em coimbra, vivo perto da acapo, associação de cegos e amblíopes. calha, por isso, frequentemente, cruzar-me com cegos, na rua.
um casal cativou a minha atenção há bastante tempo. ambos cegos, têm uma menina que não é. é engraçado quando os encontro aos três na paragem do autocarro, porque quando vem um (autocarro), a menina dizia aos pais qual o número, e agora, mais crescida, já diz se é o que vão apanhar ou têm de continuar à espera.
eles faziam compras no pingoce daqui, principalmente a senhora, por vezes com ele, também. já os conheciam, lá, e havia sempre uma funcionária que os acompanhava, levava o cesto das compras, escolhia-lhes a fruta, serviço completo com simpatia e carinho.
há já algum tempo, a senhora começou a trabalhar lá, no pingoce. serviço de repositora, provavelmente auxiliar, sempre a necessitar ela de auxílio, e sempre auxílio a haver. a menina não vejo há meses, mas hoje cruzei-me com os pais, iam à cafetaria do supermercado, guiados pela funcionária mais bonita (por causa do sorriso), e estavam bem dispostos, sorriam também, a evitar os obstáculos.
nunca os vi com má cara ou com más palavras. poderia pensar-se que são cegos, que não vêm os males do mundo, mas seria errado: sendo cegos, vêm bem. eu inclino-me mais para o motivo dos sorrisos deles ser precisamente esse, o de quem sabe ver a parte boa da vida.
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