terça-feira, 2 de abril de 2019

quem és tu?














uma revelação curiosa acerca de cada ser humano é o modo como responde à pergunta: "quem és?".

o primeiro e mais revelante  aspecto da resposta é o modo como a pergunta é compreendida, ao que é que é dada resposta, o que pessoas diferentes acham (ou gostariam) que as definisse.

há quem responda títulos académicos (antigamente nobiliárquicos, mas é já tão raro que agora tem piada), filho/neto de não sei quem (vulgo fidalgo), marido/esposa de fulana(o) tal (mais importante que o(a) próprio(a)), amigo(a) de, ou posições de importância profissional, como director, presidente, CEO, administrador ou, mais para o reles, chefe. este tipo de resposta propõe elevar quem responde acima do humano comum.

um elemento que não aparece nas respostas é o sexo (se estivermos a ver a pessoa ou lermos o nome), mas se a resposta for não presencial, acontece menção de idade, em alguns casos de beleza física (auto-avaliada ou o "dizem que"), altura, obesidade, traços pitorescos.

outro parâmetro frequente é o "sou de....", cidade, país, bairro, porque o sítio de onde vimos e/ou onde residimos nos molda e uniformiza aos vizinhos (pois). este parâmetro é-me importante, perspectiva profissional e linguística (porque gosto de línguas), e não perde validade se houver mudança de residência ("moro em corroios, mas sou da mouraria"). 

ainda outro é o facto de se "pertencer" a um grupo: religião, futebol, classe profissional, estilos de vida (gótico, beto/inho, skin, intelectual (talvez ninguém diga que é intelectual, mas gosta de ser assim visto pelos alheios)), associativismos políticos (com prefixo jota, para imberbes), militares de carreira (com menção de patente).

um campo de respostas que me agrada muito está relacionado com disposições, "sou sempre bem disposto", "sou muito calado", "sou uma pessoa com pouca/muita auto-estima", "sou um doce", "sou um bocado estupor, mas só às vezes".

há uma série interminável de outros elementos de resposta, mais particulares e menos agrupáveis, cuja conjugação fazem com que cada ser humano seja particular e único.

aquilo que se recebe de resposta muito menos vezes do que eu gostaria é "sou um ser humano decente". ou "tento".

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