sexta-feira, 30 de outubro de 2009

ibéria



quando era miúdo, gostava muito de história. recordo estar na primária, a fazer um trabalho de outra coisa qualquer e estar a ouvir, atrás de mim, a professora explicar algo acerca de uma qualquer batalha a um aluno mais velho, recordo de estar fascinado com a explicação.

aljubarrota foi um marco tremendo na nossa história nacional, mais ainda do que afonso henriques e a restauração da independência, para mim. para mim, representa a vontade de um povo ser independente, tal como o afonso e a restauração, mas aljubarrota tem um imaginário mais rico, para um catraio.

ora, uma entidade, pessoal ou colectiva, querer ser independente, goes a long way. e no meu nacionalismo romântico (não é daqueles que acham os portugueses melhores que os outros ou que gostam eles ganhem sempre) é importante irmos em quase 800 anos de nação independente (o que é digno de gabo).

a melhor parte dessa independência, para mim, está relacionada com um conceito mui caro: reserva moral.

passo a explicar. não somos apaixonados como os italianos, não temos as ganas dos espanhóis, a fleuma dos ingleses, a organização dos alemães, a alegria e simplicidade dos africanos,o chauvinismo dos franceses, etc e por aí adiante.

por não termos nada disso, temos a disponibilidade de nos concentrar, tal como os nórdicos, mas sem a frieza deles, de um modo mais terra-a-terra, nos princípios que estruturam a sociedade humana. escrito de outro modo, quando o mundo (inteiro) estiver em colapso de valores ideológicos (já faltou mais), irá virar-se para quem não cometeu os erros que o mundo generalizou.
agostinho da silva escreveu-o melhor do que eu, o padre antónio vieira escrevia do quinto império, camões fez poema da ilha paraíso na ilha dos amores e pessoa referia-se a algo semelhante com o "falta cumprir-se portugal"

é por isso que acho fundamental que os nossos ganhem sem batota, mas se não conseguirem ganhar desse modo, que percam com honra. foi por isso, porque fomos puros e irredutíveis, que ganhamos a organização do euro 2004, com o que isso teve de bom e mau. claro que houve erros brutais de planeamento (financeiro e económico), mas o que demos à europa nesse verão teria deixado satisfeitos agostinho, antónio vieira, luís vaz, pessoa e todos os que partilham uma visão semelhante. porque não demos ostentação, nem imagens grandiosas, nem avanços tecnológicos. demos hospitalidade, tratamos com carinho e gentileza quem nos visitou, adversários ou não.

porque concretizamos um exemplo de relacionamento humano, no sentido rico da expressão.

o mundo girou, e agora portugal concorre à organização de um mundial de futebol (2018 e/ou 2022, acho). mas não concorremos sozinhos, concorremos com a espanha, numa candidatura ibérica. dois irmãos a tentar fazer algo em conjunto, porque ambos são livres e valorosos (o conceito delicia-me até ao êxtase).

noutra perspectiva, há muito quem fale de uma união ibérica mais abrangente: fazer uma nação, de dois países. saramago escreve disso, parece que em casa dele resulta bem. entre nações, penso que é algo ao contrário: espanha é o homem, poderoso na intervenção; portugal a mulher, a razão que rompe limites. (eu escrevi, tenha uma visão romântica).

não sei se iremos avançar para isso no futuro breve (avançar sei que vamos, mas não sei quando chegaremos). sei que há puristas que objectam, com razões válidas, uns, nem tanto, outros. sei também que nunca deve ter havido, historicamente, momento mais potenciador de tal união, nos moldes que ela vier a ter (se vier a ser).

a minha opinião é paralela à das uniões entre as pessoas: se ambos se enriquecem mutuamente sem deixar de ser quem são, que se juntem (havendo sentimentos que o suportem, por supuesto). mais vale três entidades poderosas que duas (mais) frágeis.

isto pode ser o início
(não é o início, mas é a marca) de uma bela relação.

p. s.- (ando a aprofundar neste tema há pouco, escrevi mais acerca do processo de raciocínio que de uma opinião. mas, mais do que a chegada, quase sempre vale o percurso).

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

educação



vi estes vídeos há uns meses, num blogue que acompanho. fascinou-me a mensagem e o modo de comunicação. há uns dias, estava num daqueles jantares delícias (comida boa, companhia boa, conversa boa, miúdos a brincar livres, de barriga cheia), e falamos deles.

para mim, a sociedade assenta em três pilares: o mais resistente, a justiça; o mais frágil, a economia; e o mais poderoso, a educação. claro que saúde, ambiente, política, e outras áreas são igualmente estruturais, mas sinto-as a um nível inferior, prioridades minhas.

bastas vezes, porque vivo perto de escolas, cruzo-me com adolescentes. já deixei aqui que me rala a perspectiva de mundo que têm, habituados a ter o que exigem (muitas vezes já não pedem, passam directo à fase seguinte).

esta geração, como as anteriores e as posteriores, irá gerir o mundo, nesta área de influência geográfica, pelo menos. pelo menos, deverá gerir o mundo. mas que esperar de uma geração que não aprendeu a conquistar e não aprendeu a construir?

imaginem um gestor exigir a um funcionário que trabalhe, sem pensar em escrever no contracto a remuneração por esse trabalho; imaginem um funcionário exigir ordenado por um trabalho que nem fez; imaginem um político exigir eleição sem que confiem nele; imaginem pessoas que estão habituadas a ter o que querem sem mérito, fazer uma birra acerca de algo absurdo que, querendo, não merecem. não crianças, mas adultos, a gerir o mundo.

nessa altura, serão irrecuperáveis, pelo menos por inteiro. melhor agir já, em putos, quando tanto aprendem o bem como o mal. basta que lhos ensinem adequadamente, de um modo que se possam realizar pessoalmente, sendo úteis ao mundo que hão-de gerir.

isto vale para todos, porque todos somos educadores, cada um a seu modo e com a sua influência. não é um direito, é um dever.

de votar, pudemos abster-nos; de não pagar impostos, pudemos tentar; de tratar sentenças de tribunal como se fossem papel de limpar o rabo, idem. mas, se consideramos o mundo nosso, temos obrigação de lhe permitir subsistir estruturado. humanamente estruturado.

essa estrutura chama-se educação, e está a passar errada.

ovelha (e carneiro, para não ser sexista)



uma palavra com muitas relações:

todas as famílias têm uma ovelha negra;

a música dos housemartins,
e a dos pik floyd;

a analogia de sermos todos carneiros, na carneirada. ou nem todos, o que remete para as ovelhas negras e os lobos.....;

as noites de insónia;

o imaginário infantil;

a tradição, nos teares e na tosquia;

o signo do zodíaco.

foi uma divagação ligeira, este post.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

on est ce qu'on est (I)



estava no primeiro ano de faculdade, e tinha, entre outras, duas dificuldades: por um lado, era introvertido (chegaram a chamar-me anti-social, e foi uma amiga), mas na altura havia lá mais de nós e a coisa ia-se compondo; por outro lado, era preguiçoso (ainda sou, sendo que a introversão resolvi com garbo e sem modéstia), pelo que os meus trabalhos não se destacavam (ainda hoje acontece algo do género, mas não por ser preguiçoso a trabalhar (porque não o sou a pensar nem sonhar), mas porque tenho preocupações menos comuns, menos vistosas).

um dia de apresentação de trabalhos, em que achava fraco o que tinha feito, por comparação, (o objectivo era montar uma exposição num determinado espaço, de um determinado pintor. eu escolhi dali, e o espaço replicava o quadro que ilustra o post. recordando-o, ao trabalho, estava bom, era genuíno), um colega (de graça marco, se bem recordo) disse-me algo do género: "não te deu trabalho a fazer? tem orgulho dele". não foram estas as palavras finais, mas a ideia era exactamente.

na altura, gostei de ouvir (também afectava a minha faceta introvertida), e fui crescendo nessas áreas a partir daí. hoje, quando confrontado com trabalhos de colegas que têm preocupações diferentes das minhas (e soluções, em consequência), mais vistosas e gabadas, não faço comparações de valor. faço de preocupações, porque se ralam eles com isto e não valorizam aquilo, coisas do género.

