acerca do conceito de arte e dos seus objectivos, do conceito de natureza natural e natureza subjugada.
durante muito tempo, e ainda hoje, ainda que não abrangentemente, o conceito de belo esteve relacionado próximo com a natureza. a natureza era entendida como fonte de belo e puro, e como tal de inspiração para as obras humanas, artísticas e/ou úteis. a natureza era a manifestação da criação divina (em quase todas as religiões) e como tal digna de cópia, ampliação, representação, almejo.
entretanto, bem ou mal, o mundo mudou. darwin proclamou uma teoria mais credível (e menos erótica) que a de adão e eva, e, em evolução em paralelo, a arte foi tendo mais que representar que apenas a beleza da natureza.
assim, continuando-se a pintar naturezas mortas, a fotografar campos de flores belos, a filmar gotas de chuva e a admirar a gravação do som das baleias, porque a arte é evolução, muitos criadores utilizam elementos naturais no que criam: estudam a evolução de uma teia de aranha e a sua resistência; reutilizam a estrutura das conchas ou carapaças de insectos na edificação; estudam e maximizam o efeito de ventos e outros impactos naturais na concepção de automóveis ou outros móveis; reintroduzem o som das baleias em músicas de discoteca ou de protesto.
um destes recriadores, theo jansen, tem um projecto que descobri por acaso, numa pesquisa por outra coisa, e me fascinou.
o homem antigo seguia um movimento global, um estilo. o homem actual produz em muitas direcções, foca em muitos problemas, de muitas perspectivas. e se muito do que o homem produz é anti-natura, o resto do que o homem faz é um regresso ao útero natural. é-me razoável que se construa (não só edifícios, mas tudo que se faz) de uma forma humana, que deixe marcas humanas, aqui entendidas como não naturais (porque o homem já não é muito natural, pois não? chega a ser uma aberração da natureza em certos casos, em certos espécimes ou em certas circunstâncias). mas é adorável que haja homens (e mulheres) naturais, que tentem perceber a natureza, adapta-la, e deixar marcas humanamente naturais.
são pessoas que naturalmente passam por idiotas (e o são) e pensadores inúteis (que não são), gente alucinada que tem uma visão de mundo (também muito representada na animação) onde gestos simples são sublimes. mesmo que seja necessário e excitante evoluir de uma forma anti-natura (porque também o é), tal movimento seria catastrófico se não houvesse idiotas como theo.
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