há coisas que são começadas e acabadas, outras são começadas e vão-se acabando, outras que se começam e sabe-se lá se se acabam, algumas são só começo e é esse o fim.
uma coisa que gosto de fazer (hábito comum na minha profissão) é desenhar (ou apenas pensar) espaços, sem destino, sem cliente para eles, sem pensar onde seriam feitos. mais ou menos como imaginar uma mulher ideal (ou homem, dependendo de preferência), com o pressuposto de que a poderíamos mesmo moldar (não essencialmente fisicamente) e para tal temos de a (o) dotar das necessárias condições, mas não o faremos.
não se o faz com objectivo de algum dia concretizar (sendo que alguns acabam mesmo por, quantas deles em contextos muito diferentes do imaginado inicialmente), apenas pelo ingénuo prazer de divagar, auto-conhecimento, asas de sonhos.
eu imagino janelas, coberturas, topografias de terrenos, pormenores construtivos, coisas díspares, com o único ponto frequente de terem pessoas a utiliza-los. as pessoas variam, podem ser abstractas, desconhecidas minhas (normalmente são, lá calha pensar em mim ou alguém meu num destes espaços a fazer algo que conheço de perto), mas os espaços são definidos para determinada utilização pessoal e por ela determinados.
curiosamente, não imaginei quase nenhum dos espaços de uma história que escrevi. melhor, não os descrevi, por vagos que eram.
isto leva-me a isto: não serão os espaços relevantes para o que neles acontece? ou serão as pessoas, as suas histórias, conversas, gestos, independentes de onde acontecem, de onde falam, de onde se movem? a ser esta, que raio fazem os arquitectos? raio de escritor sou eu que pouco (d)escrevo espaços?
parênteses (eu sei as minhas respostas a isto, escrevo por deleite).
outro parênteses (o rascunho do livro fica de versão final. quem quiser, faz favor de dizer, que eu envio o texto).
a verdade é que ando a desenvolver projecto de escrever uma peça de teatro e de desenhar os cenários, o que junta o inútil e o agradável.....
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