é por isso que discordo muitas vezes de muitas soluções (não embarco muito em modas, e a arquitectura anda a navegar muito por aí, por cá), mas não as distrato. procuro entender, quando me parecem valer o esforço de compreensão, e mesmo mantendo discordância, cresço.

não temos de ser os melhores do mundo para o maior número de pessoas. temos de ser o melhor que formos capazes, para nós. os que nos entendem (amem ou apenas entendam), apreciam isso, concordem ou não.

p. s.- o título do post tem (I), porque provavelmente haverá um (II), já que a frase tem também significado noutro contexto.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

black market



quase a fazer anos, moi. 40. mais que idade de ter juízo, idade de o saber utilizar, com moderação q. b., sendo possível. não sendo, não usar. repito-me, esta é a parte de o saber usar.....

para sugestões de prendas, deixo uma música da marlene (a minha 2ª preferida dela, já aqui falei da 1ª) que usei como contexto para uma lista que tive de fazer anos atrás (nela incluía um helicóptero, de verdade, que não me deram, snif).

quem quiser enviar prendas e não souber para onde, está por aí o email, é pedir o endereço físico. quem quiser trazer em mãos, manicure s'il vous plaît (é o meu aniversário, caramba. já agora, a expressão devia ser trazer nas mãos ou trazer em pés, a menos que quem traga venha de pino, não? calhando, não, estou só a derrapar).

p. s.- mencionei que nunca chegaram a dar-mo o helicóptero?

sou louco



fim de semana ocupado, coisas melhores para fazer que escrever (não são muitas, olhando bem, mas há). recupera-se já.

é hábito comum chamar a outras pessoas louco, "tu és louco". certas vezes com a leitura "tens umas ideias arrojadas, ihammy", outras devendo ser lido "só dizes parvoíces". engraçado que os adolescentes usam muito (não me aprece que seja das novelas deles, porque já é hábito antigo, a menos que as novelas bebam na tradição), mas também os catraios pequenos e os crescidos. toda esta gente usa com ambas as leituras, para perceber a versão é necessário atentar na entoação e, sendo possível, na expressão facial e corporal de quem diz.

a mim chamam muitas vezes, em ambos os sentidos. num, quem me conhece e aprecia a originalidade de atitude, noutro, quem me conhece (mal) e julga (depressa). escrito isto, sou mesmo um pedaço valente.

não afirmo loucura como estado mental, incapacidade de perceber a realidade (outros há, que não parecendo o que são, são aquilo que eu pareço), mas como recusa de viver sem (pelo menos) estrebuchar na realidade real. porque atentando bem, a realidade somos nós, almas, que a fazemos, em grande porção. e cada um faz uma porção ainda maior da sua. e como dizia uma frase de apresentação no msn do meu mano, "being normal is just crazy", a bem da sanidade mental.....

p. s.- o meu filho usa "doido", na leitura "ihammy". me gusta.

sábado, 24 de outubro de 2009

concretizando



uma coisa boa no meu trabalho é nunca ser monótono. outra, as feiras profissionais. decorre a concreta, fui. e voltei muito convicto de duas coisas que valorizava.

uma delas, a implementação de energias limpas, chamadas "alternativas". para além dos painéis solares, dos requisitos de comportamento térmico, de recolha e aproveitamento de água de chuva, das coberturas ajardinadas, coisas já corriqueiras, sempre cheias de evoluções técnicas de eficácia, havia em exposição sistemas de aproveitamento de energia eólica domésticos (mini-eólicas, empresa galega, coisa mais riquinha), e utilização de energia geotérmica em sistemas de aquecimento.

parênteses (no meu tempo de universidade, e já das décadas anteriores, o que se valorizava nestas problemáticas era a exposição solar dos edifícios. ou seja, para além da estética, dos custos, das técnicas, da legislação, das relações com promotores, do enquadramento urbano e histórico, nós, jovens arquitectos (foi há uns 17 anos, caramba), chegávamos a um local e, antes de quase tudo, reparávamos onde estava o sol, fazíamos contas às horas que eram, e orientávamos o local, nascente daquí e ponte paracolá. eu ainda faço isto, antes de quase tudo, quando chego a um local novo).

muitas pessoas ainda olham para aquilo tudo (bem, quase tudo) como para um palácio. depois seguem para os sistemas convencionais, discutir rentabilidade, custos, vantagens em combustar este combustível em lugar de queimar aqueloutro. suponho que o mundo ainda não grita alto suficiente para chegar a todos os ouvidos. ou então é questão de frequência acústica, sei lá......

a outra coisa que me trouxe satisfeito foi uma conversa acerca do futuro da construção, cá. é um assunto de que se fala há basto, em congressos e nos meios profissionais, mas que começa a espalhar-se a todas as áreas do negócio (refiro-me aos investidores, promotores, upgrades de pato bravo, sendo que ainda há destes). basicamente, quem constrói por construir deixou de vender como vendia, de há muito. mas há gente perspicaz, que já o percebeu há muito (coisa de ir a congressos ou trabalhar com técnicos informados) e gente que foi dando cabeçadas nas paredes porque demorou a perceber que não havia ali saídas, estavam noutra direcção.

o que mais me agrada na situação actual é que a construção já não serve para satisfazer uma necessidade deficitária do volume de construção (já vai excedentária, and rising). por analogia, deixamos de ter necessidade de construção, e o passo seguinte é ter desejo de boa construção.

como dizia o agostinho da silva (eu ouvi-lho a ele, mas calhando, ele estava a citar outrem) "não se sonha de barriga vazia". introduzir qualidade na construção que não a tem é como educar uma criança: são permitidos todos os sonhos de que aquele ser possa atingir a sua plenitude.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

prenda ideal



imaginem que vão receber uma prenda de alguém. que prenda gostariam que fosse, imaginando não haver limites nenhuns (isto é um blogue de ideias e ideais)?

uma prenda material, palpável? carro descapotável com capota, casa com piscina e solário (faz um efeito de fugir, o solário, mas isto é só o que eu acho), umas botas fenomenais da romeu, um sofá com chaise longue, um saca rolhas e uma garrafa para experimentar?

uma prenda material, apalpável? loiro, morena, ruiva, careca, doce e perfumada, alto e espadaudo, valorizável pelo sorriso, mãos, pés, pescoço, lábios?

uma prenda intelectual? livro, disco, bilhete de concerto, caixa de lápis, máquina fotográfica, papel de impressão fotográfica, líquido de revelação, link para site de downloads gratuitos?

talvez uma prenda emocional? amor, vingança, amizade, capacidade de desprezar os desprezáveis (na realidade, não há desprezáveis, apenas pessoas que mais vale desprezar que aturar)?

ou uma prenda de valorização pessoal? capacidade de amar, de odiar (esta quase todos têm, mas há umas pessoas que amo que seriam bem servidas se a adquirissem), de entender, de acreditar, de chorar, de se dar, de receber, de ir, de voltar, de ir e não voltar, de voltar a ir?

uma prenda que caducasse, para ser apreciada intensamente (nada como o pouco tempo de durabilidade das coisas para as intensificar, dá que pensar, isto)? uma tarde de pêra, uma noite suada de amor, um olhar e sorriso de desconhecido(a), no autocarro, uma brisa numa tarde tórrida, uma lareira numa noite gelada, uma garrafa de vinho chambreada, dois copos e uma companhia passageira, um cheque de vários milhares de euros (com provisão), uma viagem às hihglands, um salto de para-quedas, uma ascensão à torre de hércules, uma promessa proferida por lábios de cereja?

