terá havido um período prolongado de séculos em que havia acessíveis a uma pessoa talvez uma meia dúzia de modos de vida, ou seja, a sociedade estava de tal modo estratizada que não haveria muita margem para viver diferente e facilmente se identificava a pessoa com o seu modo de vida.
tempos modernos, de aldeia global, televisão por cabo, internet, facilidade de viajar e comunicar, e o mundo está cheio de submundos, subculturas, submodos. hoje já não se pode ver a pessoa pelo que ela parece sem meter pé (elegante ou inchado) em argola (doce ou azeda).
certamente por isto, há uma maior necessidade do indivíduo se encaixar nos subgrupos: por medo de estar sozinho (o mundo animal está cheio de exemplos destes, ver cardumes, rebanhos, manadas, alcateias); para reconhecimento próprio, por necessidade de pertencer a algo para se ser algo (ideia idiota de que ser indivíduo é pouco); motivado por ambições e sonhos (muitas delas sugestionadas pelo subgrupo onde o fulano quer encaixar); por questões de facilidade ou obrigação, casos de grupos profissionais com interesses comuns (e necessários ao seu desenvolvimento, mesmo como indivíduos).
consequência disto é que navegamos todos em mil mundos diferentes, constantemente e, tantas vezes, simultaneamente.
se antigamente era preciso ir a um mercado ou feira medieval para apreciar diversidade, hoje basta levar o filho à piscina. e temos de um lado uma caterva de mães inchadas (duplamente, de orgulho e volume corporal), com carrinhos de bebés, enquanto vêm os seus mais velhos nadar e discutem entre si os assuntos das gravidezes que virão ou estão em curso, a passear pela plataforma estão avós activos (nalguns casos, mais que demais), mais discretos estão pais divorciados e sozinhos (que aproveitam para espreitar as meninas no ginásio ou trabalhar um pouco numa das mesas), casais jovens e aparentemente felizes (como se ainda não tivessem perdido nada importante na vida, e houvesse felicidade sem entender isso), toda esta gente a degustar o facto de proporcionar aos filhos momentos de satisfação e prazer, dos quais partilham à sua maneira.
mais, as pessoas existem para além dos grupos em que se inserem, por mais que tentem inserir-se. recuperando o exemplo das mamãs grávidas a ver os filhos nadar, de certeza algumas estão verdadeiramente felizes (tanto quanto há felicidade verdadeira para cada alma), outras estão invejosas e desdendosas (com desdém) da barrigona alheia e outras ainda envergonhadas ou desditosas (da desdita) da barrigona (e coxas, e rabo) que ainda não passou e ameaça nunca mais passar. já no caso dos avós, uns há que são muito adultos e sofridos da vida, enquanto outros rejuvenesceram miraculosamente, como se os bebés fossem o verdadeiro elixir. and so on, and so on.
isto tudo, que vai longo, porque cada pessoa está hoje mais isolada que em qualquer época da história (com excepção dos dias no paraíso de adão e da sua costeleta).
para mim, a solução não é gerir subculturas, é olhar para os indivíduos. não é pertencer aquelas, é relacionar-se francamente com estes.
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