segunda-feira, 2 de agosto de 2010

fronteiras



por vezes, o telhado parece-me ser a melhor parte da minha casa. porque há-de a casa de uma pessoa ser delimitada por paredes e lajes? a mim parece o telhado ser o logradouro que não tenho nesta casa. verdade que não se lá podem plantar cebolas nem morangos, mas o conceito de exterior da casa ser também casa é promissor.

o meu telhado segue para os telhados dos vizinhos, a nascente e poente, segue sem fronteiras, apenas alguns desníveis que qualquer gato salta fácil. eu próprio, do meu telhado, já passei aos dos vizinhos, já espreitei por janelas alheias. suponho que um homem possa ir até onde a vontade e capacidade lho permitirem, são esses os seus limites, a ultrapassar.

no meu telhado andam agora gatos. um vive connosco, tem privilégio de retornar a casa e à cama depois das aventuras, mas agora há pelo menos mais um. como lá chegou, por onde, ideia nenhuma, apenas certeza de não ser por elevador, por motivo de não existir em nenhum dos prédios.

puskas acha que o telhado é dele, há discuções com frequência, lá por cima. a maioria dos animais tem tendências territoriais, impõem limites aos outros. e defendem-nos, aos limites seus, e atacam os dos outros.

seres humanos são por definição civilizados, escrevem regras que respeitam e impõem penas aos desrespeitos. já me calhou ter de defender o que é meu, cat style, mas poucas vezes. claro que é mau levar o que está bem noutro lugar, mas sair fronteiras é bom, tanto como trazer outros para dentro das nossas, human style.

1 comentário:

  1. Essa tua janela, vista assim, parece virada para Paris. E cá dentro é a casa da Amelie Poulain.

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