quem sabe, uma prenda necessária? uma noite de sono sem pesadelos, uma consciência desculpabilizada, a atribuição de um subsídio (ou mesada, para o(a)s menores), uma corda para os que se afogam, uma direcção e sentido para os que se perdem, uma saída para os aprisionados, uma entrada para os excluídos, um ecoponto à porta de casa?

bom, bom, bom é não necessitar de nada importante e ter quem nos dê o que queremos, por saber que o queremos e o quererem dar.

p. s.- algures, acima, devia ter mencionado flores. e massagens. e anéis e gargantilhas. e abraços e beijos. diabo, não haverá limite para os desejos e necessidades humanas?

p. p. s.- isto, relido, soa a uma letra de uma música do abrunhosa.

esperar



saber esperar é uma virtude e puder esperar é um luxo.

convém também escrever que esperar não é o mesmo que desperdiçar tempo. na realidade, tempo não resolve ou cura nada, o que se passa é que muitas soluções ou curas necessitam de tempo para se efectivarem. não é o tempo que cura, são as soluções, necessitem de tempo ou não.

por exemplo: imaginem uma pessoa ridícula que é capaz de o disfarçar muito bem (o muito está exagerado, mas sempre dá jeito ao raciocínio). está bom de ver que, mais cedo ou mais tarde (consoante a capacidade de disfarce da pessoa ridícula), o facto de ela ser ridícula será perceptível geral. ora, não é o tempo que tornará a pessoa ridícula, ela é-o de dentro. acontece é ser preciso tempo para que tal seja visível......

outro exemplo: plantas necessitam de água e luz para crescer e florescer. tal processo só será visível após "x" tempo, mas não é o tempo que as faz florir, são os nutrientes e a luz (há quem diga, e eu rendi-me à evidência, que falar com elas ajuda.......).

outro ainda, este guloso: há umas tartes que são uma perdição (maneira de escrever, na realidade, são a salvação das almas cujos palatos as provam, alguns sabem do que estou a escrever). ora essas tartes, das quais adquiri recentemente a secreta receita (eheheheheheheheheh), ficam "y" tempo no forno, a assar. não é o tempo de forno que as torna esplêndidas, é o cariño nos ingredientes. valorizar o tempo que demoram no forno é ridículo.

há coisas mais ridículas, mas ainda assim, é ridículo.

não errar



sentimentos contraditórios, hoje. dilemas morais, daqueles em que nos afundamos ou aprofundamos, conforme mal ou bem resolvidos.

parênteses prévio, é uma piada de que me recordei no autocarro enquanto me contraditava (estava a maria madalena despojada de roupa no centro de um círculo de gente pura, todos a ouvir cristo pregar acerca dos erros, da necessidade de perdoar, sai ele com o famoso "quem nunca errou atire a primeira pedra!". ora, um fulano de nariz pingão, que se dizia das redondezas da póvoa do varzim (a zona do rapaz fica a critério, eu ouvi assim e soou bem), com uma pedra mui bem lascada na mão direita, ficou pensativo, mirou três vezes a infeliz meretriz e a pedra mui bem lascada que segurava, olhar a bailar de uma para a outra e, durante o prolongado silêncio que cristo deixava fazer efeito e madalena lhe agradecia com olhares doces, ergueu o braço e disparou uma tal pedrada que a rapariga nem tirou os olhares doces e foi com eles que deu duas piruetas à retaguarda (testemunhas há que mencionam um encarpado, mas sabem como são estas coisas do diz que vi) antes de cair no chão pedregoso, inconsciente. cristo ficou furioso: "mas tu és parvo? és um imbecil completo, pá! que raio de ideia foi essa!?", ao que o poveiro respondeu, acanhado, raspando a ponta da bota direita no pó do chão, à la obelix: "foste tu que disseste quem devia atirar primeiro.....", justificou-se, deixando o messias ainda mais furioso (e esquecendo a parte do perdoar os erros alheios.....): "devias estar internado, pá, não bates dessa cabeça, não te falta um parafuso, faltam peças inteiras, e das importantes, tu nunca erraste? nunca falhaste, ó idiota?" (a parte do "ò idiota" também pode não ser verídica, não a ouvi bem, mas contaram-me assim e, no meio da indignação divina, parece-me credível). o rapaz, perante a pergunta, mudou a expressão acanhada para uma de prudente orgulho e respondeu: "cristo, a esta distância, nunca!"). o.k., foi meio fora, mas tinha de ser.

o meu dilema é este, na parte que posso deixar pública: estou dividido entre vingar uma atitude pequena de quem me prejudicou profissionalmente e lucrar profissionalmente contornando-o.

até que ponto estou a valorizar o prejuízo passado para justificar o ultrapassar presente? até que ponto deveria desprezar o prejuízo e esperar outra situação de valor (que sei vai vir, não vindo a da ultrapassagem, porque vai ter de vir uma, infalivelmente)? até que ponto satisfaço dois prazeres menores (vingança e satisfação de fazer um projecto que quero fazer e devia ter feito, raios) desprezando um bem maior, o da verticalidade máxima?

a questão é que não posso andar a pregar almas limpas se contaminar a minha.

reconheço que é fácil arranjar desculpas, olhar para o lado quando devia olhar em frente, mas a questão é mesmo essa, puder olhar em frente, para toda a gente, a direito, sem desníveis. para isso, é necessário que os erros sejam de boa fé (como o do poveiro, por exemplo, que julgou estar a fazer bem não errando), porque não o sendo têm de ser escondidos, os erros e os olhares.

é o meu critério. aplicando-o, sei que se seguir em frente vou ter (o prazer) de dizer a quem me prejudicou: "erraste, pá".

terça-feira, 20 de outubro de 2009

primeiro amor



p(ré) s.- as cadelas tomam os comprimidos muito mais facilmente que os gatos, caramba.

estive a agradecer a uma amiga o link para as escadas/piano e ela falou do primeiro amor. o paião pôs isso de uma maneira deliciosa, "sabes, cinderela, eu gosto de ti", fica quase impossível perceber como raios pode ser de alguma maneira diferente.

o meu foi bonito, muito produtivo, uma daquelas pessoas que se ama para a vida.

mas a questão nunca é o primeiro, é o presente. na ausência, o próximo.......

p(os) s.- uma noite, contei ao gustavo uma história de uma baleia e um peixito, apaixonados. no meu mundo e no dele, ainda antes de o pequenito adormecer, ficaram juntos, o peixito e a baleia, porque o nosso mundo está direito. e recomenda-se.

burros, escadas, pianos e comprimidos para gatos



há um dizer que é mais ou menos assim: todos os burros comem palha, é preciso é saber dá-la (não entendo bem, eu julgo que os burros comem palha por gostarem dela, calhando não gostam e é um trabalho que a comam).

quando se diz que não há solução para isto nem aquilo, menos ainda para aqueloutro, bem, se formos criativos, .

em contraste, aquela história de dar um comprimido a um tareco......

under acting



este é para equilibrar o anterior, comecem por baixo (mais ou menos o que o meu tio queria dizer com "pelo fundo da cama", acho que já contei aqui).

de repente, não tenho nada para escrever. a estrutura disto necessita que eu escreva algo acerca das virtudes de adoptar uma atitude suave e discreta, deixando espaço para o que está em volta, porque se sabe o impacto que se tem, gabar a delicadeza na comunicação e no modo como uma alma se dá ao público (e/ou ao privado), as vantagens de deixar um percurso livre até nós, para ser percorrido por quem o quiser percorrer.

eheheh, fiz um truque, escrevi um parágrafo e agora é só deixar os links.

p. s.- que post mais idiota....

p. p. s.- mas nem todo: a imagem que o ilustra é "as areias", de arpad szenes. se uma alma pode ter sido o protótipo do under acting, imagino que fosse a dele.

over acting



era uma coisa que me incomodava, eu deslizava melhor em situações suaves, low profile, olhava mais e prestava melhor atenção ao que tinha de descobrir do que ao exposto no limite.

