alguns de vós conhecem a pastelaria mexicana, em lisboa, na praça de londres.
parênteses, (gosto destas toponímias, de receber um pedaço de outros mundos dentro do nosso, seria tão mais agradável se fizéssemos o mesmo com as pessoas, emigrantes. falando disto, tenho de dizer isto: há um aglomerado de ruas, perto da estefânia, também em lisboa, com toponímias de ex-colónias, devia chamar-se bairro dos palop. e como as lembranças são como as cerejas, lembro-me de me encantar por uma eugénia, numa entrevista de trabalho, moça adorável que não voltei a ver por cobardia minha (não me lembrava dela há anos, foi o local que ma trouxe de volta, locais fazem isto)).
outro parênteses, (perto da mexicana fica a surf, gelataria ocasional da minha infância e adolescência, popularizada pela conversa da proprietária com joão de deus, mestre gelateiro na surf, acerca de analidades de uma funcionária (e pela qualidade dos gelados, claro)).
há uns anos atrás surgiu ao conhecimento público um projecto de remodelação profundo da pastelaria, coisa normal num país onde muito do que tem história e qualidade (sublinho qualidade) pode ser substituído por algo mais actual e higiénico, fácil de gerir, até por gestores tacanhos. por um acaso daqueles que acontecem raramente, houve um movimento civil (bravos à minha ordem, esteve na frente disso, e se falo mal quando fazem mal, gabo quando merecem, aquilo tudo ainda gerou uma visibilidade da obra do arq. ferreira chaves, à laia de mais valia) que conseguiu impedir a "modernização" e manter as memórias (o excelente disto tudo, é que o espaço não só mantém memórias como tem qualidades para criar novas delas para o futuro). pessoa (ou povo) que não saiba viver com o seu passado terá fraco futuro...
pois a mexicana, para além de história, umas parras excelentes e uns funcionários pouco simpáticos, tem no interior um recanto onde vivem passaritos (à esquerda, na fotografia que apresenta um painel de mestre querubim lapa, dedicado ao sol mexicano). é um salão lindo, até os funcionários se suportam, os pássaros parecem felizes (memória doce, o meu filhote gostou deles, quis saber como se ia lá dentro dar-lhes comida...), mas estão presos.
o espaço onde estão faz-me lembrar o meu saguão, porque não se lhe vê o tecto (que parece não ter) e luz entra zenital, fica a sensação de que são livres. mas os "meus", no meu saguão, são mesmo livres, andam felizes com a chegada da primavera, passam dias a cantar, acordo com eles assim.
sei que já escrevi deles várias vezes, calhando estão a tornar-se obsessão minha. acho que sou obcecado por alegria e liberdade, e se a liberdade é difícil roubarem-ma, já a alegria encolheu, desde sábado à tarde. nem um beijo lhe consigo dar, não atende o telefone...
Tanto tempo que passei na Mexicana e há tanto tempo...agora comia uma parra...ou outro docito qualquer ... mas aqui não há pastelarias, como sabes. Tenho que aguentar firme.
ResponderEliminarJá por falares na Surf, comecei logo a trautear o "chupa teresa", lá lá lá rá
Quanto ao tal bairro, não estarás a falar daquele que se situa nos Anjos onde, por sinal, mora uma mosquinha muito do nosso coração?
Chama-se bairro das colónias.
Não será?
pois, o geladito de framboesa...
ResponderEliminarquanto ao bairro, há lá mosca si, fica em frente à estefânia, atravessando a almirante reis. mas chamar colónias é colonialista, hoje diz-se palop. pá.
Uma pequena correcção, ele foi mestre sorveteiro no "Paraíso de Gelado".
ResponderEliminarEsta é a cena em que ele foi despedido e a geladaria muda de gerência e nome (agora sim, com o nome original "Surf"):
http://www.youtube.com/watch?v=_IH80hz17S8
A última frase desta cena é genial, “Não são vocês que me expulsam, sou eu que vos condeno a ficar!”, bem podia ser o epitáfio de tudo o que tem valor na nossa memória/cultura e vai sendo destruido para na maior parte das vezes dar lugar a espaços de franchisings todos iguais, insípidos e desencantados ( "actuais e higiénicos" como tu muito bem o dizes) e que pouco ou nada nos diz (a ti, a mim e a essa imensa minoria que nos acompanha...). Como diria João de Deus "as pessoas só têm o que elas merecem" e "paga o justo pelo pecador"!
Se calhar estamos a ficar velhos e saudosistas... que se foda!!!
CONTRA A INSIPIDEZ HIGIÉNICA CANTEMOS ENTÃO...
"Chupa Teresa!
Chupa Teresa!
Que este gelado gostoso,
É feito de framboesa!
Refrão
Há gelado de morango
Baunilha e abacaxi
As garotas do meu bairro
Vêm todas chupar aqui!
Ha gelado de banana
Um fruto da natureza
Mas aqui tenho um gostoso
Que eu guardei para Teresa!
Refrão (x2)
Há gelado de morango
Baunilha e abacaxi
As garotas do meu bairro
Vêm todas chupar aqui!
Ha gelado de banana
Um fruto da natureza
Mas aqui tenho um gostoso
Que eu guardei para Teresa!"
Um abraço...