quarta-feira, 14 de abril de 2010

o funcionário público (e o) amolador



pre-scriptum - eu sou defensor da ideia de que funcionários ou operários trabalham melhor se estiverem felizes, nomeadamente com as condições de trabalho (incluindo, e para além, a remuneração e outras regalias). defendo igualmente que um funcionário ou operário deve merecer estar feliz no decurso do trabalho, ou seja, ele deve render ou produzir o suficiente para merecer as regalias que quer, não bastando para as ter o mero desejo. fim de pre.

os pilotos da tap ameaçaram greve, e parece que lhes correu bem. eu concordo que gente com a responsabilidade deles deve ser bem remunerada (incluindo e para além de remuneração), mas raios, de que se podem queixar almas que vivem a viajar de um país para outro, rodeados de hospedeira de bordo (agora acho que se chamam outra coisa, mas são tão simpáticas como quando eram "só" hospedeiras) a obedecer-lhes, com a mão numa manette mais potente que qualquer f1? e o diabo do presidente da tap (brasileiro e tudo) tem feito um mandato excelente, não se podem queixar de má gestão.......

2ª feira houve greve na cp, também. calhou estar na estação logo de manhã, ver a expressão das pessoas, umas chateadas, outras passivas, outras enojadas, outras raladas. calhou também ver um daqueles fuinhas sindicais, sorriso parvo, a distribuir apertos de mão pelos colegas qual político em campanha. não vi nenhum funcionário da cp solidário com os prejuízos dos utentes (que se chamariam clientes, se aquilo não fosse público), só percebi respostas tortas e chateadas a gente que estava a tentar cumprir as suas funções profissionais e não conseguia porque os comboios eram cancelados.

ontem passei em frente à câmara municipal. manifestação, ajuntamento, panfletos, eram funcionários camarários a reclamar sei lá o quê. eu conheço bastos funcionários camarários, e sei que alguns merecem reconhecimento que não têm. mas conheço muitos mais que, se ganhassem de acordo com a produtividade, não teria eu um processo pendurado vai para quatro meses, com uma quantidade generosa de euros igualmente pendurada nele, e ainda fora da minha conta bancária.

hoje de manhã cruzei-me com um amolador, daqueles à moda antiga, de facas e tesouras, a tocar gaita e a empurrar a bicla com a pedra de amolar. estava sol, as pessoas sorriam-lhe, mas o homem vinha triste. duvido que faça greve......

resumindo, eu conheço funcionários públicos que seriam (alguns foram mesmo) excelentes profissionais no mundo empresarial privado. são funcionários públicos, e sorte tem o estado (que somos nós todos) por o serem. depois conheço funcionários públicos que têm tempo demais, inclusive durante o expediente, para reclamar das condições de trabalho. quando eu pergunto porque não saem, se é tão mau, costuma terminar a conversa.

a perspectiva aqui em falta, para mim, é solidariedade. como se podem fazer exigências (mesmo descontando o demérito, porque esse as pessoas nem equacionam quando pensam em direitos) quando há um desemprego enorme, salários em atraso em banalização, dificuldades generalizadas? claro que o(s) governo(s) é um (têm sido) asco, mas não seria mais fácil mudar de atitude na altura de votar? como se quer uma economia competitiva, se competimos com economias que têm funcionários a trabalhar 16 horas, e sem regalias (não defendo isto, antes defendo uma mudança de atitude e regras da comunidade europeia criando entraves a importações de países com produções em condições desumanas, mas isso é outro post)? se há dias para tanta porcaria, porque não um dia para trabalhar em condições indianas, ou chinesas, ou de emigrantes ilegais? ou porque não, simplesmente, se os funcionários públicos são tão maltratados, experimentar o mercado privado, crescer lá, fazer-se homem ou mulher, gente, ser útil?

a perspectiva em falta é solidariedade e vergonha na cara.

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