agora já não incomoda, percebi que muita gente sente as coisas com tal intensidade que elas, coisas, têm de sair assim, abusadas. verdade, há quem aproveite para satisfazer necessidade extrema de atenção com folclore, não deixa de incomodar-me. verdade também que continuo a ser melhor atraído pelo sussurro que pelo grito. mas o homem cresce, aprende a valorizar as diferenças, quando são genuínas.

raios, o que um(a) fulano(a) aprecia é a genuinidade, não como ela se materializa. o que faz do post redundante, pelo que a seguir, vou arredundantar no sentido inverso, só pelo gosto de.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

piscinas



"the swimmer" é um filme antigo, com burt lancaster a atravessar piscinas, uma perspectiva surreal do percurso de uma vida errada e uma afirmação triste de que há erros que só se entendem no final, tarde demais para corrigir. é um filme que me incomoda (re)ver, porque representa o erro que menos me permito cometer.

se houver uma piscina que representa o final de vida que pretendo, é algo semelhante à da imagem que ilustra isto. antes, há muitas braçadas e mergulhos por dar.....

p. s.- há um anúncio da levi's que recupera a estética do filme. é fraco, mas a música é deliciosa. eu tenho deixado aqui muita publicidade, o que pode ser entendido como incongruente com a minha guerra aberta. pode ser e é, mas pode não ser, também. publicidade é uma arma, tal como a palavra, o punho, a beleza, bombas nucleares, fisgas, música e tantas outras. não é a arma que devemos atacar, mas quem a utiliza (no que para nós é) mal. será justo acrescentar que alguma da publicidade que tenho publicado aqui está "mal usada". será e é, mas mais vale pecar por humor que por fundamentalismo.

domingo, 18 de outubro de 2009

(i)limitações



acerca de muitas coisas demoro muito tempo a definir o lugar delas, ou se as quero, ou como as vou ter ou dar.
tenho este vídeo de parte ao tempo, só hoje decidi como expor.

duas coisas, complementares: uma, é importante querermos o que querermos e não nos satisfazermos com menos do que; a outra, quando não chegamos lá, onde queremos, não desistimos, melhoramos, crescemos capacidades, elevamo-nos, até chegarmos.

p. s.- a imagem é de ícaro, porque se é importante passarmos além de limites, é igualmente importante sabermos quais não conseguimos, ainda, ultrapassar.

p. p. s.- este é o post trezentos. pareceu-me um bom resumo do que tenho deixado aqui, no blogger (romãs e pégadas).

pesadelos



dez da madrugada, domingo, hoje. toca o telefone, era o vizinho, "olá, acordei-te? era para me vires ajudar a descer um armário para a carrinha, é para o levar para a quinta, e tal.....". ainda prometeu deixar-me dormir mais um pedaço, mas tinha de lhe prometer, eu, que acordava meia hora depois, ora bolas.....

já devo ter escrito aqui, acordo devagar, mole e de mau humor. vesti umas calças e desci, estava já ele a empurrar o armariozito até às escadas. a vizinha vê-me e "olá joão, estavas a dormir?". sem precisar da resposta, "oh joão, tu foste acordar o joão para vir ajudar?!?" (o marido também é joão, tentem acompanhar), ralhou.

eu, já de cócoras e a tentar amparar o piano escadas abaixo, "deixa, faço de conta que não acordei e que isto é um pesadelo". ela desmanchou-se, o armário ia pelo mesmo caminho, até eu man up, (porque o joão, o outro, já estava acordado e energizado, acompanhem).

o armário saiu bem, já deve estar no lugar novo. eu voltei aos lençóis, antes de os mudar, e re-dormi. tive pesadelos a sério, coisas que não escrevo aqui. vim escrever isto para sorrir outra vez com a piada que fiz.

umas das vantagens do humor é que aproxima, outra é que perdura.

sábado, 17 de outubro de 2009

reacção



ainda acerca da intervenção independente em eleições: eu entendo que as pessoas se vão afastando dos partidos por não sentirem que eles as representam, o que gera abstenção, votos brancos e nulos. para mim, há várias fases que cada alma vai percorrendo a seu modo e na sua dinâmica de percepção. as três primeiras são, por ordem de gravidade, dúvida, desilusão e desinteresse, e são as que geram o afastamento, nos seus vários estágios.

durante qualquer destas fases, os partidos em geral (e os políticos em particular) podem inverter a situação. basta passarem a representar quem os elege, em lugar de o fazerem a quem lhes paga. soa duro e cru, mas é como é, democracia representativa tem de representar que elege democraticamente.

não o fazendo, as pessoas, ainda a seu modo único e na dinâmica pessoal de cada alma (há quem esteja a entrar na dúvida e quem esteja já enraizado na fase final), vão evoluindo para uma fase posterior, exterior ao espectro partidário.

essa fase posterior denomino reacção, porque é uma acção que tenta contrapor soluções extra-partidárias (por incompetência destas) aos problemas das pessoas, que os partidos se têm manifestado impotentes para resolver.

materializando, trata-se de cidadãos (expressão rica emanada da revolução francesa) se unirem (expressão rica, de sempre) para tentar concretizar objectivos comuns. olhando bem, esses objectivos comuns são os de todos, com excepção dos corporativos, associados a grupos de interesses económicos e algozes.

como escrevi num comentário ao comentário de uma comentadora disto, é uma guerra aberta. como dizia um amigo ontem à noite, é e sempre foi o interesse humano contra o interesse económico.

mais cedo ou, provavelmente, mais tarde, a maioria estará na fase de reacção. vai ser um momento/período delicado, porque decisivo. excessos serão cometidos, erros mais ainda, mas o (nosso) mundo só pode pular e avançar. repito-me, e tenho-o feito repetidas vezes, há que escolher lados. sem desrespeito para quem escolhe o outro lado, são inimigos, porque querem um mundo que recuso aceitável.

p. s.- há quem acredite num deus qualquer. de novo, sem desrespeito, preciso de acreditar que serão as pessoas a decidir a sua vida, em sociedade. soa melhor, sabe melhor e, apesar de utópico, será talvez mais produtivo.

p. p. s.- pode ser visto como perspectiva utópica, simplista, objectiva, simples, bélica ou o que quiserem. mas escolham lados, porra, vai sendo altura de.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

filosofias I



uma. há um ditado oriental que é algo do género: "se não tens nada agradável para dizer, fica calado" (outra versão, mais poética, é: "se não podes melhorar o silêncio, fica calado"). pessoalmente, acrescento "ou necessário" ao agradável, porque há coisas que, sendo desagradáveis de dizer, são necessárias ser ouvidas.

dois. um filosofo grego cuja graça não recordo tinha uma teoria acerca da lebre e da tartaruga: dizia ele que a lebre, numa corrida, nunca iria ultrapassar a tartaruga, porque sempre que a lebre alcançava o ponto onde a tartaruga estava quando ela, lebre, partiu, a tartaruga já teria andado mais um pouco, e assim sucessivamente. prova isto que para ser idiota basta ter uma ideia curta e que, por mais lógica que seja a lógica de alguém, se o alguém não olhar bem para a frente, não passa da lógica desse alguém.

três. se estás farto de ouvir sempre a mesma não resposta, deixa de fazer sempre a mesma pergunta. quando a resposta for sim, to dirão.

quatro. a definição mais duradoura (ainda dura e aplico generalizado) que me ficou da iniciação à filosofia (7º ano, acho) foi a de problema: aquilo que necessita de solução. problema não é algo necessariamente mau, nem a solução tem de ser efectiva (pode ser simplesmente uma não solução).

