quinta-feira, 4 de julho de 2019

ups


















olá

o que me faz um lugar ser especial é a recordação de momentos felizes lá passados (ou sonho de futuros).

o que me faz alguém (ou certas coisas) ser(em) especial(ais) são as imperfeições (incluir anormalidades).

não estou a escrever de um nariz muito adunco ou desviado, de uma barriga proeminente, ou excesso (geral) de pêlos, que são todos eles imperfeições relevantes.

estou a escrever de traços de carácter. são as imperfeições (incluir fraquezas) dos outros, o modo como as vivem e as/se consomem que humanizam cada alma, a tornam única e, quer as amemos ou não, preciosas.

kintsugi é uma técnica que os japoneses desenvolveram, há séculos, de reparar cerâmicas partidas com ouro aplicado com laca, que amplia a visualidade da imperfeição e a aceita e valoriza.

jan vormann é um artista de que gosto bastante que faz algo semelhante em muros e paredes, com peças de lego, criando até pequenos universos e estórias dentro das imperfeições (resultando que sem elas, não existiriam os pequenos universos e estórias).

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há poucos dias, talvez por cansaço, parti um lavatório de cerâmica. é um lavatório precioso para a dona, que se fartou de o procurar e ficou delirante quando o encontrou.

e eu parti-o.

esta pessoa, de quem gosto moderadamente, tem uma imperfeição que me incomoda assaz: é fanática por perfeição (nivelamento de peças, simetrias, cores e tons). eu sei que ela sofre pelo lavatório agora imperfeito, mais do que eu, que sofro por o ter partido, e por ela sofrer mais do que eu. ela sofre pelo objecto, pelo trabalho que teve a encontra-lo, pela vitória da descoberta desperdiçada por mim. eu sofro pelo sofrimento da pessoa, ainda para mais porque o causei eu.

não gosto de todas as imperfeições (muito longe disso), mas quando aprecio alguém, é normalmente por elas. e normalmente as imperfeições que mais me fazem apreciar alguém são as de perspectiva humana.

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