quarta-feira, 2 de junho de 2010

trabalhar ou não trabalhar, eis a questão



eu estou desempregado há uma pipa de anos.

na realidade, não posso afirmar que tenha alguma vez tido um emprego que não tivesse carácter ocasional, e na juventude, final da juventude. claro que trabalho, sustento-me, ganho dinheiro, exerço profissão, mas não me recordo de alguma vez ter assinado contracto de trabalho (talvez com excepção de uma avença que tive, mas mesmo aí acho que nem cheguei a assinar um).
habituei-me a saber que nada é seguro, mas tenho a convicção, por experiência, que um trabalho vem depois do outro (o que não impede as dificuldades de receber honorários, o que não importa para isto), e vivo bem assim.

mas houve um período na minha vida em que me senti realmente desempregado. logo após acabar o curso, dei-me uns dois meses de férias (acabei em outubro, e decidi serenar até ao final do ano), após o qual comecei a enviar curriculuns a torto e a direito, sem ter resposta nenhuma. para ser franco, eu tinha sido sondado para ir trabalhar numa extensão do gabinete onde trabalhava enquanto estudava (fazia umas horas e aprendi lá muita coisa), que ia iniciar actividade num concelho vizinho de coimbra (porque eu vinha para coimbra), o que não me agradava (incompatibilidades com o colega que ia gerir aquilo) e recusei.

fiquei mais de dois meses a enviar cartas (não havia email's, na altura), e comecei a desesperar, até ser chamado por um colega para um gabinete, de onde segui até onde estou hoje. mas esses mais de dois meses deixaram-me uma das sensações mais desagradáveis que guardo ainda, a de não saber o que fazer, de não ter o destino nas mãos (porque o temos nas mãos, para ser mais preciso, nos sonhos), não poder organizar a vida, não poder sonhar nada de sonhável.

eu sei que é teso, muito teso, estar sem trabalho. sei que há cada vez mais pessoas sem trabalho, e sei também que é cada vez mais difícil arranjar pessoas para trabalhar (paradigma ridículo, mas real). e mais que saber isto tudo, sei que as pessoas, sem trabalhar, não se valorizam correctamente, perdem capacidades. nalguns casos, chega a ser criminoso o que uma alma perde, nalguns outros, irrecuperável.

para mim, não devia haver subsídio de desemprego, deveria haver subsídio de formação activa, de reinserção profissional, de experimentação de funções. ninguém deveria lamentar a "sorte" de quem está desempregado, deveria sim fazer notar à pessoa que não perdeu capacidades humanas e profissionais, apenas porque não está a exercê-las (o mesmo vale para capacidades emocionais, aliás). ninguém deveria vangloriar-se de estar pendurado no estado ou desfazer-se por estar pendurado no estado.

diacho, já estou meio divagante, ver se faço algo melhor que isto.....

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