quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

sem título



todos nós temos os nossos truques.

uma música no cérebro, para sobrepormos a outra coisa parva qualquer que tenhamos de ouvir; uma imagem a que recorrer, para retardar o orgasmo (truque masculino); uma desculpa razoável para não fazer sexo (truque feminino); um tempero especial para pôr na comida, quando saiu uma cagada; uma actividade que nos acalma, quando não arranjamos ninguém para trocar murros (actividade masculina) ou com quem barafustar (feminina).

pois eu, na falta frequente de boxe (que vou elogiar breve. o desporto, não a falta frequente), recorro à mãe áfrica.

o "jaime bunda", do pepetela, ajuda sempre, e mia couto é quase infalível. mas hoje tive direito a bónus: malangatana está em coimbra!

a primeira vez que o vi, estava apaixonado, foi no espaço oikos (nem sei se ainda resiste...). conhecia-lhe o trabalho de livros, mas toda aquela cor ali exposta, franca, gerou paixão eterna (sim, paixão eterna não é um contra-senso, e amor eterno também não). acontece (este não resistiu...) que fds passado, passei na "bilioteca" municipal, e estavam a acabar instalação da exposição.

hoje fui lá salvar-me. o que mais me fascina, junto com a intensidade cromática, é a proximidade física dos seres. como se não fosse possível existirem sem o contacto dos outros, sejam humanos ou bestas, tenham uma atitude pacífica, nostálgica, apaixonada, belicista ou cruel. todos co-existem. todos se sujeitam a todos os outros, como se não houvesse mais espaço no mundo.

que aconteceria se nos enfiassem a todos numa cela pequena, vivêssemos uns encavalitados nos outros? como geraríamos hierarquia, se não havia espaço para noção de cimo ou baixo? como amaríamos? teríamos descaramento de ser mesquinhos, à frente (e em cima, e ao lado) de todos os outros?

parênteses (uma vez vi um filme italiano, cujo nome esqueci. aliás, esqueci tudo deste filme excepto duas cenas: foi a primeira vez que vi sexo oral no cinema (não era um filme pornográfico, simplesmente havia uma actriz que, a certa altura, abria a braguilha do rapaz e o fazia, da maneira mais terna que vi fazer em cinema, até hoje), e porque, durante um julgamento de crimes de máfia (se recordo bem), estavam uma dúzia ou mais de réus, numa audiência em tribunal, fechados numa gaiola(!) e um casal deles fazia sexo. a gaiola e os outros réus acabaram por retardar a intervenção dos carabinieri, que não conseguiram impedir a consumação).

isto hoje fica sem título, como muitas telas do malangatana, porque não sei bem acerca do que escrevo, foi fluindo. gosto de fluxos, eu.

a vida é um fluxo, um rio. há que saber nadar, sermos capazes de controlar o nosso movimento dentro do fluxo, evitarmos estar à mercê de correntes, porque podem não nos levar para onde queremos ir. e é importante irmos para e por onde queremos, depois de sabermos para e por onde vamos, bien sur.

Sem comentários:

Enviar um comentário