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

trabalho



"o trabalho liberta" é uma frase com significado muito negro associado. não é dessa parte negra que o post trata, é dos objectivos do trabalho.

recuso começar pelo dinheiro, duvido até que chegue a essa parte.

o objectivo mais relevante do trabalho é a realização e satisfação pessoal (não é para rir). é justo afirmar que muita gente que trabalha não retira essa realização e satisfação pessoal, mas isso não invalida o que escrevi antes, apenas aponta para o facto de muita gente estar a fazer o trabalho errado ou da forma errada.

na realidade, quem quiser ser franco (e tiver o mérito de não caber na muita gente do parágrafo anterior), reconhece o que escrevi, que trabalho é fonte de prazer, satisfação e engrandecimento. mesmo que não seja todo o trabalho que fazemos (eu venho de burocracias, na câmara municipal de coimbra, tenho de reconhecer excepções), é importante que o grosso (em volume, importância ou impacto) seja satisfatório.

por exemplo, moi. eu sou arquitecto, não me vejo a conseguir deixar de o ser (mas a vida gira e gira e gira), mas acabo por ser mais coisas: dono de casa (dos bons, não riam. é vir provar o meu bacalhau à brás.....), fui formador, faço carpintaria (da má), consultadoria (de precisão), mudanças (em expansão, vou começar a cobrar para financiar viagem a new york, ver os knicks e passear na neve), aconselhamento matrimonial (e outros), passeador de cães e, pelo menos, vendedor de sonhos.

pai não incluo na lista, é tal o prazer, que extravasa.

para finalizar (fechar círculo, era onde queria chegar desde o início), fica uma das minhas mais idiotas e infalíveis teorias visando a espécie humana: gente amarga com a vida e os outros, ou não retira prazer do trabalho ou do(a) companheiro(a). e como isso se pega, provavelmente não retira prazer de lado nenhum. é idiota, mas raramente falha.

p. s.- o que mais adoro no chão da minha casa não é ser lindo de morrer, é termos sido capazes de o acabar, lindo, antes de morrermos. agora olho para ele e vale mais que o resultado final, vale o trabalho, meu e de quem transpirou comigo, alimentado a tostas de galinha e imperiais.....

água fresca



continuando a continuar post's anteriores, mais beijos.

este feito de água fresca, como os goles da vida simples. é assim que se fazem meninos, que depois beberão, também eles, da mesma água, e farão, sendo capazes, da vida algo simples.

parece vazio, mas é muito cheio. tão cheio que transborda.

p. s.- estava a precisar de goles de simplicidade, me voy a salir para burocracias......

não se pede, menino



no post anterior, deixei exemplo de aplicação deslocada de agressividade, determinação. neste, fica exemplo de quando se deve take charge. ou então, não.......

p. s.- o beijo da imagem, do doisneau, ficou famoso como fotografia, pela espontaneidade. na realidade, foi encenado. é preciso ser idiota chapado para querer ficar famoso por uma trafulhice, mas a imagem, mesmo mentirosa, é bela. um belo perigoso, porque é o que se obtém quando se junta beleza e mentira.

p. p. s.- por falar em roubar beijos, ou pedi-los: aconteceu há anos, tinha o meu rapazito uns três, talvez. estava a brincar num parque e a ele atrelou-se uma menina mais nova, talvez de dois anos. quando nós chegamos, já a mãe da menina chamava a menina para sair do parque. muitas brincadeiras depois, mãe exasperada, lá conseguiu que a filha acedesse a sair, mas a menina, educada de bem, disse "antes quero dar um beijo a este menino". o gustavo, imediato, sacou a pastilha elástica que tinha (a delicadeza só pode ser genética) e esticou a boca, mas a mãe da menina histérizou, que "não, na boca não!", e eu, antes que ela colapsasse, disse ao gustavo "filhote, na boca não". ele esperou pelo beijo na bochecha antes de voltar a enfiar a pastilha. a menina saiu, finalmente, a mãe respirou, fundo, o gustavo ainda brincou mais um pedaço e saiu quando eu disse ser altura de. moi, eu fico sempre orgulhoso da delicadeza e da espontaneidade
do meu filhote.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

lama



já escrevi muitas vezes de delicadeza.

reconheço que, por vezes, é preciso ser agressivo, marcar território, take charge. suponho que é um dom (divino ou terreno) saber (ou sentir) quando é uma altura dessas.

há uma piada que é algo do género: quando a menina estava na fila para os pézitos, calhou distribuírem sensatez noutro lado.....

alguns à-partes: fico curioso de como a situação se resolveu, porque não encontrei vídeo da menina com os pézitos na lama (encontrei outro, mas a menina era outra, o carro também e a lama estava mais contente); e fiquei invejoso do carro (muitos risos);

terça-feira, 13 de outubro de 2009

my favorite people



muito do que escrevo vem de associação sequencial de ideias. mais ou menos como jogar ao fruta ou chocolate, "passará, passará, mas algum ficará...". desta passagem, ficou esta:

no post anterior escrevi das duas melhores pessoas que conheço, em parâmetros de humanidade (o que faz o post mui especial). se não contabilizar crianças, não é exagero.

o que as coloca nessa minha opinião é terem presente o bem alheio, mesmo o dos mesquinhos, quando olham para o mundo, "never losing sight of what is, truly, essential".

já o que me revolta nesse mundo é que pessoas assim têm mais dificuldade para se realizarem que quase todas as outras. sendo adquirido que elas estão certas, tem de ser mal do mundo.

p. s.- não deixa de ser curioso que, no vídeo, quem sobrevive é uma criança e um cão, os únicos que não passaram da realidade à paranóia.

i'll love you to death



é uma das expressões mais ricas que conheço. quando, há pouco, li o que uma pessoa (a quem a expressão se aplica) escreveu, fiquei de alma apertada.

não julgo (tento, pelo menos) opções alheias, importantes ou não. quando as conheço bem, às condicionantes, quando conheço bem as pessoas, opino, mas tento não julgar. o que nada tem a ver com perdoar, porque há coisas que não perdoo. deus talvez o faça (em algumas religiões, pelo menos), eu dificilmente seria capaz.

haverá motivos para fazer quase tudo, na vida e na morte, é a parte em que não julgo. perder alguém que amamos é aceitável, tantas vezes justo e justificado. mas ver alguém que amamos perder-se, nops. isso não sei perdoar e não quero aprender.

p. s.- é a terceira vez que posto este vídeo. a primeira removi, porque o postei azedo. disseram-me que eu tenho muito jeito para sair. vai o mundo de girar, pular e avançar, vamos de olhar outra vez, e i'm the one still standing. isso e eu postar elton john, coisas que acontecem.

subway



outras culturas, provocações, outras formas de andar no mundo. subterrâneo.

gosto de metropolitanos underground. estes modernos, de superfície, são eléctricos rápidos, carago. muitas vezes é preciso ir muito (pro)fundo para chegar lá.....

p. s.- esta ideia recorda-me as escadas do antigo éden, que se enchiam de gente à saída dos espectáculos, e as desciam realizando uma imagem de espelho (porque tinham um corrimão ao centro, e cheias de gente, não se reparava nas diferenças entre quem descia de cada lado. à entrada não produzia o efeito, porque se entrava aos poucos, mas à saída, com toda a gente junta, era magia). ah, as escadas do éden, apinhadas, à saída do espectáculo.....

de casa às costas



uma coisa que ciclicamente que me acontece é ajudar em mudanças. na verdade, já ajudei algumas pessoas em 3 ou mais mudanças, já levei a mesma coisa para 3 ou 4 sítios diferentes. os amigos sabem que gosto, muitas vezes sou eu que desenrasco a carrinha para carregar as coisas graúdas. e tenho umas ideias arrojadas, de fazer faísca (risos).

uma mudança é um (re)começar, e o que há de bom e mau nisso depende da atitude e do motivo de quem muda. um amigo, hoje, quando me ouviu falar de mudanças, estranhou, gabou-me a casa. fiquei contente por a ter gabado, o problema é que ando há uns tempos com vontade de mudar.

por falar em casas, e porque outra vontade que tenho tido é a de escrever de arquitectura, aqui, aqui vão umas soltas....

