segunda-feira, 15 de julho de 2019

ultimate goal


















olá

pre-sciptum: definitivamente, não é acerca de suicídio.

há muitos anos atrás, eu conhecia (moderadamente) um rapaz. era um rapaz doce, inteligente, mas a vida pesava-lhe, acho. devia pesar-lhe muito, e ele desistiu de tudo. não sei exactamente o que lhe pesava, não me recordo do nome, mas recordo o rosto, os cabelos longos e a gentileza. e lembro-me dele bastas vezes, e imagino que ser humano seria hoje, e imagino que seria um ser humano excelente (o que diz dele e também de mim).

há alturas na vida em que parece teso resolver algo que necessita resolução.

as mais das alturas, está associado a algum sentimento próprio de ter errado, falhado (algumas alturas por falhas reais, outras apenas assim percebido pela outra parte, sendo que a percepção nos dói).

quando estas alturas se concentram, tempo e número, cresce uma vontade de desistir. alturas em que a vontade é desistir de algo, outras em que é desistir de tudo.

nestas alturas, tenho uma ideia recorrente:

não cortar caminhos. aplicar resiliência, olhar de (e em) frente, agir como se crê certo, pedir desculpa se for sentida.

em "x" tempo, a situação vai estar resolvida, vai ter perdido importância ou ganho importância positiva, pela resolução. e um fulano cresce, como deve crescer.

so, leveled eyes on the ultimate goal.


quinta-feira, 4 de julho de 2019

ups


















olá

o que me faz um lugar ser especial é a recordação de momentos felizes lá passados (ou sonho de futuros).

o que me faz alguém (ou certas coisas) ser(em) especial(ais) são as imperfeições (incluir anormalidades).

não estou a escrever de um nariz muito adunco ou desviado, de uma barriga proeminente, ou excesso (geral) de pêlos, que são todos eles imperfeições relevantes.

estou a escrever de traços de carácter. são as imperfeições (incluir fraquezas) dos outros, o modo como as vivem e as/se consomem que humanizam cada alma, a tornam única e, quer as amemos ou não, preciosas.

kintsugi é uma técnica que os japoneses desenvolveram, há séculos, de reparar cerâmicas partidas com ouro aplicado com laca, que amplia a visualidade da imperfeição e a aceita e valoriza.

jan vormann é um artista de que gosto bastante que faz algo semelhante em muros e paredes, com peças de lego, criando até pequenos universos e estórias dentro das imperfeições (resultando que sem elas, não existiriam os pequenos universos e estórias).

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há poucos dias, talvez por cansaço, parti um lavatório de cerâmica. é um lavatório precioso para a dona, que se fartou de o procurar e ficou delirante quando o encontrou.

e eu parti-o.

esta pessoa, de quem gosto moderadamente, tem uma imperfeição que me incomoda assaz: é fanática por perfeição (nivelamento de peças, simetrias, cores e tons). eu sei que ela sofre pelo lavatório agora imperfeito, mais do que eu, que sofro por o ter partido, e por ela sofrer mais do que eu. ela sofre pelo objecto, pelo trabalho que teve a encontra-lo, pela vitória da descoberta desperdiçada por mim. eu sofro pelo sofrimento da pessoa, ainda para mais porque o causei eu.

não gosto de todas as imperfeições (muito longe disso), mas quando aprecio alguém, é normalmente por elas. e normalmente as imperfeições que mais me fazem apreciar alguém são as de perspectiva humana.