terça-feira, 28 de setembro de 2010

traços humanos 4



a olhar para a janela. ao longo do dia, umas horas a olhar para a janela.

cresceu no campo, horizontes distantes, mundo sem limites físicos visíveis, com a vida pela frente. agora, não vê para além do prédio do outro lado da rua, e isto só quando o camião de mudanças não lhe estaciona na vista.

que pensa uma velha que olha para o mundo que passa sem lhe ligar? deve ser bom poder pensar que se orgulha do percurso que andou, pensar nas pessoas que amou e a amaram, nos gestos que teve e lhe tiveram, nos filhos e netos que embalou e (ou)viu rir, no que construiu, ou cozinhou, ou pintou, ou escreveu, ou comeu, ou viu.

deve ser brutal se apenas vir o
prédio do outro lado da rua, e isto só quando o camião de mudanças não lhe estaciona na vista.

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