sexta-feira, 8 de outubro de 2010

o "chnês"



há meses atrás, estava a falar com um cliente acerca da proliferação (e sucesso) de lojas de chineses, e enquanto ele afirmava que eles trabalham muito e dedicadamente, a mim ocorreu acrescentar que eles não têm vícios.

hoje, tenho um cliente chinês, empresário de sucesso, jovem, casado, mulher dedicada a ele e ao trabalho. é maltratado pelo estado, na pele da burocracia do município, por alguns a quem paga para lhe acautelar os interesses (legítimos, todos os temos. e como ele perde algo da língua portuguesa, é fácil perder algum controlo....), por alguns clientes, que lá vão religiosamente, desprezando-o pela religiosidade com que lá vão.

a verdade é que ele trabalha, investe, paga os créditos (e tem mais créditos, penso que no banco é até muito bem tratado, porque o dinheiro vê a cor da nota que circula e não da mão que a move), devia andar de cabeça levantada, mas apesar de jovem, empresário bem sucedido, bem casado (parece, dêem o desconto que acharem justo), ele tem a espinha ligeiramente dobrada, no andar.

na cultura ocidental, o operário tem é direitos. adquiridos, logo irrevogáveis, sob pena de carmo e trindade, fascismo e exploração capitalista. o chinês (e outros povos explorados (sim, explorados)) tem cultura de responsabilidades, a quase escravidão (em parâmetros ocidentais, os meus) para merecer uma taça de arroz, uma esteira onde deitar o esqueleto estafado por 4 ou 5 horas, antes de recomeçar.

num filme de spike lee, "do the right thing", acho, um grupo de afro-americanos (alguns reconhecendo o laxismo dos seus) queixava-se de ver o seu bairro invadido por negócios de coreanos (os chineses deles), e o sentimento (aliado ao calor) degenerava violência. cá é só desdém, por agora, mas como vai reagir a classe dos direitos quando estes forem desadquiridos, por meio de lei fascista ou falência de fundos, quando os chineses forem seus patrões?

olhando o meu chinês, se for como a maioria dos chineses que cá estão, não tem vícios. eu, ser vicioso, me questiono se ele é feliz sem eles, sem pelo menos alguns deles (é também discutível se ser tão organizado e focado não será um vício, que o é, mas deixemos este de fora, aqui).

será que quando ele for patrão (que já é, mas patrão desafogado) vai ganhar vícios? claro que sim, i just really wonder which. e também me questiono se será mais feliz, então. e questiono-me ainda se serão os ocidentais, abraçando a responsabilidade por necessidade, mais felizes então, por mais produtivos.

burguesia de merda, que compra férias a crédito, veste e guia o que é do banco para parecer o que não é, exige do estado o que nunca deu nem pensa devolver, faz piscinas biológicas em frente ao mar (esse ao menos reconhece, e produz) e olha de cima para quem trabalha: a redenção aguarda a falência do estado social.

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