sábado, 21 de novembro de 2009

big brother watching



estava a beber café no meu café favorito, por estas semanas, e aproveitei para ler o "calino", conhecido pelos mais recentes na cidade como "diário de coimbra". ganhou a alcunha para os leitores mais antigos graças à generosa quantidade de calinadas que escrevia (penso que ainda escreve, menos, eu também leio menos), a ponto de num desfile de latada ou queima haver escrito num cartaz (daqueles que se utilizavam durante a velha senhora para passar contestações políticas e ficaram como suporte para contestações várias ou dizeres humorísticos) "calino, peça emprestado, leia e corrija".

depois de contar esta história, o que me agradou sobremaneira porque a acho muito engraçada e me foi contada por uma pessoa bastante mais velha, logo em risco de se perder, avante para o assunto do post, que escrevo por causa de um artigo no "calino", acerca da instalação de câmaras de vídeo-vigilância nas ruas do centro histórico.

é um assunto já antigo, com prós (aumento da segurança nos locais públicos) e contras (diminuição de privacidade das pessoas).

é verdade que as zonas históricas (não só a de coimbra) são propícias a questões de insegurança, consequência de ruas estreitas, escuras e pouco frequentadas, durante a noite. a mim, parece que instalar câmaras é a solução mais simples, logo, potencialmente a pior.

a certa altura, escrevia o "calino" que estavam já instaladas as 17 câmaras, aguardando apenas o terminar da formação dos polícias para entrar em funcionamento. até aqui, certo. mas depois escrevia que 16 delas estão instaladas na baixa e 1 na alta. esta é a parte que mais relevante me parece, sigam abaixo:

para quem não sabe, a alta de coimbra anda em programa de reabilitação há coisa de dois mandatos camarários, porque é vontade da autarquia candidata-la a património da humanidade. ora veio delegação da unesco fazer uma análise prévia, há dois mandatos atrás, e mandou a câmara ter vergonha, por evidente falta de condições de utilização comum, quanto mais de património. honra aos autarcas, em lugar de desistirem por manifesta dificuldade de atingir o objectivo, tomaram o problema em mãos e inventaram soluções.

dois mandatos após, a alta precisa de 1 câmara de vigilância e a baixa precisa de 16, porque não foi alvo de programa nenhum, está à espera de ser reabilitada no âmbito da implementação do eléctrico de superfície, coisa demorada por questões, quem adivinha.....?, políticas, claro.

tendo em conta que as ruas e potencial da alta e baixa de coimbra são em tudo semelhantes (estão apenas em estágios de desenvolvimento desse potencial desfasados no tempo), será justo colocar, pelo menos como hipótese viva, o facto de a tão grande diferença de número de câmaras instaladas (a área é sensivelmente a mesma, para ambas as zonas históricas, contíguas) ter a ver com os factores de desfasamento de potenciação no tempo?

elaborando: terá a ver a diferente necessidade de segurança, consequência do sentimento de insegurança existente, a ver com o facto de a alta, que apenas precisa de 1 câmara, estar a atrair população, ganhar vida, privada e pública; ao invés da baixa, tremendamente abandonada e desertificada (fluxos naturais de gente que procura melhores condições, ausentes na baixa actual, agravada por expropriações do metro, que depois de expropriar deixou os imóveis em stand by), que tem instaladas 16?

gosto de imaginar um mundo em que a segurança das pessoas é atingida pelas próprias pessoas, pela sua atitude de solidariedade comunitária. para isso, têm de viver em comunidade.

se este post fosse para verberar nas câmaras instaladas, seria para verberar a instalada na alta, porque o problema da insegurança na baixa é de ausência de vida. mas o post verbera é na ausência de vida da baixa, porque espaços vivos não necessitam de câmaras de vigilância. pode ser uma afirmação arriscada, é minha e assino em baixo.

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