terça-feira, 23 de junho de 2020

mami












se a minha mãe fosse viva, hoje faria 75 anos.

lembro-me de a ouvir dizer a alguém, perto do jardim zoológico, que não chegaria aos 40 anos. depois ouvia-a dizer várias vezes o mesmo dos 50, e dos 60. é provável que tenha dito dos 70, a que realmente não chegou.

se a minha mãe fosse viva, preencheria um buracão na minha alma (e a minha avó outro).

noite anterior à de ontem, sonhei com ela, e, coisa rara, lembro-me do sonho, talvez porque acordei no exacto final.

eu estava em casa dela, perto de uma das portas antigas (com o recorte em trapézio envidraçado), fechada. 

ouvi-a falar atrás da porta, antes de esta se abrir, e lá estava ela, mas enorme, como eu a veria se eu ainda fosse um catraio, porque eu estava quase ao nível do chão.

assim que a porta abriu e a vi, ela encolheu e eu expandi, como se anos de crescimento e minguagem demorassem menos de um segundo.

ela ficou tão pequena, tão depressa, que pairou um momento no ar, em processo de queda.

foi nesse momento que a segurei nos braços.

e não passou mais nada, depois de eu a segurar nos braços.

a verdade é que, de um modo etéreo, ainda seguro.