primeira, o caracol. deve ser bacana escolher a orientação das janelas, a toda a hora, mas será que ele consegue mudar a disposição da mobília? e abrir uma nova janela é um drama. e saber a junta de freguesia onde vota? ou se abstém?

outra. auto-caravanas. deve ser bacana escolher a morada, todos os dias. e se se juntar uma chopper.... luxo de férias.

ainda outra, barcos no sena. há famílias que vivem no rio sena, e noutros rios navegáveis de frança (talvez até dos países vizinhos). deve ser muito bacana, dá vontade de ter insónias.

outra mais, igloo. pá, deve ser mesmo, mesmo muito bacana. com a companhia certa, bom de ver, por causa do frio.

o truque é travel light, porque nunca se sabe quando queremos mudar para o cimo de uma árvore, de um terceiro andar sem elevador. uma das maravilhas do mundo é que os sonhos não pesam.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

cerâmica progresso da pampilhosa



estava a precisar de desabafar, por isso o post em baixo saiu comprido. o raio do assunto aborrece-me basto.....

este vai curtito, foi a parte boa do dia (mais o leitão, ao almoço. não é das minhas preferências preferidas, mas caiu muito bem). nada como invadir propriedade privada (degradada, vá) e fazer fotografias. nada é exagero, claro, mas há alturas em que parece que não é.

agora de repente apetece-me voltar lá com outra companhia (sem desfazer na de hoje) com outro.... potencial estético, escrivamos.

os independentes



eleições encerradas, vou escrever acerca de algo que aflorei no post de matosinhos, por causa da candidatura independente do narcíso. hoje, um comentador de que gosto, o antónio vitorino, comentou algo subsequente ao que escrevi: que a ideia das candidaturas independentes era a de abrir a política (local) à participação dos cidadãos, e que se esperava que tivessem um desenvolvimento quase exponencial, quando na verdade são apenas aproveitadas por renegados partidários para continuar a sua incessante necessidade de (se) servir (d)os cidadãos.

não escrevo acerca da vergonha que é votar em certa gente, porque cada um traça o limite onde quer, e cada vez traça mais cedo (a abstenção vem daí e de mais lado nenhum, as pessoas não votam porque não acreditam que isso tenha impacto real, nada a ver se está sol e vamos para a praia apreciar bikinis ou falta deles). sem que isso retire direito a reclamar (nada tira, nem mesmo a falta de razão), hoje bateu-me que o verdadeiro direito/dever cívico não é o de votar, é o de se candidatar.

votar é sancionar. votar em branco é um protesto inócuo, a modos de brisa para derrubar parede de betão. abster-se causa mais efeito, porque vai desgastando a estrutura, por falta de apoio (se ninguém votar, não há dinheiro para os partidos, se ninguém os ouvir, não têm razão de existir para além de sustentarem os acólitos).

candidatar-se é criar uma nova frente de batalha, a única que pode criar resultados. e aqui começa o busílis: candidatar com quem, haverá discussão social que suporte associação de pessoas com ideias comuns (compatíveis, que se potenciem)? menos importante é se depois somos votados ou não, apesar da relevância de o sermos criar necessidade nas listas de partidos de mudar de atitude (e a ideia é essa).

um acontecimento que me fascinou foram os protestos contra a retaliação indonésia no cemitério de santa cruz. eu tinha conhecidos timorenses, que estudavam cá, mas a maior parte das pessoas que aparecia com velas não conhecia nenhum, foi uma coisa espontânea, as pessoas sentiram que estava certo e agiram, envolveram-se (algo semelhante, com motivos mais relevantes, ao que escrevi acerca da selecção do chocolari).

esse tipo de empenho numa causa que sentíamos comum (nem era directamente nossa, coisa mais linda, nós é que a adoptamos) não existe. com quem quer que se fale, sai sempre uma perspectiva pessoal, individual, mesmo com adolescentes, que deviam ser combativos (não falta com quê, tá o mundo todo trocado e eles ralados com os exames que são difíceis e um abuso). está visto que se é para concorrer numa candidatura com fins individualistas, é encostar-se a um partido.

hoje, à falta de melhor, vou sonhar com uma eleição de uma lista independente, sem nenhuma ligação a partido nenhum, onde o discurso da vitória é feito sem a corja de seguidores que se colocam a enquadrar o candidato em frente às câmaras de televisão. essa lista vai governar (o que quer que tenha sido eleita a governar) em democracia, vai ouvir todos os eleitos e melhorar (ou substituir) as suas soluções com as ideias de outros, opositores ou neutros. os membros da lista não vão mandar bocas nem ser malcriados com os que se lhes oponham, vai ouvi-los e discutir com eles, construtivamente. se acaso perder a eleição, vai respeitar o resultado sem desculpas, disponibilizar-se para colaborar construtivamente, sem nunca mandar bocas ou usar de má educação. ganhe ou perca, no final do mandato e em altura de ponderar nova candidatura, fa-lo-á apenas com critério de essa (re)candidatura ser ou não útil no seu projecto, que irá ou não dispor a sufrágio.

é com isto que vou sonhar, amanhã acordo bem disposto.

sábado, 10 de outubro de 2009

chocolari



dia de selecção.

se fosse há dois anos, teria escrito "da nossa selecção", porque era o que era a do chocolari, nossa.

esta, bem, as cores estão conforme, o emblema idem, conhecemos os jogadores de há anos (eram da nossa....), mas.... não jogam grande espingarda (ainda menos do que a nossa....) e não nos representam como a nossa. não é uma questão de bandeiras nas janelas ou de não ganharem o suficiente, é um problema de representatividade, agudo.

todos temos as nossas deficiências insanáveis, coisas de que não só não gostamos mas de que desgostamos muito. mas sendo quem somos, e sendo desse modo, temos de viver com elas, entranhar e seguir. eu tenho pré-conceito com brasileiros (ambos os sexos), só o sotaque me causa incómodo. escrito isto, há excepções: jorge amado, liedson (não sei se ainda conta, porque já é português), ubaldo ribeiro, d. pedro IV (era português, depois ficou imperador pedro I do brasil, o do ipiranga (qualquer maduro que grite liberdade ganha o meu respeito)), a xuxa (menina ideal de ideal de menino), jô soares e chocolari, que não é nada burro.

se havia algo que o chocolari fazia bem, não era treinar futebol, não era falar com comunicação social, não era atirar murros. era fazer tudo isso como os portugueses fazem, pessimamente: de futebol todos sabemos tudo, teimosamente; com a comunicação social somos sempre engrupidos (ele vingava-nos) e atirar murros é coisa de eficácia alemã, nós somos mais de gritar para nos segurarem e quando chegamos a vias de facto, erramos. para cúmulo da empatia, ela sacava dinheiro como gente grande (coisa que admiramos, povo invejoso), mas conseguia fazê-lo de modo a que o considerássemos um robin hood, que roubava aos ricos para ficar com ele.

ele é como nós, melhor, como nós, portugueses, gostaríamos de ser, se fossemos capazes. e o burro é ele?

