quinta-feira, 28 de julho de 2011

os fidalgos e os muitos outros



a pior coisa que se pode fazer a um ser humano é priva-lo de um filho.

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há algum tempo atrás desapareceu a filha de um casal inglês, gente "importante", e o país andou numa fona, toda a gente especulava acerca do paradeiro da menina, de quem seria o culpado pela monstruosidade, depois porque se intrometeriam autoridades inglesas na investigação portuguesa e por diante.

anos depois, ainda nada se sabe da criança, mas toda a gente se lembra ainda do caso. e escreveram-se livros (bem sucedidos comercialmente, porque as pessoas gostam de estar bem informadas acerca das perspectivas nestes casos importantes), agentes foram dispensados (ou algo parecido, não segui muito ao detalhe), muito dinheiro e meios investidos na investigação, há imagens que mostram como a menina será(ia) hoje, e por diante.

mas crianças desaparecem ainda e sempre, cá e pelo mundo fora. e fico fudido porque para a esmagadora maioria não há sequer dez segundos nos noticiários, uma pequena caixa nos jornais, umas frases nas rádios. isso não é notícia, notícia é se for um fidalgo, filho de algo, de alguém importante.

na síria (só de exemplo), desaparecem crianças aos magotes, de forma coordenada, impunemente. não vai aparecer em nenhum noticiário, televisivo ou radiofónico. talvez um artigo num jornal de pouca tiragem (porque jornalismo, hoje por hoje, tem pouca saída) e nada mais.

é bárbaro atingir crianças. é reles o tratamento sensacionalista dos factos. é vergonhoso o impacto diferente que têm factos iguais, consoante a "importância" da criança, porque não há crianças mais importantes do que outras.

não há.

a menos que sejamos pais, e aí o nosso filho é, absolutamente, a criança mais importante no mundo. mas só para nós, não para o mundo.

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