terça-feira, 17 de agosto de 2010

olhos de desver



este post é acerca de imbecilidades cometidas por quem olha para o mundo não para o perceber mas para justificar aquilo que quer ele seja, e escrevo por causa disto:

existe um projecto de um promotor privado para transformar um edifício devoluto, em new york, numa mesquita. sendo um país multi-cultural e defensor das liberdades, os eeuuaa, isto soa a desinteressante e não-história. mas acontece a mesquita estar projectada para a baixa de manhattan, a dois quarteirões do "ground zero", local sensível em demasia desde 9 de setembro de 2001.

consequência, reacções pouco civilizadas de pessoas individuais e colectivas, gente que por ter sido dorida directa ou indirectamente, acha ter o direito de espalhar dores em quem encontra relação com quem lhe infligiu as suas. obama e o mayor bloomberg lá defenderam a liberdade de culto e a promoção privada, mas analistas julgam ser uma má posição política......

noutro(s) exemplo(s) de igual imbecilidade, já ouvi pessoas atacarem ferozmente fidel e descobrirem todo um chorrilho de atenuantes para a barbárie de pinochet (e vice versa, quem perceba o defensor da liberdade que fidel é e veja facilmente o nazi em pinochet). muitos, damn, são pessoas particularmente inteligentes e empenhadas. damn again.

noutro ainda, pessoas que defendem a liberdade de expressão e igualdade de direitos que o 25 de abril nos "trouxe", mas cuspa xenofobia e racismo sem pudor, ético ou intelectual.

iap, há coisas que doem, e doem por muito tempo. há coisas que metem medo vidas inteiras (e talvez em reencarnações, o que poderia explicar certas imbecilidades sem fundamento). há coisas (ideias, pessoas, sentimentos) que só se percebem se nos aproximarmos, se lhes tocarmos e nos deixarmos tocar por elas.

erros de análise são comuns, ainda para mais se provocados por sentimentos sinceros, o que até os torna desculpáveis, acho. ficar fechados dentro de erros desses (e de quaisquer outros) impede crescimento pessoal, e por somatório (neste caso subtracção), social.

há alturas que me aborrece profundamente ver pessoas que absorvem o mundo do modo que querem para se justificar do que são, ou do que não são capazes de ser.

p. s.- isto pode soar inacreditável, mas é verdade: a minha resposta à pergunta "onde estavas a 11 de setembro de 2001?" é: estava em casa de um advogado, visita para almoçar, quando começaram a passar na televisão as imagens da primeira torre a arder. vimos o avião que embateu na segunda, entrava informação a jorros, abria-se um mundo diferente naqueles momentos. pouco depois, o fulano adormeceu: a determinada altura eu falei algo, ele não respondeu, eu olhei e ele estava a dormir.

p. p. s.- já agora, acerca dos actos de 11 de setembro de 2001, e dos actos do presidente do irão, e dos actos de atentados de iras irlandeses e etas bascos: não se aceita que inocentes paguem por um ideal que talvez nem defendam. mas não somos todos responsáveis, em democracia e sociedade? não entendemos todos o conceito de baixas de guerra, quando em cenário de guerra? e quem raio determina se estamos em guerra e quais os cenários apropriados? importamo-nos quando vemos e sabemos que há injustiças? se deixarmos que façam mal a quem não se pode defender, temos direito de julgar quando se vingam, ainda que barbaramente? que faria cada um, se os que amamos sofressem injustamente?

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