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

rosebud



ontem, "cat on a hot tin roof", hoje, "citizen kane".

hoje foi dia de tarde curiosa, de tratar burocracia jurídica. acabei por, na espera, ficar que tempos à conversa com a minha advogada, que, diga-se, é um doce de cachopa. melhor, é amiga de confidências, ela junta o aconselhamento jurídico ao apoio pessoal. melhor ainda, permite reciprocidade, adoro pessoas que sabem dar e receber.

nas conversas com ela calha quase sempre, algures, falar do meu puto e dos 3 catraios dela.

estávamos a falar do que os garotos precisam dos pais, acabei a repetir noutros termos o que deixei no post de ontem, que eles não se importam com roupas de marca, com tralhas vistosas, com festas de amigos, mais do que momentos.

quem tem filhos (tem, aqui, é no sentido rico, não apenas biológico da palavra) sabe que o que eles mais apreciam, o que mais os estrutura, o que mais os alegra, é sentir dedicação dos crescidos, que estão presentes, partilhar a infindável disponibilidade deles com a nossa. não é um direito nosso, é um dever enorme e um prazer maior ainda. em complemento à estrutura, asas para voar, ou seja, mostrar-lhes múltiplos horizontes para que escolham os seus, e sejam capazes de os alcançar, estruturados.

no inverso, o que mais os desequilibra é viver rodeados de discussões, medos infligidos ou inseguranças desnecessárias. ou que lhes impinjam desejos pessoais, de outras pessoas.

acontece que o que recebem em criança fica para sempre. na minha opinião, mais indelével que heranças genéticas (por mais que adoptem a mesma posição que nós, ao dormir, ou outras delícias que tais). claro que podem perder-se (imperdoável, mas acontece), corromper-se como acontece no filme, mas o que o filme também afirma é que nunca se perdem por inteiro, que fica sempre uma alegria de criança, algures, no mais desgastado dos homens (independente do género, vale para as mulheres, igual. desejo).

p. s.- por falar em crianças, tenho saudades do doutor ferreira, de sermos putos juntos.

hobo



é uma palavra americana, cujo significado linguístico está aqui. para mim, é mais.

a primeira vez que me cruzei com o termo foi no "cat on a hot tin roof", quando o big daddy falou do pai, um hobo, que não lhe teria deixado nada "this is what my father left me.... this was his legacy to me, nothing at all", "he was a hobo.....", "i'd tag along.....", "that lawsy old draft died laughing.......", e o filho, paul newman no seu melhor, diz "maybe he was laughing cause he was happy, happy of having you with him". "yeah, i loved him".

mais tarde, voltei a ouvir o termo numa gravação de john lee hooker, hobo blues. hoje, ao visitar a página de uma amiga, "like a hobo".

para mim, é significado de viver livre de dinheiro e fronteiras, sem abdicar do que é importante.
"yeah, i loved him".

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

matosinhos



matosinhos é uma cidade que me dá alguns assuntos para escrever, e tendo ido lá dois dias seguidos, vou escrever deles.

primeiro, o porto de leixões. não tenho grande afinidade com ele, mas zonas portuárias agradam-me, gosto das máquinas gigantes e da azáfama preguiçosa, julgo que seja gosto edificado aquando puto, ao acompanhar o meu pai ocasionalmente, no tempo dos despachantes alfandegários.

segundo, tenho lá assunto familiar pendente, e pendente há tempo demais, vai ser para breve.

terceiro, o ikea. gosto daquilo, do conceito deles, do modo como as peças encaixam suaves, do modo como "vendem" o país, do design. e calha ser sempre momento de animação ir lá, porque vamos sempre buscar sonhos domésticos de alguém.

quarto (era neste que devia ter encaixado o ikea, fazia uma piada parva, quarto, ikea....), matosinhos tem o edifício de câmara que mais admiro. por vezes, julgo que devia escrever mais de arquitectura, aqui, não tem saído, mas hoje é assunto de relevo. o projecto da câmara municipal de matosinhos, do arq. alcino soutinho, foi dos primeiros (primeiro com impacto) a ser edificado ou remodelado profundamente após o 25 de abril. tendo deixado um solar pré-existente, o edifício vale pela ampliação (autónoma), e vale por uma nova imagem de poder, que pretendia deixar de ser ditatorial para se transformar em administração participada. mais do que um bom conceito (e a arquitectura são conceitos....), uma excelente materialização (...... materializados).

quinto, último, e o facto que gerou o post: narciso miranda é candidato, de novo. suponho que a culpa seja dos matosinhasnos (pois, misturei com.....) por ele acreditar que vai ser eleito, e provavelmente, por o ser. o lema dos cartazes é "votem no coração", porque como o partido não o acolhe, ele vai de independente (corrupção brutal do conceito) e escolheu um logotipo em que, sobre coração escuro, estão as letras "n" e "m", de narciso miranda, suponho. como disse um amigo meu, tinha de se chamar narciso, de tão narcisista. há nomes que acordam mesmo com o carácter dos nomeados.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

em quem se semeia



afinal tenho uma coisita para escrever, hoje, veio-me em conversa para as ilhas.

uma amiga anda a mil (passou dos zero aos cem num piscar, e já vai pelos mil, mais coisa menos coisa), coisa daquelas quem nem esperamos nas melhores expectativas. é um daqueles casos em que fico basto satisfeito por ser teimoso e achar que uma alma se realiza, mesmo quando parece improvável (o fantástico disto é que basta uma que se realiza para compensar uma pipa de fracassos, está associado a expectativas de risco).

vai que na tal conversa escrevi, acerca de a sentir poderosa, "é uma das vantagens de ter amigos, mais possibilidades de ficar contente". para ser preciso, nem é bem uma vantagem (ser, é, mas vejo mais como...), é um luxo, daqueles que me dou (dou não, dão-me, eu tento e costumo merecer).

em convívio com tanta gente que fica curta, sabe bem quando alguém se alcança, lá longe. pelo menos, quando caminham, para lá longe.

e de quanto mais gente gostamos, em quanto mais gente semeamos expectativas, mais possibilidades de ficar de sorriso a bailar.

silêncio



adoro silêncio. em quase todas as formas (porque o conteúdo é imutável) e em muitas alturas. gosto porque costuma ter uma de duas características: eloquência e/ou tranquilidade.

gosto na música (por contraste), gosto no urbanismo (espaço não edificado onde tudo pode acontecer, inclusive ficar desocupado), gosto na arquitectura (volume vazado, liberdade mental), gosto nas relações pessoais (mesmo muito), gosto nos debates (pela eloquência) e gosto quando pessoas que nada de jeito têm a dizer, nada dizem (questão de paz de espírito).

não gosto de silêncio na carteira (se bem que barulho a mais também me é igualmente desconfortável), quando se impõe esclarecer verdades (por mais pessoais e parciais que sejam), odeio quando uma gentileza devida (e merecida) não sai.

porque isto é meu e hoje não tenho nada para escrever, dou o meu silêncio.

p. s.- dou também uma fotografia do meu mano, porque tendo pouco a dizer, me sinto generoso, partilho felicidade tranquila

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

os putos



podem inventar os problemas que quiserem aos miúdos, dificuldades, dramas e paranóias.

mas deixem-nos estar num ambiente sereno e confortável, dêem-lhes espaço para serem o que querem ser sem lho impingirem, para gostarem do que e de quem gostam e não do que e de quem querem que eles gostem, para serem eles, inteiros, e magia! já não há problemas, nem inseguranças, nem dramas, só alegria, sonhos e carinho em todos os sentidos.

suponho que com os adultos aconteça semelhante, com a complicante de, nos adultos, e de caso para caso, haver dramas mais enraizados que demorem mais a arrancar (relacionado com "defesas" que eles criaram para se "proteger" (leia-se isolar)), nalguns casos, demorem mais que mais, demorem demais (são os que se perdem, imperdoável)....

agora nos putos, oh almas livres, é deixa-los sonhar sem barreiras que espalham toda a alegria que têm e ela ainda se lhes acrescenta com isso.

ráispartós adultos.....

p. s.- fotografia do fotografo gustavo, é vocação

elogio da esgrima



quando era garoto, pratiquei esgrima.

comecei bem, mas não evolui, acabei por deixar (na verdade, essa desistência está associada a uma situação pouco edificante para mim, enquanto desportista, e que, mais tarde acabei por interpretar como a primeira e mais evidente revelação da minha pouca apetência para praticar desporto, sendo as poucas excepções ver na televisão e damas).

acerca da esgrima, calhou eu estudar num colégio gerido por um coronel (penso que do exército), que para além de matemática (pasme-se) ensinava esgrima, extra-curricular. havia bons atiradores, lá (penso que um chegou a fazer alguma carreira em torneios internacionais), e alguns miúdos a iniciar-se, chegamos a ir a torneios, vários escalões etários.

