinião discutível, mas eu penso as coisas assim.

numa opinião que reconheço estar relacionada com a pouca legitimidade representativa que vejo no parlamento, onde essa representatividade não passa do formal e do prático, agrada-me mais que uma decisão destas seja encontrada em referendo popular, de modo a expressar amplamente a vontade desse mesmo povo (votos e abstenções incluídas).

não me deixou orgulhoso o resultado do referendo acerca da (maior) despenalização do aborto, mesmo tendo votado com a maioria, porque não haveria motivo de orgulho qualquer fosse o resultado. foi uma decisão "moderna", que teve a virtude de olhar de frente para um problema, sem prender ninguém a morais alheias.

neste caso, dos casamentos homossexuais, vou ficar orgulhoso ou desiludido com os meus (os portugueses), se o parlamento não usurpar o direito de decisão, que, repito, acho não tem.

o orgulho virá se formos capazes, enquanto nação, de aceitar a liberdade de escolha sexual dos nossos iguais (sim, iguais), como está previsto na constituição, que não é só um processo de intenções, é a lei fundamental do país. impressionante como nunca ninguém referiu esta incongruência da lei com a lei fundamental......

já escrevi antes a minha opinião acerca disto, pelo que me repeti neste post, mesmo assim, vou elaborar: não percebo (percebo, é argumento) porque hão-de duas almas querer casar-se, se estão tão bem descasadas (porque é suposto estarem bem, se quiserem casar), mas, querendo, porque não hão-de fazê-lo só porque fazem xixi na mesma posição?

cada um ama quem ama, e se for amado de volta, fazem com isso o que quiserem. se quiserem casar, felicidades.

p. s.- aceito e respeito a posição da(s) igreja(s) no assunto. dogmas são, por definição, conceitos incontestáveis. mas dogmas desses não são os meus nem os de muitas outras pessoas, pelo que não temos obrigação de os respeitar, visto não os acreditarmos.

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