hoje deparei-me com duas circunstâncias que, sendo diferentes, me levaram à mesma análise.
em comum, ambas tem a ver com trabalho e ambas são exemplo de soluções de recurso, perante problemas estruturais.
há uns tempos veio parar-me às mãos um projecto daqueles chatos (mas bem pagos) de fazer. como veio ter comigo por um amigo e estava semi-feito por outro (e é mesmo bem pago), aceitei a burocracia.
mas o problema é que, afinal, o semi-feito está todo mal feito. é uma solução de recurso, em gíria da profissão, um "chanato". com a agravante de nem resolver a situação, necessitando ainda de se achanatar mais, e mesmo assim...
acontece que eu gosto de chinelos (alguns, de salto e tiras, confesso), mas sou alérgico a "chanatos". agora vou ter de falar com todos os amigos (que ficam a arder), e mais o cliente, que não tem culpa nenhuma, e tem de ter a sua solução. é que eu arranjei uma como deve ser, mais barata e mais eficaz.
basta, quando alguma solução nos desagrada, recuar um pouco, ver as coisas em perspectiva ampla e de espírito aberto, para encontrar a correcta. parece e é simples.
longe daqui, numa ilha no meio do oceano, também ocorreu algo que, pouco tendo de semelhante, enferma do mesmo pecado.
pois acontece que, à conta e para servir compadrios, se decidiu abrir uma vaga para um técnico em determinada entidade autárquica. mas como a cadeira já tinha dono destinado (não é preciso elaborar), fizeram o concurso à forma do rabo do dono (para assentar bem na cadeirita).
acontece que o mundo é, muitas vezes, muito divertido. e o dono do rabo quis ir senta-lo noutra cadeira, mais confortável (leia-se melhor paga). suponho que cada um senta o rabo onde quer (desde que o lá deixem sentar, bem visto), mas neste caso foi fraco agradecimento, porque a cadeira estava moldada, e não cabia lá mais rabo nenhum. ainda hoje se lá procura rabo...
ora, não o tendo encontrado, estão com vontade de remoldar a cadeira (leia-se o concurso). a solução até parece boa, mas calha que o novo rabo para o qual estão a remoldar a cadeirita (que até o podira ter lá sentado aquando o primeiro concurso), mais o bónus que lhe está associado (e aqui o bónus pesa mais que o rabo, parece-me), tem vergonha na cara (e no rabo, claro).
quem fica de prejuízo, nestes dois casos, a modos de amostra que a vida por vezes pode ser justa, foi quem devia ter interpretado bem os problemas e, por falta de perspectiva e excesso de chico-espertismo, resolveu ir pelo caminho mais fácil.
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