como escrevi, eu era mui fraco, mas apreciava ter uma arma na mão (florete, arma de iniciação), e ganhei gosto pela modalidade, ainda hoje fico a ver, por momentos, quando passa na televisão, apesar de reconhecer a menor atractividade gráfica inicial da esgrima (demora algum tempo a entranhar-se).

algumas curiosidades: a esgrima favorece o ataque, pelo que, em caso de ponto simultâneo (ambos os atiradores tocarem ao mesmo tempo), a vantagem é de quem inicia o ataque; existem três armas, florete, o mais puro, serve para iniciação, espada, o mais espectacular, e sabre, onde se vêm movimentos de arma em "espadeirada"; apesar da preferência pelo ataque, a acção mais reveladora da habilidade do(a) atirador(a) é a parada (há oito tipos delas, no florete), defesa que desvia o ataque e permite o contra-ataque; os assaltos (combates) iniciam-se e terminam com o cumprimento dos atiradores (pode parecer pouco relevante, mas vale muito).

outra coisa que me agrada, é a relação do desporto com a realidade, ainda que passada. agrada-me o conceito de resolver desavenças com uma arma na mão, como cavalheiros (vale o mesmo para o tiro com pistola, mas já não se pratica contra outro atirador, agora dispara-se a alvos imóveis). também tenho carinho pelo conceito da bengalada (que os escritores românticos romantizaram), que não se aplica entre cavalheiros, o que lhe retira a aura eloquente.

a esgrima nasceu para resolver diferenças entre almas dispostas a morrer por valores que lhes eram caros. para mim, serve.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

formação académica



na sequência do post anterior (em baixo), agora escrevo acerca da mais valia académica na vertente técnica e teórica.

é suposto que quem a termina tenha capacidades técnicas e teóricas superiores, que esteja mais habilitado para executar funções que requeiram liderança (não é linear, mas concedo), que o facto de ter cumprido um objectivo intelectual e de volume de trabalho (risos) seja demonstrativo de capacidades "superiores".

convêm afirmar que, apenas pelo facto de não ter um curso superior, uma alma não está desprovida dessas qualidades, apenas não as terá comprovado nesse modo. convêm afirmar igualmente que ter terminado um curso superior, mesmo com classificação elevada, não é garante da posse (ou capacidade de utilização) dessas qualidades.

parênteses (conto uma história de quando acabei o meu primeiro ano na faculdade. ainda estava em aulas, comecei a trabalhar num gabinete de arquitectura, gerido por dois arquitectos. comigo, em simultâneo, começou também um colega, finalista, igualmente chamado joão. de mim, esperavam capacidade de desenho (eu era bom, traço bonito, mas excessivamente lento); dele, esperavam capacidade para resolver problemas concretos. deram-lhe, como primeiro trabalho, o desenho de uma "casa de guarda", programa simples, que ele complicou sobremaneira, de tal modo que se viu grego e troiano para lhe arranjar cobertura, tais os recortes da implantação que tinha criado. dois ou três dias de lutas e experiências depois, ele lembrou-se que podia ter apenas uma água (pendente de telhado), também ela recortada ao infinito. saiu antes de mim, ele por incompetência (nunca mais soube nada do rapaz), eu porque quis ir para sítio melhor, e aproveitei para, de caminho, fazer justiça a um rapazito que lá trabalhava, também ele chamado.... joão).

reconheço o conceito de capacidade técnica elevada associado a formação académica superior (e cristo sabe que, na minha área, bem temos penado pelo contrário se aplicar por demais), mas gosto de excepções, e acho que deveria haver uma forma de isso não ser estanque. por exemplo, de todos os artistas desencartados que cá temos, não conheço nenhum com a capacidade de tadao ando, um colega japonês, autodidacta, que fez uma formação pessoal, não académica e que apresenta uma qualidade de trabalho mui superior a muitos colegas mui bem encartados (sem retirar uma grama ao valor de muitos colegas, porque se há área em que não somos inferiores comparados aos estrangeiros, é na arquitectura de topo).

moral do post: estudar e aprender é fundamental, valorizar cursos académicos acima disso, é asneira.

educação académica



por causa de uns imbecis que moram no prédio ao lado, tenho discutido um assunto com uma amiga e vizinha. o assunto é a razoabilidade de esperar que alunos universitários tenham melhor educação (cívica, social) que a restante população sem frequência académica. discordamos. ela pensa que sim, salvo excepções, eu que não existe relação de causa/efeito.

escrito isto, que se deve esperar (a mais) de alunos universitários? que mais valias lhes proporciona a frequência académica, para além das académicas (o post não é acerca destas, a ver se não as afloro demais)?

eu acho que nenhumas, que a formação humana, pessoal, social, cívica, se desenvolve e consolida muito antes. salvaguardando o facto de um estar sempre a aprender, e de almas nessa faixa etária o estarem ainda mais (pelo menos, deviam, se lhes é proporcionado período de anos sem responsabilidades de produção efectiva, deveriam aproveita-lo para produzir fundações de conhecimento e pessoais), a verdade é que nessa fase escolar, o cerne da mensagem está em questões pré-profissionais, técnicas ou teóricas, restando uma intervenção marginal em questões humanas ou cívicas.

justo, depende da preocupação de cada professor, de cada formador, mas sejamos mesmo justos: têm eles essas preocupações, ou estarão mais ralados com os critérios pelos quais vão ser avaliados? at the end of the day, money talks, loud.

isto vem, aliás, de fases anteriores do percurso escolar: eu dei formação, e atirava muita coisa à cara dos putos (pré-universitários, chamo putos por carinho), mas fazia-o de luxo, por não ter de me ralar com o contracto do ano seguinte, por puder mandar às favas as avaliações que me faziam. a atitude generalizada, o que se discutia, eram outros aspectos, e quando se chegava a estes, a frase mais pronunciada era algo como "nada a fazer, eles já vem assim, se nem em casa lhes ensinam educação, vamos ser nós?". pois, se não forem outros, e tivermos responsabilidades (e tinham), é melhor sermos nós.....

sendo pai (responsabilidade maior do mundo, nada a ver com direitos), sei que é por casa que se começam fundações. o meu puto sabe que, comigo, respeita toda a gente que gosta dele, devolve com prazer o carinho que recebe, não deixa ninguém de fora. o meu, porque me ralo, sei que não vai fazer tristes figuras (bem, fazer vai, mas não relacionadas com má educação, mais depressa serão resultado de maus amores (risos)).

para além do meu (e, relativo a cada um, do(s) seu(s)), nada impede e tudo aconselha a ter-mos papel no dos outros (ainda para mais quando quem devia ter tido esteve ralado com carreira, arrumação, imagem ou aparência). porque, tantas vezes, em fases de desenvolvimento ainda influenciáveis, resulta basto eficaz dizer a alguém, que acabou de fazer uma graçola imbecil, "isso tem piada? é o máximo de que és capaz?".

uma coisa curiosa na má educação é a necessidade de aceitação exterior (dos ouvintes), uma vez que de interior, bem, é vazia. se do exterior não a tiver, acontece a tal triste figura. já uma atitude justa, com graça ou sem, mas firme de princípios, não necessita de aplausos, vive de per si, mesmo que isolada (temporariamente). nesta altura, poderia caber "mais vale só que mal acompanhado", mas prefiro encaixar "junta-te aos justos, e serás como eles".

you go girl



o que fazemos tem consequências. o que fazemos por e para nós, e o que fazemos aos e pelos outros. quando as consequências são boas, daquilo que faço a outro(a)s, vem realização pessoal. quando a consequência está relacionada com processo de libertação e crescimento pessoal, escrevendo palavras que não são minhas, chega a ser quase orgásmico.

neste caso, foi um prazer e um motivo para orgulho.