quando era miúdo, gostava muito de história. recordo estar na primária, a fazer um trabalho de outra coisa qualquer e estar a ouvir, atrás de mim, a professora explicar algo acerca de uma qualquer batalha a um aluno mais velho, recordo de estar fascinado com a explicação.
aljubarrota foi um marco tremendo na nossa história nacional, mais ainda do que afonso henriques e a restauração da independência, para mim. para mim, representa a vontade de um povo ser independente, tal como o afonso e a restauração, mas aljubarrota tem um imaginário mais rico, para um catraio.
ora, uma entidade, pessoal ou colectiva, querer ser independente, goes a long way. e no meu nacionalismo romântico (não é daqueles que acham os portugueses melhores que os outros ou que gostam eles ganhem sempre) é importante irmos em quase 800 anos de nação independente (o que é digno de gabo).
a melhor parte dessa independência, para mim, está relacionada com um conceito mui caro: reserva moral.
passo a explicar. não somos apaixonados como os italianos, não temos as ganas dos espanhóis, a fleuma dos ingleses, a organização dos alemães, a alegria e simplicidade dos africanos,o chauvinismo dos franceses, etc e por aí adiante.
por não termos nada disso, temos a disponibilidade de nos concentrar, tal como os nórdicos, mas sem a frieza deles, de um modo mais terra-a-terra, nos princípios que estruturam a sociedade humana. escrito de outro modo, quando o mundo (inteiro) estiver em colapso de valores ideológicos (já faltou mais), irá virar-se para quem não cometeu os erros que o mundo generalizou. agostinho da silva escreveu-o melhor do que eu, o padre antónio vieira escrevia do quinto império, camões fez poema da ilha paraíso na ilha dos amores e pessoa referia-se a algo semelhante com o "falta cumprir-se portugal"
é por isso que acho fundamental que os nossos ganhem sem batota, mas se não conseguirem ganhar desse modo, que percam com honra. foi por isso, porque fomos puros e irredutíveis, que ganhamos a organização do euro 2004, com o que isso teve de bom e mau. claro que houve erros brutais de planeamento (financeiro e económico), mas o que demos à europa nesse verão teria deixado satisfeitos agostinho, antónio vieira, luís vaz, pessoa e todos os que partilham uma visão semelhante. porque não demos ostentação, nem imagens grandiosas, nem avanços tecnológicos. demos hospitalidade, tratamos com carinho e gentileza quem nos visitou, adversários ou não.
porque concretizamos um exemplo de relacionamento humano, no sentido rico da expressão.
o mundo girou, e agora portugal concorre à organização de um mundial de futebol (2018 e/ou 2022, acho). mas não concorremos sozinhos, concorremos com a espanha, numa candidatura ibérica. dois irmãos a tentar fazer algo em conjunto, porque ambos são livres e valorosos (o conceito delicia-me até ao êxtase).
noutra perspectiva, há muito quem fale de uma união ibérica mais abrangente: fazer uma nação, de dois países. saramago escreve disso, parece que em casa dele resulta bem. entre nações, penso que é algo ao contrário: espanha é o homem, poderoso na intervenção; portugal a mulher, a razão que rompe limites. (eu escrevi, tenha uma visão romântica).
não sei se iremos avançar para isso no futuro breve (avançar sei que vamos, mas não sei quando chegaremos). sei que há puristas que objectam, com razões válidas, uns, nem tanto, outros. sei também que nunca deve ter havido, historicamente, momento mais potenciador de tal união, nos moldes que ela vier a ter (se vier a ser).
a minha opinião é paralela à das uniões entre as pessoas: se ambos se enriquecem mutuamente sem deixar de ser quem são, que se juntem (havendo sentimentos que o suportem, por supuesto). mais vale três entidades poderosas que duas (mais) frágeis.
isto pode ser o início (não é o início, mas é a marca) de uma bela relação.
p. s.- (ando a aprofundar neste tema há pouco, escrevi mais acerca do processo de raciocínio que de uma opinião. mas, mais do que a chegada, quase sempre vale o percurso).